sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A SUPREMACIA E A SUFICIÊNCIA DE CRISTO [Resenha]


NICODEMUS, Augustus. A Supremacia e a Suficiência de Cristo: A Mensagem de Colossenses para a Igreja de Hoje. São Paulo: Vida Nova, 2013.


A heresia de Colossos tinha este nome pois existia unicamente, naquela época, na igreja de Colossos. Tal heresia consistia numa combinação atraente de práticas legalistas, promessas místicas, rituais ascéticos e conhecimento gnóstico. Seus defensores ensinavam que a salvação era alcançada mediante um conhecimento secreto, que não fora revelado nem mesmo aos apóstolos originais, do qual eles, os mestres gnósticos, eram guardiães. Esse conhecimento tinha a ver com entes celestiais que funcionariam como mediadores e requeriam adoração e culto para mediar o caminho através do pleroma, a plenitude espacial entre Deus e os homens. 

A origem desta heresia é de cunho judaica pois começou nas sinagogas, pois alegavam que era preciso praticar a Lei de Moisés, especialmente a circuncisão, a observância do calendário judaico, da dieta levítica e a abstinência de prazeres ainda que lícitos, mediante rigor ascético. Também continha elementos cristãos, visto que falava a respeito de cristo, da salvação e de Deus. Ensinavam o conceito grego de dualismo, que era muito comum naquela época. Num mundo fortemente influenciado pelas ideias do filósofo grego Platão, as pessoas viam a vida separada em dois compartimentos: um deles de caráter inferior, onde ficavam as realidades materiais; e outro de caráter superior, onde ficavam as realidades espirituais. Os falsos mestres defendiam novas revelações, conhecimento privilegiados de alguns, misticismo e legalismo – tudo em nome de Jesus. [p.7] 

A resposta de Paulo ao desafio da heresia de Colossos foram a supremacia da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Neles os crentes encontram gratuitamente tudo o que pertence à salvação. Nele estão aperfeiçoados. Nele reside toda a plenitude e todo o conhecimento. Acrescentar a Cristo alguma coisa é negar sua pessoa e obra. Acredito que esta é a mensagem que precisa ser pregado urgentemente nos púlpitos brasileiros: Cristo, o Senhor. [p.8] Depois de Paulo, Deus levantou homens como Irineu e Tertuliano, que combateram a heresia de Colossos. 

Paulo, quando escreveu esta carta ele estava preso na capital do Império Romano, conforme descrito em Atos 28. Na própria epístola ele deixa transparecer isto quando escreveu “lembrem-se das minhas algemas” (Cl 4.18). E na prisão, recebeu a visita de um cristão chamado Epafras e conversou com ele acerca de uma dificuldade que estava enfrentando como pastor – a infiltração de uma perigosa heresia entre os irmãos que apascentava. Paulo considera essa religião sincrética extremamente perigos e foi para combate-la que escreveu a carta aos colossenses. 

O livro possui além do prefácio e introdução, 4 capítulos e está assim dividido:
1. A pessoa e a obra de Cristo, 1.1-23;
2. A proclamação do Evangelho e o combate às heresias, 1.24- 2.23;
3. Uma vida focada em Cristo e nas coisas de cima, 3.1-17;
4. A fé posta em prática, 3.18 – 4.18.
Finalmente, há as Conclusões Gerais. Nesta resenha iremos trabalhar de forma descritiva, trabalhando pontos com a intenção de despertar e fomentar o desejo dos leitores por esta significativa obra. 


No CAPÍTULO 1, Nicodemus trabalha sobre a pessoa e a obra de Cristo. O tema central da epístola aos colossenses é a suficiência de Cristo para a vida e a salvação. E o cerne da proclamação de Paulo reside no fato de que Jesus é o cabeça do corpo e de que, nele, está a plenitude: ele criou todas as coisas e está acima de toda a criação. Este primeiro capítulo ele está dividido em duas partes: 

1. A oração de Paulo pelos crentes em Colossos - Paulo inicia este capítulo orando pelos crentes e na medida que vai orando ele refuta as heresias dos gnósticos: (1) Paulo roga ao Senhor que eles sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus e não das heresias e dos falsos ensinos que estavam sendo propagados. Pois para os gnósticos todo o conhecimento adquirido era instantâneo, por meio de uma suposta iluminação. (2) Paulo ressalta que ora para que os crentes vivam da maneira digna do Senhor, pois o verdadeiro conhecimento tem se traduzir na prática, ou seja, vivendo de maneira digna do Senhor, vivendo ao contrário da ética dos gnósticos, que viviam de forma legalista. (3) Paulo também ora para os crentes frutifiquem em boas obras, ou seja, produzam frutos, abençoe as pessoas e façam aquilo que agrada a Deus. (4) Finalmente Paulo pede que os crentes em Jesus seja, fortalecidos com todo vigor, segundo o poder da sua glória. Portanto Paulo ora pelos irmãos para que tenham o pleno conhecimento de Deus e andem de maneira digna do Senhor. Eles não precisam de mais nada: já receberam tudo em Cristo e seria tolice dar ouvidos a falsos ensinamentos. 

2. Paulo teologiza a pessoa e a obra de Cristo – Paulo, como grande apologista que era, o apóstolo mostra que, muitas vezes, a melhor maneira de combater um erro ou de confrontar falsos mestres não é apontar as falácias da falsa doutrina, mas ensinar a verdade. Isso porque, uma vez que a verdade é transmitida com clareza, o erro vem à tona com todas as suas cores. Portanto, Paulo menciona seis consequências de Cristo ser o primogênito de toda a criação e de nele todas as coisas terem sido criadas. 

Augustos Nicodemus, esboça assim:
a) Ele antes de todas as coisas, 1.17
b) Nele tudo subsiste, 1.17b.
c) Ele é o cabeça do corpo da igreja, 1.18.
d) Ele é o princípio de todas as coisas, 1.18
e) Ele é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha o primeiro lugar, 1.18b
f) Toda a plenitude em Cristo, 1.19-20 

Portanto, neste capítulo, os ensinamentos que aprendemos é que:

(1) A proclamação da pessoa e da obra de Cristo é o remédio contra os falsos ensinos. Em Cristo todas as coisas foram criadas. Ele é o cabeça do corpo, o primogênito e tem primazia sobre todas as coisas, pois nele está a plenitude. Jesus criou todas as coisas e está acima de toda a criação. “Com Cristo, não há necessidade dos ensinamentos apócrifos, da mediação dos poderes espirituais: não é preciso qualquer outra coisa que seja, exceto Jesus” [p.39]. 

(2) A salvação não é uma verdade esotérica, hermética, destinada a uns poucos, mas uma realidade anunciada universalmente. Deus se revela em Cristo a todos. O Filho é a imagem do pai invisível. O senhor se fez carne, visível e palpável, veio ao mundo e quer que o mundo inteiro o ouça e o veja. 

(3) O conhecimento da salvação é obtido pela pregação da Palavra. O Evangelho pertence a Deus e que o Senhor usa o homem para anunciar essa verdade através da pregação, exposição e instrução. 


No CAPÍTULO 2, a ênfase recai sobre dois aspectos: (1) O Mistério outrora oculto e agora revelado e (2) A oração de Paulo pelos crentes de Colossos. 

(1) O Mistério outrora oculto e agora revelado. Nicodemus escreve: “A referência a Cristo como “o mistério” de Deus se refere ao fato de que Jesus estava presente no Antigo Testamento, mas de maneira velada, oculta, misteriosa. Ele foi anunciado na antiga aliança por meio de tipos, figuras, símbolos e instituições – como sacrifícios ou o sacerdócio levítico. Ou seja, Jesus está na Bíblia judaica de forma oculta, misteriosa. No momento em que ele encarna, quando Deus assume uma figura humana, ocorre a revelação desse mistério. Cristo veio ao mundo, ele é a revelação de Deus e os apóstolos foram encarregado de explicar essa verdade. Todo “mistério” da Bíblia é mistério revelado. [p.51] O apóstolo Paulo tinha um único alvo na vida: cumprir o seu ministério. E seu ministério era declarar e ensinar “o mistério de Cristo”, a verdade que outrora estava oculto, mas que então fora revelada: Jesus é o Salvador do Mundo. [p.53]. O ensino de Paulo era uma refutação a heresia de Colossos que falava de um conhecimento misterioso que os libertaria do mundo e os levaria a Deus.

(2) A oração de Paulo pelos crentes de Colossos. O apóstolo de Cristo lutava em oração pelos colossenses para que permanecessem firmes – e é exatamente isso que ele pede: (a) Que os corações deles fossem animados e unidos em amor; (b) Que tivessem toda a riqueza da forte convicção do entendimento (uma certeza plena) e (c) Que compreendessem plenamente o mistério de Cristo. O cumprimento desses três pedidos ajudaria os crentes a evitar a heresia de Colossos que ensinava um conhecimento secreto, uma sabedoria elevada e teoricamente concedida aos iniciados. Estes três pedidos compõem refuta tal ensino, pois se alguém deseja sabedoria e conhecimento deve buscar a Jesus. 

Durante o restante deste capítulo, Nicodemus faz uma análise apologética de Paulo contra os quatros pontos da heresia de Colossos: 

(1) Gnosticismo (filosofia e sutilezas vazias) – um dos ensinos é de que havia entre os homens e Deus uma hierarquia que dominava os corpos celestes e o destino da humanidade. Os gnósticos ensinavam ainda um tipo de religião pagã segundo a qual acreditavam num mundo dominado por seres espirituais, que aprisionam o homem na terra. Para vencer essa prisão, as pessoas precisavam agir de determinada maneira, cumprir certas regras, mortificar o corpo para, só então, ascender a Deus por meio de um conhecimento secreto que só eles possuíam. [p.61]. Os gnósticos ensinavam ainda que era necessário esse conhecimento ou aperfeiçoamento através de crescimento espiritual. Eles listavam patamares dentro da espiritualidade: o material, seguido pelo carnal, o psíquico e, por fim, o pneumático. Havia, então, pelo menos quatro níveis na ascensão gnóstica do conhecimento para se chegar a Deus. No entanto, Paulo que aquilo era desnecessário, pois os cristãos já estão aperfeiçoados em Cristo, de uma vez por todas. [p.63] Boa parte do ensinamento deles derivava da filosofia grega e do neoplatonismo. Ensinavam, em especial, o pensamento de que a realidade era dividida entre um mundo espiritual bom e um mundo material inferior e mau. É o chamado dualismo. 

(2) Legalismo (Sombras das coisas que haveriam de vir) – Um outro ingrediente da famigerada heresia que ameaçava a igreja daquela cidade era o legalismo. Podemos considerar o legalismo qualquer teoria de salvação de pecados que acrescente uma ou mais regra ou norma à obra completa de Cristo. Os legalistas geralmente não negam Jesus, apenas acrescentam algo ao evangelho. Essa visão não se contenta com o Senhor, mas estabelece como necessário mais algum ritual, norma ou crença além de Cristo. O legalismo nunca abandonou o cristianismo, sempre esteve presente em maior ou menor medida. No século 21, estamos familiarizados com tentativas dentro do próprio meio evangélico de pessoas que querem escravizar a consciência e pautar a conduta dos cristãos por meio de normas e regras que não estão presentes na Palavra de Deus. Isso sem mencionar os que colocam tais regras como condições para a salvação. [p.67] 

(3) Misticismo (sobrenatural e espiritualidade distorcida) – A terceira tendência combatida na carta por Paulo é o misticismo, uma forma distorcida de espiritualidade. É caracterizado pelo emocionalismo e um apego ao sobrenatural destituído de conteúdo bíblico. Por ter origem nas religiões pagãs, o misticismo afirma que o bem e o mal são dois lados da mesma moeda. Portanto, por essa visão, Deus e o diabo seriam o mesmo, dependendo do ponto de vista pelo qual se olha, pois a espiritualidade mística não faz distinção entre o bem e o mal. Não é raro ver pessoas que defendem uma linha de espiritualidade baseada em contemplações e visões, mas com pouco conteúdo doutrinário ou teológico. Isso acaba levando ao contato com seres espirituais que estão ao nosso redor, em bora não sejam necessariamente do bem. [p.74] 

(4) Ascetismo (Preceitos e doutrinas dos homens) – A quarta tendência que Paulo combate na carta à igreja de Colossos é o ascetismo. Trata-se da abstinência de alimentos e prazeres lícitos dentro da fé bíblica e da promoção da autoflagelação, com o objetivo de supostamente alcançar um nível superior de espiritualidade ou de comunhão com Deus. Por definição, é o ensino que diz que é preciso abster-se e punir-se para crescer espiritualmente. Geralmente os movimentos ascéticos negam a legitimidade ou a necessidade de instituições como o casamento, pregam a abstinência de certas comidas e bebidas e advogam a autoflagelação. O objetivo seria mortificar a natureza humana e aproximar o fiel de Deus. 


No CAPÍTULO 3 temos a parte mais prática de Colossenses, em que Paulo diz aos irmãos de que maneira devem viver a vida cristã. É um ponto da mais alta importância, pois a heresia de Colossos fixava-se exatamente nisso; oferecia um caminho de perfeição e avanço espiritual, mas com base naquilo que o homem poderia fazer, em regras, normas, preceitos ascéticos. Só que nada disso tem eficácia para mortificar a natureza humana e conduzir o pecador a Deus. Paulo argumenta que para isso há outro caminho, que é o da união com o Cristo morto e ressurreto. Esse é o tema que domina o restante da carta. Paulo começa o capítulo 3 falando dessa união com Jesus (3.1-4) para, em seguida, começar a tratar dos efeitos disso na vida diária do cristão. Primeiro, em termos de se despojar da velha natureza (3.5-11) e, depois, acerca das implicações de se revestir do novo homem (3.12 – 4.1-6). A apóstolo fala dos deveres familiares, sociais e eclesiásticos dos crentes e termina com saudações, por meio das quais é possível conhecer mais a respeito dos irmãos encarcerados na prisão de Roma. [p.83-84] Portanto, a Bíblia ensina que a união da igreja com Cristo é a única base de onde provém o poder necessário para que os cristãos vençam a natureza pecaminosa. Essa natureza pecaminosa exerce um poder muito grande, tentando arrastar o cristão para males como prostituição, lascívia, desejo mau, maledicência, idolatria, ira, indignação e cobiça. São, enfim, todas as emoções e pensamentos que infestam a nossa mente e o nosso coração. Como vencer isto? Essa é a luta de todo cristão. O caminho errado é tentar vencer por suas próprias forças, criando regras, impondo-se uma autodisciplina, estabelecendo limites, tomando determinações e fazendo propósitos – como os falsos mestres queriam que os crentes de Colossos fizessem pela guarda legalista das leis judaicas e pela prática ascética. O que Deus quer é que, diariamente, seus filhos busquem as coisas de cima, a comunhão com Cristo – seja estudando a sua Palavra ou orando em comunhão com ele. É preciso tomar posse dessa verdade, dos indicativos de Deus, pois é algo que já está feito, já foi realizado. Por isso Cristo bradou na cruz: “Está consumado” (Jo 19.30). Portanto, podemos tomar posse disso pela fé em nosso dia a dia. 


No CAPÍTULO 4, temos a fé posta em prática. Nicodemus diz que nesta última seção de Colossenses, Paulo continua suas orientações práticas para a para a igreja. Com foco em Jesus, o apóstolo torna as orientações mais detalhadas, em especial sobre os deveres que os crentes devem cumprir neste mundo. Primeiro ele fala dos deveres familiares (3.18-21). Em seguida, trata dos deveres sociais dos cristãos (3.22-41). O apóstolo prossegue abordando a questão dos deveres eclesiásticos (4.2-6). A epístola termina com orientações pessoais em referência a obreiros que estavam com Paulo, o qual deseja que a graça de Deus seja com todos aqueles irmãos. Esse trecho da epístola parece fazer parte de uma espécie de catecismo prático que era usado nas igrejas. É possível encontrar uma lista semelhante em Efésios 5.3-6.9, por exemplo. Talvez essa fosse uma cartilha utilizada pelos cristãos, que continha os deveres que deveriam praticar em sociedade. É muito relevante o fato de que, desde cedo, aos cristãos tenham sido atribuídos deveres e responsabilidade neste mundo. Cristianismo na igreja primitiva não era só aceitar determinadas doutrinas pregadas pelos apóstolos, mas era também viver segundo as consequências dessas doutrinas. Desse modo, havia deveres relacionados com a família, a sociedade e de uns para com os outros. Não importavam as circunstâncias em que determinada pessoa estivesse, como cristã ela tinha que se comportar de uma maneira já esperada. [p.111-112] 

Em Jesus somos plenamente salvos e santificados. Estamos unidos a ele em sua morte e ressurreição e de nada mais precisamos. Nele estamos completos, Ele é a base da nossa vida neste mundo. A partir dessa nossa união com ele, mortificamos a velha natureza, nos revestimos da nova, cumprimos nossos deveres e convivemos com os irmãos na igreja – com toda variedade e diversidade - até que o Senhor volte. 

Esta é a mensagem central dessa carta maravilhosa. Queira nosso Deus fazer com que não somente compreendamos essa mensagem, mas que a vivamos com toda intensidade e em toda sua plenitude. 


NOTAS 

Este livro é o segundo volume da série – A mensagem da Bíblia para a igreja de hoje – o qual fizemos uma postagem completa. Os autores desta série são: Augustus Nicodemus e Wilson Porte Jr. 

Para ler a resenha do primeiro, intitulado “O Culto segundo Deus: A Mensagem de Malaquias” acesse o link: 

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

MARCOS, O EVANGELHO DOS MILAGRES [Resumo]


LOPES, Hernandes Dias. Marcos – O Evangelho dos Milagres. São Paulo, SP: Hagnos, 2006.


Marcos é considerado um dos evangelhos sinóticos. O termo sinótico vem de duas palavras gregas, cujo significado é “ver conjuntamente”. Dessa maneira, Mateus, Marcos e Lucas tratam basicamente dos mesmos aspectos da vida e ministério de Cristo. Dos evangelhos sinóticos, Marcos é o mais breve.

O Evangelho de Marcos é geralmente considerado o primeiro evangelho que foi escrito, escrito por volta do ano 63 da era cristã. Sendo, assim, William Barclay o considerava o livro mais importante do mundo, visto que serviu de fonte para os outros evangelhos e é o primeiro relato da vida de Cristo que a humanidade conheceu.

Dos 661 versículos de Marcos, Mateus reproduz 606. Há apenas 55 versículos de Marcos que não se encontram em Mateus, mas Lucas utiliza 31 destes. O resultado é que há somente 24 versículos de Marcos que não se encontram em Mateus ou Lucas. Isso parece provar que tanto Mateus quanto Lucas usaram o evangelho de Marcos como fonte.

Robert Gundry afirma que Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito. Não existe um consenso unânime acerca da data da sua redação; entretanto, ele deve ter sido escrito entre 55 e 70 d.C, ou seja, antes da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., uma vez que ele não faz qualquer menção desse fato predito por Jesus (13.1-23). Jerusalém foi destruída pelo exército romano sob a liderança de Tito, depois de 143 dias de cerco. Durante essa batalha, seiscentos mil judeus foram mortos e milhares levados cativos.

Irineu e outros pais da Igreja defenderam a tese de que Marcos foi escrito depois do martírio de Pedro e Paulo. Contudo, essa posição contraria a tese de alguns estudiosos que afirmam que Marcos foi o primeiro evangelho que foi escrito sendo a fonte primária dos demais.

O local onde Marcos escreveu o seu evangelho é Roma, uma vez que Marcos está presente com Paulo em sua primeira prisão e é chamado para estar com ele em sua segunda prisão.

O consenso geral entre os estudiosos é que Marcos foi escrito de Roma para os cristãos que viviam em Roma. Segundo William Hendriksen, Marcos foi escrito para satisfazer o pedido urgente do povo de Roma por um resumo dos ensinos de Pedro. 


AS CARACTERÍSTICAS DO EVANGELHO DE MARCOS

(1) Marcos é totalmente kerigmático em sua ênfase. O livro começa focando o cerne da sua mensagem: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1.1). Jesus apresenta-se nesse evangelho como pregador (1.14, 15; 1.38, 39). 

(2) Marcos enfatiza a popularidade do ministério de Jesus. Quando Jesus ensinava e por onde andava, as multidões se reuniam ao seu redor (1.33, 45; 2.2,13,15; 3.7,9,20; 4.1,36; 5.21,24,31; 6.34; 8.1; 9.15,25; 10.1,46). 

(3) Marcos enfatiza a questão da identidade de Jesus. O Pai lhe disse: “Tu és meu Filho amado” (1.11; 9.7). O comandante ao pé da cruz confessa: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus!” (15.39). Na manhã da Páscoa, os mensageiros celestiais dizem: “Ele ressuscitou” (16.6). 

(4) Marcos é o evangelho da ação. Jesus é apresentado nesse evangelho como servo que está sempre em atividade. Marcos descreve Cristo, sempre ocupado, se deslocando de um lugar para outro, curando, libertando, pregando e ensinando as pessoas. 

(5) Marcos apresenta Jesus como Filho de Deus. Jesus disse ao povo, para os discípulos, para os líderes religiosos e para os opositores que ele era o Filho de Deus. Ele demonstrou seu poder para perdoar, curar, libertar e deter as forças da natureza. Ele provou ser o Filho de Deus rompendo os grilhões da morte e saindo da sepultura.

(6) Marcos apresenta Jesus como servo. A mais espantosa mensagem de Marcos é que o Filho de Deus veio para ser servo. Aquele que é perfeitamente Deus, também é perfeitamente homem. O Messias entrou na História não para conquistar os reinos do mundo com espada, mas para servir os homens, aliviar suas aflições, curar suas enfermidades, levantar os caídos, morrer na cruz para a remissão de seus pecados. Como servo, Jesus foi tentado, falsamente acusado, perseguido, ferido, cuspido, ultrajado, pregado na cruz.

(7) Marcos apresenta Jesus como aquele que tem poder para operar milagres. Marcos enfatiza mais os milagres de Cristo do que seus sermões. 

(8) Marcos enfatiza o sofrimento de Cristo. Nenhum outro evangelho deu tanta ênfase à paixão de Cristo quanto Marcos. 


A MENSAGEM CENTRAL DO EVANGELHO DE MARCOS

O primeiro versículo desse evangelho é tanto o título do livro quanto a síntese do seu conteúdo. Ele traz a sua mensagem central. Alguns comentaristas como William Hendriksen relacionam a palavra “princípio” com a atuação de João Batista nos versículos seguintes, mas a melhor compreensão é que Marcos está introduzindo o conteúdo de todo o evangelho.

A parte mais importante do evangelho não é o que nós devemos fazer, mas o que Deus fez por nós em Cristo. O evangelho não é discussão nem debate, mas uma proclamação. O evangelho está centralizado na pessoa de Jesus Cristo. O conteúdo do evangelho é Jesus Cristo: sua vida, obra, morte, ressurreição, governo e segunda vinda.

James Hastings diz que Cristo criou o evangelho pela sua obra; Ele pregou o evangelho pelas suas palavras, mas Ele é o próprio evangelho.

Como Marcos escreveu seu evangelho para os romanos, que davam grande importância à concisão, vai direto ao assunto e já no primeiro versículo destaca o título pleno do Senhor, que abarca sua humanidade, sua missão redentora e sua divindade. Ele é plenamente homem (Jesus). Ele é o ungido de Deus (Cristo). Ele é plenamente divino (Filho de Deus).

Marcos iniciou sua mensagem, revelando-nos a essência do evangelho. Sem essa gloriosa doutrina, diz John Charles Ryle, não teremos nada sólido debaixo dos nossos pés. Nossos corações são fracos, nossos pecados são muitos. Nós precisamos de um redentor que seja capaz de salvar completamente e libertar-nos da ira vindoura. Nós temos esse salvador em Jesus Cristo. Ele é o Deus forte (Is 9.6).

sábado, 25 de agosto de 2018

DEZ HOMENS E DEZ MULHERES DA BÍBLIA [Resenha]


LUCADO, Max. Dez Homens da Bíblia & Dez Mulheres da Bíblia – Como Deus usou pessoas imperfeitas para mudar o mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.


As leituras das Escrituras podem chegar a uma profundidade não considerada pela narrativa e a narrativa pode estabelecer verdades que não estão dentro da leitura recomendada. Porém, tudo o que está escrito dentro da narrativa pode ser bem evidenciado pelas Escrituras. Quando o autor do livro de Hebreus dedicou 40 versículos no capítulo 11 de sua epístola sobre a fé, ele fez questão de narrar a vida de personagens, o qual foram denominados de Heróis da Fé. E ele fez isso por duas razões: (1) contrastar a fé com a ênfase que o Antigo Testamento dava à obediência à lei; e (2) mostrar o que homens e mulheres de Deus (“a grande nuvem de testemunhas”) fizeram por meio da fé, no passado. Assim, ele encoraja seus leitores a permanecerem firmes, lembrando que os cristãos têm promessas superiores (Hb 11.39-40).

Quando nos detemos a estudar muitos eventos concernentes às vidas dos personagens básicos da Bíblia, percebemos que vida é uma competição que encerra perseverança, paciência, fé e compreensão.

É importante entender que no curso da vida nunca estamos sozinhos. Outras pessoas já passaram por ela antes de nós. Elas estão nas arquibancadas, nos oferecendo através da narrativa bíblica suas sabedorias e suas experiências. Precisamos somente ouvir sua voz e prestar atenção em suas histórias para transformar os desafios de nossos dias modernos em vitórias. De Rebeca a Davi, de Abraão a Moisés, essa coleção de dois livros “Dez homens e Dez Mulheres da Bíblia” coloca-nos face a face com os grandes personagens da Bíblia. Desses grandes heróis vem a inspiração de viver como eles viveram: como líderes, como pessoas que tiveram histórias de sucesso e como o povo próximo de Deus.

Max Lucado, mostra seu propósito, quando diz: “essas histórias nos mostram que existe um Criador que nos ver onde estamos e nos ama pelo que somos. Ele é aquele que paira sobre todas as páginas da Bíblia, moldando vidas, resgatando corações, curando doenças, trazendo à vida o que estava morto e atribuindo grande missões àqueles que escolhem segui-lo e nele depositam sua fé” [p.6]


DEZ HOMENS DA BÍBLIA

No primeiro livro, temos os Dez Homens da Bíblia. Os homens retratados na Bíblia não eram perfeitos de forma alguma. Nas Sagradas Escrituras, encontramos diversas histórias marcadas por escândalos, fracassos e intrigas. No entanto, também encontramos muitas histórias de homens que conseguiram olhar além de suas circunstâncias, confiar completamente no Senhor e segui-lo por onde quer que fosse. Assim como nós, esses homens tomaram boas e más decisões ao longo do caminho - experimentaram boas e más consequências. Nas páginas da Bíblia, vemos nossas lutas e esperanças refletidas em suas histórias.

Estes homens, como já escrevei acima, em algum momento perderam a sua principal essência, a sua fé e tiveram derrotas consideráveis em suas empreitadas, tiverem seus sonhos e projetos destruídos e muitos até foram mortos, simplesmente porque persistiram no erro ou porque não acreditavam mais naquilo que sempre os manteve de pé. Se seus sonhos ficaram pelo caminho, se você deixou de acreditar ou mesmo de sonhar, que tal ir em busca deles novamente?

Um dos objetivos deste livro será mostrar que enquanto estes homens mantiveram a sua essência, enquanto acreditaram que venceriam as dificuldades e buscaram com todas as suas forças, eles foram à luta e conquistaram o sucesso. Estes homens não se preocuparam com as pessoas que tentavam desencorajá-los a qualquer custo porque duvidavam de seu potencial, assim acreditamos que com você não será diferente, vamos nos inspirar em busca de uma inspiração nova para atingir os nossos objetivos.

1. Noé – Esperança quando as águas inundam tudo.
2. Jó – A presença de Deus na tempestade.
3. Jacó – Lutando com o passado.
4. Moisés – Um vislumbre da glória de Deus.
5. Davi – Problemas gigantes e quedas colossais.
6. José – Pernas trêmulas e perguntas não respondidas.
7. Mateus – Redefinindo a família de Deus.
8. Lázaro – A testemunha final.
9. Pedro – O evangelho da segunda chance.
10. Paulo – Nunca se está longe demais para retornar.

Sobre estes homens, Max Lucado escreveu: Encontramos neles as nossas histórias e vislumbramos nossa esperança onde eles encontraram a deles. E, no meio de todos eles... encontramos o herói de tudo isso: Deus – Criador, moderador, resgatador de corações quebrantados; o Senhor, que distribuiu chamados do Alto, segundas chances e bússolas morais para todos os interessados. Então, se você já se perguntou como Deus poderia usá-lo para transformar o mundo, olhe para esses homens. Esse conjunto de seguidores fracassados, de altos e baixos, que não fazia nada certo, de líderes desesperados, encontrou esperança não em seu desempenho, mas nos braços abertos de Deus. [p.5]


DEZ MULHERES DA BÍBLIA

No segundo livro, temos as Dez Mulheres da Bíblia.  No Antigo Testamento encontramos muitas mulheres exercendo forte liderança. Elas envolviam-se com a defesa, permanência e a formação da consciência do povo hebreu. As mulheres estão presentes onde a vida está fragilizada e ameaçada. O riso de Sara, no livro do Gênesis nos revela sua participação na constituição do povo ao gerar um filho. Os cânticos de Míriam, Débora e Ana revelam a alegria da mulher, fazendo sua parte na história da salvação. Rute é o exemplo de solidariedade da mulher oprimida. As parteiras no Egito, com coragem e astúcia tramam um novo projeto de sociedade. Nesta nova sociedade a vida deve ser defendida e preservada. Jael e Judite são exemplos de firmeza na luta de resistência. Ester com determinação expõe a própria vida pela salvação de seu povo. Outras grandes profetizas como Débora e Hulda não podemos esquecer. A tradição de fé em Israel tem marcas da atuação feminina. Lá onde a capacidade de resistência do povo parecia se esgotar, sempre aparece uma mulher forte.

Contudo há mulheres que nem conhecemos todos os seus nomes. Alguns são referidos apenas pela sua nacionalidade. Alguns são conhecidos apenas pelo lugar onde moravam. Alguns nomes se tornariam rainhas, enquanto outros viveriam à margem da sociedade. Uma daria à luz uma nação, e alguém daria à luz o Messias. A cultura muitas vezes ignorou ou descontou as contribuições das mulheres, mas os autores das Sagradas Escrituras encontraram essas mulheres e o notável papel que desempenharam para contar a história de Deus.

As mulheres estudadas neste volume tratam-se não daquelas que estão sempre em evidências nos estudos e palestras devido suas virtudes, e sim, com exceção de Sara e Maria, mãe de Jesus, todas as demais tiveram um passado duvidoso. Mulheres que chegaram aos pés do Senhor com feridas do passado, com os abusos do passado e as memórias dolorosas do passado. 

1. Sara – A vida no reino do absurdo.
2. Raabe – Quando um passado duvidoso conhece a graça de Deus.
3. Abigail – A bela entre as feras.
4. Ester – Tocando o coração do rei.
5. Maria, a mãe de Jesus – Mais do que um conto de Natal.
6. A Mulher Samaritana – De marginalizada a evangelista.
7. A Mulher Cananéia – Quando uma grande fé encontra uma grande ação.
8. Maria de Betânia – Atos ousado de amor.
9. Maria Madalena – Encontro com o Deus das surpresas.
10. Safira – Faça o bem... em silêncio.


Para concluir, estes dois livros são altamente didáticos e editados para serem usados no estudo bíblico diário, tanto de forma individual, como também para estudos em grupos. Escola Bíblica Dominical e células. Eu particularmente recomendo que seja usado em estudos bíblicos semanalmente, pois cada seção contém cinco dias de estudo, com impressões retiradas dos livros de Max Lucado. Há também perguntas orientadoras que ajudam a percorrer as histórias desses homens e mulheres nas Escrituras.

E finalmente, sobre os heróis da fé, Hebreus 11.38 conclui: “Homens dos quais o mundo não era digno”. Ele quer nos dizer que o mundo não era um lugar bom para esses homens de fé. A estatura espiritual deles fez com que fossem merecedores de uma cidade superior. A ideia é também que o mundo não oferecia hospitalidade compatível com o exemplo de fé dessas pessoas formidáveis. Essa tão grande nuvem de testemunhas (Hb 12.1) é um exemplo para nós. O Deus deles é o nosso Deus. Eles tiveram fé, por isso obtiveram bom testemunho. Então, oremos: “Senhor, aumenta-nos a fé. Amém.

TULIP: OS CINCOS PONTOS DO CALVINISMO À LUZ DAS ESCRITURAS [Resenha]


SPENCER, Duane Edwards. TULIP: Os Cincos Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras. São Paulo, SP: Edições Parakletos. 127p.


Este livro Trata-se de uma defesa simples e lógica dos 5 pontos do calvinismo, ilustrados pelo acróstico: TULIP. O autor, que apresenta grande aversão aos pressupostos arminianos, aponta já no prefácio alguns dos grandes proponentes do calvinismo: Spurgeon, hitefield, Knox, Warfield, Pink, entre outros. O livro não está dividido em capítulos, e sim, em tópicos que parece mais degraus, em que a medida que sobre, lhe dá uma visão ampliada que estabelece as diferenças bíblico-teologicas entre o Calvinismo e o Arminianismo.

[1]Um dos mais excitantes sinais de nosso tempo é o crescente interesse pelo estudo da Palavra de Deus e da Teologia Bíblica da Reforma. Ao invés de preferirem a literatura mundana de seus pais, muitos jovens estão lendo hoje livros tais como “A Escravidão da Vontade”, de Martinho Lutero, e as “Institutas”, de João Calvino. Na medida em que lêem e comparam a Teologia dos Reformadores Protestantes com suas Bíblias, começam a perceber que muito da teologia do evangelismo contemporâneo tem negligenciado a graça, e tem dado ênfase às obras da carne. Se eles forem além e estudarem a história da Teologia, aprenderão também que a doutrina da maioria das igrejas “evangélicas”, hoje, é a teologia humanista de Erasmo, de Roma. É neste ponto que eles começarão a perceber, exatamente, por que fundamentalistas e liberais, protestantes e católicos, episcopais e pentecostais podem trabalhar lado a lado, nas maiores cruzadas de reavivamento do século vinte. Aquilo que essas igrejas sustentam, em comum, é a exaltada doutrina a respeito do homem esposada por Erasmo, e sagacissimamente definida por Arminius, tornada popular por Wesley e, finalmente, polida por muitos psicólogos cristãos de nosso tempo. Estranho como possa parecer, há muitos hoje que insistem, dizendo que crêem na salvação pela graça, contudo insistem também em que o homem tem o poder de “tomar a decisão por Cristo”. Argumentam, dizendo que “Deus ama a todos igualmente e do mesmo modo”, porém estão certos de que ele está mandando algumas pessoas para o inferno. Afirmam que a Bíblia ensina que o Criador de todas as coisas, certamente, é onipotente, mas estão igualmente convencidos de que o homem finito é plenamente capaz de obstruir a vontade de Deus. Em quase todos os casos, o problema está no fato de essas estimadas pessoas não conhecerem a doutrina bíblica. Elas não têm ouvido dos púlpitos de suas igrejas coisa alguma senão algo a respeito do plano da salvação e sumários sermões doutrinários que informam esse plano! Se lhes pedíssemos que explicassem o significado de doutrinas tais como redenção, propiciação, reconciliação, remissão e expiação, essas pessoas se limitariam a murmurar trivialidades ou ficariam simplesmente sem ter o que dizer. Por quê? Simplesmente porque nunca foram ensinadas, nem tiveram o vigor espiritual necessário para, por si mesmas, descobrirem o que é que as Escrituras ensinam a respeito da obra de Cristo. Há, porém, uma coisa que elas sustentam em comum: A convicção de que o homem pode usar sua própria vontade positiva para aceitar a Cristo e garantir, por si mesmo, “sua salvação”. Muitos batistas, que pensam ser anti-calvinistas, não estão cientes do fato de que um de seus maiores pregadores – Charles Haddon Spurgeon – foi um sólido defensor dos cinco pontos do calvinismo. Este pregador de língua de ouro disse: “As velhas verdades que Calvino pregou, que Agostinho pregou, que Paulo pregou são as verdades que eu devo pregar hoje, ou, de outro modo, serei falso a minha consciência e a meu Deus. Eu não posso fabricar a verdade. Eu nada sei a respeito de como abrandar as ásperas arestas de uma doutrina. O evangelho de João Knox é o meu evangelho. Aquele evangelho que ribombou através da Escócia deve ribombar através da Inglaterra outra vez.” [2] 

Através da História, muitos dos grandes evangelistas, missionários e vigorosos teólogos sustentaram as preciosas doutrinas da graça, conhecidas como calvinismo. Por exemplo, William Carey enfatizou solidamente a predestinação, mas não hesitou em chamar o homem ao arrependimento de seus pecados e a confiar em Cristo. A soberania de Deus e a responsabilidade do homem em crer na Palavra de Deus não são doutrinas absolutamente incompatíveis. Uma vez que os ensinos básicos do calvinismo sejam corretamente compreendidos, o coração se aquece e a urgência de partilhar o evangelho com outros torna-se quase irresistível. Burns, da China, M’Cheyne, Whitfield, Brainerd, Bonar, Lutero, Knox, Latimer, Tyndale, Rutherford, Bunyan, Goodwin, Owen, Watson, Watts, Newton, Hodge, Warfield e Pink são apenas uns poucos gigantes do púlpito, cujas pregações brilharam com a doutrina da graça soberana. Todos eles proclamaram um fervente amém às seguintes palavras de Spurgeon: “Deleito-me em proclamar estas velhas e fortes doutrinas apelidadas de calvinismo, porque são certa e seguramente a verdade revelada por Deus, como ela está em Jesus Cristo.” [3]


Os Cinco pontos do Arminianismo – Neste primeiro tópico, é traçado em poucas palavras a história dos Cinco Pontos do Calvinismo que tiveram sua origem a partir de um protesto que os seguidores de Jacobus Arminius (Jakob Herman, um professor de seminário holandês) apresentaram ao “Estado da Holanda” em 1610, um ano após a morte de seu líder. O protesto consistia de “cinco artigos de fé”, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou conhecido na história como a “Remonstrance”, ou seja, “O Protesto”. O partido arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg) fossem mudados para se conformar com os pontos de vista doutrinários contidos no Protesto.

Os cinco artigos de fé contidos na “Remonstrance” podem ser resumidos no seguinte:
1. Vontade Livre - Deus elege ou reprova na base da fé prevista ou da incredulidade.
2. Eleição Condicional - Cristo morreu por todos os homens, em geral, e em favor de cada um, em particular, embora somente os que creem sejam salvos.
3. Expiação universal - Devido à depravação do homem, a graça divina é necessária para a fé ou qualquer boa obra.
4. A graça pode ser impedida - Essa graça pode ser resistida.
5. O homem pode cair da graça - Se todos os que são verdadeiramente regenerados vãos seguramente perseverar na fé é um ponto que necessita de maior investigação.


O Contraste – o segundo tópico, o autor trabalhou um breve contraste entre as duas posições à base do ponto a ponto. Ou seja, temos aqui, claramente as “linhas de batalhas” traçadas pelas afiadas mentes de ambos os lados. 


A Vontade de Deus – este é o terceiro tópico, e aqui dedicado inteiramente a descrever a Soberania de Deus manifesta através de sua vontade. Para realmente introduzir o leitor na fundamentação dos Cincos Pontos do Calvinismo, Spencer escreve: Com base nas Santas Escrituras, comecemos nossa comparação dos Cincos Pontos do Arminianismo com os Cincos Pontos do Calvinismo, estabelecendo a base bíblica a respeito da vontade e dos decretos de Deus. Quando falamos da vontade de Deus (Jeová), queremos dizer que ela não é senão expressão de seu Ser onipotente e onisciente. Se Ele é onipotente, como atestam as Escrituras, ele realizará tudo o que está incluído em seus propósitos; e se ele é onisciente, não cometerá erros em seu plano original, nem terá necessidade de alterar seu propósito original. [p.20]

Não entrando no mérito da discussão, de uma verdade todos os cristãos são cientes. Deus é soberano na redenção, um fato que explica porque somos gratos a Deus pela nossa salvação e oramos a ele pela salvação de nossos amigos que estão espiritualmente perdidos. Se o poder de salvar está no livre-arbítrio do homem, se ele realmente reside na sua capacidade de se salvar, sem que necessite de ajuda, por que imploraremos a Deus que “vivifique”, “salve” ou “regenere”? O fato de que consistentemente agradecemos a Deus pela salvação das pessoas significa (admitamos ou não) que a crença no livre-arbítrio é inconsistente.


A partir do quinto tópico, intitulado “Depravação Total”, Spencer começa a trabalhar os Cinco Pontos do Calvinismo um a um. Eu vou procurar colocar aqui citações de diversos autores que concordam com os Cincos Pontos do Calvinismo. Compete ao leitor ler cada ponto e tirar suas próprias conclusões.

a) Depravação Total - Segundo o autor Gise Van Baren: O que nós devemos entender por 'depravação total'? 'Depravação' significa perversidade, corrupção, o mal inato do homem não regenerado. Adicionar a palavra 'total' a depravação, é enfatizar sem nenhuma sombra de dúvida, a verdade que não há absolutamente nenhuma bondade no homem natural, no homem que é nascido do Adão caído. [4] 

Sobre o relato da Queda, por exemplo, em Gênesis 3, Calvino registrou: Neste capítulo, Moisés explica que o homem, depois de ter sido enganado por Satanás, se rebelou contra o seu Criador, tornou-se totalmente mudado e degenerado, a ponto de a imagem de Deus, no qual ele tinha sido formado, ter sido destruída. Ele, então, declara que o mundo inteiro, que tinha sido criado para o bem do homem, caiu junto com ele da sua posição primária, e que neste estado muito de sua excelência natural foi destruída. [5]

b) Eleição incondicional – A eleição incondicional é uma das doutrinas mais controversas das Escrituras Sagradas. Alguns acham que ela é uma doutrina que Satanás usa para impedir o zelo evangelístico da igreja. Outros, incluindo os calvinistas, consideram-na uma verdade bíblica muito reconfortante, uma verdade sem a qual Deus seria privado de sua devida glória na salvação de pecadores. Para aqueles que minimizam o registro bíblico sobre a depravação total do homem, a eleição é a razão primária porque as pessoas estão no inferno. 

Para os calvinistas, que aceitam o ensino bíblico sobre a depravação total, a eleição é a razão primordial por que as pessoas estão no céu. Esses calvinistas podem dizer juntamente com Charles H. Spurgeon: Creio na doutrina da eleição porque estou certo de que, se Deus não me tivesse escolhido, eu nunca o teria escolhido. Estou certo de que Ele me escolheu antes de eu haver nascido, pois Ele não me teria escolhido depois. [6]

c) Expiação Limitada – Todavia, a doutrina da expiação limitada salienta a obra da redenção realizada por Cristo através de sua morte na cruz. Não obstante, Jesus se ofereceu como o único e perfeito sacrifício pelos pecados para satisfazer a justiça de Deus, sofrendo a ira divina, tornando-se maldição e morrendo no lugar de pecadores. Em suma, é “a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”.[7] A pergunta crucial que envolve a síntese da extensão da obra expiatória é esta: Por quem Cristo morreu? “No lugar de quem Cristo se ofereceu como sacrifício”? [8] Mediante a esta pergunta, existem inúmeras passagens nas Escrituras referente à morte de Cristo, onde é afirmado que a expiação “aparentemente” foi universal, ou que a morte de Cristo foi por todas ou muitas pessoas ou pelo mundo todo. No entanto, se analisarmos detalhadamente todo o contexto em geral sobre a questão da morte de Cristo, veremos que a expiação não foi universal, mas foi limitada ou particular. Em outras palavras, Jesus não morreu por todas as pessoas e nem pelo mundo inteiro.

d) Graça Irresistível – John Piper faz uma ótima análise a respeito deste assunto. 2 Timóteo 2:24-25: “e ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente; corrigindo com mansidão os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”. Piper escreve: “Aqui, como em João 6:65, arrependimento é chamado de dom de Deus. Perceba, ele não está meramente dizendo que a salvação é um dom de Deus. Está dizendo que o pré-requisito para a salvação também é um dom. Quando uma pessoa ouve um pregador chamá-la ao arrependimento, ela pode resistir a esse chamado. Mas se Deus conceder-lhe arrependimento, não poderá resistir porque o dom é a remoção da resistência. Não sentir vontade de se arrepender é o mesmo que resistir ao Espírito Santo. Assim, se Deus concede arrependimento, isso é o mesmo que remover a resistência. Esse é o motivo de chamarmos essa obra de graça irresistível. NOTA: Deveria ser óbvio a partir disso que a graça irresistível nunca implica em Deus forçar-nos a crer contra a nossa vontade, senão teríamos uma contradição de termos. Pelo contrário, a graça irresistível é compatível com a pregação e testemunho que tentam persuadir pessoas a fazer o que é racional e o que irá de acordo com seus melhores interesses.”[9]

e) Perseverança dos santos – Ao declarar-se a eterna segurança do povo de Deus, talvez seja mais claro falar de sua preservação que – como se costuma fazer – de sua perseverança. Perseverança significa contínuo apego a uma crença apesar do desencorajamento da oposição. A razão por que os crentes perseveram na fé e na obediência, contundo, não está na força de sua própria dedicação, mas em que Jesus Cristo, através do Espírito Santo, os preserva. Calvino escreveu: “Somente é um verdadeiro crente aquele que, convencido por firme convicção de que Deus é o Pai bondoso e bem-disposto, assume todas as coisas na base da sua generosidade; aquele que, apoiando-se nas promessas da divina benevolência, toma posse da indubitável expectativa de salvação… Nenhum homem é um crente, exceto aquele que, descansando na segurança da salvação, confiantemente triunfa sobre o diabo e a morte”. [10] 

Portanto, para o reformador a perseverança dos santos se caracterizava na vida daqueles que produziam uma fé salvífica, ou seja, uma fé que evidenciava arrependimento perante os pecados. Com isso, Calvino tratava a predestinação como uma consequência efetiva de uma eleição baseada na graça da escolha Divina em relação ao ato livre da vontade de Deus em julgar um pecador por meio da punição estabelecida na morte do Senhor Jesus Cristo. 


Os três últimos tópicos deste livro são: Uma conclusão do próprio Spencer sobre os Cinco Pontos do Calvinismo. Um ponto seguinte é sobre uma seleção de temas da Confissão de Fé de Westminster que lançam luz sobre a Doutrina da Eleição e último tópico é o confronto final entre os cincos pontos do Calvinismo e Arminianismo.


As nossas considerações finais sobre este didático livro é que creio que a diferença crucial entre o Arminianismo e o Calvinismo se resume na palavra Soberania. Enquanto os calvinistas entendem que Deus opera a salvação na vida do ser-humano conforme a sua livre e soberana vontade, os arminianos salientam que o homem é capaz de por si só querer ou não ser salvo. Se partirmos da premissa que o homem está completamente morto diante de Deus como nos ensina Efésios 2:1, entenderemos porque a salvação depende tão somente da graça e da misericórdia do SENHOR, pois “não depende de quem quer ou quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9:16). Portanto, creio que os objetivos deste artigo foram de fato alcançados, demonstrando assim a verdadeira história dos “Cinco Pontos do Calvinismo”. Que assim, queira o Senhor nosso Deus nos abençoar e nos dar sempre a graça de sermos verdadeiros propagadores da história reformada.

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[1] Prefácio da Obra
[2] “Uma Defesa do Calvinismo”, por C. H. Spurgeon, em C. H. Spurgeon Autobiography, eds. S. Spurgeon and J. Harrold, Rev ed., vol I, The Early Years 1834-1859 (Carlisle, PA: Banner of Truth, 1976: reprint), 165.
[3] Ibid.
[4] BAREN, Gise Van. Depravação Total. Fireland Missions: Agosto de 2018.
[5] CALVINO, João. Gênesis, Série Comentários Bíblicos. Recife, PE. CLIRE, 2018, p.107
[6] [1] BEEKE, Joel. Vivendo Para a Glória de Deus: Uma Introdução à Fé Reformada. Ed. FIEL; São José dos Campos, SP, 2010; pg 77.
[7] Teologia sistemática Wayne Grudem, pág 259.
[8] R.C. Sproul. Eleitos de Deus, pág 152.
[9] Graça Irresistível, John Piper in: http://www.monergismo.com/textos/graca_irresistivel/graca-irresistivel_piper.pdf
[10] ANGLADA, Paulo; Calvinismo – As Antigas Doutrinas da Graça; Os puritanos; Recife, 1999; Capitulo XVII, pp 85, 86.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

CRISTIANISMO PURO E SIMPLES [Resenha]



LEWIS, C. S. Cristianismo Puro e Simples. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2017. 288p. 


Em 1942 a Grã Bretanha se envolveu na Segunda Guerra Mundial. Mais uma guerra que ceifou incontáveis vidas e assolou a população civil. Mais uma guerra que trouxe dor, sofrimento e pobreza, segundo Lewis: “na medida em que sua ilha nação era bombardeada por quatrocentos aviões noite após noite, na famosa blitz que mudou a face da guerra, transformando os civis e suas cidades em linhas de frente de batalha” [p.21]. 

Foi nesse contexto histórico que C.S Lewis, um ex-ateu e veterano da Primeira Guerra Mundial, foi convidado pela BBC de Londres a falar sobre o cristianismo e assim trazer esperança e refrigério aos corações. Nestas palestras C. S. Lewis começou a explicar o cristianismo em termos simples. Sim, sua a explicação era simples, com uma linguagem fácil e coloquial. No entanto, é impressionante observar que o que era simples, acessível e escrito para o cidadão comum naquela época, hoje talvez não seja compreendido com tanta facilidade por qualquer pessoa. Digo isso porque ele exige que seu cérebro acompanhe o raciocínio. 

Um outro detalhe interessante acerca dessas palestras é que as mesmas deram um sentido novo à vida de milhares de adultos de todas as classes e profissões. C. S. Lewis foi capaz de dar conforto e consolação a milhões de pessoas num tempo de guerra e de incertezas. As transcrições foram originalmente publicadas como panfletos separados: Palestra de Rádio (1942), Conduta Cristã (1943) e Além da personalidade (1944). Considerado um clássico da apologética cristã, essas palestras viriam a tornar-se, algum tempo depois, o livro em questão, porém ajustado por Lewis para ser apresentado na forma impressa e que veio a ser considerado a mais popular e acessível de todas as obras de Lewis. Lembrando-nos daquilo que é mais importante na vida e apontando-nos o caminho da alegria e do contentamento.

Em uma votação realizada em 2006 pela revista Christianity Today foi considerado um dos 50 livros mais influentes do pensamento evangélico no pós-II Guerra. 

“Assim como seu predecessor Soren Kierkegaard e seu contemporâneo Dietrich Bonhoeffer, Lewis busca em Cristianismo puro e simples ajudar-nos a encarar a religião com olhos renovados, como uma fé radical cujos adeptos podem ser associados a um grupo clandestino que se reúne na zona de guerra, um lugar em que a maldade parece imperar, para ouvir mensagens de esperanças vindas do lado de lá” [p.24]. 

O livro está dividido em 4 partes, onde Lewis apresenta tudo que é de mais essencial e profundo na cosmovisão cristã, sem perder “a graça” ou precisar que o leitor tenha cursado Filosofia ou Teologia. 
Livro I – O certo e o errado como chaves para a compreensão do sentido do universo. 
Livro II – No que acreditam os cristãos. 
Livro III – Conduta cristã. 
Livro IV – Além da personalidade ou os primeiros passos na Doutrina da Trindade. 

Começando pelos temas filosóficos mais essenciais e discussões comuns acerca da moralidade, do certo e errado, da existência de Deus e etc., Lewis caminha com o leitor ao longo do livro para temas cada vez mais elevados e faz isso com maestria, fazendo com que o leitor reflita acerca dos temas ali apresentados. Talvez seja esse o segredo do imenso sucesso dessa obra, visto que as ideias nela contida são analisadas pelo próprio autor pelos mais diferentes ângulos. Dessa forma o coração do leitor não é arrebatado e sim a sua razão, seus pensamentos, suas certezas e opiniões. 

Como ex-ateu, Lewis consegue se identificar com as questões mais íntimas do leitor agnóstico e levá-lo a considerar o cristianismo como racional e plausível; como cristão, ele chama seus irmãos a, de uma vez por todas, entenderem o cristianismo, em sua essência, enquanto filosofia de vida, enquanto verdade e suas implicações práticas (e eternas!). 

Contudo, o que precisa ficar bem claro é que devemos os motivos de C. S. Lewis e seu objetivo com esse livro: 

1. Lewis não está pregando para atrair membros para sua igreja, ele está falando de como é a vida sob a perspectiva da fé cristã, em contraste com a vida fora da fé cristã. 

"Não escrevi para expor a minha religião, mas para expor a essência do Cristianismo autêntico, o qual é o que é, e foi o que é, muito antes de eu ter nascido, quer isso me agrade ou não." 

2. O sentido do termo “cristão” deve ser descritivo e não um simples elogio. No sentido profundo, não podemos julgar quem é realmente cristão e quem não é. Você pode ser um não-cristão cheio de qualidades, ou um cristão com poucas qualidades. O que importa é estar disposto a compreender o sentido da fé cristã para sua vida e a viver de modo consistente com suas crenças. [1]

Nesta resenha não iremos tratar como costumeiramente – capítulo a capítulo – e sim, veremos os principais temas tratado nesta excelente obra. 


1. A LEI MORAL 

Há uma plena percepção do que é certo e do que é errado na consciência humana, e este é um dado universal, confirmado na análise e na história dos povos e de suas culturas. Comparam-se os padrões e preceitos, e lá está ela: uma lei eterna que a razão humana apreende. Dela falou o apóstolo Paulo: “a obra da lei escrita em seus corações” (Rm. 2:14-15). Ele não falava de cristãos, mas dos gentios, e por extensão, de todo e qualquer homem. Da presença dessa lei natural na consciência humana falaram Tomás de Aquino, Calvino, e outros grandes teólogos e filósofos cristãos. C. S. Lewis, em ‘Cristianismo Puro e Simples desenvolve na primeira parte deste livro, um argumento para a própria existência de Deus com base na moralidade. Se não existisse uma lei moral universal, discordâncias morais não fariam sentido; necessariamente, essa lei moral universal exigem um Legislador Moral, que deve ser perfeitamente bom, justo, e preocupado com a conduta moral humana. 

“A Lei Moral que ele pôs nas nossas mentes, e essa é uma prova melhor do que a outra, porque se trata de informação interna. Você descobririrá mais sobre Deus a partir da lei Moral do que do universo em geral, da mesma forma que descobrirá mais sobre o homem ouvindo sua conversa do que observando uma casa que ele tenha construído. Nesse sentido, podemos concluir, a partir desse segundo indício, que o Ser por trás do universo está intensamente interessado na conduta certa – no jogo limpo, em altruísmo, em coragem, em boa fé , em honestidade e em veracidade” [p.61]. 

A Confissão de Fé nos fala da lei de Deus gravada no coração do homem (CFW 4.2). Essa lei gravada no coração do ser humano reflete o tipo de intimidade reservada por Deus para as suas criaturas. Nesse contexto podemos perceber que a lei tinha um papel orientador para o ser humano. Para que o seu relacionamento com o Criador se mantivesse, o homem deveria ser obediente e assim cumprir o seu papel. A obediência estava associada à manutenção da bênção pactual. A não obediência estava associada à retirada da bênção e à aplicação da maldição. A lei, portanto, tinha uma função orientadora. O ser humano, desde o princípio, conheceu os propósitos de Deus através da lei. Tendo quebrado a lei, ele tornou-se réu da mesma e recebeu a clara condenação proclamada pelo Criador: a morte. 


2. O DUALISMO 

Todos possuem uma cosmovisão.[2] E cada cosmovisão deve lidar com uma questão fundamental: a origem do bem e do mal. Essa é a questão perene de nossa existência e ninguém pode escapar dela. Até mesmo cosmovisões ficcionais devem levar em consideração o bem e o mal (se elas quiserem fazer algum sentido). Uma possibilidade é sugerir que não existe tal coisa como o bem e o mal. Em uma visão materialista-evolucionária, na qual tudo o que existe é a matéria, conceitos como “bom” e “mau” são meramente construções humanas. Mas tal cosmovisão nos leva diretamente ao niilismo.[3]

O dualismo sugere que o bem e o mal são iguais, ou seja, são forças do universo que travam uma batalha por supremacia. Ambas as forças já existiam desde o início, sendo que nenhuma delas veio a existir primeiro. Não há problema em sugerir que o bem e o mal têm estado no universo desde o início, mas por que nós chamamos uma dessas forças de “boa” e a outra de “má”? Não pode ser simplesmente porque preferimos uma em vez da outra – nossas preferências pessoais não fazem algo ser bom ou mau. Para dizermos que uma força é boa e a outra má, devemos estar comparando essas forças a um padrão maior e mais alto. 

C. S. Lewis diz: “Mas no momento em que você diz isso, estará inserindo no universo um terceiro elemento em aditamento aos dois poderes: uma lei, um padrão ou regra do Bem, um dos poderes se conforma e outro deixa de se conformar. Mas já que os dois poderes são julgados por esse padrão, o mesmo tem de estar além de qualquer um deles, e ele será o verdadeiro Deus. Na verdade, o que queremos dizer ao chama-los de bem e mal acaba sendo que um deles está numa relação harmoniosa com o Deus definitivo e o outro, em uma relação equivocada" [p.76]. 

Em contraste ao materialismo e ao dualismo, o teísmo cristão afirma que Deus originariamente criou o mundo bom e que o mau é uma corrupção e distorção subsequentes de algo bom. Lewis, mais uma vez, deixa isso muito claro: “A bondade é o que é, por assim dizer; a maldade não passa de bondade corrompida. [...] E será que agora você está entendendo por que o cristianismo sempre disse que o diabo é um anjo caído? Essa não é apenas uma historinha para boi dormir. Trata-se do reconhecimento real do fato de que o mal é um parasita nada original” [p.77-78]. 

Algo que é especialmente importante a ser ressaltado é que, quando Lewis e Tolkien desenvolveram suas cosmovisões ficcionais – os mundos de Nárnia e da Terra-média –, eles as basearam não no materialismo ou no dualismo; mas, sim, no teísmo cristão. São mundos fictícios que uma vez foram completamente bons mas que, posteriormente, foram corrompidos pelo mal. 


3. A TEORIA DA EVOLUÇÃO 

Faço apenas uma observação, de cunho criacionista e por consequência bíblico: o autor, infelizmente influenciado pelo forte crescimento da filosofia naturalista da época, ainda que revestida de “ciência” (como ainda podemos ver hoje), acabou levando-se pelos equívocos da teoria da evolução [lê-se macroevolução], quando que por alguns momentos utilizou-se deste meio para exemplificar alguns conceitos encontrados no livro IV, no capítulo 11 que termina belamente, porém o início do capítulo é comprometido pelas comparações com a teoria evolucionista. 

O articulista e blogueiro Yury Stasyuk escreveu que C. S. Lewis abertamente aceitou que a evolução era uma teoria científica válida das origens. Na verdade, seu livro mais famoso Cristianismo Puro e Simples inclui o conceito de evolução científica como um exemplo de crescimento espiritual no grande final do livro. [4]

Ele cita um trecho do livro em pauta: Há milhares séculos, criaturas imensas e pesadamente encouraçadas evoluíram. Se alguém daquela época estivesse observando o curso da evolução, provavelmente teria esperado que ela partiria para couraças cada vez mais pesadas, mas teria se enganado redondamente. O futuro tinha uma carta na manga, a qual, naquele tempo, ninguém poderia prever. Era para despontarem nele pequenos animais nus, desprovidos de couraças, dotados de cérebros aprimorados, com os quais iriam conquistar o planeta todo. Eles não apenas teriam mais poder do que os monstros pré-históricos, como também teriam um novo tipo de poder. O próximo passo não seria apenas diferente, mas assumiria um novo tipo de diferença. O fluxo da evolução não correria na direção em que todos a viam correr: na verdade, ela entraria numa curva acentuada. (...) Ora, se podemos nos atrevera continuar falando nesses termos, a visão cristã diz precisamente que o próximo passo já foi dado, e ele é realmente novo. Não se trata da mutação de seres humanos dotados de cérebro para seres humanos dotados de mais massa encefálica: trata-se de uma mutação que se desvia para uma direção totalmente diferente – uma transformação que se dá do estado de criaturas de Deus para o de filhos de Deus. [p.277-278]. 

Em defesa do autor, como cidadão do início do Século XX, ainda que um abençoado cristão e sobremaneira culto, foi exposto à má ciência evolucionista da época, da qual hoje há material vasto para ser refutada, seja no campo da teologia, filosofia ou da ciência. Fica fácil enxergar, através de uma leitura leal e compassiva, que Lewis fala dentro de seu conhecimento disponível para seus dias e que, em nenhum momento, duvida do poder criador e mantenedor de Deus e ainda fala sobre a falácia da teoria da evolução no sentido extirpar Deus de suas vidas. 

Uma razão por que muitas pessoas julgam a Evolução Criativa (Teoria da Evolução) tão atraente é que ela nos dá muito conforto emocional de crer em Deus sem assumir as consequências menos agradáveis disso. Quando você estiver se sentindo bem-disposto, o sol estiver brilhando a você não quiser acreditar que o universo todo seja uma mera dança mecânica de átomos, é reconfortante pensar nessa grande Força misteriosa agindo ao longo dos séculos e carregando-o em sua crista. Se, por outro lado, você desejar fazer algo um tanto desprezível, a Força Vital, sendo apenas uma força cega, sem moral e desprovida de intelecto, nunca irá interferir na sua vida da mesma forma que aquele Deis inquietante, sobre o qual aprendemos quando éramos crianças. A Força Vital é uma espécie de Deus domesticado. Você pode acioná-lo quando bem entender sem que ele o incomode. Você tem todas as emoções da religião e nenhum custo. Será a Força Vital a maior obra do desejo reprimido que o mundo já viu? [p.57-58]. 


4. JESUS E O CRISTIANISMO 

Acerca de Jesus, C. S. Lewis popularizou o argumento de que Jesus ou era um mentiroso, um lunático ou o Senhor. Contudo, como Kyle Barton demonstrou, não foi Lewis quem o inventou. Em meados do século XIX, o pregador cristão escocês, “Rabbi” John Duncan (1796-1870) elaborou o que ele chamou de “trilema”. Em Colloquia Peripatetica (p. 109) [5] vemos esse argumento de Duncan a partir de 1859-1860. Cristo (1) enganou a humanidade com uma fraude de forma intencional, (2) Ele próprio era iludido e enganado sobre si mesmo ou (3) Ele era Divino. Não há como livrar-se desse trilema. Ele é inevitável. 

Contudo, foi C. S. Lewis, que deu ao argumento a sua formulação mais memorável: Quero evitar aqui que alguém diga a enorme tolice que muitos costumam dizer a respeito dele: “Estou pronto para aceitar Jesus como um grande mestre de moral, mas não aceito sua reivindicação de ser Deus”. Esse é o tipo de coisa que não se deve dizer. Um homem que fosse meramente um ser humano e dissesse o tipo de coisa que Jesus disse não seria um grande mestre de moral. De duas uma, ou ele seria um lunático – do nível de alguém que afirmasse ser um ovo frito – ou então seria o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de deus; ou então um louco ou algo pior. Você poderá descartá-lo como sendo um tolo ou pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou então, poderá cair de joelhos a seus pés e chama-lo de Senhor e Deus. Mas, não me venha com essa conversa mole de ele ter sido um grande mestre de moral, pois ele não nos deu essa alternativa e nem tinha pretensão. [p.86] 

Este é um bom argumento? Podemos colocá-lo da seguinte forma: 
(1) Se Jesus não fosse Senhor, ele seria um mentiroso ou um lunático.
(2) Jesus não era um mentiroso nem um lunático.
(3) Portanto, Jesus é Senhor.

Para determinar se este argumento é consistente, temos que fazer três perguntas: (1) Os termos são claros?
(2) É logicamente válido?
(3) As premissas são verdadeiras?

Eu daria as seguintes respostas:
(1) Sim, os termos são claros.
(2) Sim, é logicamente válido; a premissa 3 se segue das premissas 1 e 2 conforme as regras da lógica (Modus Tollens: a negação do antecedente da premissa 1 pode ser inferida pela negação de seu consequente).
(3) Mas não, o argumento não é consistente, pois nem todas as premissas dele são necessariamente verdadeiras.

Como William Lane Craig observa em seu livro “A veracidade da fé cristã”, a primeira premissa deixa de fora/omite outras opções possíveis e, portanto, é falsa[6]. Há outra alternativa: talvez o Jesus apresentado na Bíblia não seja o verdadeiro Jesus da história. É possível que o Jesus da Bíblia não seja um mentiroso, um lunático ou o Senhor, mas sim uma lenda. Em outras palavras, o Jesus da Bíblia não é o Jesus da história e, assim sendo, suas afirmações acerca do que deve ser creditado ao Jesus da Bíblia não conduzem a conclusões a respeito do real senhorio do Jesus da história. 

Portanto, temos um problema em dar qualquer outro nome a Cristo que não seja “O Filho de Deus”. Eu sei que ele tinha personalidade e características humanas. Mas todas as demais coisas que podemos enxergar em Jesus não sobrepõem este fato impar em seu ser. As Escrituras revelam a Salvação dos homens através deste Cristo e tê-lo como qualquer outra coisa, ao invés de quem realmente Ele é, nos separará dele para sempre. 

As dimensões históricas e mito-poéticas do mito tornado fato fizeram da obra de Jesus Cristo o evento central na cosmovisāo de C.S.Lewis, e que realmente não é possível encontrar uma gota do seu pensamento que não tenha sido inundada pelo oceano da cristologia do Novo Testamento. Como J.I.Packer bem definiu, Lewis tornou-se um homem especificamente centrado em Jesus Cristo. 

Lewis apresenta o cristianismo como o título do livro se propõe a fazer: de forma pura e simples. Sem tomar partido para qualquer denominação religiosa, ou fazer defesas de doutrinas particulares, de forma clara, concisa e brilhante, Lewis aborda os temas mais basilares da religião cristã; a começar pela própria defesa da existência de Deus como uma mente consciente e agente formulador da distinção entre certo e errado, por meio do que os teólogos chamam de "o Argumento Moral". No texto abaixo ele mostra qual é o principal propósito do cristianismo. 

O cristianismo diz às pessoas que devem se arrepender e lhes promete perdão, por isso ele não tem nada a dizer (até onde sei) àquelas pessoas que acham que não têm do que se arrepender e que não sentem que precisam de perdão. Somente depois que você percebe que existe uma Lei Moral real e um poder por trás dessa lei, é se dá conta de que violou tal lei e cometeu alguns erros contra esse Poder – é só depois de tudo isso, e nenhum instante antes disso, que o cristianismo começa a falar a sua língua. Quando você sabe que está doente, dá ouvidos ao médico. Quando tiver se dado conta de que nossa condição é desesperadora, começará a compreender do que os cristãos estão falando. Eles explicam como chegamos ao nosso estado presente de tanto de ódio quanto de amor à bondade, além de também explicar como Deus pode ser essa mente impessoal por trás da Lei Moral e, ainda assim, ser ao mesmo tempo uma pessoa. Eles lhes contam como as exigências dessa lei, que nem eu nem você conseguimos cumprir, foram cumpridas no nosso lugar, como o próprio Deus se tornou um ser humano para salvar a humanidade da desaprovação de Deus [p.63-64]. 


5. DESIGREJADOS

C. S.Lewis não escreveu este livro com o objetivo de atrair fiéis para a denominação religiosa que frequentava. Em uma sociedade onde a arrogância marca presença dentro das religiões, por consequência, é comum vermos pessoas levantarem a bandeira, não da Bíblia e tampouco do cristianismo, mas sim das interpretações de líderes religiosos sobre o certo e o errado. Portanto, o objetivo do autor funciona como um grande diferencial, o que faz, entre outros fatores, “Cristianismo Puro e Simples” ser plausível e confiável. 

Ele escreve sobre já no prefácio da obra: “Aqui cabe um aviso ao leitor: não oferecerei qualquer tipo de ajuda a ninguém que esteja em dúvida entre duas “denominações” cristãs; em outras palavras, não espere de mim qualquer orientação no sentido no sentido de você se tornar um anglicano, católico romano, metodista ou presbiteriano. Essa omissão intencional (até mesmo a lista que acabei de apresentar está em ordem alfabética), e também não faço mistério sobre a minha posição pessoal. Sou um leigo dos mais convencionais da Igreja Anglicana, sem preferência especial pela “Alta” ou pela “Baixa” Igreja, tampouco por qualquer outra coisa” [p.10]. 

Lewis amava a Igreja da Inglaterra. Era a sua casa denominacional. Mas ele não via a sua chamada como sendo uma advocacia do Anglicanismo. Sua chamada era levar pessoas a entrar na sala de estar do Cristianismo. E ele sabia que o saguão não era um lugar no qual deveríamos viver. Esse é o equívoco que muitos cometem a respeito de Lewis. Ele não era ecumênico no sentido de liderar as pessoas na saída dos quartos denominacionais em direção a sala de unidade. Seu espírito ecumênico consistia, como veremos mais adiante, no amor entre os quartos e não no esvaziamento dos quartos em direção ao saguão de entrada. 

“Espero que nenhum leitor suponha que o cristianismo “puro e simples” aqui proposto deva ser entendido com uma alternativa aos credos das comunidades existentes – como se uma pessoa pudesse adotá-lo preferencialmente ao congregacionalismo ou à Igreja Ortodoxa Grega ou a qualquer outra igreja. O cristianismo puro e simples é, antes como um saguão de entrada a partir do qual várias portas se abrem para diversos cômodos. Se eu puder conduzir alguém ao saguão, terei alcançado meu objetivo, mas é nos cômodos, e não saguão, que há lareiras, cadeiras e refeições. O saguão é uma sala de espera, um lugar a partir do qual se pode experimentar as várias portas, não um local para se morar” [p.19]. 

John Piper escreveu: “Os quartos denominacionais são onde estão a chaminé, as cadeiras e as refeições. Em outras palavras, se você tentar viver no saguão de entrada, você vai ficar sem aquecimento, descanso e comida. Cristianismo Puro e Simples não é um Cristianismo vivido. Tentar fazer dele uma vida é como tentar comer mera comida sem comer verduras, frutas nem carne.” [7]

“O cristianismo concorda com o dualismo na acepção de que esse universo está em guerra, mas discorda que essa seja uma guerra entre poderes independentes. Ele a considera, antes, uma guerra civil, uma rebelião, e que estamos vivendo em uma parte do universo que está ocupada pelos rebeldes. Um território ocupado pelo inimigo — eis o que é o mundo. E o cristianismo é a história de como o rei legítimo aportou, você poderia dizer até que aportou disfarçado, e nos chama para participar da grande campanha de sabotagem. Quando você vai à igreja, na verdade está captando ondas secretas da rádio de nossos aliados: eis porque o inimigo está tão ansioso por nos impedir de ir até lá” [p.79]. 


6. CONCLUSÃO DA RESENHA 

Uma das mais importantes características da abordagem teológica de Lewis neste livro é sua capacidade de penetrar no cerne das questões. A maioria de seus argumentos não circulam pela superfície das controvérsias entre católicos e protestantes ou entre liberais e fundamentalistas – apesar de ser bem claro alguns de seus posicionamentos – mas penetram na veia mais profunda do cristianismo, uma contribuição imaginativa, histórica e filosófica que sem sombra de dúvidas permeia todos os cômodos do grande edifício histórico das tradições cristãs, um rastro de grandes marcas deixadas pelo dinossauro de Belfast. Esse é o seu legado. 

A leitura criou em mim a impressão de que o autor falou de Deus com propriedade de conhecimento, como quem fala de alguém com quem se convive; como quem enaltece alguém por quem o amor que se sente é indescritível. Além disso, a forma como o autor fala sobre a vida eterna é maravilhosa, quem dera se víssemos todos os cristãos anunciando com clareza e obstinação o fato de existir um céu e uma vida eterna, uma vez que a queda do homem nos custou uma breve vida aqui, mas a graça, felizmente, nos possibilitou fazer desta vida apenas uma peregrinação e não um fim. 

Como alguém escreveu, Cristianismo Puro e Simples não é o tipo de livro para se ler ao fim de um dia estressante com a finalidade de distração, pelo contrário, esse é um livro para ser estudado e lido com mente descansada e tempo livre, visto que sua leitura exige atenção do leitor, e as reflexões por ela instigadas merecem tempo para serem analisadas. 

Contudo, eu o indico sem medo de errar. Se você é cristão leia esse livro! Se você é ateu leia esse livro, talvez você veja o cristianismo com outro olhar depois da leitura. Se você não sabe no que acreditar em relação a Deus, então leia esse livro! Sim, pode parecer que estou fazendo propaganda, mas não é isso que fazemos quando falamos sobre algo de que muito gostamos? Creio eu que sim e é por isso que indico Cristianismo Puro e Simples explicitamente. 

Livro publicado pela Thomas Nelson Brasil
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[1] Janes Biro in: https://goo.gl/DqXny9
[2] O termo cosmovisão, quer dizer o modo pelo qual uma pessoa vê ou interpreta uma realidade. A palavra alemã é Weltanschau-ung, que significa um “mundo e uma visão de vida”, ou “um paradigma”. É a estrutura por meio da qual a pessoa entende os dados da vida. Uma cosmovisão influencia muito a maneira em que a pessoa vê Deus, origens, mal, natureza humana, valores e destino. Francis Schaeffer disse que a comosvisão: é o filtro através do qual uma pessoa enxerga o mundo”.
[3] O niilismo está quase que onipresente em nossa cultura. Ele é a concepção de um mundo que não faz sentido, de uma vida que nada mais é do que o caminhar para a morte e da inexistência de valores morais absolutos.
[4] C. S. Lewis - O mais amado de todos os hereges - Yuriy Stasyuk, in: https://goo.gl/NeQF5b
[5] Duncan, John. Collquia Peripatetica. Washington D. C. Fb&c Limited, 2016.
[6] Esse ponto suscitado por Taylor sobre a obra de Craig foi corrigido na segunda edição pelo próprio autor. A segunda edição recebeu o título “Apologética contemporânea: A veracidade da fé cristã” e foi publicada pela editora Vida Nova.
[7] PIPER, John. “Cristianismo Puro e Simples” significa “sem denominações”? in: https://goo.gl/KqPWUT