Abordaremos aqui, neste breve estudo, os seis pontos dos quais trata o Capítulo VI da CFW. Este capítulo traz um pouco do que já foi estudado brevemente em outros, como o que trata da Providência, Dos Eternos Decretos de Deus e etc. Apesar disso, se dedicou um capítulo apenas para o estudo da Queda do homem e suas conseqüências.
1. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram ao comer do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir esse pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória. (Gn 3:13; II Co 11:3; Rm 11:32 e 5:20-21.)
1) Nossos primeiros pais - Deus trouxe à existência as almas de Adão e Eva com santidade e com suficiente conhecimento no tocante à sua vontade, com capacidade para obediência, ainda que falíveis. Nesse estado moral, ele os sujeita a um teste moral. Se passassem no teste, o galardão consistiria em que seus caracteres morais seriam confirmados e feitos infalíveis, seriam introduzidos numa bem aventurança inalienável, para sempre. Se caíssem, seriam judicialmente excluídos do favor e comunhão de Deus, para sempre, e daí moral e eternamente mortos.
O teste especifico ao qual os nossos primeiros pais se sujeitaram, era absterem-se de comer do fruto de uma única árvore. Como essa era uma questão em si mesma moralmente indiferente, ela foi admiravelmente adaptada a ser o teste de obediência implícita a Deus, de fé e submissão absoluta deles.
2) Tentação de satanás - O que notamos é a permissão de Deus para a tentação humana através de Satanás. Já afirmamos que o primeiro casal humano foi criado sem pecado, mas com possibilidade de pecar, se Adão fosse moral e espiritualmente inalterável, todo e qualquer artifício do tentador seria vão, tentação alguma atinge a divindade em virtude de sua absoluta imutabilidade, e conseqüentemente de sua impecabilidade. Jesus quando submetido às mais fortes e apelativas tentações, não pecou, porque ele era moral e espiritualmente inalterável por vários motivos: o decreto de Deus, a presença do Espírito sem medida e a comunicação entre as naturezas humana e divina – communicatio idiomatum.[2]
Se fizermos uma avaliação ou comparação entre os quadros, veremos que as tentações contra Jesus Cristo foram maiores, mais pesadas e mais intensas, exatamente quando ele se encontrava solitário no deserto, faminto e sedento, depois de um prolongado jejum de quarenta dias e quarenta noites.
O Diabo seduziu o homem primitivo ao erro, à rebeldia contra Deus, porque conhecia, certamente, suas fraquezas, explorando-as. Ele sabia que, despertando-lhe a cobiça potencial e os interesses de domínio e divinização, derrubá-lo-ia. E derrubou.
O terrível ato que cometeram, comendo desse fruto, à luz das indicações apresentadas no registro de gênesis, consistiu em: Incredulidade – foram induzidos a pôr em duvida a sabedoria da proibição divina e da infalibilidade da ameaça divina. Desobediência – puseram sua vontade em oposição à vontade de Deus. [3]
3. A Permissão de Deus - O pecado entrou na humanidade por decisão permissiva de Deus; logo, o maligno teve autorização para tentar e seduzir o casal das origens, pois ele também existe e opera porque Deus lhe permite a existência e a atuação. O governo de Deus é ilimitado e totalmente abrangente, incluindo o mundo material e o espiritual: espíritos bons e maus.
Precisamos entender o quanto o pecado do Homem evidencia a fragilidade do pecador e reforça a potencialidade de um Deus soberano.
a) Deus certamente sabia de antemão que, se um ser como Adão fosse posto em tais condições, como foi, ele pecaria, como pecou.
b) Deus nem causou nem aprovou o pecado de adão, Ele o proibiu e apresentou motivos para que ele fosse impedido.
c) Deus desde o principio, determinou ordenar o pecado de Adão para sua própria glória, ou seja, Ele administra para o bem os pecados de suas criaturas. [4]
Assim, vemos o Homem como criatura ainda não errante, escolhendo pecar, tornando-se, então, frágil e caído eternamente. Deus, através de Sua vontade permissiva, utiliza das tentações de Satanás para cumprir Seu Plano, mostrando sua Soberana Vontade.
SEÇÃO 2 - Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da alma. (Gn 3:6-8; Rm 3:23; Gn 2:17; Ef 2:1-3; Rm 5:12; Gn 6:5; Jr 17:9; Tt 1:15; Rm 3:10-18.)
O Homem, antes da queda, usa de seu livre arbítrio (antes do pecado original) para escolher o pecado. Tal escolha vai ao encontro da preordenação à queda do Homem, de acordo com o decreto permissivo de Deus. Após pecar contra Deus, a Humanidade se torna completamente corrupta, em todo pensar, em todo agir e em tudo o mais que fizer. [5]
1) Decaíram da Retidão Original - A justiça original, com a qual fomos criados, era uma capacidade inata de fazer o que é bom, servir a Deus e somente contentar-se em agradá-lo em todas as coisas, além de refletir o próprio caráter moral de Deus. O homem perdeu a sua capacidade de adequar-se às exigências morais da Lei de Deus. Antes da queda, o homem estava perfeitamente habilitado e inclinado a reagir sempre positivamente à Lei de Deus. Mas, após a queda, essa inclinação para a justiça deixou de permear o homem. “Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” Ec. 7: 29. [6]
2) Comunhão com Deus - Anteriormente ao pecado, quando o ser humano ainda era filho direto de Deus por criação, não por adoção ( adotivos são os regenerados em Cristo), a sua relação com o Criador era de tal ordem íntima e profunda que o diálogo existencial constante e ininterrupto era perfeitamente interagido com o Espírito de Deus. Pai e filho comungavam-se interativamente, estabelecendo um intercâmbio indefectível do divino com o humano.
3. Mortos em pecados e corrompidos de corpo, alma e espírito - Por este pecado além do ser cortado dessa amorosa comunhão do Divino Espírito, um cisma foi introduzido em sua alma. A consciência pronunciou sua voz condenatória. Por isso toda a sua natureza se fez depravada. A vontade passou a travar guerra contra a consciência, o entendimento tornou-se trevoso, as paixões acordaram, as afeiçoes se indispuseram, a consciência calejou-se ou tornou-se enganosa, os apetites do corpo, desordenados, e seus membros, instrumentos de injustiça. [7]
SEÇÃO 3 - Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi imputado a seus filhos; a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foi transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. (At 17:26; Gn 2:17; Rm 5:17, 15-19; 1 Co 15:21-22,45, 49; Sl 51:5; Gn 5:3; Jo 3:6)
SEÇÃO 4 - Dessa corrupção original, pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo mal, procedem todas as transgressões atuais. (Rm 5:6, 7:18 e 5:7; Cl 1:21; Gn 6:5 e 8:21; Rm 3:10-12; Tg 1:14-15; Ef 2:2-3; Mt 15-19.)
O Catecismo Maior de Westminster, em sua pergunta 22, esclarece muito bem esse ponto. “Pergunta: Caiu todo o gênero humano na primeira transgressão? – Resposta – O pacto sendo feito com Adão, como representante, não para si somente, mas para toda a sua posteridade, todo o gênero humano, descendendo dele por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele na primeira transgressão.” [8]
O Breve Catecismo em sua pergunta 16. “Todo o gênero humano caiu na primeira transgressão de Adão? - Resposta: “Visto que o pacto foi feito com Adão, não só para ele, mas também para a sua posteridade( At 17.26), todo o gênero humano, que dele procede por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele( negrito nosso) na sua primeira transgressão”(Gn 2.17; Rm 5. 12- 20; I Co 15. 21, 22).[9]
“Assim, Adão tem duas relações com a Humanidade. Tornou-se homem e pai de todos, por ter sido o primeiro a habitar a Terra e assim, possuir uma relação natural com a Humanidade. E com sua descendência, obteve, também, uma relação federal, obtida pelo Pacto feito com Deus. A partir da quebra do Pacto pelo pecado de Adão, como representante do Homem neste Pacto, toda sua geração e descendência ordinária também pecou nele e caiu com ele no seu pecado.” [10]
SEÇÂO 5 - Esta corrupção da natureza persiste, durante esta vida, naqueles que são regenerados; embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo; todavia tanto ela como os seus impulsos são, real e propriamente, pecado. (Rm 7:14, 17, 18, 21-23; Tg 3-2; 1 Jo 1:8-10; Pv 20:9; Ec 7-20; Gl.5:17)
Em Gl 5:17, Paulo mostra, aqui, a dura luta de um cristão, regenerado e transformado mediante a fé em Cristo Jesus. Ainda que Deus, por misericórdia, nos tenha escolhido e nos tirado das trevas e nos chamado para o Seu Reino, continuamos passíveis de pecar. Porque sobre nós pesará sempre o fardo do pecado, porque assim escolhemos um dia. Mas, graciosamente, os pecados de quem Deus escolheu, agora são perdoados e o Homem pode buscar novamente não pecar, ainda que vá falhar neste objetivo.
SEÇÃO 6 - Todo o pecado, tanto o original como o atual, sendo transgressão da justa Lei de Deus e contrária a ela, torna, pela sua própria natureza, culpado o pecador e por essa culpa, está ele sujeito à ira de Deus e à maldição da lei; portanto, sujeito à morte com todas as misérias espirituais, temporais e eternas (1 Jo 3:4; Rm 2:15; Rm 3:9,19; Ef 2:3; Gl 3:10; Rm 6:23; Ef 6:18; Lm 3:39; Mt 25:41; 2 Ts 1:9)
1) Pecado Original [11] - Desde a queda do homem, toda pessoa nascida no mundo por procriação natural (isto é, todos exceto Cristo) tem herdado a natureza pecadora de Adão. Podemos expressar os efeitos do pecado de Adão sobre a humanidade da seguinte forma: a) A culpa de seu primeiro pecado, que afeta não somente Adão, mas também todos os seus descendentes. b) A perda da justiça original (o estado moral e espiritualmente reto no qual Deus criou originalmente Adão e Eva). Adão e Eva transmitiram essa perda a todos os seus descendentes, isto é, a toda a raça humana. c) A corrupção de toda a natureza – racional, moral e espiritual.
2. Pecado Atual - Somos eternamente pecadores e caídos por natureza. Assim, sempre que pecamos, pecamos contra Deus e estamos debaixo da Sua Ira (Ef 2:3). Dessa forma, após o pecado original, nos vimos mortais (expostos à morte), seja a esta morte, então, física e espiritual, para aqueles a quem Deus não destinou o Céu.
3. Misérias Espirituais, temporais e eternas
a) As misérias espirituais que o pecado traz sobre os ímpios nesta vida são apresentadas “como cegueira da mente, sentimento réprobo, fortes ilusões, entorpecimento do coração, horror de consciência e vis afeições, Ef 4.18; Rm 1.28; 2 Ts 2.11.[12]
b) As misérias temporais são misérias afligidas aos homens, no justo desprazer de Deus pelos pecados que eles cometem. A Bíblia revela com muita clareza, e sem a menor preocupação de deixar Deus sujeito à crítica de ser cruel, déspota e injusto, que ele mesmo é quem determinou tragédias e calamidades sobre a raça humana, como parte das misérias temporais causadas pelo pecado original e as transgressões atuais. (A catástrofe do dilúvio, Gn 6.17; Mt 24.39; 2Pe 2.5). (Os caldeus contra a nação de Israel e demais nações ao redor do Mediterrâneo, os quais mataram mulheres, velhos, crianças e fizeram prisioneiros de guerra Dt 28.49-52; Hc 1.6-11). Foi o próprio Jesus quem revelou a João o envio de catástrofes futuras sobre a raça humana, como castigos de Deus, tais como guerras, fomes, pestes, pragas, doenças (Ap 6-9). O Catecismo Maior na questão 28, diz: “A maldição de Deus sobre suas criaturas por nossa causa e todos os outros males que caem sobre nós, em nossos corpos, nossos nomes, bens, relações e ocupações, juntamente com a própria morte.” [13]
c) As maldições eternas que são as conseqüências do pecado não perdoado são apresentadas como separação eterna da presença reconfortante de Deus e os mais graves tormentos na alma e no corpo, ser intermissão, no fogo do inferno para sempre, 2 Ts 1.9; Mc 9.43, 44, 46, 48.
Conclusão
Pecamos conjuntamente com Adão, caindo nas tentações de Satanás que foram permitidas através da Vontade de Deus. Uma vez que caímos, não somos mais justificáveis por nós mesmo e todos os nossos pecados nos remetem a Ira de Deus, que é Justo e Perfeito em Seu julgamento. Ele entregou Cristo, seu Filho, para levar Sua Ira. Aos que Deus escolheu, estes são chamados e remidos pelo sacrifício de Cristo. Ainda assim, permanecem nestes resquícios da natureza pecaminosa que os fará tropeçar por vezes no caminho, ainda que salvos, pela Graça de Deus, mediante a fé em Cristo Jesus.