domingo, 26 de abril de 2020

DEUS E O MAL [Resenha 070/20]


Uma das constantes objeções ao cristianismo é o problema do mal. Tal problema pode ser definido assim: Se Deus é absolutamente bom, e se Deus é onipotente, por que razão há pecado e sofrimento no mundo? Se Deus fosse absolutamente bom e onipotente, ele livraria o mundo do mal, ou, melhor ainda, não teria permitido que o pecado e o sofrimento tivessem surgido antes de tudo.

Mas, uma vez que o mal existe, deve ser porque: (1) Deus não é absolutamente bom, mesmo sendo onipotente, e, portanto, ele não deseja acabar com o pecado e o sofrimento; ou (2) Deus é absolutamente bom, mas não é onipotente, e, portanto, ele não pode livrar o mundo do pecado e do sofrimento, não importa quão bom ele seja; ou (3) Deus não é absolutamente bom nem onipotente, e, portanto, ele não quer nem pode livrar o mundo do mal; ou (4) Deus não existe em nenhuma hipótese; ou (5) há mais do que um deus, nenhum deles é onipotente, e um ou mais deles deve ser mau; ou (6) Deus é impessoal e a inteligência ou propósitos atribuídos a ele são uma falácia ridícula. Seja qual for a alternativa escolhida, a existência do Deus da Bíblia é contestada (conforme o argumento), pois a Bíblia fala de um Deus que é igualmente bom e onipotente.

Os teólogos vêm tentando responder esse argumento durante séculos e têm apresentado dois contra-argumentos: Primeiro, negam a existência do pecado e do sofrimento, o que, obviamente, contradiz a Bíblia. Segundo, afirmam que o homem tem livre-arbítrio, o que também contradiz a Bíblia. O argumento do livre-arbítrio é a solução proposta com mais frequência para o problema do mal, mas na verdade ela procura resolver o problema concordando com uma das alternativas do problema: O argumento do livre-arbítrio admite que Deus não é onipotente, pois o livre-arbítrio pode verdadeiramente frustrar a vontade de Deus. O argumento do livre-arbítrio é na verdade a capitulação diante do incrédulo e a concordância com ele, pois, assim como o incrédulo, o defensor do livre-arbítrio adota um deus que pode ser bom, mas não é onipotente, e, portanto, não é nem pode ser o Deus da Bíblia.

Ora, há uma solução para o problema do mal e ela tem olhado diretamente nos olhos dos teólogos por milênios. Tal solução encontra-se nas próprias Escrituras, exatamente na descrição de Deus, a qual o incrédulo torce como um argumento contra Deus. A solução para o problema do mal só pode ser achada nas Escrituras. Nenhuma outra solução proposta soluciona o problema do mal.

Neste livro, curto e escrito como um artigo, “Deus e o Mal: O Problema Resolvido”, Gordon H. Clark tornou disponível à igreja a obra mais precisa sobre o tema. Dr. Clark nos mostra que, permanecendo sobre o firme fundamento da Palavra de Deus, temos a resposta para a questão da teodiceia. Temos aqui uma explicação verdadeira ao ensino da Escritura sobre como devemos entender a soberania de Deus como a “causa eficiente” da transgressão de Adão. Recomendo este livro como a declaração teológica mais precisa a respeito desse assunto.
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CLARK, Gordon Haddon. Deus e o Mal: o problema resolvido. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2014. 96p.

A NÁUSEA [Resenha 069/20]


Jean-Paul Sartre publicou A Náusea na véspera da guerra, em 1938. Ele tinha 34 anos. Precisou travar uma batalha para o editor manter seu manuscrito. Sartre queria chamar seu romance Melancolia. O editor prefere A Náusea. Dois fatos são importantes: (1) A Náusea foi o primeiro romance e serve como entrada à sua obra filosófica fortemente influenciada por autores como Kierkegaard (1813 – 1855), Heidegger (1889-1976) e Husserl (1859-1938), principalmente por este último e sua fenomenologia. (2) O livro não é apenas um romance comum, Sartre criou uma obra prima que mistura filosofia e uma acessível narrativa, e com ela esboçou, usando a arte como artifício, o existencialismo, só formalizado em O Ser e o Nada de 1943.

A Náusea é narrada em primeira pessoa – numa forma que lembra o diário, embora toda a narrativa seja feita no presente – por Antoine Roquentin: um historiador, de trinta e poucos anos, que viajou a Europa inteira e se estabeleceu em uma pequena cidade portuária da França: Bouville. O projeto inicial de Roquentin, ao se estabelecer na cidade, é escrever um livro sobre o Marquês de Rollebon: um personagem obscuro da história francesa, que viveu entre os séculos XVIII e XIX, conhecido tanto por sua fealdade quanto por seu notável poder de sedução. No entanto, a revelação do segredo do Sr. de Rollebon, que Antoine pretende revelar ao término de seu livro, além do esforço da pesquisa e do trabalho intelectual aos quais se impõe, parecem não ser suficientes para aplacar a angústia do protagonista de A Náusea e a falta de sentido que percebe em sua vida. Roquetin mora sozinho em Bouville, e à medida que vai ficando absorto em sua solidão, se descobre com estranhas idéias acerca do sentido da existência e o quanto ela pode ser vazia e sem significado. Quando Roquetin se depara com a realidade ele sente náuseas por acreditar que essa realidade é inócua e sem embasamento.

Num crescente empolgante de dúvidas e emoções, ele percebe que a sólida lógica racional que acreditava constituir a realidade simplesmente não existe. Que os hábitos, valores, crenças etc. não passam de uma fina camada superficial sem qualquer lastro mais profundo. Abalado por essa conscientização, passa a ser acometido pela “Náusea da Existência”, ou seja, pela horrível sensação de sermos contingentes, de não termos um sentido e de que caminhamos para o Nada. Através das reflexões que se originam dessas descobertas e circunstâncias que atingem a sua personagem, SARTRE analisa as questões relativas à liberdade, à responsabilidade, à consciência e ao tempo tecendo um painel magnífico das questões que permeiam a existência humana.

A Náusea é um livro extremamente reflexivo e passível de inúmeras interpretações. Ele aborda a questão que o homem mais anseia solucionar em toda sua vida, o sentido da existência e o quão irracional isso pode ser. Esse é o livro ideal para quem quer se iniciar na aventura intelectual que é a filosofia e com ela tornar a vida muito mais consciente.
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SARTRE, Jean-Paul. A Náusea. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 2000.

DESVENDANDO O CÓDIGO MISSIONAL [Resenha 068/20]


Esta obra é trata-se de uma abordagem prática, sem deixar de ser conceitual, de um dos maiores desafios enfrentados pelas igrejas da atualidade: a redescoberta de seu caráter missional no contexto de uma sociedade que se torna aceleradamente pós-cristã. Neste livro são levantados os seguintes questionamentos: “Por que algumas igrejas estão morrendo? Por que outras estão lutando bravamente para simplesmente sobreviver? Por que poucas estão efetivamente crescendo ao pregar a conversão ao evangelho de Jesus?”.

Mas, o que significa missional? Na forma mais comum da palavra, o termo missional deriva-se da palavra missionária, que foi modificada para ser um adjetivo. Igrejas missionais fazem o que um missionário além-mar faz. Eles podem desembarcar em uma vila da Índia ou atingir uma grande cidade metropolitana tal como São Paulo ou Curitiba e ainda sim serem missionais. Se as igrejas fizerem o que os missionários fazem antes de ir para suas jornadas, tal como estudar, aprender a língua nativa, tornar-se parte da cultura, proclamar o evangelho de Deus, ser a presença de Deus e contextualizar a mensagem bíblica e a vida com a cultura onde ela atinge, estas igrejas são missionais. Uma igreja missional funciona como um missionário em pleno bairro onde ela está plantada. A igreja Missional leva a sério o texto de Atos 1:8, agindo como missionárias em suas próprias “Jerusalém, Judéia, Samaria e os confins da terra”. Igrejas Missionais são fiéis e intencionais onde Deus enviar.

A grande maioria dos cristãos vive hoje cercada por não cristãos, alguns dos quais sem nenhuma memória cristã. Essa tomada de consciência tem implicações radicais para nós quanto à forma de organizarmos nossas igrejas, pregarmos domingo após domingo e desafiarmos os membros de nossas comunidades.

Mais do que entender por que as igrejas estão morrendo (ou meramente sobrevivendo), precisamos pensar no que Jesus nos chama a fazer na história. Por isso mesmo, Stetzer e Putman precisam ser lidos com muita atenção, pois são categóricos em afirmar que o problema enfrentado pelas igrejas na atualidade não será resolvido pela mera imitação de modelos bem-sucedidos em outros contextos. Cada comunidade local está inserida numa cultura específica, apesar de seus vínculos com a cultura global, como dissemos anteriormente. Por isso, as igrejas precisam aceitar o desafio de compreender a cultura para a qual foram enviadas por Jesus. Se desejam comunicar o evangelho aos homens e mulheres dessa cultura, precisam criar pontes e fazer uso da linguagem e dos meios que fazem sentido a eles.

Portanto, a percepção de que não vivemos mais num mundo em que a cosmovisão cristã predomina e de que as pessoas às quais fomos enviados a comunicar o evangelho não trabalham com as mesmas categorias com as quais trabalhamos desafia a igreja a uma profunda mudança. Não se trata de mudança no conteúdo da mensagem, mas na forma de comunicar essa mensagem. Esse é o cerne do que nos é apresentado aqui por Stetzer e Putman. Trata-se de um convite a perceber o que está acontecendo na cultura que nos cerca e um desafio a repensar a igreja que é enviada para comunicar o evangelho a homens e mulheres inseridos nessa cultura. Ao ler as palavras deste livro, pastores e líderes serão desafiados a mudar.

Além da introdução e epílogo, o livro possui 16 capítulos, ondes os autores oferecem informações reveladoras de especialistas no que tange à igreja, à cultura e à missão, ilustradas com estudos de caso de igrejas missionais com crescimento vertiginoso e impacto significativo nas regiões em que atuam.
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STETZER, Ed. Desvendando o código missional: tronando-se uma igreja missionaria na comunidade. São Paulo, SP: Vida Nova, 2018. 256p.

O GRANDE MENTECAPTO [Resenha 067/20]


Claramente inspirado em Dom Quixote, O Grande Mentecapto, de Fernando Sabino, conta a história de Geraldo Viramundo e suas peripécias "por todo Brasil dentro de Minas Gerais", tentando resolver os problemas do mundo, tal qual Dom Quixote.

O livro conta a história de Geraldo Boaventura, que ganha o apelido de Viramundo graças as suas andanças por toda Minas Gerais, desde Rio Acima, sua cidade natal. Na infância, foi como todo menino arteiro do interior, e as passagens da sua infância rendem as melhores e mais divertidas histórias do livro.

Porém, após uma confusão ainda menino, Viramundo decide ir para o seminário, de onde acaba expulso e começa sua vida de andanças e nômade. O livro é uma crítica a sociedade e aos clichês, e a exploração do tema sobre o que seria considerado loucura em uma sociedade em que o limiar entre a sanidade e a loucura é muito tênue.

O personagem Viramundo é um exemplo de humildade e ingenuidade. Geralmente é enganado e usado por aqueles que mais gosta e convive, e o autor usou muito esse personagem para mostrar a hipocrisia humana. Na sua ânsia por consertar o mundo, ele não se deixa abalar pelo insucesso, e em seu delírio, o real e o irreal andam de mãos dadas. É um marginal em uma sociedade que não compreende e na qual não se enquadra, o Viramundo inspira um sentimento de ternura e de pena por todos aqueles que, em sua simplicidade, sofrem o descaso, a ironia e a opressão.

O Grande Mentecapto é um livro que me fez rir muito. Sempre estou relendo um ou mais capítulo. Fernando Sabino tem um estilo muito próprio de escrita, um cuidado com a linguagem muito bom e um especialista em criar situações cômicas e carregadas de ironia. Especialmente esse livro, Sabino escreveu de maneira despretensiosa, como se tivesse tendo uma conversa informal com o leitor, sem, em momento algum, perder a qualidade da escrita.

O final é um pouco surpreendente, e casa bem com a história. E Viramundo com certeza acaba nos conquistando, então vale a pena ler porquê é um livro divertido. Esta obra, que rendeu o Prêmio Jabuti, foi adaptada para o cinema, com direção de Oswaldo Caldeira, em 1989, e também para o teatro.
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SABINO, Fernando. O grande mentecapto: relato das aventuras e desventuras de Viramundo e de suas inarráveis peregrinações. Rio de Janeiro, RJ: Best Seller, 2006.


*Texto publicado originalmente em
https://tudoquevaleapenaler.blogspot.com/2017/02/o-grande-mentecapto-fernando-sabino.html

QUANDO A ESCURIDÃO NÃO PASSA [Resenha 066/20]


Até mesmo o cristão mais fiel e dedicado pode passar por períodos de depressão e escuridão espiritual, momentos em que a alegria parece inalcançável. Isso pode acontecer por diversas razões: pecado, ataque satânico, circunstâncias estressantes, doenças ou outras causas físicas. Em Quando a escuridão não passa, o objetivo de John Piper é trazer consolo e orientação para aqueles que estão enfrentando escuridão espiritual.

O autor escreve: “Meu objetivo é oferecer um pouco de orientação e de esperança àqueles para quem a alegria parece fora do alcance. Quase todos os médicos da alma encharcados de Bíblia falaram a respeito de prolongados períodos de escuridão e aflição. Na antiguidade eles se referiam a isso como melancolia. Richard Baxter, por exemplo, falecido em 1691, escreveu com surpreendente pertinência acerca da complexidade de lidar com cristãos que parecem incapazes de se alegrar em Deus”.

Este livro começou como o capítulo final de um livro maior intitulado “Quando eu não desejo Deus: o que fazer quando são nos alegramos nele” publicado pela Editora Cultura Cristã em 2018. Neste livro traz fundamentos essenciais não incluídos aqui. Contudo, um dos mais importantes é aprender a lutar pela alegria como um pecador justificado. O autor chama isso de “culpa corajosa”. Diante da depressão ou melancolia, todos os santos em dificuldades aprenderam esse segredo, mesmo que jamais o tenham mencionado por esse nome.

O livro possui além da introdução, seis capítulos e ao longo destas páginas, o leitor compreenderá o aspecto físico da depressão, o significado de “esperar no Senhor” em períodos de trevas, como os pecados não confessados podem obstruir nossa alegria e como ajudar aqueles dos quais a alegria parece distante. Com uma sensibilidade ímpar, Piper utiliza exemplos da vida real e constrói uma narrativa inteligente para mostrar por que temos muitas razões para ter esperança de que Deus nos tirará do poço do desespero e nos trará mais uma vez para sua luz.
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PIPER, John. Quando a escuridão não passa: vivendo com esperança em Deus em meio à depressão. São Paulo, SP: Vida Nova, 2019. 80p.

sábado, 25 de abril de 2020

MAR MORTO [Resenha 065/20]


"Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia”. Assim inicia Mar Morto, um dos livros mais populares de Jorge Amado, escrito por encomenda do editor José Olympio, que tentava ajudar financeiramente o escritor baiano, recém libertado da prisão no Rio de Janeiro, onde ficara detido por motivos políticos.

A frase é uma verdadeira carta de intenções. E Jorge Amado cumpre a promessa. Desde o título, o mar aqui não é mero cenário ou pano de fundo, mas protagonista dos grandes e pequenos dramas de pescadores, marinheiros, malandros, macumbeiros e prostitutas.

Ora doce e sereno, ora transtornado pela fúria, o mar da Bahia conduz a vida de Guma, jovem e destemido mestre de saveiro, dividido entre o amor de Lívia, que o faz desejar a estabilidade de um lar na parte alta da cidade, e o chamdo de Iemanjá, que o atrai para as ondas e um dia o levará para as místicas terras de Aiocá, como levou seu pai.

Como numa canção praieira de Dorival Caymmi, este é um mundo de homens que saem para enfrentar o oceano – mestre Manuel, Guma, o preto Rufino – e das mulheres que os esperam: Maria Clara, Lívia, Judith, a inconstante mulata Esmeralda. Um mundo em que os próprios barcos, como seus nomes expressivos – Valente, Estrela da Manhã, Viajante sem Porto, Paquete Voador -, são seres com vontade e humores próprios.

Em Mar Morto, homens e mulheres repetem o destino dos pais e avós, como se estivessem presos a um tempo cíclico, de costas para o tempo histórico da cidade. Alguns se rebelam contra o destino e saem para o mundo – como Rosa Palmeirão, mulata valente, “de punhal no peito e navalha na saia” – mas sempre acabam voltando.

Dois personagens que vem de fora – o médio Rodrigo e a professorinha Dulce – sonham com um milagre: o dia em que a gente do cais tome consciência da sua força e rompa com círculo de miséria, opressão e passividade. É essa tensão entre o tempo do mito e o tempo da história que move Mar Morto, envolvendo-nos desde a primeira página no ritmo marítimo, na prosa calorosa de Jorge Amado.
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AMADO, Jorge. Mar Morto. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2008

O ASSUNTO DO CÉU [Resenha 064/20]


“A humanidade não passa por fases como um trem passa por estações. Estar vivo tem o privilégio de se estar sempre em movimento sem jamais deixar algo para trás. O que quer que tenhamos sido, de alguma maneira, ainda somos. ” Isso está no parágrafo inicial de “Alegoria do amor”, de C. S. Lewis.

Uma das características que notabilizaram o acadêmico, escritor e crítico C.S. Lewis foi sua extraordinária capacidade de abordar qualquer tema com perspicácia, fosse em seus escritos ou suas palestras. Tal habilidade se mostrava ainda mais peculiar pelo fato de boa parte das observações, dos comentários e das análises que fazia serem fundamentadas em sua estrutura de valores cristã. Assim, deliberadamente ou por acaso, disponibilizou vasto material com evidente teor devocional e moral ao longo da extensão de sua obra.

Fazendo as vezes de um garimpeiro, o consultor literário norte-americano Walter Hooper se dispôs a selecionar trechos especialmente inspirativos dos escritos de Lewis, com o objetivo de criar um livro de leituras diárias – uma para cada dia do ano – que ele denominou de “Ano Litúrgico”. É importante falar que para aquele leitor que conhece de forma exaustiva as obras de Lewis, vai perceber que muitos dos textos encontrados neste livro, são pequenos trechos de outros livros de Lewis. Lembrando que Hooper foi secretário particular do autor de As crônicas de Nárnia, Cristianismo puro e simples e Trilogia cósmica em seus últimos anos de vida. O resultado de sua pesquisa foi uma compilação de mensagens inspirativas para os 365 dias do ano.

Ao fazer a compilação, Walter Hooper diz que: “Pareceu-me, então, que o tema do ano litúrgico serviria muito bem àqueles que apreciam leituras diárias. E, quando comecei a selecionar trechos, passei a crer que, se adequadamente seguido, o tema poderia constituir um uso bastante interessante e diversificado dos escritos de C. S. Lewis”.

O Editor do livro, afirma ao acompanhar as leituras diárias na ordem em que foram organizadas, perceberá que a maioria dos textos é sobre moral. Porém, verá igualmente que há trechos que se destinam a mostrar-nos — conforme Lewis disse — que “alegria é o assunto sério do Céu”. Lewis obriga-nos a olhar para a totalidade daquilo que somos.

Portanto, ao iniciar a leitura deste livro, o leitor inicia-se uma jornada que conduz à “feliz terra da Trindade”. É ali que começam as alegrias quase inimagináveis neste mundo. Começam, não terminam. Naquela feliz terra”, não será preciso que nos expliquem o “assunto sério do Céu”. Nós nos esqueceremos de que qualquer outra existiu algum dia.
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LEWIS, C. S. O Assunto do céu. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2019. 432p.

terça-feira, 21 de abril de 2020

EU, ROBÔ [Resenha 063/20]


É importante que se entenda que “Eu, robô” – o livro de Isaac Asimov de 1950, não se trata de um livro sobre robôs. Claro, ele está repleto de robôs e inteligências artificiais, mas essas coisas estão ali mais como tempero e decoração.

O livro, na verdade, é sobre lógica, ética, filosofia e, até, teologia. O livro de 1950 reúne contos escritos por Asimov ao longo da década de 40, uma época em que computadores eram máquinas repletas de válvulas termiônicas, que ocupavam prédios inteiros e só conseguiam rodar um programa de cada vez. Para superar a dificuldade, Asimov inventou a ideia de um cérebro “positrônico”, que funcionaria animado por pósitrons, partículas de antimatéria semelhantes ao elétron. Além do cérebro positrônico, Asimov cria as Três Leis da Robótica, que resumidamente são: nenhum robô pode ferir um ser humano ou permitir, por omissão, que um ser humano seja ferido; todo robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto se essa obediência levar a uma violação da primeira lei; todo robô deve preservar a própria existência, exceto em caso de contradição com a primeira ou a segunda leis.

Algo que chama a atenção nos 9 contos é a relação entre o comportamento dos robôs e dos humanos. E todos os conflitos e problemas são ocasionadas entre duas ou mais leis e geram diversas situações interessantíssimas, desconstruídas sempre de maneira inteligente. Em cenários que vão do nosso pequeno planeta Terra até o forte calor do sol no solo de Mercúrio, o livro narra um profundo registro evolutivo de como os robôs foram inseridos na sociedade como simples babás-mudas até governarem o mundo com seus super-cérebros.

Para concluir dois pontos precisam ser enfocados. Primeiro: Eu, Robô consegue alimentar discussões éticas sobre a relação das pessoas com a tecnologia e os limites do poder que devemos atribuir a ela. Segundo: Quanto à linguagem, Asimov era leve e eficiente. Seu estilo é direto e quase ensaístico, o que serve muito bem ao tipo de história que se propõe a contar. E as sutilezas que encontra na formulação das Leis da Robótica são especulação linguística para ninguém botar defeito.
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ASIMOV, Issac. Eu, Robô. São Paulo, SP: Editora Aleph, 2014. 320p.

UMA INTRODUÇÃO A FILOSOFIA CRISTÃ [Resenha 062/20]


As três palestras neste livro foram originalmente proferidas de forma muito breve no Wheaton College, em 1966. Elas resumem a mais consistente filosofa cristã já publicada. Gordon Clark escreveu mais de 40 livros ao longo de sua vida, e cada um deles é um desenvolvimento de alguma das ideias apresentadas nessas palestras. Este livro é um convite para estudar filosofa — filosofa cristã — com alguém que era tanto um filósofo treinado como cristão devoto.

Um resumo da filosofa de Clark, o que é chamada de escrituralíssimo, seria apresentada mais ou menos assim: 1. Epistemologia: revelação proposicional (Assim me diz a Bíblia). 2. Soteriologia: somente a fé. (Creia no Senhor Jesus Cristo e será salvo). 3. Metafísica: teísmo (Nele vivemos, e nos movemos, e existimos). 4. Ética: lei divina (Devemos obedecer antes a Deus que aos homens). 5. Política: Proclame a liberdade pelo mundo (república constitucional).

Uma Introdução à Filosofa Cristã é leitura obrigatória a todos os leigos, estudantes e ministros religiosos. Neste livro o Dr. Gordon Clark, filósofo cristão de renome internacional, explica a questão essencial da Filosofa: “Como você sabe?”. A primeira questão com que lidamos é epistemológica. Como sabemos alguma coisa? Qual a natureza desse conhecimento? E qual a fonte desse conhecimento que se pode demonstrar? Dr. Clark diz que sua fonte é a mesma de nossa teologia. É a Bíblia. A Bíblia nos ensina como podemos saber, bem como a natureza desse conhecimento, e que ela é a única verdade que pode suportar as críticas. A Bíblia é a Palavra de Deus escrita em proposições que o homem pode compreender. Ela é a fonte de toda verdade teológica e filosófica. Não há nenhuma outra verdade exceto aquela que Deus somente diz ser verdade. Portanto, declaramos que a Bíblia é o axioma do cristianismo. Ela é a autoridade final em todas as questões da fé, da vida e da prática.

Como foi escrito no início, esse livro é constituído de três palestras proferidas no Wheaton College, em 1966. Primeira Palestra: Filosofia Secular. Segunda Palestra: O Axioma da Revelação e a Terceira palestra: Diversas Implicações (História, Politica, Ética e Religião). No final do livro tem uma lista completa de todas as obras escritas pelo Dr. Gordon H. Clarck. Com esta obra, podemos observar que o Dr. Clark era um defensor destemido da revelação bíblica, e sua avaliação da filosofa à luz dela ainda beneficia os leitores de hoje.
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CLARK, Gordon Haddon. Uma Introdução à Filosofa Cristã. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2013. 162p.

sábado, 18 de abril de 2020

40 QUESTÕES PARA SE INTERPRETAR A BÍBLIA [Resenha 061/20]


Quem introduziu as divisões de capítulos e versículos que encontramos regularmente na Bíblia? O que pretendemos dizer com “autógrafos”? Qual é a definição correta de “inerrância”? Como os manuscritos bíblicos foram copiados e transmitidos ao longo dos séculos: Qual é o mais antigo fragmento existente do Novo Testamento e qual é sua datação? Quem determinou o que deveria ser incluído no cânon? Qual é a melhor tradução bíblica que temos ao nosso dispor? Qual é a mensagem predominante da Bíblia? Porque as pessoas não conseguem concordar quanto ao que a Bíblia significa?

Neste livro fascinante e bem elaborado, Robert Plummer considera essas e muitas outras questões relacionadas ao entendimento da Bíblia. Fundamentado em erudição recente e apresentado em formato acessível, tanto prático como relevante, este livro é uma leitura prazerosa. Em essência, o autor nos oferece um livro sobre interpretação bíblica cortado em pedaços e porções palatáveis, usando um formato que torna mais fácil digerirmos um assunto que frequentemente entala na garganta de alunos iniciantes.

O autor escreve: “Escrevi este livro para abordar tais assuntos em um único volume. Idealmente, este livro servirá como livro-texto para um curso de introdução bíblica numa faculdade ou num seminário, mas me esforcei para escrever de modo que o livro seja proveitoso para qualquer cristão interessado. Meu alvo consistia em ser acessível, sem ser simplista, e erudito, sem ser pedante, não ignorando as questões práticas e a aplicação à vida real por parte do leitor cristão.

Portanto, este volume é categoricamente bem-sucedido em tornar transparente a tarefa e o processo de interpretação bíblica, bem como em introduzir o aluno iniciante numa vida de estudo da Palavra de Deus. Para alguém que aspira obter as habilidades necessárias para manejar corretamente a Palavra da verdade de Deus, este livro será valiosíssimo.

As 40 questões se constituem em 40 capítulos, divididos em quatro partes. Cada capítulo se encerra com perguntas de reflexão e sugere matérias para estudo posterior.
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PLUMMER, Robert L. 40 questões para se interpretar a Bíblia. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2017. 487p.

O JARDIM SECRETO [Resenha 060/20]


Frances Hodgson Burnett nasceu no dia 24 de novembro de 1849, em Manchester, Inglaterra, e emigrou em 1865 para os Estados Unidos, onde escreveu romances e peças de teatro de grande sucesso. Em muitos deles tratou de temas sociais, como o trabalho nas minas de carvão de Lancashire ou a corrupção política de Washington.

É, no entanto, com uma história de cunho psicológico – embora também descritiva de situação social – que Frances Hodgson Burnett mantém-se viva em nossos dias: O pequeno lorde. A história do menino americano que herda propriedade na Inglaterra, publicada em 1886, tornou-se um clássico da literatura para crianças. Não menos conhecido é O jardim secreto, recentemente transformado em filme.

Trata-se da história de Mary, menina nascida na Índia de pais ingleses, que se torna órfã e retorna à Inglaterra para viver com o tio em sua grande propriedade campestre. Tímida e cheia de complexos, pois se achava muito feia comparada à beleza que fora sua mãe, Mary é desagradável de trato, malcriada, cheia de vontades – enfim, uma criaturinha difícil. Tudo isso agravado pela vida no enorme casarão de cem quartos, sob a guarda da governanta pouco interessada.

Mas a curiosidade natural da infância leva Mary a descobrir que no mesmo casarão vivia um primo quase da sua idade, criança doentia e enfraquecida pela imobilidade e pela solidão.

O que o companheirismo e amizade que se desenvolve entre os dois faz pela saúde e pelo conhecimento afetivo e social de ambos é o tema do livro, que se desenrola de forma sempre surpreendente em prosa cativante.

A paisagem, triste no inverno, é inteiramente modificada na primavera. A metáfora concretizada nos jardins que cercam a casa, principalmente no jardim secreto que dá título ao livro, é perfeita para a modificação que se espera no caráter e físico dos dois meninos transformados em crianças fortes, sadias e simpáticas pelo contato com a natureza e com crianças camponesas das redondezas.

A história desenvolve temas absolutamente contemporâneos, como a valorização da natureza – típica do romantismo – que torna o livro um texto ecológico, antes que o termo ecologia fosse inventado. Dickon, o grande amigo de Mary e Collin, é um verdadeiro “menino do dedo verde”, antes que Druon criasse seu famoso personagem.

Envolvente, O Jardim Secreto sugere caminhos para uma vida feliz. Trata-se também de um belo texto que emociona a cada página e cujas qualidades sobrevivem apesar da passagem do tempo.
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SANDRONI, Laura. In: O jardim secreto, de Frances Hodgson Burnett. São Paulo: Editora 34, 2013. (Orelhas).

A CEIA DO SENHOR [Resenha 059/20]


Esta rara obra foi originalmente publicada em 1665 com o título The Holy Eucharist, ou The Mystery of the Lord’s Supper Briefly Explained. Para Thomas Watson, a Ceia do Senhor era um espelho no qual contemplamos os sofrimentos e morte de Cristo, e era, em certos aspectos, um meio de graça mais excelente do que a pregação da Palavra: “Um sacramento é um sermão visível. E nisto o sacramento sobressai à Palavra pregada. A Palavra é uma trombeta que proclama Cristo; o sacramento é um espelho que o representa... Deus, para ajudar nossa fé, não só nos dá a Palavra audível, mas também um sinal visível”.

Ele cria que o sacramento era uma inestimável dádiva do Salvador à igreja, em cujo correto uso a fé do povo de Deus é confirmada e fortalecida e suas almas recebem grande benefício. Ele cria que se devem evitar dois extremos. Um deles é a doutrina da transubstanciação, a qual vai de encontro tanto à Escritura quanto à razão e profana a instituição da Ceia feita por Cristo. O outro é o erro dos que consideravam a Ceia apenas como uma sombra vazia sem nenhuma eficácia intrínseca para os crentes: “Por que a Ceia do Senhor é chamada ‘a comunhão do corpo de Cristo’ (I Co 10.16), senão porque na celebração correta dela temos doce comunhão com Cristo? (...) Fazer do sacramento apenas uma representação de Cristo é apequenar o sacramento, o que redunda em pouco conforto”. Esse ponto de vista se fundamenta no ensino de Calvino que considerava o sacramento um meio de graça pelo qual, através da fé, Cristo opera eficazmente no crente.

Alguns protestantes podem estar dispostos a dissentir desta posição, mas ninguém que ama a nosso Senhor Jesus Cristo deixará de ser tocado e abençoado pelo ardor e devoção ao Salvador que se encontram na exposição de Watson.

O livro possui onze capítulos, onde o autor, depois de explicar por que devemos ter em alta estima o que Cristo fez por nós em sua morte, nos ensina ainda como nos preparar para participar da Ceia, como para desfrutar deste momento em que recebemos e como obter um crescente e duradouro benefício e encorajamento da Ceia.
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WATSON, Thomas. A Ceia do Senhor. Recife, PE: Editora Os Puritanos, 2015.

SONEATO [Resenha 058/20]


Para quem tem um ritmo de leitura exigente – e muitas vezes hermético - como eu, ler um livro completo de “sonetos” foi algo impactante, um tremendo refrigério intelectual. A palavra “soneto” me remete a uma figura ilustre. No Brasil, nosso maior sonetista foi Vinícius de Moraes, responsável por obras-primas como o Soneto do Amor Total, um dos poemas mais conhecidos da literatura brasileira.

Pois bem, lá estou eu no meu ig literário e conheço um tal de Eduardo Maciel que depois de trocarmos algumas palavras, sou apresentado a dois livros. Dois livros de poesia. Ou melhor, dois livros de sonetos. A coisa aconteceu tão rápido que já estou com dois livros em mãos e autografados.

O autor deste livro é fotógrafo, poeta sonetista e cantor. Acadêmico Correspondente da Academia Internacional de Letras, Artes e Ciência. Autor dos livros SonetATO e SonetIMAGEM, também foi vencedor do concurso literário Jovem Embaixador, e co-autor de 2 livros através de concurso promovido pela UNESCO.

O livro SonetATO de Eduardo Maciel é um livro composto por 50 sonetos, onde o autor nos proporciona uma variação de modelos de soneto cujos tema desnudam a vida e expõe suas várias roupagens. O autor escreve: “Num mundo real cada vez mais assustador e onde as relações humanas entre si e os discursos parecem a cada dia mais radicais e polarizados, a poesia emerge como um elixir, capaz de suavizar essa tragédia social”.

Contudo, depois de tudo que li, observei a disposição do poeta em se aplicar na métrica, rimas e ritmo. Tudo isso, faz com que entendamos que o soneto é em si uma obra de arte. Antes de cada soneto, além do título, o autor mostra e nos dá uma aula sobre o tipo de soneto que iremos ler (Soneto de rima travada, shakespeariano, heterométrico, italiano, polar, etc). Embora, o soneto tenha uma origem muito antiga, o autor nos presenteia sua arte em um volume com traços modernos. “Esta obra pretende ser um resgate cultural desse tipo mais formal da poesia e cada dia mais escasso no nosso planeta, desde os áureos tempos dos séculos XVII e XIX até hoje”

Uma outra observação e que me parece que este livro é o primeiro de uma série de volumes de sonetos, pois além deste tem também um outro volume com o título, SonetIMAGEM, traz a interlocução entre sonetos e fotos. Mas, isso é assunto para uma outra apresentação.

Eduardo Maciel é um poeta de mão cheia, que não se contenta em ser didático. Ele quer que a gente conheça o soneto mas quer também que a gente sonhe, que a gente viaje e reflita. Sua poesia versátil é carregada de lirismo, humor, política e carinho, tudo rimado, metrificado. E o que te pode parecer uma estrutura fechada acaba por mostrar-se uma liberdade.
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MACIEL, Eduardo. SonetATO. Rio de Janeiro: Autografia, 2018.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

REFLEXÕES CRISTÃS [Resenha 057/20]


Pouco depois de sua conversão, em 1929, C. S. Lewis escreveu a um amigo: “Quando tudo é dito (e verdadeiramente dito) sobre as divisões da cristandade, permanece, pela misericórdia de Deus, um enorme terreno comum”. Desde aquele momento, Lewis pensou que o melhor que ele poderia fazer a seus vizinhos incrédulos era explicar e defender a crença que tem sido comum a quase todos os cristãos em todas as épocas. E com este propósito que ele escreveu estes catorze artigos, que foram organizados cronologicamente, e foram compostos nos últimos vinte e tantos anos da vida de Lewis; alguns foram escritos especificamente para periódicos; outros, publicados aqui pela primeira vez, foram lidos para sociedades em Oxford e em Cambridge e seus arredores.

O assunto principal de todos estes artigos é para provar “que todos os homens são imortais”. E isso merece uma ênfase especial; não apenas porque é um ingrediente muito importante na compreensão de Lewis sobre o cristianismo, mas porque o fato de os homens serem imortais é novidade para muitas pessoas hoje em dia. E, porque a maioria dos teólogos liberais modernos está ocupada demais sendo “relevante” (seja o que for que esteja na moda), eles não fazem uma apresentação efetiva do cristianismo “puro e simples” — o Evangelho Eterno — para as pessoas por quem Cristo morreu.

Os catorze artigos tratam de temas variados. Desde a literatura, campo em que o Lewis domina muito bem, até temas mais complexos, como a teologia moderna e crítica bíblica.

Os dois primeiros ensaios, que aborda a relação do cristianismo com a literatura e a cultura, e mostra a Bíblia não condena o envolvimento com elas e, muito menos, condena aqueles que trabalha e sobrevive através delas. Nos demais ensaios, sua defesa pela fé cristã é muito cristalina: “Religião: realidade ou substituto?”, “A linguagem da religião”, “Teologia moderna e crítica bíblica” são alguns exemplos de como ele argumenta esses problemas que são levantados pelos incrédulos

Os demais assuntos são sobre Ética, futilidades, subjetivismo e mito. Tem ainda sobre música sacra, historicismo. Os últimos ensaios são sobre Salmos, oração e olho que vê. Nesse último, de forma poética Lewis afirma que não podemos encontrar Deus apenas subindo grandes alturas. Só saberemos sobre Deus se Deus escrever algo sobre si mesmo em nossa vida, em nosso mundo. E Ele o fez.

Sem medo da polêmica, ele desafia o espírito de secularização que testemunhou ao longo da vida (e que parecia mais ameaçador na década de 1960, quando esta obra foi originalmente publicada) com uma teologia robusta, uma lógica impecável e uma sólida convicção dos valores – o cristianismo puro e simples – que abraçou e defendeu até o fim da vida.
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LEWIS, C. S. (Clive Staples). Reflexões Cristãs. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2019.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA [Resenha 056/20]


“No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30min da manhã”. Fatalidade, destino, o absurdo da existência humana. O que explica a tragédia que se abateu sobre o protagonista de Crônica de uma Morte Anunciada?

Neste romance curto de construção perfeita, García Márquez monta um quebra-cabeça cujas peças vão se encaixando pouco a pouco, através da superposição das versões de testemunhas que estiveram próximas a Santiago Nasar no último dia de sua vida. Em que e em quem acreditar? Como descartar a parcialidade das versões e “o espelho quebrado da memória” dos envolvidos?

Crônica de uma morte anunciada é considerada por muitos uma das melhores histórias de mistério da literatura ocidental. O motivo? Na primeira linha do texto, o narrador anuncia a morte do protagonista, e em poucos capítulos já se sabe também quem são os assassinos e os motivos que os conduziram. Mesmo assim, é uma leitura de tal forma envolvente que na maioria dos casos o livro é lido sem interrupções, de um fôlego só. Mas por quê? Por que a questão aqui não é o que acontece, mas como isso acontece.

Santiago Nasar é o protagonista. Jovem bonito, galanteador, rico e culto, ele é acusado de ter tirado a virgindade da jovem Ângela Vicário, razão pela qual seus irmãos Pedro e Pablo levam a cabo o assassinato, na tentativa de reestabelecer a honra da família. O assassinato é premeditado pelos irmãos durante a madrugada da noite de núpcias de Ângela, depois de o noivo, Bayardo San Román, devolvê-la à família por não querer mais uma noiva que não é virgem.

Com o passar das horas, todos, absolutamente todos os habitantes da vila de Riohacha (no litoral da Colômbia) ficam sabendo o que acontecerá com Santiago. Apesar disso, ninguém toma uma atitude suficiente para impedir o crime, e as razões são as mais diversas: de imprevistos e contratempos à covardia e comodismo. O que acontece é que uma grande quantidade de infelizes coincidências vai se somando até que o brutal assassinato ocorra, o que inclui o fato de a vítima ser a única pessoa completamente alheia ao que está para acontecer.

O crime, ocorrido 28 anos antes, é contado por um narrador sobre o qual pouco se sabe: é um ex-morador da vila que quer recuperar os fatos e para isso busca testemunhas e vale-se do relato jornalístico, construindo um quebra-cabeça no qual as peças vão se encaixando aos poucos. E aí que encontra-se um dos grandes mistérios: quem é esse narrador? Ele tem algum tipo de envolvimento com essa história? Se tem, qual é o nível de (im) parcialidade ao narrar os fatos? São questões que nos fazem querer avançar mais e mais até o final.

Essa história tão bem contada consegue elaborar uma crítica social complexa a uma sociedade machista (que dita os comportamentos esperados para homens e mulheres honrados, estabelecendo a subserviência como uma característica feminina), uma sociedade hipócrita (que ao mesmo tempo em que lava a honra de uma família com sangue, é tolerante e até mesmo indiferente a outros tipos de abusos sexuais). A falta de empatia dos personagens nos leva a pensar na responsabilidade coletiva em relação ao crime. As pessoas estão tão envolvidas com suas rotinas que preferem se distanciar, se abster, se omitir diante de uma situação iminente tão grave.

A narrativa é deliciosa, instigante do início ao fim! A cena do assassinato é nada menos do que excelente! Fica, portanto, o convite a fazer a leitura desse primoroso livro do ganhador do Prêmio Nobel de 1982.
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GABRIEL GARCÍA Márquez, Crônica de uma morte anunciada. Rio de Janeiro, RJ: Editora Record, 2006.

O APOCALIPSE PARA LEIGOS [Resenha 055/20]


Ambrose Bierce definiu o vocábulo “apocalipse” em Te Devil’s Dictionary [Dicionário do diabo] como um “livro famoso em que João ocultou todo o seu conhecimento. A revelação é feita pelos comentaristas que nada sabem”. O Apocalipse é tão difícil e requer tanto conhecimento técnico que um teólogo já reclamou que os comentários do Apocalipse muitas vezes são como um buraco negro, tão densos que nenhuma luz lhes pode escapar.

Uma das grandes ironias da Escritura é que seu livro mais difícil se chama “Apocalipse” [”revelação”, em grego]. “Revelar” significa “descobrir, abrir” — com vistas à compreensão. Como pode um livro tão intrincado como esse ser chamado “revelação”? Se déssemos nome ao livro, em vez de chamá-lo “Revelação de Jesus Cristo”, poderíamos ser tentados a intitulá-lo “Mistério do apóstolo João”. Na verdade, de tempos em tempos, o próprio João fica perplexo e confuso (Ap 7.13,14; 17.6,7; 19.10; 22.8,9).

Diante do livro de Apocalipse, nos deparamos com situações interessante: (1) o profundo interesse do novo convertido em estudar o Apocalipse. (2) a grande decepção do exegeta cristão sério consiste na proliferação de literatura sobre o Apocalipse. Quando combinamos a natureza misteriosa do Apocalipse com a fascinação contínua por ele, o mercado está pronto para gerar todo tipo de supostos “especialistas em profecias” para atender à demanda. Em vez de nutrir-se com o puro leite da Palavra, não raro o novo cristão é alimentado com interpretações confusas sobre o Apocalipse.

Portanto, neste livro, você descobrirá as chaves absolutamente essenciais para destravar a mensagem de João, os marcos necessários para seguir seu sinuoso caminho, e as identificações requeridas para discernir suas figuras principais e seus papéis. Nos sete capítulos deste livro, o autor tenta arrancar a narrativa de João sobre a vitória da noiva de Cristo das garras dos futuristas especulativas, e coloca-la de novo nas mãos dos cristãos comuns.

O autor diz: “Espero que este texto introdutório ajude-o a entender o significado fundamental e a força propulsora geral do Apocalipse, pois só assim você estará preparado para se engajar na exposição detalhada do texto”.
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GENTRY Jr., Kenneth L. O Apocalipse para leigos. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2016. 182p.

domingo, 12 de abril de 2020

O MENINO DO VAGÃO [Resenha 054/20]


O LIVRO - Uma fantástica história de amizade nascida através do sacrifício e da necessidade de sobreviver durante a Segunda Guerra Mundial. Em O Menino do Vagão, Pam Jenoff constrói personagens inesquecíveis e emocionantes para nos oferecer o poder que só uma ficção poderosa consegue criar: o olhar do passado para refletirmos o futuro e o que significa, verdadeiramente, sermos humanos.

O CENÁRIO - Pam Jennof conta uma história incrível nos apresentando o mundo do circo e suas dificuldades durante a Segunda Guerra Mundial. O preconceito era grande as pessoas queriam frequentar o circo, mas fora dali não queriam contato com “aquele povo” principalmente as mulheres que não eram bem vistas nas cidades que passavam. E mesmo sendo julgados pela sociedade da época, o circo ajudava muitos judeus que tentavam se esconder.

OS PERSONAGENS - A história alterna a visão entre suas duas principais personagens: (1) Noa, uma jovem holandesa de 16 anos, que engravida de um soldado alemão e é expulsa de casa pelos pais. Como não tem como sustentar o bebe é aconselhada a doar para uma instituição. Porém a instituição é na Alemanha, chegando lá ela dá à luz a seu filho, mas de repente o instinto materno surge e ela não quer mais entregar o bebê, porém já é tarde demais e seu bebê é arrancando dela. Saindo daquela instituição passa a trabalhar como faxineira em uma estação de trem. Porém, em determinado dia ela encontra um vagão cheio de bebês a maioria mortos pela fome e frio, porém um dos bebes ainda vive e num instinto ainda maternal pelo filho que teve e perdeu, ela pega o bebê, porém percebe que o bebê é judeu sem opção Noa foge com ele. (2) Astrid, trapezista que larga o mundo do circo para se casar com um soldado alemão. Contudo, em plena 2ª guerra mundial, Erich como soldado de Hitler tem que se divorciar dela por sua origem judaica. Sozinha e sem amparo Astrid volta para a casa dos pais que infelizmente já não se encontram mais lá. E em busca do paradeiro deles ela bate na porta de um antigo rival de seu pai também dono de um circo e para sua surpresa ele que lhe oferece ajuda a empregando de trapezista no seu circo.

O título O Menino do Vagão vende a história que o foco seria na criança, mas não, o foco está nas duas mulheres. Seus medos, receios, vontade de viver e de como a guerra afetou o rumo da vida delas e as fez se encontrarem. O autor nos entrega personagens profundamente marcantes, que são fundamentais para que a história se desenvolva, indo muito além do já dramático caso da jovem expulsa de casa, brindando o leitor com uma história emocionante.
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JENNOF, Pam O menino do vagão. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2017.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

HISTÓRIA DAS DOUTRINAS CRISTÃS [Resenha 053/20]


O volume originalmente intitulado Dogmática Reformada agora aparece com novo título, “A História das Doutrinas Cristãs. Obras sobre o desenvolvimento gradual da verdade teológica na igreja de Jesus Cristo geralmente surgem ao lado das que tratam de teologia sistemática, assim se destacando como obras distintas. Julgou-se melhor seguir essa prática, pois frisa a verdade que, afinal de contas, a história do desenvolvimento do pensamento cristão na Igreja é um estudo distinto.

Apesar de ser um estudo distinto, porém, não é um que os estudantes de teologia possam se dar ao luxo de negligenciar. O estudo da verdade doutrinária, à parte de seu fundo histórico, leva a uma teologia truncada. Já houve muito disso no passado, e mesmo no presente se vê muito disso. O resultado foi uma compreensão errônea e uma avaliação incorreta da verdade. Não houve apreciação do fato que o Espírito Santo guiou a Igreja na interpretação e no desenvolvimento da verdade como ela é revelada na Palavra de Deus. As análises e os marcos do passado não foram levados em consideração, e antigas heresias, há muito tempo condenadas pela Igreja, são constantemente repetidas e apresentadas como novos descobrimentos. As lições do passado são bastante negligenciadas, e muitas pessoas parecem sentir que devem seguir o seu próprio rumo, como se quase nada tivesse sido feito no passado. Sem dúvida, um teólogo deve levar em conta a situação atual do mundo religioso, sempre estudando e verdade de nova maneira, mas não pode negligenciar impunemente as lições do passado. Enfim, que este breve estuda da história das doutrinas sirva para criar maior interesse em tal estudo histórico, conduzindo a uma melhor compreensão da verdade.

O livro possui 33 capítulos e foi escrito como um manual e vinculada a cada capítulo está uma lista de perguntas para ajudar em estudo posterior. Também está relacionada uma lista de livros sobre cada assunto.
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BERKHOF, Louis. História das doutrinas cristãs. São Paulo, SP: PES – Publicações Evangélicas Selecionadas, 2015. 264p.

MARLEY & EU [Resenha 052/20]


O jornalista americano John Grogan conseguiu o sonho de muito colunista de jornal: achar um assunto capaz de se transformar em um best-seller. Não apenas isso: um assunto sobre o qual ele é uma de duas únicas pessoas no mundo capaz de discorrer a respeito. A outra pessoa é sua mulher Jenny. Grogan trabalhou na Flórida, sul dos EUA, e hoje está no "Philadelphia Inquirer", na Pensilvânia. Ele costumava receber cerca de 20 mensagens de leitores por conta de sua coluna. Mas quando escreveu sobre seu cachorro Marley, passou a receber em torno de 800. O caminho estava aberto para um livro. E por que não um belo filme sobre esse labrador de mais de 40 quilos que os próprios donos chamam de "o pior cão do mundo”.

O livro é uma grande coluna de jornal ampliada. Fácil de ler, com linguagem coloquial, com implacável número de metáforas e comparações exageradas. Chega perto do sentimentalismo, mas não fica piegas. O autor é um jornalista competente.

Marley, o cão cujo nome homenageia o finado cantor de reggae Bob Marley, é superlativo em tudo. "Senhor terremoto" é o título de um capítulo. Anda pela casa derrubando objetos variados com seu rabo que não para de sacudir. Destrói colchões, sofás, vasilhas d'água. Come flores, arranca arbustos do jardim, que se transforma em um campo minado de fezes. Acima de tudo, bebe colossais quantidades de água para poder babar o tempo todo, de preferência em cima das pessoas. As situações descritas já foram vividas por qualquer um que já teve um animal doméstico. Cachorros grandalhões, mas bobões e de boa índole, assustam só pelo tamanho.

O livro também é um resumo da vida recente de Grogan e sua mulher. Os dois, jornalistas, se casaram e planejaram ter filhos. Jenny estava preocupada em saber se seria uma boa mãe -pois tinha conseguido matar uma planta de tanta água que dava para ela. Cuidar de um labrador seria uma espécie de "teste de maternidade/paternidade". Grogan narra o drama de uma gravidez interrompida e a alegria da chegada dos filhos e o papel de Marley na família ampliada.

A tradução tem alguns deslizes engraçados, como verter a abreviatura "lab" por "laboratório" em vez do óbvio "labrador". E o capítulo oito é um misterioso "Uma Batalha de Wills" - faltou traduzir a última palavra por "vontades".

O livro virou filme. Foi elaborado um roteiro que se transformou em duas horas de projeção. Não há recorte possível - e interessante - na história linear de um casal que quer simplesmente progredir na vida, a não ser que algo mais emocionante ou dramático que um cachorro alegre, divertido e brincalhão aconteça em suas vidas.
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GROGAN, John. Marley & Eu: a vida e o amor ao lado do pior cão do mundo. Rio de Janeiro, RJ: Ediouro, 2006.

VENCENDO O MUNDO [Resenha 051/20]


O mundanismo está destruindo a igreja de Jesus Cristo. Os crentes e as igrejas que caem no mundanismo perdem sua salinidade. O tempo é oportuno para desmascararmos e condenarmos biblicamente o mundanismo, bem como para promovermos a alternativa de santidade e verdadeira piedade.

Este livro aborda esta necessidade, servindo-se de uma perspectiva prática. Seus capítulos desenvolvem quatro mensagens apresentadas na Escola de Teologia do Tabernáculo Metropolitano, em Londres, nos dias 2 a 4 de julho de 2002. 

A primeira mensagem (Capítulos 1 a 3), um sermão com base em 1 João 5.4-5, mostra como o mundanismo pode ser vencido somente por meio da fé salvadora em Jesus Cristo.

A segunda mensagem mostra como o ponto de vista de João Calvino sobre a piedade constitui uma resposta abrangente e positiva ao problema do mundanismo — uma resposta que inclui os aspectos teológico, eclesiástico e pessoal (Capítulos 4 a 7). 

A terceira mensagem nos chama ao cultivo da santidade como um antídoto para o mundanismo (Capítulos 8 a 12). 

A última mensagem, fundamentada em Atos 20.28, examina como os pastores e outros que servem ao Senhor podem vencer o mundo (Capítulos 13 a 22).

 A segunda e a terceira mensagem são revisões de materiais impressos nas seguintes obras: The Cambridge Companion to John Calvin (Cambridge: University Press, 2004, p. 125-152), editado por Donald McKim; “Cultivating Holliness”, Reformation & Revival (Primavera de 1995), p. 81-112; e Holiness: God’s Call to Santification (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1994).

JOEL BEEKE nos ajuda a entender os perigos do mundanismo - definindo-o e chamando a atenção para seus ardis e sutilezas – e demonstra como a piedade e santidade são o antidoto para esse mal letal.

Quem deseja vencer o mundo compreende que tem algo a vencer. Percebe que tem seguido a mentalidade do mundo — pensando como este mundo pensa, falando como o mundo fala, gastando seu dinheiro e energias na busca de coisas mundanas. Compreende que seus pensamentos, palavras e ações têm sido mundanos — que não tem feito nada para a glória de Deus ou motivado por verdadeira confiança na obediência ao espírito da Lei de Deus. “Tenho desperdiçado minha vida”, ele lamenta. “Em vez de vencer este mundo, tenho sido vencido por ele. Seu egoísmo, orgulho e materialismo têm me dominado.” 

Alguém que vence o mundo rompe claramente com amigos, atividades e hábitos mundanos. Ele decide, à semelhança de Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15). Ele resolve aceitar a potencial rejeição do mundo, por colocar o temor do Senhor acima do temor aos homens e estimar os desejos de Deus como mais valiosos do que os desejos dos homens.

Este é um livro necessário, cuja mensagem deve ser conhecida e entendida por todos os cristãos — principalmente aqueles que estão em posição de liderança frente à igreja.
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BEEKE, Joel. Vencendo o mundo: Graça para vencer a batalha diária. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2018.

GILEAD [Resenha 050/20]


Marilynne Robinson está entre as autoras mais talentosas do mundo. Gilead “é tão serenamente belo”, escreveu um resenhista, “e escrito em uma prosa tão gravemente cadenciada e cuidadosa, que dá para se sentir tocado pela graça só de lê-lo”.

Gilead é uma memória ficcional na qual um pastor moribundo escreve uma longa carta a seu jovem filho, contando a história de seus ancestrais, refletindo sobre sua vocação como um ministro e compartilhando toda uma vida de conselhos paternais que ele sabe que não estará por perto para dar ao filho que ama. O resultado é um retrato íntimo de uma vida ministerial que capta as alegrias, bem como as lutas do pastorado.

O protagonista em Gilead – o Reverendo John Ames – não serve a Deus de maneira perfeita, mas o faz de maneira visível. O retrato multidimensional que Marilynne Robinson faz de seu respeitável ministro capacita-nos a vê-lo como ele é. Vemos tanto sua paixão em proclamar o evangelho quanto sua nítida decepção em perceber que sua pregação nunca faz justiça plena à Palavra de Deus. Vemos sua gentil compaixão pelas pessoas às quais Deus o chamou para servir, mas também a profunda luta que enfrenta ao ministrar a um paroquiano rebelde e difícil de amar. John Ames nos mostra, portanto, o que é melhor e mais difícil no ministério pastoral.

Esta introdução é um convite para aprender a partir da vida e ministério de Ames pela leitura de Gilead, no qual Marilynne Robinson dá ao ministro a sua cativante voz. Consoante à sua forma literária – uma autobiografia fictícia –, Gilead não possui capítulos. Ele apresenta o fluxo de consciência de um homem, em vez de um enredo rigidamente construído. Por conseguinte, em vez de examiná-lo sequencialmente ou por episódio, os próximos posts explorarão temas variados a partir do romance.

Sua estrutura torna difícil saber como dividir a leitura de Gilead em porções adequadas. Talvez a melhor sugestão para esta primeira parte seja ler ao menos até à página 27. Você vai ficar tão fascinado com o texto de Robinson que vai ser difícil largar o livro.

Dois pontos são importantes aqui (1) esta minha edição está em inglês e foi publicada em 2004. No Brasil, o livro, publicado em português pela Editora Nova Fronteira (2005), encontra-se esgotado na editora. Mas é possível encontrá-lo em sebos de livros usados (como a Estante Virtual, por exemplo). (2) no livro O Pastor como Teólogo Público (Ed. Vida Nova, 2016), o teólogo Kevin Vanhoozer diz que está disposto a defender que “é possível aprender mais sobre a vida de um pastor com a leitura de Gilead do que com a leitura de muitos livros de teologia pastoral” (p. 158).
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ROBINSON, Marilynne. Gilead. New York, NY: Picador, 2004.

O SILMARILLION [Resenha 049/20]


Não há dúvidas de que a Terra-Média é um dos universos fantásticos mais admirado de todos os tempos. A obra de J.R.R. Tolkien tem sido objeto de fascínio e até mesmo estudo por diversas décadas.

Tendo a trilogia Senhor dos Anéis como obra mais famosa, o universo não se limita à saga de Frodo, Sam, Aragorn e os demais membros da Sociedade do Anel e isso fica bem claro para aqueles que leram os livros. Com diversos detalhes adicionais, que apontam para histórias grandiosas que não são contadas ali, a trilogia faz questão de deixar claro que a Terra-Média é um mundo antigo e com muita história para se contar.

No conjunto da Obra de Tolkien, nenhum outro livro abrange e explora o universo da Terra-Média como o Silmarillion, que traz um conjunto de contos que envolvem as Silmarils, objetos de extremo valor no lore de Tolkien.

Nas palavras de um resenhista, este livro é considerado “O Velho Testamento” da Terra-Média, O Silmarillion traz uma leitura um pouco mais densa e menos leve do que encontramos em livros como O Hobbit ou até mesmo Senhor dos Anéis. Com uma vastidão de conteúdo, o livro acaba por ser um pouco mais sisudo e pode afastar aqueles que esperam algo exatamente como as obras mais famosas de Tolkien.

É impossível não traçar uma linha reta que une todos os capítulos de O Silmarillion de seu início, digamos, bíblico, no qual as raízes de uma imensa e impagável mitologia são expostas. Morgoth é uma clara alusão a Lúcifer, aquele que se deixou embriagar pelas possibilidades do Poder, e tramou sua própria e trágica queda. Mas as almas não são a principal obsessão de Morgoth, a entidade maligna e tão perversa que faz Sauron, um dos seus generais e o principal antagonista de O Senhor dos Anéis, parecer completamente inofensivo. Na verdade, Morgoth conspira para alcançar as silmarils, três gemas de infinitos poderes criadas por um poder celestial antes do sol, e da lua. Sendo ele o próprio Mal, astuto e ardiloso, Morgoth consegue roubar as jóias para si e forja uma coroa de ferro para usar as silmarils em seu trono e afundar tudo em trevas, algo paralelo a outros inúmeros eventos que se desenvolvem rumo ao cenário visto muito depois, nos filmes de Jackson.

Não bastasse o valor que as histórias contidas no livro possuem, a edição publicada pela Harper Collins confere à obra um charme inteiramente próprio por conta dos detalhes e do trabalho bem feito. Com uma belíssima capa dura, com detalhes em runas, ilustrações e diversos mapas com um acabamento admirável, esta edição é mais que um livro, é um item de colecionador.
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TOLKIEN, J. R. R. O Silmarillion. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2019. 496p.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

AS AVENTURAS DO BODÃO [Resenha 048/20]


Recebi o livro de Adhemyr Fortunatto (autografado) o livro “As aventuras do Bodão”. De antemão afirmo que o livro é sobre um sujeito surreal, que nos faz rir com suas “bodices”. Aqui tem de tudo um pouco. Tem piadas e poesias e os trechos engraçados são colocados de forma bem dosada pelo autor. Tem trechos bem picantes também, porém alguns com pitadas generosas de humor. O livro é sobre a vida do Bodão, um sujeito sem noção que desde menino se mete em muita confusão.

Na seção inicial, temos “Notas do Autor” onde ele nos explica um pouco sobre o livro: “A transformação das estórias do Bodão em livro foi precedida de bastante observação da reação de leitores, nas ruas, nos bares, no comércio; do povo enfim, que quando recebia o jornal, comentava. Cada dia um comentário favorável diferente; sentíamos que as pessoas estavam ávidas por novas aventuras do Bodão. E começou, assim, a vir sugestões dos próprios leitores do JR Notícias, onde, há alguns anos, temos publicado as aventuras do Bodão, no formato de crônicas, geralmente bem-humoradas”.

Mais afinal quem Bodão? O Bodão é sujeito engraçado, porco, mulherengo e desorganizado, mas pasmem os leitores, ele é casado. No livro, sua esposa Ritinha é narrada como sendo muito bonita e cheia de encantos, porém carente. Apesar dos seus deslizes, digamos assim, senti pena dela por ter se casado com um sujeito que não era bem como ela pensava, mas que por ter lá seus encantos acabava aceitando certas coisas.

Veja como o autor descreve nosso amigo Bodão: “O Bodão não é um galã, mas também não é um vilão. É um sujeito do povão, como as pessoas comuns, que veem tudo dando certo, mas só no mundo ficcional, ou seja, nos livros, nos filmes, nas novelas, onde sempre tem aquele que se dá bem o tempo todo. Não, o Bodão não se dá bem o tempo todo. (Risos). Se assim fosse, não haveria risos. Também não se dá mal por todo o tempo. Ele tenta acertar, pelo menos ele tenta. Em alguns aspectos, o Bodão é um autêntico brasileiro, que muitas vezes busca nas desventuras e aventuras do dia a dia uma válvula de escape para fazer humor, tomar ‘umas’, ser desbocado, desorganizado, atrasado nos compromissos, ou nem chegar, não dizer a idade, não ser servo de relógios nem seguir agendas, se deixar levar pela preguiça, chutar o pau da barraca, não venerar a fama, fazer um churrasco, rir, e, muitas vezes, de si mesmo”.

O livro está dividido em seis partes e são compostas de fragmentos que faz com que tenhamos uma leitura agradável. O livro entra para a galeria em nosso blog e estará entre as nossas resenhas.
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FORTUNATTO, Adhemyr. As aventuras do Bodão. Rio de Janeiro, RJ: Vermelho Marinho, 2016.

Adquira o seu entrando em contato com o autor
@adhemyrfortunatto

domingo, 5 de abril de 2020

FOGO ESTRANHO [Resenha 047/20]


Fogo Estranho, livro de John MacArthur, pastor na igreja Grace Community em Sun Valley, Califórnia (EUA), desde de 1969, também dirige o ministério eletrônico Grace to You, com transmissões de rádio nos EUA e em outros países de língua inglesa e espanhola. MacArthur é considerado um dos mais influentes líderes cristãos da atualidade, frequentemente convidado para entrevistas na grande mídia americana. Já escreveu mais de 150 títulos e já vendeu mais de 9 milhões de livros.

Neste livro o autor tem o propósito de mostrar aos seus leitores qual é o verdadeiro ministério do Espírito Santo na atualidade. Nos dias atuais o autor tem observado várias aberrações feitas nas igrejas no nome do Espírito Santo. Pastores de diversas denominações decretam curas e milagres, determinam bênçãos e libertação. Contudo, mesmo diante de tanta operação creditada ao Espírito Santo, no meio deles não faltam pessoas frustradas, carregadas de culpa e mágoa.

MacArthur, assim, reivindica biblicamente que o verdadeiro ministério do Espírito não é caótico, ostentoso e extravagante (como um circo). Normalmente é oculto e discreto, lembrando que o principal papel do Espírito Santo é exaltar a Pessoa do Senhor Jesus Cristo. A partir dessa perspectiva bíblica é possível recusar falsas doutrinas, falsos mestres e falsos dons que está sendo tão comum atualmente.

O livro possui doze capítulos, distribuídos em três partes. A primeira parte, confronta a falsa renovação. Na segunda parte o autor irá expor os falsos dons, como, os dons de apóstolos, profetas, curas e línguas estranhas. Na terceira e última parte do livro, o autor discorrerá sobre a verdadeira obra do Espírito Santo, enfatizando que o papel do Espírito Santo não é chamar atenção para Ele mesmo, mas sim, apontar para Jesus Cristo.

Antes da introdução, temos uma NOTAS DOS EDITORES da Thomas Nelson Brasil que diz: “Você pode discordar. Pode criticar. Só não pode deixar de ler.
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MACARTHUR, John. Fogo estranho: um olhar questionador sobre a operação do Espírito Santo no mundo de hoje. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2015. 336p.

CALVINISMO [Resenha 046/20]


Dr. Abraham Kuyper (1837-1920) foi um teólogo e filósofo calvinista holandês que se envolveu intensamente nas áreas acadêmicas e políticas do seu país. Líder de um dos principais partidos e membro do parlamento por mais de trinta anos, serviu também como Primeiro Ministro da Holanda de 1901 a 1905. Homem de imensos talentos e de energia infatigável, entregou-se à reconstrução das estruturas sociais de sua terra e baseou praticamente todas as áreas de sua vida em sua herança calvinista. Durante mais de quarenta e cinco anos atuou como editor de dois jornais cristãos.

Este livro traz o conteúdo completo das palestras proferidas na Universidade e Seminário de Princeton, em 1898, a convite da fundação L. P. Stone. Esse importante evento anual da cena acadêmica norte-americana era conhecido como as Palestras Stone (Stone Lectures).

A expressão Calvinismo é usada pelo autor em seu significado mais amplo, referindo-se a um sistema que alcança todos os aspectos da vida humana. Trabalha-se o Calvinismo não em seu sentido histórico, filosófico ou político, mas sim, científico. Nesta obra, o Calvinismo consiste num sistema lógico de teologia, em uma ordem eclesiástica democrática própria, impelida por um sentido rigorosamente moral. Daí, o livro ser composto de seis temas que vai desde o Calvinismo como um sistema de vida até o seu relacionamento com religião, política, ciência e arte.

Mesmo desenvolvendo o seu pensamento dentro do contexto histórico em que vivia, Kuyper traz uma mensagem extremamente relevante aos nossos dias. Essas palestras impressionam não apenas pela riqueza e profundidade de linguagem, mas pelo seu conteúdo pertinente. Elas se destinam a todos aqueles que se preocupam com a solidez e o bem-estar da igreja e com a integridade intelectual e filosófica dos que são chamados a se posicionar na frente de batalha, contra as filosofias e sistemas humanistas arquitetados por Satanás, e que sorrateiramente persistem em se infiltrar no pensamento evangélico contemporâneo.
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KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014. 208p

AH, SE EU SOUBESSE [Resenha 045/20]


Escrito por duas autoridades em aconselhamento familiar, livro traz orientações e dicas práticas para quem está se preparando para ter filhos ou tem filhos pequenos. A chegada de um filho é um momento singular na história de qualquer casal. O amor pelo bebê é grandioso: muda a vida para sempre, altera prioridades e exige responsabilidade. Criar, educar, proteger e amar são verbos que passarão a ser conjugados de forma especial. Embora sejam experiências repletas de expectativa, a maternidade e a paternidade não são “um conto de fadas”! Por isso, ao esperar o bebê, papai e mamãe precisam de preparação e de uma dose de realidade, para que as mudanças inerentes à nova fase não gerem frustrações à vida conjugal.

Em “Ah, se eu soubesse! Coisas que aprendi só depois de ter filhos”, Gary Chapman e Shannon Warden, duas autoridades em aconselhamento familiar, compartilham sabedoria adquirida ao longo dos anos. Para amenizar possíveis erros e indicar caminhos na sublime tarefa de criar um filho, ambos trazem à tona histórias, princípios e dicas para que os leitores saibam agir adequadamente em diferentes situações. Por meio de uma abordagem prática, informativa e agradável de ler, cada capítulo trabalha temas relacionados à nova dinâmica familiar e ao desenvolvimento dos filhos: mudança de rotina; administração de despesas; diferenças de personalidade; saúde emocional e física; aptidões sociais até o perdão e manutenção da vitalidade do casamento.

Realista do começo ao fim, mas sem deixar de valorizar as alegrias de ter filhos, os autores elucidam pontos de atenção, permeando a leitura com insights encorajadores e cativantes. “Leiam este livro para encontrar esperança, risadas e tranquilidade, e também para relembrar as coisas grandes e pequenas que fazem a criação dos filhos valer o tempo e a energia investidos. ” Shannon Warden – coautora Pg. 17

Ao seguir as orientações de Gary e Shannon, os leitores poderão avaliar as diversas situações do dia a dia com mais clareza e agir sabiamente, dando espaço à alegria, ao companheirismo e à satisfação, mesmo quando há cansaço e contratempos.

Este excelente livro possui doze capítulos escritos com uma boa dose de realidade escrita de forma didática e agradável de ler, Chapman e Warden, autoridades em aconselhamento familiar, apontam temas essenciais relacionados à nova dinâmica da casa e ao desenvolvimento dos filhos.
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CHAPMAN, Gary. Ah, se eu soubesse! Coisas que aprendi só depois de ter filhos. São Paulo: Mundo Cristão, 2019. 192p.

O RETRATO DE DORIAN GRAY [Resenha 044/20]


Quando O retrato de Dorian Gray foi publicado pela primeira vez em forma de livro, em 1891, era uma versão substancialmente alterada do romance original de Oscar Wilde. Considerado muito ousado para sua época, já tinha sido editado quando publicado em série na revista literária Lippincott’s, em 1890, e depois ainda foi alterado pelo próprio Wilde, que, em resposta às duras críticas, fez sua própria edição para a publicação em livro. Assim, a versão original, tirada do manuscrito de Wilde, nunca havia vindo a público.

Nicholas Frankel, professor de Inglês na Universidade de Virginia, teve acesso ao original datilografado de Wilde, revisitando e restaurando o romance como foi pensado originalmente. The Picture of Dorian Gray: An Annotated, Uncensored Edition foi finalmente publicado pela Harvard University Press e agora sai pela Primeira vez no Brasil, pela Biblioteca Azul.

O estabelecimento do texto feito por Frankel incluiu os trechos em que Wilde tratava da homossexualidade de maneira mais aberta, constituindo, assim, nas palavras do organizador, “uma versão que Oscar Wilde gostaria que estivéssemos lendo no século XXI”. Frankel também incluiu em sua edição centenas de notas que situam o romance em sua época, além de traçar, paralelamente ao texto, uma espécie de biografia de Wilde, centrando nos episódios de sua vida que foram consequências da sua exposição feita no romance. “Dorian Gray é um arauto do século 20 - um arauto da modernidade", disse Frankel. “O livro faz a transição da era vitoriana para o moderno e Wilde pagou um preço muito alto por isso”.

O Contexto, se dá em Londres, início do século XX, três personagens: Lord Henry, um bon vivant inescrupuloso e amoral; o pintor Basil Hallward, um artista até certo ponto liberto dos preconceitos da época, mas ainda zeloso de aparentar tê-los; e o jovem Dorian Gray, filho da aristocracia, rico e, sobretudo, muito belo. É com esses elementos que Oscar Wilde compõe o cenário de um dos mais importantes romances da língua inglesa da virada do século XX, O retrato de Dorian Gray.

Seduzido pela admiração que ele próprio causa nos dois amigos, e, sobretudo, pela própria beleza retratada por Basil, Dorian tem um momento do pacto faustiano: faz um juramento dizendo que daria tudo, inclusive sua alma, para que ficasse sempre jovem e belo. Assim, enquanto o retrato exibe todo o efeito de degeneração moral, e vai “envelhecendo”, Dorian mantém-se belo e jovem, apesar de toda vileza, das maldades e da falta de escrúpulos que vai adquirindo.

Oscar Wilde desenvolve essa sua espécie de mito de Fausto com um estilo incomum, tiradas morais ferinas e frases que se tornaram lapidares na história da literatura mundial. A elegância da escrita, a crítica ao jornalismo da época e a crueza do julgamento da hipocrisia da sociedade o tornaram, no calor do lançamento, um clássico instantâneo, apesar da dureza com que foi recebido pela crítica literária e, claro, pelos moralistas de plantão.
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WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray: edição anotada e sem censura. São Paulo, SP: Globo, 2013.

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO [Resenha 043/20]


A parábola do filho pródigo é uma das muitas registradas apenas no Evangelho de Lucas. E ela sobressai. De todas as parábolas de Jesus, é a mais ricamente detalhada, poderosamente dramática e intensamente pessoal. É cheia de emoção, passando da tristeza ao triunfo, depois a uma sensação de choque e, por fim, a um desejo perturbador pela conclusão.

Os personagens são conhecidos, por isso é fácil para as pessoas se identificarem com o pródigo, sentirem a dor do pai e, ainda assim (até certo ponto), se solidarizar com o irmão mais velho — tudo ao mesmo tempo. A história é memorável em muitos aspectos, e um dos mais importantes é a imagem de rudeza que Jesus invoca ao contá-la. A descrição do pródigo como alguém tão desesperadamente faminto, disposto a comer cascas varridas da comida de porcos, por exemplo, retrata de maneira quase visual a devassidão do jovem, e o faz de uma forma que soava extremamente repugnante aos judeus que a ouviram.

Outra coisa que torna essa história inesquecível é a pungência demonstrada na reação do pai quando o filho perdido retorna. A alegria do pai estava repleta de terna compaixão. O filho mais novo, que tinha partido de maneira negligente e insolente, despedaçando as esperanças de seu pai para ele, voltou um homem completamente quebrantado. Mesmo tendo o coração partido e, sem dúvida, sentindo-se muito magoado por causa da rebelião tola do filho mais novo, o pai expressou a mais pura felicidade, desprovida de qualquer sinal de amargura, quando o filho errante chegou em casa, arrastando-se pelo caminho. Quem não se emocionaria com um amor como esse?

No entanto, o filho mais velho da parábola não ficou nem um pouco comovido pelo amor de seu pai. Seu duro ressentimento ao testemunhar a misericórdia do pai em relação ao irmão mais novo contrasta com o tema dominante de Lucas 15, que é a grande alegria no céu pelo retorno dos perdidos. Assim, a mensagem central da parábola é um apelo urgente e sóbrio aos ouvintes cujo coração se endureceu para que suas atitudes espelhem as do irmão mais velho. A parábola do filho pródigo não é uma mensagem bonitinha de autoajuda, inventada para nos sentirmos bem, mas uma poderosa convocação que inclui um alerta muito importante.

Não podemos permitir que isso escape à nossa compreensão nem prejudique nosso apreço em relação a essa amada parábola. Infelizmente, a lição do irmão mais velho costuma ser negligenciada em muitas oportunidades nas quais essa história é contada. Mesmo assim, continua sendo a razão principal pela qual Jesus a contou.

O livro possui 11 capítulos que são divididos em cinco partes. No final do livro tem um apêndice bem pedagógico, com o título “Aprendendo a encontrar significados nas parábolas. No final da apresentação do livro, John MacArthur, escreve: “Que os leitores que, tal como o Pródigo, chegaram ao fundo do poço sejam motivados a abandonar as cascas deste mundo. E, acima de tudo, que esta mensagem soe como um toque de alvorada no coração daqueles que precisem ser acordados para a realidade terrível de seu próprio pecado e para a promessa gloriosa da redenção em Cristo”.
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MACARTHUR, John. A parábola do filho pródigo: uma análise completa da história mais importante que Jesus contou. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2016.