domingo, 30 de abril de 2017

INTRODUÇÃO A TEOLOGIA SISTEMÁTICA [Aula ministrada no Centro de Estudos da Reforma]


TEOLOGIA SISTEMÁTICA [1]

O que é a teologia sistemática? A teologia sistemática é uma elaboração da cosmovisão cristã baseada na Bíblia. Nem todos os aspectos da cosmovisão cristã serão desenvolvidos neste estudo, mas os temas principais sim. No contexto da fé cristã, a teologia não é o estudo de Deus como algo abstrato, mas é o estudo do Deus pessoal revelado na Bíblia. Necessariamente isso inclui tudo o que é revelado sobre Deus, suas obras e relações com as criaturas. O estudo da teologia é diferente do estudo da religião. O estudo da religião inclui todas as religiões mundiais e seitas, e usa várias metodologias: sociologia, antropologia, história, psicologia, etc. A teologia é mais especializada, sendo ela o estudo das doutrinas ou temas que os adeptos de uma determinada religião crêem.


DEFINIÇÕES DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA

À luz deste processo, podemos agora definir a teologia sistemática.

Charles Hodge escreveu: “E importante que o teólogo conheça seu lugar. Ele não é senhor da situação. Ele não pode construir um sistema teológico com vistas a adequar sua fantasia, mais do que o astrônomo não pode ajustar o mecanismo dos céus segundo sua própria vontade. Como os fatos da astronomia se organizam em determinada ordem, e não admitirão nenhuma outra, assim se passa com os fatos da teologia. Teologia, portanto, é a exposição dos fatos da Escritura em sua ordem própria e relação, com os princípios ou verdades gerais envolvidos nos próprios fatos, os quais complementam e se harmonizam como um todo. [2]

Herman Bavinck apresenta a seguinte definição: “A teologia é a ciência que extrai o conhecimento de Deus de sua revelação, que estuda e pensa sobre ela sob a orientação do Espírito Santo e então, tenta descrevê-la de forma a honrar a Deus.” [3]

Wayne Grudem afirma: “Teologia sistemática é qualquer estudo que responda à pergunta ‘O que a Bíblia como um todo nos ensina hoje?’ acerca de qualquer tópico.”[4]

A definição de John Hammett é muito boa porque expressa os vários elementos da tarefa da teologia sistemática: “Teologia sistemática é aquela disciplina que tenta dar uma exposição coerente das doutrinas da fé cristã, baseada principalmente nas Escrituras, falando às perguntas e questões da cultura e época em que ela existe, com aplicação à vida pessoal do teólogo e outros.” [5]


Há alguns aspectos importantes nesta definição:

(1) A teologia sistemática deve oferecer uma exposição coerente: a tarefa da teologia sistemática é construir um sistema. A teologia sistemática trata das doutrinas da Bíblia, através do exame do que a Bíblia inteira diz sobre aquela doutrina. Também mostra como as doutrinas da Bíblia se relacionam logicamente. Então, a partir dos dados da Bíblia, uma cosmovisão é construída e comunicada. Esta cosmovisão abrange todas as áreas da vida que são tocadas pela própria Bíblia. Neste sentido, a teologia sistemática é uma teologia abrangente.

(2) Baseada nas Escrituras: a teologia sistemática procura ser abrangente, mas não vai além do que está dito na Bíblia. Pretende evitar a especulação, a não ser que o próprio teólogo admita que ele está fazendo especulação. Porém, o teólogo precisa evitar a tentação de atribuir às suas próprias especulações uma autoridade igual à Bíblia.

(3) A teologia sistemática sempre tem um alvo prático: embora precise tratar com questões abstratas e complicadas, O teólogo deve sempre mostrar a diferença que as suas conclusões fazem na vida cotidiana. Ela existe para que possamos conhecer, obedecer e amar a Deus melhor. Quem não faz teologia tendo em mente as necessidades do povo nos bancos da igreja não é um teólogo cristão de verdade. O fato de que quase todos os teólogos de maior influência na história da igreja também eram pastores é revelador.


O CREDO E A TEOLOGIA

As justificativas para a tarefa da teologia sistemática. Uma vez que o propósito da teologia é trabalhar com a verdade de Deus, o cristão nem deve precisar de outra justificativa além dessa. Portanto, queremos expor de forma simples e rápida, o Credo Apostólico. A palavra Credo, cujo significado – creio eu – refere-se ao ato pelo qual o homem reconhece e confessa a realidade e o conteúdo da sua fé – sua teologia. O histórico e precioso documento chamado “Credo dos Apóstolos”, tem sido conservado pelos cristãos, e ecoado através dos séculos como uma profissão de fé em que se define a doutrina base da Igreja base da igreja. No entanto, poucos têm emergido na profundidade doutrinária destas declarações, ou percebido o mundo teológico que as envolve, realçando razões, alicerce e o fundamento bíblico teológico que lhes dão suporte. [6] Na tabela abaixo temos o texto do credo, quais pressupostos cristãos são deduzidos dele e como influenciam a interpretação bíblica: [7]


Credo Apostólico [8]
Pressupostos cristãos
Influência sobre a leitura da Bíblia
Creio em Deus, o Pai onipotente, Criador do Céu e da Terra.
a. Deus é um ser infinito e pessoal, trino, que criou o homem à sua imagem, para se relacionar com ele.

b. Deus criou todas as coisas ex nihilo, e toda a criação é boa.

c. Deus ama aquilo que criou.

d. A ética é revelada, sua base não está no homem, mas em Deus.
a. O cristianismo é centrado em Deus; ênfase na soberania de Deus. A fé buscando entendimento.

b. Espiritualidade integral e culto integral. Toda a criação é boa.

c. Intimidade, não religiosidade. Sem que haja mérito em nós, Deus nos fez seus filhos. Isso coloca todos os cristãos em igualdade, exigindo humildade e amor para com o próximo em Cristo.

E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos, no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à destra de Deus, o Pai onipotente, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

a. Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem.

b. Sua humilhação e exaltação ocorreram em nossa história.

c. Tanto a cruz quanto a ressurreição são elementos centrais da fé cristã
a. O sacrifício de Jesus é único e perfeito, capaz de aplacar a ira de Deus ante o pecado.

b. Os seres humanos foram criados bons, mas por causa da queda, a imagem de Deus tornou-se danificada: por meio da obra de Jesus Cristo, Deus redime seu povo eleito.
Creio no Espírito Santo,
na santa igreja católica [cristã], na comunhão dos santos, na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne e na vida eterna.
Amém.
a. A igreja é uma comunidade mantida e sustentada pelo Espírito Santo.

b. Para cada pessoa, a morte é a porta tanto para a vida com Deus e seu povo, como para a eterna separação do único que pode preencher nossas aspirações mais profundas.

c. Ressurreição: homem integral

d. Esperança escatológica

a. Por causa da queda, o homem não é mais o que foi um dia. Só elo Espírito Santo, a imagem de Deus no pecador pode ser restaurada.

b. Somos chamados para viver em comunidade.

c. A ressurreição exclui a reencamação: a morte não é o fim; ela representa uma porta para a eternidade: com Deus ou sem Deus.

d. A história é linear, uma seqüência significativa de eventos que ocorrem para o cumprimento dos propósitos de Deus para a criação: a volta em glória de Cristo.


Em conclusão, o estudo teológico deve ser produzido num ambiente de devoção e adoração. Bavinck disse: “O temor de Deus deve ser o elemento que inspira e anima a investigação teológica. Isso deve marcar a cadência da ciência. O teólogo é uma pessoa que se esforça para falar sobre Deus porque ele fala fora de Deus e por meio de Deus. Professar a teologia é fazer um trabalho santo. É realizar uma ministração sacerdotal na casa do Senhor. Isso é por si mesmo um serviço de culto, uma consagração da mente e do coração em honra ao Seu nome.[9]



[1] Aula de abertura do ano letivo no Centro de Estudos da Reforma ministrada pelo Prof. Antonio de Pádua em 06 de feveriro de 2017
[2] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 14.
[3] BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática. São Bernardo do Campo: SOCEP, 2001, p. 32
[4] GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 1
[5] HAMMETT, John S. Apostila para os alunos de teologia sistemática (Não publicada). Rio de Janeiro: Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, 1995, p. 1-2.
[6] MAIA, Hermisten. Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014.
[7] FERREIRA, Franklin, MYATT, Alan. Teologia Sistemática: Uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 20
[8] O Credo não foi escrito pelos 12 apóstolos, o nome se dá por seu conteúdo, pois ele expressa as verdades vitais e fundamentais da doutrina Apostólica. Há fragmentos dele encontrados no século II, mas a versão que usamos hoje foi completada em meados do século VI. A criação dele foi necessária à Igreja durante o seu grande avanço missionário global e consequente contato com outras culturas pagãs.
[9] BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática. São Bernardo do Campo: SOCEP, 2001, p. 9

sábado, 29 de abril de 2017

HISTÓRIA DE ISRAEL E DOS POVOS VIZINHOS [Prefácio]


Uma nova história do povo de Israel só faz sentido no momento atual se levar em conta a situação da pesquisa, consideravelmente modificada no decorrer dos dois últimos decênios e caracterizada por insegurança e reservas. Mesmo que não exclusivamente, isso se aplica em especial à pré-história e à história primitiva de Israel. Para de antemão eliminar mal-entendidos na utilização deste livro: a expressão “e dos povos vizinhos” naturalmente não significa que aqui também ainda possa e deva ser oferecida de passagem, por assim dizer, a história do Egito, da Mesopotâmia, dos povos e dos países do corredor siro-palestinense e, quem sabe, da Ásia Menor no 2º e 1º milênios a.C. O título não quer nada mais do que indicar o fato historicamente indiscutível de que a história de Israel não pode ser tratada independentemente da do Oriente Antigo, mas constitui, sob todos os aspectos, parte inseparável dela.

A exposição foi disposta em dois volumes: o primeiro, dos primórdios até o fim da época da formação do Estado e o segundo, da chamada “ divisão do reino” até Alexandre Magno, além de uma visão prospectiva sobre a época helenístico-romana entre 332 a.C. e 135 d.C. Esta última tem a função de visualizar como as principais correntes continuaram ativas até a Segunda Revolta Judaica, sem pretender enfocar a totalidade da história judaica em seu estreito entrelaçamento com a história geral da área mediterrânea.

As indicações bibliográficas são relativamente detalhadas para possibilitar o trabalho de aprofundamento. Seguidamente menciono trabalhos sem os comentar, mesmo que não coincidam com a posição defendida no texto. Com alterações pouco significativas, a transliteração das palavras semíticas segue o modelo usual na revista da Associação Alemã para a Palestina (Zeitschríft dês Deutschen Palástina-Vereins). Para o egípcio decidi, apesar de várias ponderações em contrário, ater-me à transliteração clássica do Àgyptisches Wõrterbuch, de Berlim. Neste sentido deve-se considerar que não conhecemos ou não conhecemos corretamente a pronúncia de várias línguas semíticas antigas e do egípcio. Isso está relacionado com o fato de que na maioria dos textos antigos estão escritas só as consoantes, e não as vogais. Por isso as transliterações muitas vezes só oferecem a estrutura “ impronunciável” das consoantes, sem as vogais. Onde era possível e parecia fazer sentido, indiquei a pronúncia convencional dos eruditos: p. ex., em egípcio: Sh’sw = mais ou menos Shasu, ‘pr.w = mais ou menos apiru, e coisas parecidas. Tais indicações só servem para de qualquer modo possibilitar alguma pronúncia, e não para reproduzir a expressão foneticamente correta da respectiva palavra. Nos topônimos constam, entre parênteses, as localidades, i. é, os nomes atuais, em geral árabes, quando conhecidos ou prováveis. Os esboços de mapas só servem para se ter uma visão geral. Para um estudo mais exato do lado geográfico da história gostaria de recomendar: Palãstina, historisch-archâologische Karte, duas folhas a 14 cores em escala de 1:300.000 com introdução e índice, elaborado por Emst Hõhne (Gõttingen, 1981).

Ambos os volumes são dedicados à memória de meus professores de Antigo Testamento e Egiptologia: Albrecht Alt e Siegfried Morenz. Devo-lhes mais do que é possível expressar com palavras. (Prefácio)

Volume 01 – Dos primórdios até a formação do Estado.
Volume 02 – Da época da divisão do Reino até Alexandre Magno

DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos, vol 1 e 2. São Leopoldo, Editora Sinodal, 1997.

A LEI MORAL [Prefácio]


O propósito deste volume é apresentar uma discussão do valor da Lei de Deus na vida do crente, um assunto importante e urgente nos dias de hoje. Em vários períodos na história da doutrina cristã, tomou-se necessário reafirmar a verdade de que o ministério da lei foi divinamente ordenado como um meio de graça para a santificação e caminhada piedosa do crente. Isso, naturalmente, não nega que o único poder suficiente para a santificação é a habitação de Cristo no crente por meio do Espírito Santo: isso é santificação pela fé, e uma das grandes glórias do Evangelho Cristão é o fato de que ele não somente diz aos homens para serem bons mas os capacita para assim o serem.

Mas a concessão do poder para uma vida santa precisa ser acompanhada pela instrução no seu modelo. Em que consiste o comportamento santificado? Consiste em agradar a Deus. O que agrada a Deus? Que sua vontade seja feita. Onde a sua vontade pode ser discernida? Em sua santa Lei. A Lei, então, é a regra de vida do cristão e o crente encontra o seu prazer na Lei de Deus segundo o homem interior (Rm 7.22). O cristão não está sem lei, “mas debaixo da lei de Cristo” (1 Co 9.21). O pecado é a ilegalidade e a salvação consiste em levar o ilegal para sua verdadeira relação com Deus, dentro da bênção da sua santa Lei. A Lei de Moisés é nada menos do que a Lei de Cristo.

O fato de que pela graça um homem não rouba, não mente ou não comete adultério, não destrói, de forma alguma, o fato de que ele não deve fazer isso e o cristão que faz qualquer uma dessas coisas se toma condenado pela Lei como um pecador. Visto ser ele um crente justificado, este seu pecado não o leva à condenação etema, mas certamente o conduz à censura do Senhor. O fato de Deus não ver pecado no crente é verdadeiro no que diz respeito à sua posição (justificação), mas uma proposição completamente incorreta quanto ao seu estado (santificação). A Lei de Deus, por essa razão, não somente instrui o crente quanto ao tipo de vida que agrada a Deus, mas também é um instrumento de humilhação pelo qual o Espírito Santo leva o crente a descobrir suas faltas, lastimar-se por tê-las cometido e a arrepender-se delas e, assim, recorrer ao Senhor Jesus Cristo, o único no qual a graça da santificação pode ser encontrada.

Haveria menos tragédias morais entre os cristãos professos se a instrução salutar da Lei de Deus fosse atendida cuidadosamente. Que o crente possa olhar exclusivamente para Cristo na busca do poder capacitador de uma vida vitoriosa - como de fato deve - mas que ele, ao mesmo tempo, se lembre que a vida santa não consiste em prazer emocional, mas sim em cumprir os mandamentos
de Deus.

Insistir nessa função da Lei de Deus na vida do crente não é se tornar legalista. O legalismo é um abuso da Lei: é uma confiança no cumprimento da Lei para aceitação perante Deus, e o cumprimento de leis, seja orgulhoso ou servil, não é elemento da graça de Deus. No entanto, a obediência de amor rendida alegremente é algo completamente diferente e faz parte da própria essência da vida cristã. Não é legalismo um homem obedecer a Deus porque ele ama agir assim; isso é liberdade: mas, lembre-se, ainda é obediência.

A Lei de Deus tem seu lugar na experiência cristã porque, embora seja por causa de um amor profundo por Deus que o crente faz o que agrada a Deus, ele está, ao mesmo tempo, fazendo aquilo que Deus o manda fazer. Se a má vontade de um homem em obedecer não invalida o mandamento - e isto é admitido por todos - então o mesmo é válido para sua prontidão. A Lei não termina quando um homem se regozija em obedecê-la: ainda existe para ser honrada e gozada na obediência a ela. Um soberano não é menos soberano porque seus súditos o amam. Deus não cessa de ser Deus assim que seu povo é reconciliado com ele. Ele não fica privado de todos os direitos de comando tão logo as pessoas comecem a amá-lo. Conseqüentemente, não existe incompatibilidade entre amor e obediência; pois na vida verdadeiramente santificada existe a obediência em amor e o amor obediente.

Esta verdade talvez possa ser mais facilmente alcançada se ilustrada com relação à Lei positiva, como distinta da Lei moral. Um dos exemplos excepcionais da Lei positiva na vida do filho de Deus é, naturalmente, a ordenança da Ceia do Senhor. Um crente irá alegremente cumprir esse andamento de Cristo, mas nunca vai pensar em dizer que ele assim age meramente porque gosta, não porque o Senhor mandou. Se falasse assim, ele, então, se tomaria uma lei para si mesmo. O crente dirá que ama cumprir cada mandamento sagrado de Cristo e, ao afirmar isso, reconhece o lugar do mandamento. A verdadeira santidade não se detém para considerar meramente as qualidades intrínsecas do bem ou mal, mas dará atenção unicamente à vontade daquele que proferiu os mandamentos. Não há santidade onde não há sujeição a Deus: toda bondade deve ser por causa de Deus, não motivada por si mesma. As boas obras do crente não são meramente boas, são boas pelo fato de serem devidas. A obrigação da obediência é perpétua e pertence à relação da criatura com Deus, e um dos mais ricos frutos da graça é o fato de a alma regenerada poder dizer, “Quanto amo a tua lei!” (SI 119.97). A doutrina bíblica da santificação, então, não é “confie e relaxe” mas “confie e obedeça”. O ensino puritano evita o ativismo pelagiano de um lado e o passivismo quietista do outro, e no lugar de ambos, afirma a necessidade da obediência da fé.

O propósito adicional deste volume é apresentar a discussão da Lei 1 por.meio de uma das mentes mais privilegiadas do período Puritano, a saber, a de Anthony Burgess.

Muito do bom pensamento puritano é encontrado não apenas nos escritos de homens mais conhecidos como John Owen e Thomas Goodwin, mas também na obra daqueles que são menos familiares hoje em dia. Eles permaneceram desconhecidos grandemente por causa do estilo literário de suas épocas, que os leitores modernos encontram dificuldade em seguir, mas eles foram homens de percepção teológica, de intelecto brilhante, pensamento claro e argumento invencível. Anthony Burgess foi um desses.

O tratamento atual do assunto é baseado nos pensamentos e material desse distinto pensador encontrados na sua notável obra intitulada, Vindiciae Legis; ou A Vmdication of the Moral Law. Dessa forma, espera-se que, em alguma extensão, a grande contribuição feita por Anthony Burgess possa ser salva e que receba seu lugar no pensamento de hoje.

KEVAN, Ernest. A Lei Moral. São Paulo. Editora Os Puritanos, 2000. 149p.

PORQUE DEVEMOS ANDAR NOS PASSOS DE JESUS [1 João 2.1-6]



Por séculos, Jesus Cristo tem atraído a atenção de milhões de pessoas. Muitos de nós temos professado ser seus seguidores. Entretanto, será que conhecemos bem o Jesus da Bíblia? É grande a necessidade que temos de conhecer esta pessoa que afirmamos ser Salvador e Senhor. Será que a nossa vida é um reflexo do caráter daquele a quem dizemos estar seguindo? [1]

A Bíblia diz claramente que nós, como cristãos, devemos moldar nossa vida de acordo com o procedimento de Jesus Cristo. O tipo caráter que é visto em Jesus deve ser visto em nós também. O apóstolo João disse isso da seguinte forma: “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1 João 2.6)

Por que devemos dedicar tempo ao estudo do caráter de Jesus?
Por que devemos nos preocupar em sermos parecidos com Jesus?

Um estudo do Novo Testamento revela quatro razões.


1. Parecer com Cristo é o nosso CHAMADO (Mateus 11.28-30)

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus 11:28-30)

O próprio rei Jesus nos deu a graciosa ordem de ir a Ele a fim de aprender. Não somos chamados, em primeiro lugar, a uma instituição ou a uma doutrina em particular, e sim, a uma Pessoa verdadeira. É dessa Pessoa, com todos os seus atributos, que devemos aprender.

O rei Jesus manda que nos aproximemos dele para aprender e devemos obedecer-Lhe o chamado. Quando respondemos a este chamado, nossos primeiros passos com Cristo devem ser caracterizados pela atitude de imitá-Lo.


2. Porque parecer com Cristo é nossa OBRIGAÇÃO (1 João 2.5-6)

“nisto conhecemos que estamos nele. Aquele que diz que está nele, também deve andar como Ele andou” (1 João 5b-6.)

Professar que estamos ligados a Cristo pela salvação, nos leva ao dever de endossar esse testemunho verbal com um estilo de vida que reflete o caráter de Cristo. Fé em Jesus como Salvador e conformidade com seu caráter são inseparáveis, Cl 2.6-7.

O comentador bíblico William Hendriksen observou: O apóstolo nunca proclamava um Cristo que era um Salvador, porém não um Exemplo; nem um Cristo que era um Exemplo, porém não um Salvador. O Cristianismo para Paulo era certamente uma vida, mas uma vida baseada em uma doutrina. E para aqueles - e somente aqueles - que abraçam a Cristo como sendo, pela soberana graça de Deus, Senhor, Salvador e, portanto, Capacitador, ele pode ser também o Exemplo.” [2]

Ser como Cristo é um padrão necessário para o cristão. O teólogo e pastor escocês Sinclair Ferguson escreveu: “Simplificando, a maturidade iguala-se à semelhança com Cristo. Nenhum outro padrão pode substituir essa semelhança. Todos os outros padrões são inferiores, alternativas criadas por homens, as quais encobrem o alto padrão que Deus nos apresenta nas Escrituras”. [3]

No Novo Testamento, nós, cristãos, somos chamados várias vezes a seguir Cristo em nossos caminhos rumo à maturidade cristã.  Além de 1 João 2.5b-6, considere os seguintes chamados para sermos como Cristo: [4]


Referencia
Essência
Exemplo de Cristo
Rm 15.2-3
Agradar ao próximo
“Pois também Cristo não agradou a si mesmo”
Rm 15.7
Acolher um ao outro
“como também Cristo nos recebeu (acolheu) para a glória de Deus”.
2 Co 8-7-9
Enriquecer-se na graça de dar aos necessitados.
“por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.”
Ef 5.2
Andar em amor
Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós
Fp 2.3-8
Ser humilde e abnegado
“essa disposição que houve também em Cristo Jesus que... se esvaziou... tomou a forma de servo... se humilhou e se tornou obediente até a morte; sim, morte de cruz.”
Cl 3.13
Perdoar
“assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.”

Se não buscamos refletir o caráter de Cristo em nossa própria vida, que direito temos de alegar que somos “cristãos”?


3. Porque parecer com Cristo é nosso TESTEMUNHO

As opiniões que o mundo tem sobre Cristo refletem as opiniões que as pessoas têm sobre os seguidores de Cristo.  Em 1941, E. F. Harrison, um estudioso do Novo Testamento, escreveu um artigo sobre a primeira carta de Pedro, comentando acerca da necessidade de os cristãos do primeiro século imitarem o caráter de Cristo. Naquele tempo, o cânone das Escrituras ainda não estava completo e compilado. O que os descrentes sabiam de Cristo era não somente o que eles juntavam aos poucos do testemunho verbal daqueles que professavam ser  seguidores de Cristo, mas do que viam no cotidiano dos cristãos que eles  conheciam. “Era essencial que cada crente pregasse com sua vida, embelezando assim a doutrina e recomendando-a a outros.” [5]

Em nossos dias, a Bíblia é muito negligenciada. O resultado é que espelhamos a falta de conhecimento do primeiro século a respeito do Novo Testamento. Mais uma vez, a maior parte do conhecimento que o mundo tem a respeito de Cristo é adquirida ao observar o cotidiano dos cristãos. O cristão atual tem o ministério de oferecer uma “constante demonstração em carne e osso” [6] do verdadeiro cristianismo.

Por outro lado, “nada dificulta mais o testemunho da igreja cristã do que a distância entre nossas afirmações e nosso agir, entre o Cristo que proclamamos verbalmente e o que apresentamos em ações”.[7]


4. Porque parecer com Cristo é nosso DESTINO

Há um propósito para nossa vida. Como cristãos, estamos nos dirigindo a um destino que Deus planejou para nós antes mesmo dizer “Haja luz”.

Paulo escreveu acerca desse destino em Romanos 8.  Muitos cristãos encontram grande conforto ao citar romanos 8.28: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o BEM daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Infelizmente, poucos crentes têm usado a mesma passagem em um sentido correto. Paulo se referia, quando falou no “bem” que Deus faz em nossa vida. São exatamente as palavras seguintes do apóstolo que explicam: “Porquanto aos que de antemão CONHECEU, também os PREDESTINOU para serem conformes à imagem de seu Filho” (Romanos 8.29).

Agora, como o grande alvo de nossa redenção, Deus faz tudo em nossa vida para o “bem” de nos tornar parecidos com Cristo. Ele está nos moldando e ajustando para que nos conformemos à semelhança de seu Filho. Atualmente estamos na escola da redenção, nos tornando mais e mais parecidos com Jesus. “O alvo fundamental da redenção é fazer cada crente assemelhar-se a Jesus Cristo.” [8]

Se nosso Pai celeste nos predestinou para sermos como Jesus, e se hoje Ele está fazendo com que todas as coisas cooperem para o “bem” em nossa vida, então deveríamos estar muito interessados em saber tudo que pudermos sobre nosso Salvador, em cuja imagem estamos  sendo restaurados. Por quê? Porque o nosso destino é ser como Jesus.

Por que devemos ter o desejo de ser como Jesus? Existem várias razões cruciais pelas quais devemos dedicar nossa vida ao conhecimento de Jesus Cristo, de modo que sejamos mais parecidos com Ele. Ser como Jesus é nosso chamado, nossa obrigação, nosso testemunho e, fundamentalmente, nosso destino.

Devemos nos devotar ao estudo da pessoa de Cristo por meio de sua santa Palavra, orando para que seu Santo Espírito nos conforme mais e mais à imagem de nosso bendito Salvador.

Que a mente de Cristo, meu Salvador
Viva em mim, dia após dia,
E tudo o que eu diga e tudo o que eu for
Que Ele controle com poder e amor.
Possa o amor de Jesus encher-me,
Como as águas cobrem o mar.
Em exaltá-lo e em humilhar-me,
Está a vitória e o meu almejar. (Kate B. Wilkinson)





[1] Estudo adaptado e acrescentado com outras referências e citações pelo Prof. Pádua, O texto sem acréscimos e referências encontra-se no livro “Andando nos Passos de Jesus” de Larry McCall. Cap 1. Editora Fiel, 2009.
[2] HENDRIKSEN, William. Comentário de Colossenses e Filemom. São Paulo: Cultura Cristã, p. 119
[3] FERGUSON, Sinclair B. Descobrindo a Vontade de Deus. São Paulo: PES, 1988, p. 20
[4] HENDRIKSEN, William. Comentário de Colossenses e Filemom. São Paulo: Cultura Cristã, p. 120.
[5] HARRISON, P. H. The Problem of the pastoral epistles’ p. 20-22. Citado CARSON D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2004. p. 365. 
[6] Ibid, p. 131.
[7] SOTT, John. Como ser cristão. Viçosa: Ultimato, p. 134
[8] FLYNN, Leslie B. The Power of Christlike Living - O poder na vida Cristã, Grand rapids: Zondervan, 1962, p. 13.