terça-feira, 22 de janeiro de 2019

AS FIRMES RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS [Resenha]


LAWSON, Steven J. As Firmes Resoluções de Jonathan Edwards. São José dos Campos, SP: Ministério Fiel, 2010.

Este livro é o segundo da série Um Perfil de Homens Piedosos, que tem como objetivo examinar a vida de várias personalidades da história da Igreja com uma perspectiva especificada em um ponto principal do ministério deste homens de Deus. O que podemos ver, por exemplo, no primeiro volume que tem João Calvino como foco, onde a arte expositiva usada pelo reformador na exposição da Escritura é ponto considerado principalmente. Neste volume, no qual Jonathan Edwards (✭1703 - ✝1758) é o homem piedoso a ser estudado, as suas "Resoluções" escritas entre os anos de 1722 e 1723 estarão em foco.

Steven Lawson declara que o objetivo deste livro é chamar a "nova geração de cristão a buscar a santidade em seu cotidiano", isto é, para que "fixemos nossa atenção na forma como devemos nos disciplinar nesta busca". Este chamado é para a nossa época onde o evangelho flácido de muitos cristãos professos apenas os faz mimarem-se "até a morte", de forma a que seus "músculos espirituais estão destreinados e inadequados". Em suma, são almas irresolutas. Com vista nesta situação, Lawson enfatizará neste livro "a apaixonada busca de Edwards por santidade pessoal, por meio de suas 'Resoluções'".


JONATHAN EDWARDS – BIOGRAFIA

Jonathan Edwards nasceu em uma família puritana, em 5 de outubro de 1703, na cidade de East Windsor, em Connecticut, EUA. Ele foi o quinto de onze filhos gerados pelo casal Rev. Timothy e Esther Edwards. Sua educação infantil o introduziu não apenas no estudo da Bíblia e da teologia cristã, mas também nos clássicos e nas línguas antigas.


SEUS ANOS DE ESTUDO

Durante seus primeiros anos de estudo (1716-1720), e durante seus estudos de graduação (1721-1722) no Yale College, Edwards se engajou em todo tipo de questões contemporâneas, tanto na teologia quanto na filosofia. Ele estudou os debates entre o calvinismo ortodoxo de seus antepassados puritanos e os movimentos mais “liberais” que o desafiavam, o deísmo, o socinianismo, o arianismo e o arminianismo anglicano, bem como os pensamentos mais atuais vindos da Europa, como o empirismo britânico e o racionalismo continental. Desde o início de sua vida, Edwards comprometeu-se a defender suas crenças diante dos eruditos estrangeiros do iluminismo mediante a reformulação do calvinismo de um modo novo e vital que sintetizava a teologia protestante com a física de Newton, a psicologia de Locke, a estética do terceiro conde de Shaftesbury e a filosofia moral de Malebranche.

Em Yale, Edwards escreveu quase exclusivamente sobre a filosofia da natureza e a metafísica. Simultaneamente com o grande idealista inglês George Berkley, ainda que distinto dele, Edwards formulou um sistema metafísico que era idealista, destinado a desafiar o aristotelismo. Edwards rejeitou as especulações de Hobbes e de Descartes acerca da natureza da realidade e da substância nos modos que antecipavam a física teórica. Sua metafísica também tinha um componente singularmente estético; para Edwards, beleza era um aspecto essencial de uma entidade, a qual subsistia na harmonia ou conformidade de suas partes. Esta abordagem continua a instruir a ética moderna.


COMEÇANDO O PASTORADO

Em 1726, Edwards sucedeu seu avô, Solomon Stoddard, como pastor da igreja em Northampton, Massachusetts, a maior e mais influente igreja fora de Boston. Mudando sua atenção das atividades teóricas de seus anos em Yale para questões mais práticas, ele casou-se com Sarah Pierpont, em 1727. Jonathan e Sarah se conheceram em New Haven, oito anos antes, quando ela tinha 13 anos de idade, mas não se casaram senão oito anos mais tarde. Eles geraram dez filhos em Northampton.


PRIMEIRO GRANDE AVIVAMENTO

Em 1734-1735, Edwards supervisionou algumas das agitações iniciais do Primeiro Grande Avivamento. Ele ganhou fama internacional como avivalista e “teólogo do coração” após publicar A Faithful Narrative of the Surpising Work of God (Uma Narrativa Fiel da Surpreendente Obra de Deus – 1738), na qual descreveu o avivamento em sua igreja e serviu de modelo empírico para os avivalistas americanos e britânicos.

Os difundidos avivamentos das décadas de 1730 e 1740 estimularam um dos dois períodos mais frutíferos dos escritos de Edwards. Neste período, Edwards tornou-se melhor conhecido como um pregador avivalista que subscrevia uma interpretação experimental da teologia reformada que enfatizava a soberania de Deus, a depravação da humanidade, a realidade do inferno e a necessidade de uma conversão de “novo nascimento”. Enquanto os críticos atacavam as convicções de muitos supostos convertidos como ilusória e, até mesmo, obra do diabo, Edwards tornava-se um brilhante apologista a favor dos avivamentos. Em The Marks of a Work of the Spirit of God (As Marcas de uma Obra do Espírito de Deus, 1741), Some Thoughts Concerning the Present Revival (Alguns Pensamentos Acerca do Presente Avivamento, 1742), A Treatise Concerning Religious Affections (Um Tratado Acerca das Afeições Religiosas, 1746), e The Life of David Brainerd (A Vida de David Brainerd, 1749), ele procurou isolar os sinais da verdadeira santidade da falsa crença. A estrutura intelectual do avivalismo que ele construiu nessas obras inaugurou uma nova psicologia e filosofia das afeições, mais tarde invocadas por William James em seu clássico Varieties of Religious Expirience (1902).


“O PRIMEIRO E MAIOR FILÓSOFO AMERICANO NATIVO”

Perry Miller, o grande expositor da mente da Nova Inglaterra e fundador da edição de Yale das Obras de Jonathan Edwards, descreveu Edwards como o primeiro e maior filósofo americano nativo. Se o estudante penetrar por trás da linguagem técnica da teologia, argumenta Miller, “ele descobrirá uma inteligência que, tal como a de Emerson, Melville ou Mark Twain, é tanto um indicador da sociedade americana quanto um comentário sobre ela.” Embora os editores de Edwards do século 19 tenham “refinado” seu estilo por vergonha de sua linguagem simples, realista e enérgica, hoje, Edwards é reconhecido como um retórico muito hábil e sofisticado e como um perito pregador. Estudiosos literários conectam os princípios psicológicos de Edwards à sua ênfase na retórica como meio de evocar respostas emocionais, mais prontamente vista no mais famoso sermão da história americana, Sinners in the Hand of na Angry God (Pecadores nas Mãos de um Deus Irado, 1741). Eles também apontam para Images or Shadows of Divine Things de Edwards (Imagens ou Sombras das Coisas Divinas, publicado por Miller em 1948) como uma aplicação inovadora da tipologia que antecipou o transcendentalismo ao incluir a natureza como fonte de revelação.

Os escritos de Edwards publicados em Northampton também refletem forte milenarismo e interesse profético. Em A History of the Work of Redemption (Uma História da Obra da Redenção), originalmente pregado como uma série de sermões, em 1739, mas não publicado senão depois de sua morte, Edwards lança a teologia para dentro de “um método inteiramente novo” ao mostrar a obra de Deus como uma história estruturada nas promessas escriturísticas de Deus e nos períodos de derramamento do Espírito. An Humble Attempt to Promote ... Extraordinary Prayer (Uma Humilde Tentativa de Promover ... Oração Extraordinária, 1747) foi parte de um movimento maior em direção aos “pactos de oração” anglo-americanas, e foi uma contribuição importante para o pensamento milenarista. Estudiosos, como Alan Heimert, reconhecem o sinal de importância dessas obras na história americana, particularmente sua contribuição para a ideologia revolucionária.

Em 1750, a igreja de Edwards o demitiu de Northampton, após ele tentar impor sobre sua congregação qualificações mais rigorosas para a admissão aos sacramentos. Preocupado com o fato de que a política de “admissão aberta”, instituída por Stoddard, havia permitido a entrada de muitos hipócritas e incrédulos na membresia da igreja, ele se envolveu em uma amarga controvérsia com sua congregação, ministros da região e líderes políticos. Sua demissão é frequentemente vista como um ponto decisivo na história colonial americana, visto que ela marcou uma rejeição clara e final do antigo “estilo Nova Inglaterra”, construído pelos colonizadores puritanos da Nova Inglaterra. Em seu estudo sobre Northampton durante o pastorado de Edwards, Patricia Tracy descreveu as forças sociais e políticas em ação na cidade como um reflexo de forças econômicas, sociais e ideológicas maiores que reformavam a cultura americana naquela época. Ironicamente, então, o teólogo colonial que melhor antecipou a forma intelectual da moderna América, também foi sua primeira vítima. A luta de Edwards contra essas forças encontra-se registrada em muitos sermões manuscritos que estarão disponíveis no site, por meio do Centro Jonathan Edwards, em Yale.


UMA MISSÃO POSTERIOR

De Northampton, Edwards foi para o posto missionário de Stockbridge, na fronteira ocidental de Massachusetts, onde serviu de 1751 até 1757. Aqui ele pastoreou uma pequena congregação inglesa, foi missionário entre 150 famílias moicanas e mohawks, e onde escreveu muitas de suas principais obras, incluindo as dirigidas à “controvérsia arminiana”. A principal entre elas foi A Careful and Strict Inquiry into the Modern Prevailing Notions of the Freedom of Will… (Uma Cuidadosa e Rigorosa Investigação das Noções Modernas Prevalecentes sobre a Liberdade da Vontade..., 1754), na qual ele tentou provar que a vontade era determinada pela inclinação do pecado ou da graça na alma. Este livro, uma das mais importantes obras no pensamento ocidental moderno, estabelece os parâmetros para o debate filosófico sobre a liberdade e o determinismo que ocorre no século e meio seguinte. Também foram escritas durante este período The Great Christian Doctrine of Original Sin Defended (A Defesa da Grande Doutrina Cristã do Pecado Original, 1758), na qual Edwards afirmou que toda a humanidade tem uma propensão natural para o pecado devido a sua “unidade constitucional” em Adão; e os dois principais manifestos sobre ética, The Nature of True Virtue (A Natureza da Verdadeira Virtude) e The End for Which God Created the World (O Fim para o Qual Deus Criou o Mundo, publicados postumamente, em 1765).

Embora Stockbridge tenha provido algum refúgio para Edwards, ele não podia evitar a notoriedade. No final de 1757, ele aceitou a presidência do College of New Jersey (mais tarde, Universidade de Princeton). Durante o tempo em Princeton, Edwards esperava completar, pelo menos, mais dois tratados importantes, um que mostraria “The Harmony of the Old and New Testaments” (A Harmonia do Antigo e do Novo Testamentos), e o outro que seria um experimento na narrativa teológica, um tratado expandido sobre “The History of the Work of Redemption” (A História da Obra da Redenção). Contudo, ele não viveu para completar estas obras. Após uns poucos meses em Princeton, ele morreu, em 22 de março de 1758, após complicações provenientes de uma vacina contra varíola. Ele encontra-se sepultado no Cemitério de Princeton.


REFLEXÕES ACERCA DAS FIRMES RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS

É provável que um leitor moderno das “Resoluções” de Jonathan Edwards pense: e quanto à dieta? E, a Nova Inglaterra do século XVIII não tinha academias que ele poderia resolver frequentar? Hoje, perder peso e fazer mais exercício são quase a totalidade das nossas resoluções. Reunimos nossa força de vontade, autoexame e autodisciplina na tentativa de parecermos melhores. Edwards estava envolvido em uma tentativa de ser melhor.

Porém, o esforço de auto-aperfeiçoamento de Edwards — tão extenuante de modo a engajar “todo poder, força, vigor e veemência, até violência, dos quais eu sou capaz” — é o de um homem completamente instruído pela Palavra de Deus e pelo evangelho da salvação pela graça por meio da fé em Jesus Cristo. Edwards exercitava a sua vontade, sabendo que sua vontade estava em cativeiro. Ele resolveu ser justo, sabendo que a sua justiça não obtinha a sua salvação. Ele se examinava, sabendo que a sua segurança espiritual estava fora de si mesmo — no fato objetivo da expiação de Cristo pelos seus pecados.

Muitos dos hábitos puritanos e hábitos da mente — a sua ética de trabalho, sua autodisciplina e sua seriedade moral — persistiram muito tempo depois do eclipse de sua teologia, sendo retomados pelos secularistas do Iluminismo, pelos liberais do evangelho social e pelos materialistas vitorianos. Pouco depois do tempo de Edwards, Benjamin Franklin iniciou um programa semelhante de resoluções e autoexame. Franklin apresentou treze resoluções — em oposição às setenta de Edwards — que foram edificadas em torno de virtudes racionais, tais como frugalidade, moderação e castidade.

Enquanto as resoluções de Edwards estavam centradas na glória de Deus, nas Escrituras, no céu e no inferno, e em Jesus Cristo, as de Franklin eram seculares, pragmáticas e mundanas, focadas em se tornar um bom cidadão e um empresário de sucesso. Embora Franklin mencione a oração, Cristo é reduzido a um bom exemplo a ser seguido, citado de modo similar a Sócrates.

Franklin mantinha um gráfico no qual ele fazia marcas de verificação indicando o seu progresso. Quando ele descobriu que tinha problemas para mantê-las todas de uma vez, ele tentou se concentrar em uma virtude de cada vez. Quando ele descobriu que ainda não estava fazendo todos os progressos, finalmente desistiu de todo o plano.

Prestar tal atenção a si mesmo, quando separado de um autoexame bíblico destinado a promover o arrependimento, pode gerar outro tipo de fruto: o Romantismo.

As aulas de literatura americana estudam hoje Jonathan Edwards não por sua teologia e nem mesmo por seu sermão “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, com suas ilustrações atemorizantes, mas como um precursor dos transcendentalistas.

Edwards percebeu o significado espiritual na natureza, que, como criação de Deus, ele via como uma expressão da personalidade divina. Os historiadores literários — perdendo o ponto da cosmovisão distintamente cristã de Edwards — interpretam isso como um passo para a deificação da natureza pelos transcendentalistas.

Edwards também examinava a sua vida interior, como ele fez em suas “Resoluções”, e cuidava de suas emoções internas, que ele associava com seu estado espiritual, como fez em sua “Narrativa Pessoal”. Isso é considerado como um passo rumo à deificação do eu dos transcendentalistas.

Na realidade, Edwards era muito diferente do seu companheiro da Nova Inglaterra Ralph Waldo Emerson, o místico unitariano compondo rapsódias sobre a natureza. Nem era muito parecido com Walt Whitman, o grande poeta americano que escreveu um poema épico intitulado “Canção sobre mim mesmo”. Ao contrário, Edwards exemplifica a sensibilidade cristã integrada na qual o espírito, o intelecto e as emoções têm o seu lugar. Mais tarde, nas palavras de T.S. Eliot, esses poderes humanos se tornariam “dissociados” nos movimentos conflitantes do Iluminismo, do Romantismo e do Modernismo.

Edwards certamente não é culpado pela obsessão com o eu que caracteriza a cultura americana e até mesmo muitas tensões do cristianismo americano. Nossas listas de campeões de venda atestam nossos valores de auto-ajuda, autossuficiência e auto-aperfeiçoamento. Muitos de nossos púlpitos ressoam com os slogans “seja verdadeiro consigo mesmo”, “confie em si mesmo” e até “tenha fé em si mesmo”. Se Edwards ouvisse tais coisas, certamente pregaria um sermão que faria “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” parecer um devocional para a escola bíblica de férias.

Porém, mesmo cristãos conservadores com frequência podem cair na armadilha de prestar muita atenção a si mesmos. “Eu realmente sou salvo?”, podemos meditar às vezes, olhando para nossas vidas internas e pecados ocultos e encontrando pouca evidência de nossa santidade.

Precisamos admitir que as nossas próprias resoluções para melhorar as nossas vidas, por mais bem-intencionadas e sinceramente feitas que sejam, muitas vezes têm pouco efeito. Não podemos sequer manter as nossas resoluções para perder peso ou nos exercitar na academia, muito menos eliminar os nossos pecados de luxúria e crueldade.

Certamente Edwards concordaria com Martinho Lutero, que, em seu aconselhamento espiritual, exortaria as almas atormentadas a pararem de olhar para si mesmas. Em vez disso, elas deveriam olhar para fora de si mesmas, para Cristo na cruz.

A salvação, ambos insistiriam, é extra nos (fora de nós), fundamentada na graça inabalável de Deus e na obra objetiva de Cristo. Quando olhamos para dentro de nós, vemos nosso pecado e nossa fraqueza, conduzindo-nos apenas ao desespero. Mas quando olhamos para fora, para as promessas da Palavra de Deus, podemos encontrar alegria, confiança e segurança.


AS FIRMES RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS

Estando ciente de que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus; humildemente Lhe rogo que, através de sua graça, me capacite a cumprir fielmente estas resoluções, enquanto elas estiverem dentro da sua vontade, em nome de Jesus Cristo.

1. RESOLVI que farei tudo aquilo que seja para a maior glória de Deus e para o meu próprio bem, proveito e agrado, durante todo tempo de minha peregrinação, sem nunca levar em consideração o tempo que isso exigirá de mim, seja agora ou pela eternidade fora. Resolvi que farei tudo o que sentir ser o meu dever e que traga benefícios para a humanidade em geral, não importando quantas ou quão grandes sejam as dificuldades que venha a enfrentar. 

2. RESOLVI permanecer na busca contínua de novas maneiras para poder promover as resoluções acima mencionadas.

3. RESOLVI arrepender-me, caso eu um dia me torne menos responsável no tocante a estas resoluções, negligenciando uma ínfima parte de qualquer uma delas e confessar cada falha individualmente assim que cair em mim.

4. RESOLVI, também, nunca negar alguma maneira ou coisa difícil, seja no corpo ou na alma, menos ou mais, que leve à glorificação de Deus; também não sofrê-la se tiver como evitá-la. 

5. RESOLVI jamais desperdiçar um só momento do meu tempo; pelo contrário, sempre buscarei formas de torná-lo o mais proveitoso possível. 

6. RESOLVI viver usando todas minhas forças enquanto viver. 

7. RESOLVI jamais fazer alguma coisa que eu não faria, se soubesse que estava vivendo a última hora da minha vida. 

8. RESOLVI ser a todos os níveis, tanto no falar como no fazer, como se não houvesse ninguém mais vil que eu sobre a terra, como se eu próprio houvesse cometido esses mesmos pecados ou apenas sofresse das mesmas debilidades e falhas que todos os outros; também nunca permitirei que o tomar conhecimento dos pecados dos outros me venha trazer algo mais que vergonha sobre mim mesmo e uma oportunidade de poder confessar meus próprios pecados e miséria a Deus. 

9. RESOLVI pensar e meditar bastante e em todas as ocasiões sobre minha própria morte e sobre circunstâncias relacionadas com a morte.

10. RESOLVI, sempre que experimentar e sentir dor, relacioná-la com as dores do martírio e também com as do inferno.

11. RESOLVI que sempre que pense em qualquer enigma sobre a salvação, fazer de tudo imediatamente para resolvê-lo e entendê-lo, caso nenhuma circunstância me impeça de fazê-lo.

12. RESOLVI, assim que sentir um mínimo de gratificação ou deleite de orgulho ou de vaidade, eliminá-lo de imediato.

13. RESOLVI nunca cessar de buscar objetos precisos para minha caridade e liberalidade.

14. RESOLVI nunca fazer algo em forma de vingança.

15. RESOLVI nunca sofrer nenhuma das mais pequenas manifestações de ira vinda de seres irracionais.

16. RESOLVI nunca falar mal de ninguém, de forma tal que afete a honra da pessoa em questão, nem para mais nem para menos honra, sob nenhum pretexto ou circunstância, a não ser que possa promover algum bem e que possa trazer um real benefício.

17. RESOLVI viver de tal forma como se estivesse sempre vivendo o meu último suspiro.

18. RESOLVI viver de tal forma, em todo o tempo, como vivo dentro dos meus melhores padrões de santidade privada e daqueles momentos que tenho maior clarividência sobre o conteúdo de todo o evangelho e percepção do mundo vindouro.

19. RESOLVI nunca fazer algo de que tenha receio de fazer uma hora antes de soar a última trombeta.

20. RESOLVI manter a mais restrita temperança em tudo que como e tudo quanto bebo. 

21. RESOLVI nunca fazer algo que possa ser contado como justa ocasião para desprezar ou mesmo pensar mal de alguém de quem se me aperceba algum mal.

22. RESOLVI esforçar-me para obter para mim mesmo todo bem possível do mundo vindouro, tudo quanto me seja possível alcançar de lá, com todo meu vigor em Deus – poder, vigor, veemência, violência interior mesmo, tudo quanto me seja possível aplicar e admoestar sobre mim de qualquer maneira que me seja possível pensar e aperceber-me.

23. RESOLVI tomar ação deliberada e imediata sempre que me aperceber que possa ser tomada para a glória de Deus e que possa devolver a Deus Sua intenção original sobre nós, Seu desígnio inicial e Sua finalidade. Caso eu descubra, também, que em nada servirá a glória de Deus exclusivamente, repudiarei tal coisa e a terei como uma evidente quebra da quarta resolução.

24. RESOLVI que, sempre que encetar e cair por um caminho de concupiscência e mau, voltar atrás e achar sua origem em mim, tudo quanto origina em mim tal coisa. Depois, encetar por uma via cuidadosa e precisa de nunca mais tornar a fazer o mesmo e de orar e lutar de joelhos e com todas as minhas forças contra as origens de tais ocorrências.

25. RESOLVI examinar sempre cuidadosamente e de forma constante e precisa, qual a coisa em mim que causa a mínima dúvida sobre o verdadeiro amor de Deus para direcionar todas as minhas fortalezas contra tal origem.

26. RESOLVI abater tais coisas, a medida que as veja abatendo minha segurança. 

27. RESOLVI nunca omitir nada de livre vontade, a menos que essa omissão traga glória a Deus; irei, então e com frequência, rever todas as minhas omissões.

28. RESOLVI estudar as Escrituras de tal modo firme, preciso, constante e frequente que me seja tornado possível e que me aperceba em mim mesmo de que estou crescendo no conhecimento real das mesmas.

29. RESOLVI nunca ter como uma oração ou petição, nem permitir que passe por oração, algo que seja feito de tal maneira ou sob tais circunstâncias que me possam privar de esperar que Deus me atenda. Também não aceitarei como confissão algo que Deus não possa aceitar como tal.

30. RESOLVI extenuar-me e esforçar-me ao máximo de minha capacidade real para, a cada semana, ser levado a um patamar mais real de meu exercício religioso, um patamar mais elevado de graça e aceitação em Deus, do que tive na semana anterior.

31. RESOLVI nunca dizer nada que seja contra alguém, exceto quando tal coisa se ache de pleno acordo com a mais elevada honorabilidade evangélica e amor de Deus para com a sua humanidade, também de pleno acordo com o grau mais elevado de humildade e sensibilidade sobre meus próprios erros e falhas e de pleno acordo àquela regra de ouro celestial; e, sempre que disser qualquer coisa contra alguém, colocar isso mesmo mediante a luz desta resolução convictamente.

32. RESOLVI que deverei ser estrita e firmemente fiel à minha confiança, de forma que o provérbio 20:6 “ Mas, o homem fiel, quem o achará? ” não se torne nem mesmo parcialmente verdadeiro a meu respeito.

33. RESOLVI, fazer tudo que poderei fazer para tornar a paz acessível, possível de manter, de estabelecer, sempre que tal coisa nunca possa interferir ou inferir contra outros valores maiores e de aspectos mais relevantes. 26 de Dezembro de 1722.

34. RESOLVI nada falar que não seja inquestionavelmente verídico e realmente verdadeiro em mim.

35. RESOLVI que, sempre que me puser a questionar se cumpri todo meu dever, de tal forma que minha serenidade e paz de espírito sejam ligeiramente perturbadas através de tal procedimento, colocá-lo diante de Deus e depois verificar como tal problema foi resolvido. 18 de Dezembro 1722.

36. RESOLVI nunca dizer nada de mal sobre ninguém que seja, a menos que algum bem particular nasça disso mesmo. 19 de Dezembro de 1722.

37. RESOLVI inquirir todas as noites, ao deitar-me, onde e em quais circunstancias fui negligente, que atos cometi e onde me pude negar a mim mesmo. Também farei o mesmo no fim de cada ano, mês e semana. 22 e 26 de Dezembro de 1722. 

38. RESOLVI nunca mais dizer nada, nem falar, sobre algo que seja ridículo, esportivo ou questão de zombaria no dia do Senhor. Noite de Sábado, 23 de Dezembro de 1722.

39. RESOLVI nunca fazer algo que possa questionar sobre sua lealdade e conformidade à lei de Deus, para que eu possa mais tarde verificar por mim se tal coisa me é lícito fazer ou não. A menos que a omissão de questionar me seja tornada lícita.

40. RESOLVI inquirir cada noite de minha existência, antes de adormecer, se fiz as coisas da maneira mais aceitável que eu poderia ter feito, em relação a comer e beber. 7 de Janeiro de 1723.

41. RESOLVI inquirir de mim mesmo no final de cada dia, de cada semana, mês e ano, onde e em que áreas poderia haver feito melhor e mais eficazmente. 11 de Janeiro 1723.

42. RESOLVI que, com frequência renovarei minha dedicação de mim mesmo a Deus, o mesmo voto que fiz em meu batismo, o qual recebi quando fui recebido na comunhão da igreja e o qual reassumo solenemente neste dia 12 de Janeiro, 1722-23.

43. RESOLVI que a partir daqui, até que eu morra, nunca mais agirei como se me pertencesse a mim mesmo de algum modo, mas inteiramente e sobejamente pertencente a Deus, como se cada momento de minha vida fosse um normal dia de culto a Deus. Sábado, 12 de Janeiro de 1723. 

44. RESOLVI que nenhuma área desta vida terá qualquer influencia sobre qualquer de minhas ações; apenas a área da vivência para Deus. E que, também, nenhuma ação ou circunstância que seja distinta da religião seja a que me leve a concretizar. 12 de Janeiro de 1723.

45. RESOLVI também que nenhum prazer ou deleite, dor, alegria ou tristeza, nenhuma afeição natural, nem nenhuma das suas circunstâncias co-relacionadas, me seja permitido a não ser aquilo que promova a piedade. 12 e 13 de Janeiro e 1723.

46. RESOLVI nunca mais permitir qualquer medida de qualquer forma de inquietude e falta de vontade diante de minha mãe e pai. Resolvi nunca mais sofrer qualquer de seus efeitos de vergonha, muito menos alterações de minha voz, motivos e movimentos de meu olhar e de ser especialmente vigilante acerca dessas coisas quando relacionadas com alguém de minha família.

47. RESOLVIDO a encetar tudo ao meu alcance para me negar tudo quanto não seja simplesmente disposto e de acordo com uma paz benévola, universalmente doce e meiga, repleta de quietude, hábil, contente e satisfeita em si mesma, generosa, real, verdadeira, simples e fácil, cheia de compaixão, industriosa e empreendedora, cheia de caridade real, equilibrada, que perdoa, formulada por um temperamento sincero e transparente; e também farei tudo quanto tal temperança e temperamento me levar a fazer. Examinarei e serei severo e acutilante nesse exame cada semana se por acaso assim fiz e pude fazer. Sábado de manhã, 5 Maio de 1723.

48. RESOLVI a, constantemente e através da mais acutilante beleza de caráter, empreender num escrutínio e exame minucioso e muito severo, para constatar e olhar qual o estado real de toda a minha alma, verificando por mim mesmo se realmente mantenho um interesse genuíno e real por Cristo ou não; e que, quando eu morrer não tenha nada de que me arrepender a respeito de negligências deste tipo. 26 de Maio de 1723

49. RESOLVI a que tal coisa (de não ter afeto por Cristo) nunca aconteça, se eu a puder evitar de alguma maneira.

50. RESOLVI que, sempre agirei de tal maneira, que julgarei e pensarei como o faria dentro do mundo vindouro apenas. 5 de Julho de 1723

51. RESOLVI que, agirei de tal forma em todos os sentidos, como iria desejar haver feito quando me achasse numa situação de condenação eterna. 8 de Julho de 1723 

52. Eu, com muita frequência, ouço pessoas duma certa idade avançada falarem como iriam viver suas vidas de novo caso lhes fosse dada uma segunda oportunidade de a tornarem a viver. Eu resolvi viver minha vida agora e já, tal qual eu fosse desejar vivê-la caso me achasse em situação de desejar vivê-la de novo, como eles, caso eu chegue a uma sua idade avançada como a sua. 8 de Julho de 1723

53. RESOLVI apetrechar e aprimorar cada oportunidade, sempre que me possa achar num estado de espírito sadio e alegremente realizado, para me atirar sobre o Senhor Jesus numa reentrega também, para confiar nEle, consagrando-me a mim mesmo inteiramente a Ele também nesse estado de espírito; que a partir dali eu possa experimentar que estou seguro e assegurado, sabendo que persisto a confiar no meu Redentor mesmo assim. 8 de Julho de 172 

54. Sempre que ouvir falar algo sobre alguém que seja digno de louvor e dignificante e o possa ser em mim também, resolvi tudo encetar para conseguir o mesmo em mim e por mim. 8 de Julho de 1723

55. RESOLVI tudo fazer como o faria caso já tivesse experimentado toda a felicidade celestial e todos os tormentos do inferno. 8 de Julho de 1723

56. RESOLVI nunca desistir de vencer por completo qualquer de minhas veleidades corruptas que ainda possam existir, nem nunca tornar-me permissivo em relação ao mínimo de suas aparências e sinais, nem tão pouco me desmotivar em nada caso me ache numa senda de falta de sucesso nessa mesma luta.

57. RESOLVI que, quando eu temer adversidades ou maus momentos, irei examinar-me ver se tal não se deve a: não ter cumprido todo meu dever e cumprir a partir de então; e permitir que tudo o mais em minha vida seja providencial para que eu possa apenas estar e permanecer inteiramente absorvido e envolvido com meu dever e meu pecado diante de Deus e dos homens. 9 de Junho e 13 de Julho de 1723 

58. RESOLVI a não apenas extinguir nem que seja algum leve ar de antipatia, simpatia fingida que encobre meu estado de espírito, impaciência em conversação, mas também e antes poder exprimir um verdadeiro estado de amor, alegria e bondade em todos os meus aspectos de vida e conversação. 27 de Maio e 13 de Julho de 1723

59. RESOLVI que, sempre que me achar consciente de provocações de má natureza e de mau espírito, que me esforçarei para antes evidenciar o oposto disso mesmo, em boa natureza e maneira; sim, que em tempos tal qual esses, manifestar a boa natureza de Deus, achando, no entanto, que em algumas circunstâncias tal comportamento me traga desvantagens e que, também, em algumas outras circunstâncias, seja mesmo imprudente agir assim. 12 de Maio, 2 e 13 de Julho.

60. RESOLVI que, sempre que meus próprios sentimentos comecem a comparecer minimamente desordenados, sempre que me tornar consciente da mais ligeira inquietude interior, ou a mínima irregularidade exterior, me submeterei de pronto à mais estrita e minuciosa examinação e avaliação pessoal. 4 e 13 de Julho de 1723

61. RESOLVI que a falta de predisposição nunca me torne relaxado nas coisas de Deus e que nunca consiga retirar minha atenção total de estar plenamente fixada e afixada só em Deus, exista a desculpa que existir para me tentar; tudo que a fala de predisposição me instiga a fazer, abre-me o caminho do oposto para fazer.21 de Maio e 13 de Julho de 1723

62. RESOLVI a nunca fazer nada a não ser como dever; e, depois, de acordo com Efésios 6:6-8, fazer tudo voluntariosamente e alegremente como que para o Senhor e nunca para homem; “ Sabendo que cada um, seja escravo, seja livre, receberá do Senhor todo bem que fizer”. 25 de Junho e 13 de Julho 1723

63. Supondo que nunca existiu nenhum indivíduo neste mundo, em nenhuma época do tempo, que nunca haja vivido uma vida cristã perfeita em todos os níveis e possibilidades, tendo o Cristianismo sempre brilhante em todo o seu esplendor, e parecendo excelente e amável, mesmo sendo essa vida observada de qualquer ângulo possível e sob qualquer pressão, eu resolvi agir como se pudesse viver essa mesma vida, mesmo que tenha de me esforçar no máximo de todas as minhas capacidades inerentes e mesmo que fosse o único em meu tempo. 14 De Janeiro e 3 de Julho de 1723

64. RESOLVI que quando experimentar em mim aqueles “gemidos inexprimíveis”, Romanos 8:26, os quais o Apóstolo menciona e dos quais o Salmista descreve como, “ A minha alma se consome de anelos por tuas ordenanças a todo o tempo ”, Salmos 119:20, que os promoverei também com todo vigor existente em mim e que não me “cansarei” (Isaías 40:31) no esforço de dar expressão a meus desejos tornados profundos nem me cansarei de repetir esses mesmos pedidos e gemidos em mim, nem de o fazer numa seriedade contínua. 23 De Julho e 10 de Agosto de 1723 

65. RESOLVI que, me tornarei exercitado em mim mesmo durante toda a minha vida, com toda a franqueza que é possível, a sempre declarar meus caminhos a Deus e abrir toda a minha alma a Ele: todos os meus pecados, tentações, dificuldades, tristezas, medos, esperanças, desejos e toda outra coisa sob qualquer circunstância. Tal como o Dr. Manton diz em seu sermão nr.27, baseado no Salmo 119. 26 De Julho e 10 de Agosto, 1723 

66. RESOLVI que, sempre me esforçarei para manter e revelar todo o lado benigno de todo semblante e modo de falar em todas as circunstâncias de toda a minha vida e em qualquer tipo de companhia, a menos que o dever de ser diferente exija de mim que seja de outra maneira. 

67. RESOLVI que, depois de situações aflitivas, avaliarei em que aspectos me tornei diferente por elas, em quais aspectos melhorei meu ser e que bem me adveio através dessas mesmas situações. 

68. RESOLVI confessar abertamente tudo aquilo em que me acho enfermo ou em pecado e também confessar todos os casos abertamente diante de Deus e implorar a necessária condescendência e ajuda dele até nos aspectos religiosos. 23 de Julho e 10 de Agosto de 1723 

69. RESOLVI fazer tudo aquilo que, vendo outros fazerem, eu possa haver desejado ter sido eu a fazê-lo. 11 de Agosto de 1723

70. Que haja sempre algo de benevolente toda vez que eu fale. 17 De Agosto, 1723 

Edwards sustentava a doutrina de que o Deus onipotente exigia arrependimento e fé das suas criaturas humanas; por isso, ele proclamava tanto a absoluta soberania de Deus quanto as urgentes responsabilidades dos homens.

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Leia as resenhas de outros livros da coleção “Um Perfil de homens piedosos” publicados me nosso blog:


sábado, 19 de janeiro de 2019

A QUEDA DE GONDOLIN [Resenha]


TOLKIEN, J. R. R. A Queda de Gondolin. Rio de Janeiro, RJ: HarperCollins, 2018 288p. 


O LIVRO: SUA PUBLICAÇÃO E ENREDO 

A versão brasileira é um projeto de expansão dos escritos de J.R.R Tolkien em língua portuguesa, onde já foram publicados J.R.R Tolkien – Uma Biografia (de Humphrey Carpenter) e também o livro O Dom da Amizade (uma espécie de biografia da amizade entre Tolkien e C.S Lewis). [1]

O projeto da HarperCollins para as obras de J.R.R. Tolkien no Brasil finalmente tem início com a publicação de A Queda de Gondolin. Originalmente editado – como praticamente todo o resto da obra do Professor – pelo seu filho e herdeiro Christopher Tolkien, A Queda resgata um momento determinante na construção do legendarium tolkieniano. Na verdade, o primeiro deles, já que a primeira versão deste texto é apontada como a pedra fundamental no desenvolvimento da sua mitologia. 

“A queda de Gondolin” tem capa dura e possui uma textura dourada no título. A lombada segue o mesmo padrão das ilustrações assinadas por Alan Lee e possui o símbolo élfico no topo, tão característico, dando uniformidade para as obras do autor de “O hobbit” e “O Senhor dos anéis”. 

A folha de guarda possui tons amarelados e símbolos que remetem ao universo criado por Tolkien. Além de gravuras ilustradas por Alan Lee. As folhas são amareladas e de um material rico, sempre com ilustrações no topo de cada conto, além da diagramação que possui um excelente espaçamento para leitura e ilustrações em todo o livro. O livro ainda possui alguns adicionais como lista de nomes, notas adicionais, glossários e informações sobre os Príncipes de Nodor e a Casa de Bëor. 

Além disso, é importante citar que o responsável pela edição do livro é do filho do autor, Christopher Tolkien, sendo o seu último trabalhado realizado, que atualmente possui 93 anos. 

Antes de adentrar propriamente no texto, ou enredo, é importante lembrar que não é um livro para leitor iniciantes nas obras de Tolkien. Ler esse livro sem ter antes, no mínimo ter lido “O Silmarillion” ou “Contos Inacabados” faz com que o leitor se sinta lendo um texto isolado, e não vai conseguir capturar bem o desenrolar do texto, sem conhecimento do contexto geral. Essas mesmas recomendações seguem para quem vai ler “Os Filhos de Húrin e Beren e Lúthien. Portanto, ler “O Silmarillion” vai melhor situa-lo e entender toda a obra, mesmo porque este é o terceiro grande conto da Terra-Média. Os outros são “Os filhos de Húrin” e “Beren e Lúthien”.[2]

Portanto, sendo este terceiro grande conto da Terra-Média, narra a jornada de Tuor rumo à cidade secreta de Gondolin, refúgio élfico do povo do Rei Turgon. Contra a bela cidade, levanta-se Morgoth, o Inimigo Sombrio, com seu exército de seres malévolos. A história da Queda de Gondolin começou a ser escrita em 1916 e agora ganha vida graças ao trabalho editorial de Christopher Tolkien, filho e executor legal das obras de Tolkien. Dessa forma cumprem-se duas sinas: a dos Elfos noldorin na Primeira Era do mundo e a do autor, ao conseguir publicar individualmente os três Grandes Contos dos Dias Antigos Fechando a mitologia da Terra-média, a Queda de Gondolin, assim como Beren e Lúthien e Os Filhos de Húrin, foi ricamente ilustrada pelo renomado artista britânico Alan Lee, que retrata a fantasia de Tolkien há mais de 30 anos. 

Como em obras anteriores, Christopher, com base em manuscritos do pai, faz um estudo aprofundado buscando tornar público um texto coeso e inédito, traçando sempre um paralelo com o contexto onde foi escrito e quais eram os objetivos dentro da história maior que J.R.R contava. 

A obra reúne o conto original escrito por Tolkien, alguns pequenos esboços, visões mais ou menos aprofundadas, e uma narrativa chamada de última versão. Basicamente são duas versões da mesma história, com enfoques diferentes. A primeira, mais simples na sua primeira parte de como Tuor chega a Gondolin, foca mais na queda e destruição da cidade. J. R. R. se preocupou mais em detalhar a Gondolin e a invasão das tropas de Morgoth, com Balrogs e Dragões. Sim, houve alterações em relação a como Tuor chega à cidade e o papel de Ulmo, tornando menos épica sua jornada, mas a compensação é mostrada por meio da destruição da Cidade Oculta e como Tuor consegue salvar parte da população, levando-os em uma fuga desesperada, sendo açoitados por Orcs e Balrogs no caminho. E aqui há sim o sacrifício para o bem de todos, lutas épicas e um certo deja-vu, especialmente com um Balrog. 

A segunda, muda e enriquece as passagens que levaram o herói para chegar na Cidade Oculta e não chega a entrar na Queda. O que se percebe o livro segue uma linha de pegar diversos textos associados ao assunto e faz uma análise, seja complementando informações, seja fazendo um estudo das diferenças. Nesta parte, a depender do interesse do leitor pela obra do Professor, o texto pode perder sentido, pois cai em uma linha quase didática e parcimoniosa, mais próximo de um ensaio sobre esta parte da Obra do que propriamente uma narrativa. Para quem leu os Contos Inacabados, sabem do que estou escrevendo. 

A linguagem de Tolkien que vocês vão encontrar em A Queda de Gondolin tem um estilo que se assemelha ao que vemos nas narrativas bíblicas. Em certo aspecto, podemos nos permitir, a título de situar leitores não familiarizados com a obra, afirmar que as histórias que trazem os eventos da Primeira Era estão para o mundo tolkieniano como o Velho Testamento está para a Bíblia. E aqui podemos conhecer as diversas formas que a história d’A Queda foi sendo gestada na cabeça do autor. Embora a base narrativa seja a mesma, existem diferentes desdobramentos ou detalhamentos em cada novo texto que lemos. Por fim, o editor traz aos leitores um compilado com a evolução da história de Gondolin, reunindo as diversas passagens de cada versão com explicações e notas complementares. 


A CIDADE DE GONDOLIN 

No conto, ficamos sabendo como Ulmo, o senhor das águas e um dos Valar de maior poder em Arda, revelou a Turgon a localização do vale de Tumladen, um local secreto e geograficamente fortificado, onde os elfos e aqueles que estes achassem dignos poderiam viver longe dos olhos e da corrupção de Morgoth, o primeiro e mais poderoso Senhor do Escuro. Sob este desígnio divino, Turgon encontrou o cisma dentro das Echoriath, as Montanhas Circundantes, e ali fundou sua cidade, cujo desenho era baseado na cidade de Tirion, em Valinor, que os Noldor tiveram que abandonar para sempre após o Fratricídio de Alqualondë. 

É interessante dizer que Gondolin, chamada em Quenya de Ondolindë, nome que quer dizer A Rocha da Música d'Água, em Sindarin foi chamada de Gondolin, A Rocha Oculta. A história da Queda de Gondolin foi uma das histórias-base para as histórias de Tolkien sobre a Terra-média. Foi essa a história sobre a Terra-média primeiramente lida em público, em 1918 no Exeter College Essay Club. 

A cidade cresceu em poder e prosperidade, e resistiu durante muito tempo às investidas de Morgoth. A cidade era protegida por sete portões, cada um feito de um material específico – desde madeira, até aço: o primeiro, de Madeira; o segundo, de Pedra; o terceiro, de Bronze; o quarto, de Ferro; o quinto, de Prata; o sexto, de Ouro e o sétimo, de Aço. Os de Prata e Ouro tinham duas famosas representações das Duas Árvores de Valinor, chamadas Glingal e Belthil. – e era considerada inexpugnável, até que a traição de Maeglin, sobrinho de Turgon, levou as criaturas de Morgoth aos portões da cidade no momento mais propício possível. Gondolin termina completamente destruída, e sua tragédia torna-se uma das memórias mais dolorosas na mente dos noldorin na Terra-Média. 


TRADUÇÃO 

Há um aspecto que muito vem sendo discutido que é a questão da tradução. Este assunto eu não domino quase nada, mas, transcrevo aqui um texto com os seus devidos créditos. 

“(...) precisamos falar sobre o elefante na sala: a nova tradução, assinada por Reinaldo José Lopes (que participou do nosso podcast sobre Tolkien). O trabalho de dividido opiniões, principalmente em relação aos termos clássicos “orc” e “goblin”, que foram traduzidos como “orque” e “gobelin”. A justificativa é que o corpo de tradutores optou por obedecer de forma preciosista as orientações do próprio Tolkien para traduções, que incluem não apenas versões diretas dos vernáculos, mas também seu desenvolvimento social e histórico dentro da filologia de Arda. Devemos dizer que apoiamos tal decisão. 


É salutar observar que, mesmo no contexto interno d’A Queda, Tolkien observa que, porque Gondolin permaneceu durante muito tempo isolada e com uma população mista de noldorin e sindarin, desenvolveu-se ali um dialeto distinto dos seus idiomas originais; a própria palavra “Gondolin” é uma corruptela oriunda das versões de Quenya, o idioma Noldor, que a chamava de Ondolindë, e do sindarin de Beleriand, que deveria chamá-la de Goenlin ou Goenglin. 

Ou seja, a opção feita pelos tradutores é apenas orientada – apropriadamente – pela noção de que todo idioma é algo orgânico, que se adapta e se transforma às sociedades e contextos históricos que apresentam ou, no caso de Tolkien, representam; ergo, seria naturalmente um desenvolvimento outro de tais nomes e termos que não simplesmente sua alocação direta do inglês para o português. É preciso, principalmente para os fãs mais novos ou oriundos de outras mídias, desapegar-se da ideia de que o cânone tolkieniano obedece uma prima regra fixa e imutável. Se assim o fosse, o próprio autor não teria se dado ao trabalho de orientar traduções de nomes e termos. 

A única nota realmente lamentável é que Christopher já deixou claro que A Queda de Gondolin provavelmente será a última publicação dos trabalhos restantes de seu pai. O que significa que, 45 anos após sua morte, estaremos definitivamente órfãos do Professor. Certamente, uma tragédia pior do que qualquer uma que os elfos já enfrentaram…” [3]


CURIOSIDADES

1. O título original da obra é “The fall of Gondolin” e foi publicado no Brasil no mesmo dia que a versão inglesa. 

2. A Queda de Gondolin ocorre milênios antes dos eventos dos Anéis, e foi escrita em 1917, assim é o que presume a Sociedade Tolkien. Tolkien considerou A Queda de Gondolin “a primeira história real deste mundo imaginário”. 

3. Para quem é versado na mitologia grega, vai perceber que A Queda de Gondolin, nos remete claramente ao relato homérico do saque da cidade fortificada de Tróia, da traição de Efialtes aos espartanos nas Termópilas e às descrições da mítica cidade de Ecbátana.

Portanto, para adquirir o livro, é só clicar na imagem acima.

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[1] Confiram as resenhas destes dois livros publicados no blog, nos links:
J. R. R. Tolkien – Uma Biografia: http://professorpadua.blogspot.com/2018/11/j-r-r-tolkien-uma-biografia-resenha.html. O Dom da Amizade: http://professorpadua.blogspot.com/2018/12/o-dom-da-amizade-resenha.html.
[2] Beren e Luthién está disponível no link: http://www.harpercollins.com.br/livro/beren-e-luthien/
[3] A Queda de Gondolin – Porque Tolkien nunca é demais! Disponível em https://formigaeletrica.com.br/livros/a-queda-de-gondolin/ Acesso em 19 jan. 2019

sábado, 12 de janeiro de 2019

ROMANOS PARA VOCÊ [Resenha]


KELLER, Timothy. Romanos para você – Volumes 1 e 2. São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 2017 


O LIVRO DE ROMANOS 

A Carta aos Romanos é um livro que transforma o mundo repetidas vezes pela transformação das pessoas. É a explanação mais fundamentada do coração do evangelho e a investigação mais emocionante de como esse evangelho opera em nosso coração. 

O pastor inglês John Stott foi um homem transformado por Romanos. O ministério e o comprometimento de Stott com o evangelismo causaram grande efeito, ao longo do século 20, sobre a igreja no Reino Unido, nos Estados Unidos e, tal vez ainda de forma mais marcante, nos países em desenvolvimento. Ele escreveu sobre sua: “... relação de amor e ódio com Romanos, por causa dos prazerosos/dolorosos desafios pessoais do livro. [...] Foi a exposição devastadora do pecado e da culpa universais do ser humano, que Paulo faz em Romanos 1.18—3.20, que me resgatou daquele tipo de evangelismo superficial, preocupado apenas com as "necessidades percebidas" das pessoas.” [1] 

Quase quinhentos anos antes de as palavras de Paulo chamarem Stott ao evangelismo voltado para nosso relacionamento com Deus, Romanos mudou outros dois homens de um modo que transformaria a igreja por completo. 

Martinho Lutero foi um monge alemão a quem ensinaram que, para ser salvo, Deus exigia dele uma vida reta. E assim ele cresceu odiando a Deus, primeiro por exigir o que ele não podia dar, depois por entregá-lo ao fracasso. Até que Lutero leu e enfim captou o sentido de Romanos 1.17: "... no evangelho é revelada a justiça [retidão] de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé..." (NVI). 

“Labutei diligente e ansiosamente para compreender a palavra de Paulo [...] a expressão "a justiça de Deus" atravancava o caminho, pois eu a interpretava com o sentido daquela justiça por meio da qual Deus é justo e age justamente ao punir o injusto. Apesar de ser um monge impecável, eu me postava diante de Deus como pecador [...] portanto, não amava um Deus justo e raivoso, antes o odiava e contra ele murmurava [...] Então compreendi que a justiça de Deus é aquela pela qual, por graça e pura misericórdia, ele nos justifica pela fé.

Por isso senti que renasci e atravessei as portas do paraíso [...] Lancei-me em seu interior. Se antes odiava a expressão "a justiça de Deus", passei agora a considerá-la a mais cara e reconfortante notícia.” [2] 

A descoberta revolucionária de Lutero em Romanos 1 levaria ao restabelecimento do evangelho na Alemanha e por toda a Europa e, depois, à Reforma protestante. Um dos maiores teólogos e pastores da Reforma, o francês João Calvino, ministrando em Genebra, Suíça, falou de Romanos como sua: “... porta de entrada [...] para todos os tesouros mais escondidos das Escrituras [...] Portanto, o tema desses capítulos pode ser assim enunciado: a única justiça do homem é por meio da misericórdia de Deus em Cristo, a qual, oferecida pelo evangelho, é apreendida pela fé.”[3] 

Tanto Lutero quanto Calvino tiraram grande proveito dos escritos de um líder anterior da igreja, Agostinho, bispo de Hipona (onde hoje fica a Argélia), no quarto século. A mãe de Agostinho era cristã, mas o filho deu as costas à fé professada por ela. Ele buscou a verdade em outros lugares, decidiu viver como bem entendesse e foi pai de uma criança fora do casamento. Quando vivia em Milão, no entanto, ouviu a pregação do bispo Ambrósio, figura altaneira da igreja, e descobriu-se incapaz de se desvencilhar do que escutara: “O tumulto do meu coração me levou ao jardim onde ninguém poderia interferir na luta ardente em que me envolvera comigo mesmo [...] Torcia-me e contorcia-me em minhas cadeias. De repente, ouvi uma voz, vinda da casa ao lado, entoando, como se pertencesse a um menino ou uma menina [...] "Pegue e leia, pegue e leia". [Peguei] o livro do apóstolo [i.e.: Romanos], abri-o e li em silêncio a primeira passagem com que meus olhos depararam:"... não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne" (13.13,14). Não quis nem precisei ler além disso. De imediato, com as últimas palavras da oração, foi como se o alívio de toda ansiedade inundasse meu coração. Todas as sombras da dúvida foram dissipadas.”[4] 

Assim, Deus usou o livro de Romanos para trazer à fé o homem que bem pode ter sido a maior influência sobre a igreja entre o próprio Paulo e Lutero, um milênio depois. 

O que o livro de Romanos tem que o faz assim capaz de transformar vidas e moldar a história? Isso acontece porque Romanos está relacionado com o evangelho. Paulo escreveu à igreja em Roma por volta de 57 a.D., primeiro por querer que seus membros compreendessem o evangelho; depois, para que o vivenciassem — a fim de que conhecessem sua gloriosa libertação. É provável que lhes escrevesse durante sua terceira viagem missionária, possivelmente de Corinto, Grécia. Eram cristãos com quem ele nunca se encontrara, embora esperasse fazê-lo em breve. Parecia ser uma igreja que sofria as tensões entre cristãos judeus e gentios. Pois assim é que ela era composta por judeus e gentios convertidos, que eram cristãos comprometidos, mas jovens. Embora Paulo ainda não os conhecesse pessoalmente, sabia que sua maior necessidade era do evangelho. Contudo, ele não queria que eles o compreendessem apenas, antes desejava que amassem e vivessem o evangelho. O cristianismo não é acima de tudo uma questão de cabeça ou vontade; é uma questão de coração, um coração em que o Espírito Santo habita e que está embebido do evangelho. Esse é o coração que leva à real transformação de pensamento e comportamento. 

Como Lutero e Calvino apresentam de maneira tão poderosa, esse "evangelho de Deus" (Rm 1.1) era uma declaração da justiça divina. Essa era a mensagem de que a perfeição e a santidade de Deus são vistas na vida e na morte de Jesus Cristo; e de que essa perfeição nos é oferecida, como um dom gratuito, pela vida e pela morte de Jesus Cristo. Essa é a "mensagem do evangelho" de Romanos. Como veremos, Paulo nos mostra não só como Deus justifica os pecadores no evangelho, mas também como desfrutamos desse dom tão precioso em nossa vida — como ele produz transformações profundas e monumentais em nosso comportamento e até em nosso caráter. 

Lendo essa carta e refletindo sobre ela hoje, devemos estar preparados para ter nosso coração moldado e nossa vida transformada pelo dom da justiça de Deus, como aconteceu com tantos outros. Romanos nos estimula a perguntar: "Será que eu, como Lutero, 'lancei-me' para a liberdade e a libertação que o evangelho me traz, tanto em relação ao meu futuro quanto em relação à minha vida presente?". 


VOLUME 1 – ROMANOS 1-7 PARA VOCÊ 

Os sete primeiros capítulos explicam as verdades maravilhosas do evangelho: a justificação pela fé, a união com Cristo, a salvação somente por meio de Cristo e não por meio das nossas obras. Esses capítulos tratam de tudo isso e em profundidade. Você encontrará sua análise, apreciação e aplicação no primeiro volume deste livro, Romanos 1-7 para você. 

Nos apêndices desta primeira, o autor inclui um esboço detalhado dos sete primeiros capítulos da carta, para ajudar o leitor a enxergar o fluxo e a lógica gerais do pensamento de Paulo; diversas páginas sobre a concepção bíblica da idolatria, fundamental para o tratamento conferido por Paulo ao pecado e à justiça, nos capítulos 1 a 3; e uma descrição muito breve, além da respectiva resposta, dos recentes debates sobre a quem Paulo se dirige em Romanos e o que ele lhes diz. O esboço do volume 1 é assim constituído: 

1. Apresentando o evangelho - 1.1-17
2. Os pagãos necessitam do evangelho – 1.18-32
3. Os religiosos necessitam do evangelho (primeira parte) – 2.1-16
4. Os religiosos necessitam do evangelho (segunda parte) – 2.17-29
5. Todos necessitam do evangelho – 3.1-20
6. Um diamante sobre um fundo escuro – 3.21-31
7. Quando a justificação começou – 4.1-25
8. O que a justificação propicia – 5.1-11
9. Por que a justificação é proporcionada – 5.12-21
10. Unidos a Cristo – 6.1-14
11. Escravos de Deus – 6.15-7.6
12. Guerra contra o pecado – 7.7-25


VOLUME 2 – ROMANOS 8-16 PARA VOCÊ 

Em seguida vem a segunda metade do livro. Nos capítulos de 8 a 16, Paulo continuará a responder à questão que propôs nos capítulos de 5 a 7: "Como a fé no evangelho de Cristo leva de fato à transformação na vida real?". 

Em certo sentido, Romanos 8-16 é apresentado em duas seções, cada qual iniciada por um "portanto". 

Primeiro, em 8.1, Paulo nos diz: ''Portanto, agora já não há condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus" (grifo do autor). Esse é um resumo de todo o fundamento da confiança cristã. Para o crente, nunca pode haver qualquer condenação ou separação de seu pai celestial. Por quê? Em virtude da obra do seu Filho na cruz e da obra do seu Espírito em nosso coração. Como Paulo demonstra nos capítulos de 9 a 11, nossa salvação tem a ver somente com a escolha de Deus, de modo que podemos ser tanto humildes em relação a nós mesmos quanto confiantes em relação a ele. 

Segundo, em 12.1,2, Paulo diz: ''Portanto, irmãos, exorto--vos pelas compaixões de Deus que apresenteis o vosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. [...] E não vos amoldeis [...], mas sede transformados pela renovação da vossa mente..." (grifo do autor). Esse é um resumo de toda a vida cristã. A vida do crente deve ser de gratidão. Vivemos para agradar nosso Pai celestial, obedecendo a ele, mesmo que nos custe ou seja inconveniente. O restante de Romanos mostra como podemos nos apresentar "como sacrifício vivo" em todas as áreas de nossa vida. 

No século 20, o grande pregador galês D. Martyn Lloyd-Jones escreveu sobre Romanos: “É uma das maiores entre todas as joias. Alguém disse que em toda a Escritura a pedra ou coleção de pedras mais brilhante, mais reluzente e cintilante é a Carta aos Romanos e que, dentre elas, [o capítulo 8] é a gema mais resplandecente da coleção. O [capítulo de Romanos] mais comovente é esse, o capítulo 8.”[5]

Para mim, talvez a parte mais maravilhosa do livro de Romanos se encontre em 8.5, quando Paulo resume como você se transforma de dentro para fora; como você muda de maneira profunda: "... os que vivem segundo o Espírito [pensam] nas coisas do Espírito". Para crescermos em Cristo e sermos transformados em alguém como Cristo, precisamos firmar nossa mente nas coisas espirituais, nas coisas do alto. Precisamos aprender a meditar e a pensar no evangelho até que ele se torne real para o nosso coração e o alicerce de tudo que fazemos. 

Sempre acreditei que no coração de Romanos 8 encontra-se o segredo para aplicar de verdade o evangelho ao seu coração a fim de ser transformado de maneira profunda; e o restante de Romanos lhe mostrará como será essa transformação na prática. Minha oração é para que, ao ler a segunda metade dessa carta maravilhosa, seu coração fique tomado de entusiasmo pelo evangelho, sua mente seja moldada pelo evangelho e sua vida, transformada pelo evangelho. 

De forma semelhante ao primeiro volume, o autor faz a inclusão nos apêndices de um esboço detalhado dos últimos nove capítulos da carta. E os capítulos de 9 a 11 estão entre os mais difíceis de toda a Bíblia, tanto em relação ao entendimento quanto à apreciação; por isso há um apêndice com um tratamento mais extenso da doutrina da eleição soberana de Deus. O esboço do volume 2 é assim constituído:

1. Enfrentando o pecado com o Espírito – 8.1-13
2. Vivendo como filhos de Deus – 8.14-25
3. Enfrentando a vida com confiança – 8.26-39
4. A soberania de Deus – 9.1-29
5. Nossa responsabilidade – 9.30-10.21
6. Deus e Israel – 11.1-36
7. Novos relacionamentos: com Deus e a igreja – 12.1-8
8. Novos relacionamentos: com amigos e inimigos – 12.9-21
9. Novos relacionamentos: como cidadãos do Estado – 13.1-14
10. Novos relacionamentos: entre o fraco e o forte – 14.1-23
11. Unidade e missão – 15.1-33
12. A Deus seja glória – 16.1-27 

Mas este recurso não se pretende uma palavra exaustiva ou final! Não é um comentário; não atinge a profundidade que atingiria um comentário, nem interage com a erudição histórica e atual. É um guia expositivo, desvendando as Escrituras e sugerindo a maneira pela qual ela se aplica a nós hoje. O que peço em oração é, simplesmente, que ele o ajude a, como diria Lutero, "se lançar": seja para entender a mensagem do evangelho, seja para experimentar a vida do evangelho, seja nos dois casos.


O AUTOR 

Timothy Keller, nasceu e cresceu na Pensilvânia e estudou na Bucknell University, no Gordon-Conwell Theological Seminary e no Westminster Theological Seminary. Por muitos anos, foi pastor da Redeemer Presbyterian Church, em Manhattan, igreja que fundou em 1989 com a esposa, Kathy, e seus três filhos. É autor best-seller do New York Times e escreveu vários livros, entre eles A fé na era do ceticismo, Deus na era secular, Caminhando com Deus em meio à dor e ao sofrimento, Justiça generosa, Como integrar fé e trabalho, Igreja centrada, O evangelho na vida, Pregação, Oração, A cruz do Rei, Encontros com Jesus, Ego transformado, Os cânticos de Jesus, O Natal escondido, Gálatas para você, entre outros publicados por Vida Nova. 


A SÉRIE “A PALAVRA DE DEUS PARA VOCÊ” 

Esta série é publicada pela Editora Edições Vida Nova e cada volume da série “A Palavra de Deus para Você” o transporta ao âmago de um livro da Bíblia e aplica as verdades nele contidas ao seu coração. Os objetivos principais de cada título são: (1) estar centrado na Bíblia; (2) glorificar a Cristo; (3) ter aplicação relevante e (4) ser lido com facilidade. 

Os livros até agora publicados foram:  (veja a imagem)

Imagem - Edições Vida Nova


Cada um desses livros, foram feitos para: 

1. ... para ler e estudar. Você pode simplesmente percorrê-lo de capa a capa, lendo ou estudando, como um livro que explica e investiga os temas, as exortações c os desafios dessa porção das Escrituras. 

2. ... para meditar e se alimentar. Você pode trabalhar o livro como parte de suas devoções pessoais regulares, ou usá-lo em conjunto com um sermão ou uma série de estudos bíblicos da sua igreja. Cada capítulo é dividido cm duas seções, com perguntas para reflexão no fim de cada uma delas. 

3 ... para ensinar e liderar. Pode usá-lo como recurso no ensino da Palavra de Deus, tanto no ambiente de um pequeno grupo quanto em toda a igreja. Você verá que versículos ou conceitos complicados estão explicados aqui em linguagem simples, e encontrará temas e ilustrações úteis, acompanhados de sugestões de aplicações. 

Os livros desta série não são comentários. Não pressupõem um entendimento das línguas originais da Bíblia, nem um alto nível de conhecimento bíblico. Palavras de uso mais raro, ou que são usadas de maneira diferente na linguagem do dia a dia da igreja, são marcadas em versalete quando aparecem pela primeira vez e explicadas em um glossário no fim do volume. Em geral os substantivos e os adjetivos aparecerão no glossário no masculino e no singular e os verbos na forma não flexionada. Nele você também encontrará detalhes de recursos que poderá utilizar em conjunto com o livro, tanto na vida pessoal quanto na igreja.

Para acessar o kit completo é só clicar na imagem acima


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[1] The message of Romans, The Bible Speaks Today (Downers Grove: IVP Academic, 2001), p. 10 [edição em português; A mensagem de Romanos, A Bíblia Fala Hoje (São Paulo; ABU, 2000)].
[2] Commentary on the Epistle to the Romans (Edinburgh: Kregel Classics,2003).
[3] Commentaries on the Epistle of Paul to the Romans, tradução para o inglês de John Owen (Edinburgh: Calvin Translation Society, 1849), p. 16 [edição em português: Romanos, Série Comentários Bíblicos, tradução de Valter Graciano Martins (São José dos Campos: Fiel, 2014)].
[4] Confessions (New York: Mentor/Penguin, 1963), livro VIII, cap. 12 [edição em português: Confissões, 3. ed., tradução de Maria Luíza Jardim Amarante (São Paulo: Paulus, 2006)].
[5] Romans chaften 7:1—8:4, Romans Series (Grand Rapids: Zondervan, 1989), p. 258-9 [edição em português: Romanos: exposição sobre os capítulos 7:1—8:4: a lei: suas funções e seus limites (São Paulo: PES, 2001)].