quarta-feira, 29 de julho de 2020

O VERMELHO E O NEGRO [Resenha 122/20]


Certa vez, Ernest Hemingway (autor de “Por quem os sinos dobram”), recebeu um jovem escritor em busca de orientação. O conselho do futuro Prêmio Nobel de Literatura foi para o garoto ler os livros clássicos, pois eles já haviam passado pelo teste do tempo. Ao ser questionado, então, quais clássicos ele recomendava, Hemingway fez uma lista com 17 obras fundamentais, entre elas Anna Karenina, de Tolstói, Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski, e o livro que é tema desta resenha: “O Vermelho e o Negro”, de Stendhal.

Stendhal é o pseudônimo do francês Henri-Marie Beyle, nascido em 1783, que acompanhou de perto momentos importantes da história do país, como a Revolução Francesa, e fez parte do exército de Napoleão Bonaparte em campanhas na Áustria, Alemanha e Rússia.

Só depois disso tornou-se escritor. “O Vermelho e o Negro” foi publicado em 1830, em meio à revolta que derrubou o Rei Carlos X. O livro, baseado em acontecimentos reais, conta a história de Julien Sorel, filho de um carpinteiro da pequena (e fictícia) cidade de Verrières que quer de qualquer forma mudar o seu futuro infeliz. Seu sonho era ascender socialmente como fez Napoleão, à base da espada, mas como os tempos eram outros, dedicou-se aos estudos de latim e a vida eclesiástica.

A partir deste diferencial, sua trajetória de vida muda completamente. Ele é escolhido para ser o educador dos filhos do prefeito da cidade, o Sr. de Rênal, e lá tem acesso a pessoas de outros níveis sociais. Enquanto sua erudição e polidez impressionam a todos, um romance inconcebível faz com que os planos do jovem sejam alterados e levados para o seminário na cidade de Besançon.

Após este período complicado (que também é a parte mais arrastada do livro), Julien é contratado para prestar serviços ao Marquês de La Mole, em Paris, e é lá que ele percebe com mais intensidade o desprezo por sua origem, as maquinações políticas e novamente um amor louco e proibido. Dessa vez é com Mathilde, a filha do Marquês, moça jovem, bela e de caráter duvidoso. Este relacionamento revela-se cada vez mais errático e inviável, em meio a um turbilhão político que precedia a Revolução de Julho de 1830. E as consequências dele mostram-se irreversíveis, fato que dá um fôlego interessante ao final da leitura.

O vermelho e o negro é um livro muito bom. A descrição é limpa, mas ainda assim com um toque de classe pertencente aos grandes da literatura. Uma característica interessante da narrativa é que ela é feita com ênfase nos pensamentos de Julien: os seus sentimentos, análises e planos são expostos com bastante freqüência, proporcionando ao leitor a opção de concordar ou discordar de suas idéias. Isso porque ele não é um herói, mas um homem ambicioso, calculista, que ao mesmo tempo em que despreza a alta sociedade, quer fazer parte dela a todo custo.

Apesar de toda essa complexidade, Stendhal soube conduzir muito bem a sua história. Vale a pena seguir a dica de Hemingway e ir atrás de obras desta estirpe.

Esta linda e luxuosa edição foi produzida pelo “Clube de Literatura Clássica” do qual sou assinante. Este é o segundo volume de muitos que virão.
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STENDHAL, [Henry Marie Beyle]. O Vermelho e o Negro. Novo Hamburgo, RS: Clube de Literatura Clássica, 2020. 656p.

sábado, 25 de julho de 2020

ONDE ESTÁ DEUS EM UM MUNDO COM CORONAVÍRUS? [Resenha 121/20]


O mundo mudou nos últimos meses. Estamos atravessando um período singular, que marca uma era. Muitas de nossas certezas se esvaíram, não importa qual seja a nossa cosmovisão ou quais sejam as nossas crenças. Seja você um cristão ou não, a pandemia do Coronavírus é desconcertante e perturbadora para todos nós. Como devemos compreender uma pandemia global ameaçadora que colocou paralisou a vida? Onde está Deus? Como ele pôde permitir isso?

John escreveu muitos livros, mas nenhum em um espaço de uma semana, como este. “Este livro contém minhas reflexões sobre o que estamos experimentando no momento atual. Comecei a escrevê-lo há uma semana, e as coisas têm mudado tão rapidamente desde então e assim prosseguirão indubitavelmente.” No entanto, apesar de sua breve gestação, este livro coloca a pandemia do coronavírus em uma perspectiva histórica, científica, teológica e pessoal que nos ajudará a todos que estamos no meio dessa crise a enxergar a situação através de lentes grandes angulares. “É difícil assimilar que esta pandemia tem o potencial de ser a pior jamais vista até então, e que todas as nossas atuais estimativas do seu impacto devem provavelmente ficar muito aquém da realidade. Sua escala e alcance soam como algo saído de um filme distópico. E, contudo, é isso o que realmente está acontecendo.”

O professor John Lennox é docente de Matemática da Universidade de Oxford e ocupa as cátedras de Matemática e Filosofia da Ciência na Green Templeton College. É também autor de numerosos livros que tratam das relações da Ciência, Religião e Ética e neste livro une sua profunda compreensão de ciência e sua ardente fé cristã para refletir a respeito de nossa aterradora crise.

Além da Introdução e Posfácio, o livro possui seis capítulos com um conteúdo significativo, mas facilmente acessível, não tem a pretensão de dar todas as respostas, porém, seguramente, aborda as grandes questões e irá ajudá-los a compreender os desafios que todos enfrentamos juntos. Nenhuma voz no mundo ocidental é mais clara e sábia do que a de John Lennox. Para todos que querem uma pausa para pensar, este é o livro ideal.
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LENNOX, John. Onde está Deus em um mundo com coronavírus? Rio de Janeiro, RJ: Editora CPAD, 2020. 96p.

AS CRÔNICAS DE NÁRNIA E A FILOSOFIA [Resenha 120/20]


Apesar de terem sido escritas basicamente para crianças, As Crônicas de Nárnia são ricas em temas filosóficos. Entre as perguntas filosóficas apresentadas estão: como podemos distinguir a verdade da ilusão? O poder está acima do certo e errado, ou existem regras morais objetivas que devem ser respeitadas por todos? Por que devemos ser seres morais? Podemos aceitar algumas coisas apenas com base na fé? Pode mais de uma religião estar certa? O que é o tempo, e será que ele flui em ritmos diferentes em diferentes mundos? Alguém pode ser transformado em dragão, como diz Eustáquio, e continuar sendo a mesma pessoa? Os leitores que gostam da magia podem levantar as sobrancelhas em dúvida ante a ideia de filósofos entrarem em Nárnia. Reunir um grupo de filósofos para escrever a respeito das Crônicas pode ser como soltar um bando de calormanos, com licença para pilhar e saquear.

Mas, para tranquilizá-los, podemos afirmar que os editores e autores deste volume são fãs das Crônicas e não têm a menor intenção de transformá-las em uma coisa que elas não são. Os contos de Nárnia são, antes de qualquer coisa, histórias maravilhosas que devem ser apreciadas em seus próprios termos. Entretanto, cremos que tal apreciação condiz isso e é enriquecida por um entendimento de temas filosóficos e morais, inseridos com maestria nas histórias.

Contudo, não devemos negar o fato que o próprio Lewis, afinal, era uma espécie de filósofo. Seu primeiro emprego em Oxford, em 1924, foi ensinar essa disciplina, substituindo um professor que fora para os Estados Unidos para lecionar durante esse período. Vale mencionar também que, entre 1942 e 1954, Lewis foi presidente do Clube Socrático, uma sociedade estudantil de debates cujo propósito era discutir questões relacionadas ao Cristianismo.

Mais relevante ainda, é que alguns dos mais famosos e influentes livros de Lewis eram de natureza explicitamente filosófica. Abordavam assuntos como o problema do mal, a natureza e a base da moralidade, a existência de Deus, a credibilidade dos milagres, as deficiências do materialismo científico — em suma, os mesmos tópicos que aparecem nas Crônicas. Embora tais livros sejam populares por natureza, receberam considerável atenção e comentários críticos de filósofos profissionais.

Ao destacarmos os interesses filosóficos de Lewis, não estamos sugerindo que suas histórias sejam apenas veículos para expressar suas visões morais ou religiosas nem implicando que o "tema central" dos contos seja basicamente filosófico. Contudo, ignorar ou negar o filosófico quando ele está presente não é mais virtuoso do que ler as histórias como sermões em astuto disfarce.

Este tremendo livro possui 22 capítulos, que estão divididos em quatro partes assim intitulados: (1) Acreditar, duvidar e saber. (2) Moralidade e boa fama. (3) Explorando a natureza mais profunda da realidade. (4) Religião e o transcendente. Todos os capítulos têm o objetivo modesto de auxiliar os leitores que desejam explorar parte do fascinante terreno filosófico e moral que permeia de modo inegável as histórias de Nárnia. Nosso público-alvo são os fãs das Crônicas que também se interessam por Filosofia, e não os filósofos profissionais que se interessam por Nárnia. Com esse propósito, e diante de algumas óbvias limitações de espaço, os autores abordam essencialmente argumentos e questões importantes, em vez de qualificações e objeções detalhadas que deveriam estar presentes se estes ensaios fossem escritos para filósofos profissionais. Eles iluminam numerosos caminhos que os leitores interessados talvez queiram explorar um pouco mais e sozinhos, após terem realizado um reconhecimento do terreno. Como Lúcia e seus irmãos aprenderam, há em Nárnia mundos para descobrir que nem sequer sonhávamos que existiam. Então, nas palavras de Precioso, o Unicórnio, para cima e avante!
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BASSHAM, Gregory & WALLS, Jerry L. As Crônicas de Nárnia e a Filosofia: O leão, a feiticeira e a visão do mundo. São Paulo, SP: Editora Madras, 2006.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

O BATISMO E OS DONS DO ESPIRITO [Resenha 119/20]


O Dr. Lloyd-Jones foi, sem dúvida, o líder do florescente movimento reformado da Grã-Bretanha. Seu ministério em Londres foi notável não apenas pelas grandes congregações que se reuniram em seu rico ministério bíblico e doutrinário, mas também por sua ênfase evangelística, com sua penetrante análise da sociedade moderna e sua extraordinária unção enquanto ele proclamava apaixonadamente o poder presente de Jesus Cristo.

Numa época (nos anos quarenta e início dos anos cinqüenta do século 20), quando a doutrina era tantas vezes ignorada pelos evangélicos e ate temida como “divisora", ele mostrou como a verdade apostólica em toda a sua amplitude e profundidade ("todo o conselho de Deus" como nossos pais a chamavam) não era um acréscimo opcional na vida da igreja, mas uma fonte vital de seu poder e uma demonstração constante da santidade, sabedoria, justiça e amor de Deus em Cristo. Sob seus conselhos e inspiração, os livros começaram a fluir das editoras, nas quais reformadores e puritanos ingleses mais uma vez exerceram seu ministério incomparável para uma nova geração de crentes; grandes líderes de avivamento e pregadores como Whitefield e Edwards, Ryle e Spurgeon, tornaram-se amplamente conhecidos na plenitude de seus ministérios para os evangélicos de hoje.

A lealdade do Dr. Lloyd-Jones à Escritura, seu senso de história, sua amplitude de leitura e sua profunda humildade diante das coisas de Deus levaram-no a acolher (embora não sem críticas) muitos aspectos do crescente movimento carismático e a ver sua compatibilidade fundamental com o evangelicalismo histórico, incluindo a tradição reformada na qual ele estava inserido.

Neste livro, o Dr. Lloyd-Jones aborda com muita autoridade o assunto que talvez seja o mais polêmico com o qual a igreja tem lidado, especialmente após o decisivo aparecimento do movimento pentecostal no apagar das luzes do século 19. Mas embora a polêmica que causa seja certamente um de seus maiores apelos para muitos, este livro é importante não pela controvérsia propriamente dita. É fato que ao estabelecer cirurgicamente a distinção entre regeneração e o batismo com o Espírito Santo, este como experiência pós-conversão, Lloyd-Jones confronta os fundamentos da pneumatologia reformada como entendida e difundida havia muito desde B.B Warfield.

Contudo, em que pese a polêmica incidental, este livro é muito mais importante porque expõe a mais correta interpretação dos textos bíblicos sobre a matéria e o ensinamento definitivamente amadurecido de Lloyd-Jones sobre a questão do batismo com o Espírito Santo, já que os sermões foram pregados entre 1964-65, cerca de três anos antes de sua aposentadoria. Para os que estavam em dúvida sobre a derradeira posição do Dr. Jones a respeito, este livro dissipará todas elas.

Os sermões demonstram a capacidade do Dr. Lloyd-Jones de alcançar um equilíbrio bíblico. Ele acreditava apaixonadamente no batismo com o Espirito Santo como uma experiência distinta e pós-conversão. Mas ele também percebeu que era um preenchimento de poder, que fazia com que aqueles que o receberam fossem melhores testemunhas de Cristo. Essa, de fato, era uma mensagem centrada em Cristo, enfatizando que um conhecimento e relacionamento mais profundo com Jesus Cristo estavam no coração do batismo com o Espírito. Da mesma forma, enquanto ele acreditava que todos os dons existiam hoje, ele se recusou a sustentar, com base nas Escrituras, que qualquer dom fosse necessário como prova do batismo com o Espírito. Ele era bastante consistente com suas visões da soberania de Deus quando afirmou que não podemos induzir o batismo com o Espírito – é algo que pode ser dado somente por Deus. Ele foi, assim, reformado e carismático, nos sentidos bíblicos dos termos.
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LLOYD-JONES, D. Martin. O Batismo e os dons do Espírito: poder e renovação segundo as Escrituras (2ª edição). Natal, RN: Editora Carisma, 2020. 448p.

MOBY DICK [Resenha 118/20]


Um animal versus um homem em busca de vingança. O clássico "Moby Dick" vai além dessa simples definição. Ismael é o narrador da trama e nos revela como o capitão Ahab e sua tripulação partirão em busca da baleia branca. Sedentos por sua pele, ou melhor, corpo, a equipe perceberá que, na verdade, está à caça de seus destinos e não da fera do mar.

"Moby Dick", de Herman Melville, foi escrito em 1851 e só ganhou reconhecimento anos depois na literatura norte-americana e mundial. Por décadas, a obra ficou na obscuridade. Somente após a Primeira Guerra Mundial, estudantes de literatura norte-americana descobriram as linhas do autor. Ismael é o herói da trama. Ele embarca como marujo no baleeiro Pequod, do capitão Ahab, na ilha de Nantucket rumo ao Pacífico. Seu companheiro é Queequeg, príncipe de uma tribo canibal da Polinésia que personifica o primitivo, a barbárie evidenciada. Por meio deste personagem, Melville traveste a selvageria que pertence ao ser humano - todos ali são mais brutais do que a própria baleia branca.

Moby Dick possui uma grandeza que se equipara ao objetivo do contar de escritor. Este registrou por meio da obra um capítulo singular da história norte-americana - o das baleias e sua pesca. Para tanto, utilizou-se de significados míticos para realizar o relato.

O autor, Herman Melville viveu anos a bordo de navios, pescando baleias e aventurando-se pelas aquáticas e árduas veredas da vida de marujo. Dessa vasta experiência vivida é que ele extraiu a matéria-prima para sua literatura. Porém não devemos nos enganar, pois Moby Dick, assim como O coração das trevas, não é um romance marítimo de aventura pura e simples, mas uma epopéia profunda e subjetiva que consegue prender até o mais exigente dos leitores.

Segundo os estudiosos da obra de Melville, a intenção do autor foi evidenciar o eterno conflito entre o homem e seu destino - a baleia representando o mal infinito por ter decepado a perna de um homem do mar (capitão Ahab), e ele a vontade do homem que se opõe às forças da natureza. O leitor percebe que a baleia branca é antes de tudo a concretização da ferocidade, da coisa que se revolta contra o ser humano.

Assim, a obra permanece em nosso imaginário como o duelo entre duas ferocidades: da pura fera e sua total capacidade de fera, que enfrentará a outra fera, mais conhecida como orgulho humano. E esse confronto entre dois primitivos ultrapassará os séculos e permanecerá vivo e atual. Melville prova ao leitor que nem a vastidão dos sete mares abarca a ira de ambos. A cada página virada e légua percorrida trememos de medo, compartilhamos a cólera da tripulação e do entusiasmo da aventura. Percebemos também que somos caçados tal qual Moby Dick o é, só que pelo destino. Este, de repente, emerge à nossa frente e atraca em algum ponto de nossos questionamentos.
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MELVILLE, Herman. Moby Dick [edição Bilingue]. São Paulo, SP: Editora Landmark, 2012. 527p.

SANTOS: MAIS DO QUE CRISTÃOS [Resenha 117/20]


Como você imagina que seja um “santo”. Geralmente Imaginamos janelas com vitrais retratando Pedro, Paulo ou Maria. Pensamos nos heróis dos nossos dias, como Madre Teresa, que parecem transcender o restante da humanidade. Mas a palavra “santo” é humana de uma maneira inata e descreve homens e mulheres tão devotos à pessoa de Jesus que eles O serviam com todo o seu ser, com o seu verdadeiro ser. A palavra “santo” tem uma história de raízes profundas dentro do relato da redenção de Deus e da plenitude de vida que Ele tem para cada um de nós. Um santo é alguém que foi redimido e considerado digno por um Salvador perfeito.

A Bíblia se refere a todos os cristãos como santos, no entanto nós, como cultura, não nos identificamos com esse termo. Neste livro, Addison Bevere traz esse termo arcaico para o espaço moderno quando nos convida a reivindicar e tomar posse da identidade de santos como seguidores de Jesus. A curiosidade e o encantamento contagiantes de Addison farão você pensar na sua identidade em Cristo de uma maneira nova. Reivindicar a identidade de santo não tem a ver com o quanto cada um de nós é uma boa pessoa - tem a ver com Aquele que deu a vida por nós, que merece nossa adoração, que nos ama com toda a nossa humanidade. Santos é um chamado a nos tornamos seguidores de Jesus mais dedicados, nos encorajando a expandir a visão sobre Deus e a abrir mão de nossa tendência à adoração própria e ao controle. E quando expandimos nossa visão sobre Deus, permitindo maior espaço para o assombro e o mistério, experimentamos o mundo através da perspectiva divina e começamos a ver a vida como momentos gloriosos da graça de Deus.

A busca autêntica e de todo coração de Addison Bevere por Deus faz dele o autor perfeito para esta mensagem. Addison é o exemplo da vida de um santo que segue as palavras e os atos de Jesus, provando que a devoção a Jesus é uma aventura transformadora e gloriosa.

A mensagem de Santos não tem a ver com alcançar a perfeição, mas com andar com Deus de modo autêntico e íntimo enquanto os planos Dele para você são totalmente realizados na sua vida. Através de sua escrita e de sua vida, Addison esclarece que devoção a Deus não tem a ver com a perda do eu, mas com o verdadeiro entendimento e o pleno reconhecimento da pessoa que Deus criou você para ser.

Nossa identidade em Cristo tem a ver com abraçarmos a plenitude do nosso verdadeiro eu, para que a glória de Deus possa ser revelada através de nós. Qualquer coisa menos que isso é falsa humildade, que está no mesmo nível do orgulho.

Este livro além do prefácio possui dez capítulos, onde o autor se esforça para fazer: (1) combinar excelência literária com uma mensagem verdadeiramente original. (2) com uma escrita rica em novas metáforas, ilustrações criativas e percepções bíblicas. (3) com uma comunicação divertida e muitas vezes coloquial. Toda esta técnica fará você virar as páginas sem parar até o fim. Sua capacidade de encontrar uma linguagem e uma percepção novas para a Igreja, sem dúvida, irá dar poder a esta geração para se tornar o que fomos criados para ser: SANTOS.

Este livro vai desafiar e despertar você para o alto chamado que Deus colocou sobre sua vida. Santidade é sobre uma vida de humilde, devoção e obediência; é sobre a maravilha e a glória que podem ser encontrados em cada momento de cada dia enquanto andamos com Deus.
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BEVERE, Addison D. Santos: Mais do que cristãos. Rio de Janeiro, RJ: Edilan, 2020. 263p.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

ORGULHO E PRECONCEITO [Resenha 116/20]



A história de um amor improvável em uma época em que sentimentos poderiam não ser suficientes. Quando Elizabeth Bennet conhece o cobiçado Fitzwilliam Darcy, não hesita em julgá-lo arrogante e presunçoso, afinal ele parece desprezar sua companhia, assim como a de todo mundo, demonstrando um temperamento rude e orgulhoso, impossível de agradar. Após descobrir o envolvimento do detestável cavalheiro nos eventos que separaram sua querida irmã, Jane, do jovem Bingley, Elizabeth está determinada a odiá-lo ainda mais. Uma surpreendente reviravolta, porém, poderá provar que as primeiras impressões nem sempre são incontestáveis. A escrita irônica e inteligente de Jane Austen perpetua-se pelos séculos, encantando geração após geração, e coroando-a uma das autoras mais lidas, admiradas e amadas de todos os tempos.

Publicado em 1813, o “filho querido” de Austen, seu primeiro livro escrito, tornou-se digno do rótulo de clássico, justamente por usar com talento os ingredientes caros à sociedade inglesa do século XIX – seja pela curiosidade das classes mais baixas, seja pela identificação dos mais ricos – como estratégia para tecer críticas sociais e morais profundas contra um mundo extremamente difícil para as mulheres. Dois fatos sobre esta obra: (1) É a mais adaptada e readaptada para diversas mídias e cenários ao redor do mundo. Desde o lançamento, “Orgulho e Preconceito” já foi recontado em inúmeras peças de teatro, cinema, filmes para TV, radionovelas, telenovelas, séries e, agora, quadrinhos. (2) A cada ano são vendidas 50.000 cópias do romance apenas no Reino Unido, sem contar os downloads eletrônicos gratuitos, já que a obra não está mais sujeita aos direitos autorais. Uma pesquisa realizada em 2003 pela BBC concluiu que “Orgulho e Preconceito” é o segundo romance preferido dos britânicos, depois de O Senhor dos Anéis.

“Orgulho e preconceito” mostra como evoluíam os relacionamentos humanos em uma época em que não existia telefone nem automóvel. A comunicação a distância só acontecia por cartas, que eram levadas a cavalo. É um mundo que Jane Austen conhece muito bem: a sociedade provinciana inglesa do século XVIII.

A escritora nasceu no dia 16 de dezembro de 1775, em Hampshire, na Inglaterra. Era filha do reverendo George Austen e de Cassandra Austen. Jane, um dos maiores nomes da literatura inglesa ao lado de Shakespeare. Jane Austen criou romances que atravessaram séculos, não pôde assinar um livro por ser mulher, gostava de escrever em segredo e até hoje não se tem certeza de como era seu rosto.
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AUSTEN. Jane. Orgulho e Preconceito. Jandira, SP: Ciranda Cultural, 2018. 288p.

terça-feira, 21 de julho de 2020

A PODEROSA FRAQUEZA DE JOHN KNOX [Resenha 115/20]


A Coleção "Um Perfil de Homens Piedosos" procura destacar figuras-chave dessa procissão de homens da graça soberana. O propósito desta série é examinar como tais figuras utilizaram seus dons e suas habilidades, dadas por Deus, para promover o Reino dos céus. Por serem firmes seguidores de Cristo, seus exemplos são dignos de serem imitados hoje.

Neste volume, Douglas Bond nos apresenta o reformador escocês John Knox, cuja voz trovejava pela Escócia numa época que a igreja carecia grandemente de reavivamento. A despeito de sua fraqueza pessoal e timidez, Knox era marcado por uma fé vigorosa em Cristo. À medida que o Senhor fortalecia a liderança de Knox, a igreja escocesa tornou-se uma das mais fortes expressões do Reino de Deus já vistas pelo mundo. Até hoje, John Knox permanece como o maior dos escoceses, eminentemente digno de ser modelo nesta série.

“John Knox sentia para com os idolatras (da Escócia) como Elias para com os sacerdotes de Baal", escreveu o historiador Roland Baintond. É bem apropriada a comparação de Bainton entre Knox e Elias. Elias foi chamado, com ordem expressa de Deus, a lançar mão da espada e abater os 450 enganosos profetas de Baal (I Rs 18.20-40). Geralmente, os homens chamados para ser profetas- realizando façanhas como a que Elias foi chamado a fazer - não são sentimentais, carinhosos, gentis e sensíveis metro-sexuais. Na história da redenção, os Elias têm sido vozes torturadas clamando no deserto, figuras solitárias, chamadas a enfrentar críticos que rangem os dentes, homens aos quais foi dada a tarefa nada popular de declarar a Palavra de Deus a pessoas que se posicionaram com os inimigos dessa Palavra. Embora não fosse um profeta bíblico, Knox foi forjado segundo esse molde.

Além da introdução e prefácio, este livro possui ainda oito capítulos, onde o autor consegue juntar todos os misteriosos paradoxos da vida de John Knox: púlpito trovejante e intercessões íntimas, elevado intelecto e humilde vida no lar. Ousadia e brandura, força e fraqueza. Noutras palavras, Bond apreendeu a própria essência desse surpreendente modelo para um ministério reformador

A Poderosa Fraqueza de John Knox pretende ser uma biografia prática. No primeiro capítulo temos uma visão geral de sua vida e de seu legado, enquanto os demais capítulos investigam como ele foi transformado de fraco a forte em várias dimensões de caráter e ministério. Tais capítulos examinam Knox como homem de oração submisso a Cristo, como pregador, como escritor, como teólogo, como formulador de culto, educação e vida pública no Século XVI e em diante.
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BOND, Douglas. A poderosa fraqueza de John Knox. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2011. 156p.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

A MORENINHA [Resenha 114/20]


Escrita durante o Segundo Reinado, período de estabilização política e formação cultural do Brasil, “A Moreninha” inaugura uma modalidade de romance denominada "pequeno realismo", por retratar a classe média e burguesa ascendentes no país, acarretando a identificação do público com as personagens. Tratando de temas como o amor puro, a virgindade e a luta vitoriosa do bem contra o mal, a obra tornou-se um best-seller.

Joaquim Manuel de Macedo nasceu em Itaboraí-RJ, em 24 de junho de 1820. Foi médico, jornalista, político, professor, preceptor dos netos de D. Pedro II e o autor mais lido de sua época. Assim se expressou sobre este livro: “Eis aí vão algumas páginas escritas, às quais me atrevi dar o nome de romance. Não foi ele movido por nenhuma dessas três poderosas inspirações que tantas vezes soem amparar as penas dos autores: glória, amor e interesse. Este pequeno romance deve sua existência somente aos dias de desenfado e folga que passei no belo Itaboraí, durante as ferias do ano passado. Longe do bulício da corte e quase em ócio, a minha imaginação assentou lá consigo que bom ensejo era esse de fazer travessuras, e em resultado delas saiu ‘A Moreninha’”.

Obra de caráter metalinguístico, retrata a história de Augusto, rapaz inconstante que aposta com seus amigos que não ficaria apaixonado por mais de 15 dias por mulher alguma. Seu castigo, caso perdesse a aposta, seria escrever um romance para esses amigos. “A Moreninha”, então, é o fruto dessa punição. Perdidamente apaixonado por Carolina, seu amor de infância que Augusto reencontra quando jovem, “A Moreninha” é um exemplo clássico do Romantismo. A obra gira em torno de uma promessa pueril, da luta de um homem para conquistar sua amada e dos obstáculos para a realização desse amor. Todos esses elementos são indispensáveis para uma boa novela que agrada gerações há anos. Será capaz alguém de não se apaixonar por “A Moreninha”?

Com linguagem simples, enredo cheio de intrigas amorosas com final feliz, ingredientes para os romances românticos iniciais no Brasil, Joaquim Manuel de Macedo trouxe para a obra também um pouco dos costumes do Rio de Janeiro da década de 1840, caracterizados pelas vozes dos estudantes da época, grupo do qual o autor também fazia parte. Foi com tramas fáceis, como no caso de “A Moreninha”, que Macedo conseguiu o feito de ser o autor mais lido do país em seu tempo. Foi, por excelência, o escritor da classe média carioca e seus romances eram repletos de jovens idealizadores e românticos que ele encontrava na agitada cidade do Rio de Janeiro do século XIX.
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MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Jandira, SP: Principis, 2020. 176p.

DESCUBRA NÁRNIA [Resenha 113/20]


Quantos de nós ao terminar a leitura de um dos livros de Nárnia (ou qualquer livro de Lewis), não o abandonamos no colo e deixamos nossos olhos vagarem questionando-se: De onde ele obteve uma visão de tal varredura cósmica? Como conseguiu entender tão profundamente os anseios humanos? Como ele poderia saber tanto sobre a complexa mistura do mal e bem, no mundo em geral e em cada coração humano? Por que estes livros atingem profundamente nossas esperanças e temores? A resposta mais importante para cada uma destas perguntas é: a Bíblia. O coração de Lewis pertencia a Jesus, e a mente do autor estava cheia de conhecimentos bíblicos.

Esclarecendo, há poucos que conhecem as línguas, literatura, história e filosofia da raça humana tão profundamente, mas C. S. Lewis interpretou todo este aprendizado à luz das Escrituras. “Descubra Nárnia - Verdades em: As Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis”, da autora Christin Ditchfield ilustra ricamente como isto é verdade, ao exibir parte por parte, como cada livro nos sete volumes de “As Crônicas de Nárnia” está cheio de paralelos e de conhecimentos bíblicos. Não importa quantas vezes lemos estes livros, há sempre algo novo a ser descoberto.

Lewis tinha o que poderíamos chamar de imaginação bíblica. As verdades sobre Deus - sobre o plano de Deus para a história da humanidade, os reinos do bem e do mal e a ética que flui de um entendimento do caráter de Deus - essas e outras informações são encontradas em tudo o que escreveu. Entretanto, ao escrever essas histórias, Lewis não estava fazendo alegoria das Escrituras. Como ele diz, "Comigo toda a ficção começa com fotografias na minha mente" - algumas delas estavam lá desde os 16 anos. Mas no desenrolar dos contos, por sua mente estar tão encharcada com as Escrituras, ele escreveu histórias de natureza paralela e profundo teor teológico. Simplesmente, era parte do que ele era e de como sua mente trabalhava. Neste sentido, Lewis trabalhava da Bíblia para as historias.

Neste livro sobre as verdades a autora trabalha das histórias para a Bíblia. Compreender o livro “Descubra Nárnia” não somente aumentará nosso entendimento e admiração por “As Crônicas de Nárnia”, mas nos educará no escopo da Bíblia e sua relevância para a vida diária.

Um guia de tal solidez e clareza só poderia ter sido escrito por alguém com completo conhecimento da obra de Lewis (e não somente das Crônicas) e da Bíblia. Como cristã Ditchfield demonstra como o conhecimento bíblico de Lewis vai do Genesis ao Apocalipse. O que me cativou na primeira leitura destas Verdades foi perceber a importância do Antigo Testamento para o cenário de Nárnia e para as questões da vida contemporânea.

Lewis levou a sério o mandamento bíblico de levar "... todo o pensamento cativo [...] Cristo". Este livro é uma valiosa orientação para cumprirmos este objetivo. Se você procurava uma maneira de impulsionar o seu momento devocional particular ou familiar, sua busca pode ser concluída coma leitura deste livro.
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DITCHFIELD, Christian. Descubra Nárnia – Verdades em: As Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis. Curitiba, PR: Publicações Pão Diário, 2017. 249p.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

MENINO DO ENGENHO [Resenha 112/20]


Escritor paraibano, nasceu no dia 3 de junho de 1901 na idade de Pilar, incluído nos manuais de literatura como um dos principais representantes do regionalismo nordestino, José Lins do Rego considerou que a primeira fase de sua produção, que chamou de "ciclo da cana-de-açúcar", incluía "Menino de Engenho", "Doidinho", "Banguê", "Usina" e "Fogo Morto.

Publicado em 1932 e livro de estréia do autor, "Menino de Engenho" tem como narrador-protagonista Carlos Melo. Chamado de Carlinhos pela família, ele conta a sua infância no engenho Santa Rosa, para onde vai após um começo de narrativa trágico: quando tinha quatro anos, o pai assassina a mãe e é internado num hospício.

Através de sentimentos memorialistas e de recordações saudosistas e fiéis ao que passou, o narrador conta aos seus leitores uma parte de sua infância, desde os quatro anos quando seu pai assassina sua mãe, até os doze anos, quando é mandado para um internato e o livro tem seu fim. O autor utiliza uma linguagem simples, direta, verdadeira e própria de um menino; além de ser extremamente espontânea, passando pelos sonhos, medos, curiosidades e amores. O autor mostra uma despreocupação com moldes estilísticos, já prenunciando o movimento do modernismo. Através de tal escrita, o autor toca seus leitores com profundas observações que um menino ingenuamente faz sobre um engenho, onde com tantas complexidades, parece tão simples aos olhos de uma criança.

Como cenário histórico, é presente no livro o pós-escravidão, mas há a continuidade dos laços de trabalho, confiança e respeito. Em troca de comida, casa e proteção, os escravos trabalhavam nos engenhos e nas casas grandes. Com isso, as negras contadoras de estórias, as crianças mulatas, as negras sedutoras, tudo faz parte do cotidiano do engenho e é retratado pelo menino. A relação entre negros e brancos é vista sob uma óptica positiva, de ganhos para ambos os lados. O avô de Carlinhos, sendo um homem justo e protetor, tem a confiança dos negros, chegando a exercer o papel da justiça, onde muitas vezes castiga àquele que age fora da lei social. Um negro chega a ir para o tronco, mesmo não sendo mais escravo segundo a lei.

O livro consegue transmitir a realidade de um menino perdido, sem rumo, sem saber como prosseguir depois de tantas perdas irreparáveis: a morte da mãe, a morte da prima Lili e o abandono da tia Maria. Mostra as consequências de uma infância má aproveitada e que obriga o amadurecimento precoce de um garoto. Esse amadurecimento precoce não é imposto pela sociedade, como acontece muitas vezes na atualidade, mas pelo próprio garoto que se vê na necessidade de se tornar um homem melhor do que o seu pai foi. Portanto, a obra traz diversas sensações e impressões para os diferentes leitores.
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REGO, José Lins do. Menino de Engenho. Rio de Janeiro, RJ: Editora José Olympio, 2014.

domingo, 5 de julho de 2020

ORTODOXIA [Resenha 111/20]


Certa vez um jornalista perguntou a G. K. Chesterton qual o único livro que gostaria de ter caso fosse parar numa ilha deserta. Depois de uma pequena pausa, Chesterton respondeu: “Já sei: Guia prático para a construção de navios”. Fora a Bíblia, se eu tivesse de escolher um único livro em situação semelhante, é bem provável que seria Ortodoxia, a autobiografia espiritual de Chesterton. Mas, na verdade trata-se de uma popular obra em defesa intelectual do Cristianismo, que continua atual mesmo após atravessar o conturbado século XX.

Publicado em 1908, Ortodoxia foi resposta à observação de G.S. Street de que sua obra “Hereges” só continha críticas ao pensamento alheio, sem defender nada no lugar. A coletânea de nove ensaios, à primeira vista desconexos, se revelam partes integrantes de um intricado argumento. Ao apresentar seu ponto de vista, Chesterton não apela somente à lógica, mas emprega copiosamente frases de efeitos ou exemplos -– desde alusões à Cinderela até Alice no País das Maravilhas –- que evocam imagens com refinado senso estético. Justificando sua crença pessoal, a premissa central do livro é a busca de sentido na vida. Dessa forma, mesmo para o não religioso, o livro é um sumário claro de diversas posições e pensamentos, ou “filosofias”, como Chesterton os trata.

É exatamente isso que ele escreve no prefácio do livro: “Este livro foi escrito para ser lido como complemento a Hereges e mostrar o lado positivo além do negativo. Muitos críticos se queixaram daquele livro dizendo que ele simplesmente criticava as filosofias correntes sem oferecer nenhuma filosofia alternativa. Este livro é uma tentativa de responder a esse desafio.

Portanto, Ortodoxia não é tão somente uma defesa aos princípios cristãos. Neste livro, Chesterton vai muito além das questões da fé, da filosofia, do cristianismo ou de uma autobiografia. Este livro é o próprio Chesterton em páginas. Em Ortodoxia, Chesterton resgata as idéias de ilustres homens da sua época e lança luz a escuridão para os que caminham longe da fé. Com a sua forma de argumentar permeada de analogias, aprofunda nos problemas humanos tantos quanto busca nos estudos deste a compreensão da sua própria vida.

Chesterton, escreveu mais de cem livros, e morri de inveja quando ouvi que ele ditava quase tudo para sua secretária, e que praticamente não precisava revisar o que havia criado.

Um jornal londrino promoveu extenso debate entre Chesterton e Robert Blatchford, editor de um periódico socialista. O resultado desse embate foi a publicação de Ortodoxia e de várias outras obras de apologética cristã. Quando Blatchford citava as razões pelas quais não conseguia aceitar o cristianismo, Chesterton sempre respondia com uma refutação vigorosa e bem-humorada, que acabava virando de ponta cabeça os argumentos do oponente: “Se eu oferecesse todas as minhas razões para ser cristão, a grande maioria seria exatamente as razões que o senhor Blatchford daria para não o ser”.

G. K. Chesterton conseguia apresentar a fé cristã com mais humor, bom ânimo e força intelectual do que qualquer outro no século passado. Com o mesmo zelo de um soldado em defesa do último reduto, ele encarava feras como Shaw, H. G. Wells, Sigmund Freud, Karl Marx e qualquer outro que ousasse explicar o mundo sem considerar Deus e sua Encarnação. T. S. Eliot julgou que Chesterton “fez mais — penso eu — que qualquer de seus contemporâneos para sustentar a existência dessa minoria importante para o mundo moderno”.
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CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. Jandira, SP: Principis, 2019. 208p.

GUERRA MUNDIAL Z [Resenha 110/20]


Publicado originalmente em 2006, em 2010 em português, Guerra Mundial Z de Max Brooks traz relatos do pós-guerra com os mortos vivos em escala global, com a humanidade ainda sofrendo terríveis conseqüências. Os relatos são bem variados, tanto no tempo quanto no conteúdo, havendo também estórias situadas no inicio e no meio da guerra contra os Zs, que é como são chamados os zumbis. Só por este parágrafo quem já assistiu ao filme já chegou a conclusão que o livro é completamente diferente.

O autor esclarece por que o nome Guerra Mundial Z: Atende por muitos nomes: "A Crise", "Os Anos Sombrios", "A Peste Ambulante", bem como títulos mais novos e mais "modernos", como "Guerra Mundial Z" ou "Primeira Guerra Z". Pessoalmente, não gosto deste último apelido porque implica uma inevitável "Segunda Guerra Z". Para mim, sempre será a "Guerra dos Zumbis" e, embora muitos possam se opor à exatidão científica da palavra zumbi, terão de se esforçar muito para encontrar um termo de maior aceitação em todo o planeta para as criaturas que quase provocaram nossa extinção. Zumbi ainda é uma palavra arrasadora, com o poder incomparável de conjurar tantas lembranças e emoções; estas lembranças, e emoções, são o tema deste livro.

O livro é dividido em 8 capítulos, cada um com uma quantidade variável de relatos na forma de entrevistas colhidas pelo protagonista jornalista que percorre o mundo para reuni-las. Os contos são bem desenvolvidos, seguem a idéia de verdadeiros relatos do passado recente e seguem a lógica do desenvolvimento da guerra, vão deste o início do surto até a retomada dos territórios e da administração das conseqüências do conflito que durou anos.

Sem sombra de dúvida os relatos que mais apreciei foram das batalhas contra os Zs, ouvidas da boca de um veterano daquele confronto. O autor, inclusive, foi muito detalhista nas descrições e é realmente empolgante entender os motivos que levaram ao grande avanço dos mortos-vivos, que apesar de irracionais, eram resistentes, sem medo e contaram com vários erros humanos. Talvez um dos grandes pontos do livro seja a batalha de Yonkers (um subúrbio de New York), onde o exército americano super equipado é aniquilado, não apenas pelos Zs, mas principalmente pelo medo.

Maximillian Michael “Max” Brooks, nascido em 1972 em New York, é roteirista de TV e HQ e também autor do O Guia de Sobrevivência a Zumbis (2003), sendo Guerra Mundial Z o seu trabalho mais bem sucedido e que deu origem ao filme homônimo (2013) onde o protagonista é Brad Pitt e a estória pouco lembra a do livro.

Para concluir, afirmo e isso precisa ficar claro: é muito diferente do filme, ao ponto que não dá pra classificar o que é o melhor por serem de estilo bem diferentes. Se quiser uma experiência parecida com a do filme, vai se frustrar. Eu gostei do livro e do filme, mas por razões bem diferentes.
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BROOKS, Max. Guerra mundial Z: uma história oral da guerra dos Zumbis. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 2010.

sábado, 4 de julho de 2020

HISTÓRIA DA REFORMA [Resenha 109/20]



O mais interessante neste livro é descobrir que a influência da Reforma estendeu-se além das culturas euro-americanas, espalhando-se mundo afora. Pesquisadores buscam a influência do calvinismo em condições sociais da república sul-africana e do luteranismo em desenvolvimentos modernos na Alemanha e no curso do judaísmo; o antes eurocêntrico International Congress for Luther Research [Congresso Internacional de Pesquisas Luteranas] inclui, agora, participantes do chamado “terceiro mundo”, preocupados não apenas com a aplicabilidade eclesiástica da teologia de Lutero, mas com sua relevância para a liberdade e os direitos humanos.

Podemos ilustrar isso ao citar dois historiadores importantes da Reforma. Steven Ozment (1992, p. 217) conclui um de seus livros sobre o assunto da seguinte maneira: “Às pessoas de todas as nacionalidades, os primeiros protestantes legaram, além de si mesmos, uma herança de liberdade e igualdade espiritual cujas consequências ainda se manifestam no mundo de hoje”. 

William Bouwsma (1988, p. 1) começa seu estudo com uma lista das influências de Calvino: “O calvinismo tem sido amplamente reconhecido — ou atacado — por contribuir para boa parte do que caracteriza o mundo moderno: capitalismo e ciência moderna; disciplina e racionalização de sociedades complexas do Ocidente; espírito revolucionário e democrático; secularização e ativismo social; individualismo, utilitarismo e empirismo”.

A história dos reformadores é inspiradora e merece ser visitada em detalhes. A Igreja cristã da Idade Média havia se corrompido de tal maneira que muitos dos ensinamentos da Bíblia haviam sido totalmente distorcidos. É nesse contexto que surgem reformadores dispostos a sacrificar a própria vida para que a realidade fosse transformada. Com uma combinação única de relatos históricos e comentários teológicos, História da Reforma, de Carter Lindberg, traça um panorama dos acontecimentos que levaram à Reforma Protestante e dos efeitos que repercutiram desde então.

De maneira vívida e acessível, Lindberg retrata a Reforma amplamente, sem ignorar nenhum contexto. Sociedade, religião, economia, política e personagens marcantes são reunidos para formar uma narrativa cativante sobre um dos maiores acontecimentos da história do cristianismo. Tendo como pano de fundo inicial o final da Idade Média, o autor passa em seguida a relatar toda a complexidade dos movimentos que surgiram por toda a Europa, as diferentes reformas que culminaram numa grande Reforma. O leitor ainda tem a oportunidade de refletir sobre o legado da Reforma para os dias atuais.

Carter Lindberg é professor emérito de História da Igreja na Boston University School of Theology. Especialista na Reforma Protestante, Lindberg é autor de diversos livros sobre as diferentes épocas do cristianismo.
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LINDBERG, Carter. História da Reforma. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017. 526p.

A DIVINA COMÉDIA [Resenha 108/20]



Dante Alighieri é o poeta de uma época sem meios-termos. A celebração da vida e a amargura da morte eram intensas, fazendo com que os instantes mais banais da existência humana estivessem repletos de força e espontaneidade. Naquela época não havia as comodidades materiais que são corriqueiras ao homem moderno. Nascido em 1265 em Florença, Dante Alighieri é considerado o maior escritor da Itália. Grandes influências para o poeta foram Brunetto Latini, um erudito e figura importante na política florentina, e Guido Cavalcanti, escritor renomado do Dolce Stil Nuovo.

Originalmente, o poema chamava-se apenas “Comédia”, sendo renomeado por Boccaccio, que acrescentou o adjetivo “Divina” ao ficar fascinado pelo que Dante produzira. Outra característica do título diz respeito à palavra “Comédia”, que não indica um texto feito para o riso fácil, mas sim uma história que termina bem, diferentemente das tragédias.

A história se passa durante a Semana Santa de 1300, e Dante é tanto autor quanto personagem da obra, tendo por guias o poeta Virgílio, Beatriz, e São Bernardo. O poeta latino guia Dante pelo Inferno e Pur­gatório, a musa o guia no Paraíso, e o santo o guia no Empíreo.

A arquitetura da Divina Comédia demonstra que Dante não fez nada à toa. O número três aparece recorrentemente, numa alusão à Trinda­de. O poema épico é dividido em três partes: Inferno, Purgatório, e Paraíso. O Inferno possui 33 cantos (sendo precedido por um canto introdutório, o que totalizaria 34), e o Purgatório e o Paraíso também têm 33 cantos, totalizando 100 cantos.

A estrutura do Inferno é em forma de cone que se afunila em nove círculos concêntricos até o centro da Terra. As penas vão desde as mais leves, no primeiro círculo, até as mais pesadas, no último. Sua divisão é a seguinte: um anteinferno, limbo (primeiro círculo), luxuriosos (segundo círculo), gulosos (terceiro círculo), gananciosos (quarto círculo), iracundos (quinto círculo), hereges (sexto círculo), violentos (sétimo círculo), fraudulentos (oitavo círculo), traidores (nono círculo).

O Purgatório, por sua vez, é uma montanha dividida em dois níveis de antepurgatório, sete patamares (orgulho, inveja, ira, preguiça, avareza, gula e luxúria), e, após os patamares, chega-se ao Paraíso Terrestre. No Purgatório habitam almas salvas que estão se purificando antes de en­trarem no Paraíso.

O Paraíso, finalmente, é dividido em nove céus (céu da Lua, de Mer­cúrio, de Vênus, do Sol, de Marte, de Júpiter, de Saturno, das Estrelas Fixas, e Primum Mobile (Primeiro Móvel) e um Empíreo. Tudo no Paraíso é o oposto do Inferno: há beleza e alegria, que atingem seu ápice no Empíreo com a visão da rosa mística, da Virgem Maria e da face de Deus. Dante contempla o Altíssimo, sua vida está completa e agora faz sentido, não há mais o que temer, a selva escura é superada e o poema é concluído. A estrutura do Paraíso segue as teorias da cosmologia pto­lomaica, que coloca a Terra no centro do Universo, rodeada pelas nove esferas celestes e pelo Empíreo.

Esta linda edição foi produzida pelo “Clube de Literatura Clássica” do qual sou assinante. Este é o primeiro volume de muitos que virão.
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DANTE, Alighieri. A Divina Comédia. Novo Hamburgo, RS: Clube de Literatura Clássica, 2020. 752p.

TEMPO DE ORAR [Resenha 107/20]



Por que não oramos se a Bíblia insiste em dizer que nós, filhos de Deus, devemos orar? Com tantos exemplos maravilhosos de oração nas Escrituras por que será que nosso coração não é atingido ou afetado por eles? Onde é que estamos falhando quando não oramos?

Sara Evangelista, autora deste livro diz: "O povo de Deus está numa onda secular de imediatismo. Quer tão repentinamente um grande avivamento, poder, unção, milagres, libertação, mas não querem pagar o preço na oração, que é o meio estabelecido por Deus para alcançarmos essas e tantas outras bênçãos, além do principal resultado de orar, que é manter a nossa comunhão com Deus." Deus é um ser relacional, e nos criou à sua imagem e semelhança, portanto o relacionamento é um fator primordial em nossa vida. O nosso relacionamento com Deus determina nossa saúde emocional, reorganiza nosso mundo interior e determina os nossos relacionamentos pessoais. Os dez mandamentos não são nada mais do que princípios de relacionamentos. Os quatros primeiros são princípios para nos relacionarmos com Deus, e os seis últimos, princípios para nossos relacionamentos com o próximo. Orar nada mais é do que relacionamento com Deus, é um encontro pessoal e íntimo, que nos transforma cada vez mais à mesma imagem dele. II Co 3:17,18.

A verdadeira oração tem como objetivo relacionamento e intimidade, como disse Clemente de Alexandria: “Orar é manter a companhia com Deus.” Na verdade nós não nos realizamos com oração, mas em Deus. A oração é um meio, e não um fim em si mesmo. A verdadeira oração cristã deve ser trinitária, isto é, orarmos ao Pai, através ou em nome do Filho, mediante o Espírito Santo.

Este livro possui 32 textos ou capítulos, onde a autora com amparo nas Escrituras motiva e exorta os leitores a uma prática efetiva de uma vida de oração. “será com certeza de grande proveito a você, se colocar em prática as lições poderosas expressas de maneira simples, compreensível e profunda".
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EVANGELISTA, Sara. Seja bem-vindo: tempo de orar. São Paulo, SP: Upbooks, 2018. 163p.