segunda-feira, 28 de outubro de 2019

EM DEFESA DO PRECONCEITO [Resenha]


Atualmente, ter preconceitos significa ser racista, homófobo, sexista, retrógado ou politicamente incorreto (dentre outros adjetivos). O ideal é que todos sejam livres-pensadores e questionem tudo que lhes ensinem.

Nesse livro, porém, o psiquiatra e escritor britânico Theodore Dalrymple defende (1) a necessidade de também termos ideias preconcebidas, apontando que a verdadeira razão para o surgimento desse ideal de liberdade de pensamento é que não queremos ter nossas ações restritas, desejamos poder fazer o que bem entendemos, quando bem entendemos. (2) Ele explica que, influenciados pelo racionalismo de Descartes e Mill, rejeitamos qualquer autoridade sobre nosso comportamento moral, seja essa autoridade a religião, a história ou as convenções sociais. Consequentemente, isso faz com que percamos importantes reguladores de comportamentos antissociais. Se não nos autopoliciarmos, se deixarmos de lado toda e qualquer odeia preconcebida, a lei é a única força que pode conter nossos comportamentos antissociais e os conflitos resultam disso – o que muitas vezes faz com que governos se tornem autoritários.

Reinaldo Azevedo no prefácio desta obra escreve: “Mesmo o leitor que já conhece Theodore Dalrymple, um dos pseudônimos do inglês Anthony Daniels, vai se surpreender com a força de "Em Defesa do Preconceito". É um daqueles livros que reorganizam a nossa experiência. Impossível enxergar do mesmo modo alguns temas da cultura e da política depois de passar por seus 29 pequenos e precisos ensaios, numa prova de que a profundidade não é incompatível com a concisão.”

"Sem preconceito, não há virtude", adverte e demonstra Dalrymple. Num mundo em que todas as escolhas fossem válidas e moralmente equivalentes e em que todas as motivações fossem aceitáveis, não haveria valores a preservar nem hierarquia possível - valores, note-se, que nos levaram a fazer do lobo que somos o homem que aprendemos a ser.
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DALRYMPLE, Theodore. Em defesa do preconceito: A necessidade de ser ter ideias preconcebidas. São Paulo, SP: É realizações, 2015. 144p

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