quinta-feira, 29 de agosto de 2019

CARTAS À IGREJA [Resenha]



CHAN, Francis. Cartas à Igreja. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2019. 192p.


O AUTOR – Há sete anos, o pastor Francis Chan decidiu deixar o comando de uma próspera megaigreja na Califórnia, Estados Unidos, para cumprir o real propósito de Deus em sua vida. A Igreja Cornerstone, na cidade de Simi Valley, era composta por cerca de 5 mil pessoas em 2010, quando Chan sentiu que não estava cumprindo a vontade de Deus em sua posição. “Eu fiquei frustrado, analisando a situação biblicamente”, disse o pastor na última quinta-feira (29) durante uma palestra na sede do Facebook. “De acordo com a Bíblia, cada uma dessas pessoas tem um dom sobrenatural. Mas eu via 5 mil pessoas toda semana para ouvirem e verem o meu dom”. “Então eu comecei a pensar o quanto custava para executar aquilo? Milhões de dólares!”, ele continuou. “Eu estava desperdiçando os recursos humanos de pessoas que, de acordo com as Escrituras, têm um dom miraculoso, mas elas estavam apenas ali, sentadas, calmamente. Elas simplesmente sentavam lá e me ouviam”.

Além disso, Chan sentia que a igreja não estava seguindo o mandamento de amar uns aos outros — já que o relacionamento de seus membros se limitava a cumprimentos de 30 segundos e pose para algumas fotos. Na época de sua saída da Cornerstone, Chan também revela que estava tomado pelo orgulho por causa do sucesso de vendas de seu livro Crazy Love, vendido no Brasil com o título Louco Amor. “Fui tomado pelo orgulho quando ia de uma conferência à outra e via meu rosto em uma revista”, revela o pastor. “Eu estava me tornando tudo o que Deus disse que odiava. Estava perdendo minha alma”.

Hoje, Francis Chan lidera um movimento de igrejas em San Francisco chamado “We Are Church” (“Nós Somos A Igreja”, em tradução livre). Atualmente, ele conta com 15 igrejas domésticas e 30 pastores (dois pastores por igreja). Cada igreja é projetada para ser pequena, para que os membros se relacionem como uma família e exerçam seus dons. “Eles só se reúnem em suas casas, estudam, oram, cuidam uns dos outros”, disse Chan. O pastor espera dobrar o número de igrejas domésticas e fazer com que, em 10 anos, mais de 1,2 milhão de pessoas façam parte desse movimento. Chan faz questão de reforçar que tudo é gratuito. Como ele compara uma megaigreja com o movimento atual? “A igreja do jeito que eu estava fazendo era como um orfanato. Hoje somos apenas um bando de crianças com um líder. É diferente de dizer: ‘Vamos te colocar numa casa e esses caras vão cuidar de você’. Hoje somos apenas como uma família”.


SINOPSE – Em sua obra mais recente, Francis Chan, autor de “Louco Amor” desafia o leitor a avaliar a organização atual e a relevância (ou irrelevância) da igreja para o mundo em que vivemos. E, mais importante, quão próxima ou distante ela está do que as Escrituras apontam como o seu propósito, que é sinalizar o Reino de Deus. Francis Chan conta sua experiência como plantador de igrejas e o que aprendeu com os erros e com os acertos, numa avaliação honesta e não menos crítica dos descaminhos trilhados por comunidades cristãs ao redor do planeta. Engana-se, no entanto, quem espera um mero desabafo. Francis Chan apresenta instruções valiosas para igrejas que não só querem compreender seu papel bíblico mas também anseiam por inspirar vitalidade, compromisso e significado. “Cartas à Igreja” é, portanto, uma chamado para fazer diferença. Francis Chan escreve: Por décadas, lideres eclesiástico como eu perdemos de vista o poderoso mistério inerente à igreja e, então corremos em busca de outros métodos na tentativa de atrair a atenção das pessoas. Sendo bem sincero, incitamos você a se viciar nessas coisas menores. Banalizamos o sagrado, e devemos nos arrepender disso.


O LIVRO – Definitivamente, nenhum outro livro meu foi tão difícil de escrever quanto este, principalmente porque tenho procurado manter em mente o texto de I Tessalonicenses 5.14. Nessa passagem. Deus diz que devemos advertir os indisciplinados e encorajar os desanimados. Isso é tranquilamente factível quando conhecemos bem as pessoas a ponto de saber do que precisam. O problema de escrever um livro de grande alcance é que alguns de vocês precisam de um abraço mas se sentirão chutados, e outros, que precisam de um cutucão, se sentirão encorajados! No que diz respeito aos que amam Jesus e se sentem desmotivados, oro para que este livro lhes dê esperança para alcançar tanto quanto for possível. Quanto àqueles que proposital ou inconscientemente prejudicam a igreja, oro para que Deus lhes dê a graça do arrependimento. Recentemente, ocorreu-me que Jesus escreveu para sete igrejas, uma carta para cada uma conforme registram os capítulos 2 e 3 de Apocalipse. Estou tentando escrever a milhares de igrejas diferentes por meio de um único livro! E a redação de Jesus é bem melhor que a minha...

Quando terminei de escrever este livro, notei que ele mais se parecia com uma coleção de cartas independentes, mais relacionadas. Cada capítulo/carta aborda um aspecto sobre o qual a igreja que você frequenta pode ou não precisar debruçar. Orei para que o Espírito Santo ajude você a discernir quais cartas devem chegar ao seu coração e ao coração de sua igreja. Este livro não trata de detalhes obscuros que identifiquei em Levítico, mas das instruções mais óbvias, repetidas em toda a Bíblia. Tentei prestar atenção às ocasiões em que Deus parece mais aborrecido com o comportamento de seu povo. Há muita gente desejosa de mudar a igreja, mas, não raro, a motivação se baseia em preferências pessoais, e não em fundamento bíblico. O que busco destacar aqui é apenas o conjunto das verdades bíblicas mais evidentes sobre a vontade de Deus para sua Noiva - verdades que nenhum de nós pode se dar ao luxo de ignorar.

Há ocasiões em que Deus abomina nossa adoração, e existem igrejas que ele simplesmente quer ver fechadas. Muitas vezes, presumimos que basta expressar algum tipo de adoração e, então, Deus ficará satisfeito. A Bíblia diz que não ó bem assim (Am 5.21-24; Is 58.1-5; Ml 1.6-14; I Co 11.17-30; Ap 2.5; 3.15-16).

Desde o início dos tempos, há certos tipos de adoração que Deus ama e outros que ele rejeita. Ao observar a condição da igreja cristã hoje, não posso deixar de pensar que Deus está descontente com muitas igrejas.

Não estou dizendo isso por dizer ou motivado por algum sentimento pessoal, mas porque é o que leio nas Escrituras. Minha esperança é que você tenha uma Bíblia por perto enquanto lê este livro, para verificar se estou distorcendo a Palavra ou apenas apresentando o óbvio. A intenção não é atacar ninguém nem causar polêmica. Penso que integramos o mesmo time, todos em busca do tipo de igreja que mais agrada a Deus. [p.22-23]

O livro contém, além dos agradecimentos, epílogo e notas, 9 capítulos com um conteúdo edificante. Como todas as nossas resenhas, iremos trabalhar de conformidade a estrutura do livro, capítulo à capítulo, extraindo pequenos parágrafos e fazendo resumos. O nosso propósito é se ter a estrutura completa do conteúdo de acordo com sumário e citações pontuais do livro.


1. A PARTIDA – Neste capítulo, o autor fala sobre os motivos que o levaram a deixar uma mega igreja e plantar uma nova igreja.

Eu estava determinado a criar algo diferente de tudo o que tinha vivenciado. Aquela era a minha chance de erguer justamente o tipo de igreja do qual gostaria de participar. Em síntese, eu tinha três objetivos em mente. Primeiro, queria que todos nós cantássemos diretamente para Deus. E digo "cantar" mesmo. Não estou falando de se deixar embalar por uma cantoria rotineira ou motivada por culpa. Você já integrou um grupo que canta diretamente para Deus, de coração? já cantou com reverência e entusiasmo? Cantou como se Deus estivesse mesmo ouvindo sua voz? É uma experiência poderosa, e eu queria que essa fosse uma marca da nossa nova igreja.

Segundo, eu desejava que todos nós realmente ouvíssemos a Palavra de Deus. Não seríamos aquele tipo de gente que se reúne para escutar tolices em forma de autoajuda, nem deixaríamos metade da Bíblia de lado. Minha intenção era que investigássemos as Escrituras a fundo - até mesmo as passagens que contradizem nossa lógica e nossos anseios. Eu queria que a exposição da verdade divina fosse vigorosa e que a levássemos a sério. Então, comecei a pregar, semana após semana, examinando cada verso bíblico. Verdadeiramente nos dispusemos a ouvir tudo o que a Palavra de Deus estava nos dizendo.

E, por fim, eu almejava que todos vivêssemos em santidade. Já tinha visto muitas igrejas abarrotadas de cristãos que pareciam não ter nenhum interesse em fazer o que a Bíblia diz. Não conseguia me conformar com a trágica ironia disso tudo. Aquela gente retornava toda semana para ouvir sobre um Livro que lhes ordena; "Não se limitem, porém, a ouvir a palavra; ponham-na em prática" (Tg 1.22), mas, ao que tudo indicava, aquilo não gerava efeitos. Não que eu fosse perfeito ou esperasse que outros o fossem, mas eu imaginava nossa igreja como um grupo no qual as pessoas se incentivassem mutuamente à ação. Não fazia sentido ensinar as Escrituras sem experimentar mudança. Portanto, desde o comecinho, nós desafiamos um ao outro a agir. [p.11-12]


2. O SAGRADO – O assunto deste capítulo nos chama atenção para aquilo que consideramos corriqueiro em nossa vida como crente – O Sagrado.

Na primeira vez que li que Uzá foi morto por Deus pelo simples fato de ter tocado a arca da aliança para que ela não fosse ao chão, eu me senti bastante incomodado. Uzá se prontificou a segurar a arca porque os bois que a carregavam tropeçaram. Parecia apenas um equívoco motivado por boas intenções. Sim, Deus proibira terminantemente que alguém tocasse a arca, mas o que Uzá deveria ter feito então? Deixado a arca cair?

Não é meio intrigante saber que o sacrifício oferecido pelo rei Saul lhe custou o próprio reinado (ISm 13)? Afinal, Saul havia passado sete dias esperando que Samuel apresentasse as ofertas, e o profeta não chegou no prazo combinado. Parece--me nobre a iniciativa de Saul, isto é, oferecer o sacrifício para evitar ir à guerra sem antes apresentar-se diante de Deus. E, ainda assim, ele acabou perdendo o trono?

E o que dizer de Moisés, que não chegou à terra prometida só porque, em vez de falar à rocha, bateu nela com a vara (Nm 20)? Depois de tudo o que ele havia passado, será que era um crime assim tão grave decepcionar-se com o povo e extravasar a própria ira batendo em uma rocha?

Há também o caso de Ananias e Safira. Ambos foram fulminados ao mentir sobre a quantia de dinheiro que ofertaram à igreja (At 5).E olha que isso é relatado no Novo Testamento! De verdade, será que não foi demais?

Para arrematar, lembremos que Paulo disse aos coríntios que muitos deles estavam doentes e alguns até haviam morrido por celebrar a ceia de maneira inapropriada (I Co 11.30). Se Paulo não estava exagerando, talvez estejamos muito perto de morrer!

Para nós, muitas das punições relatadas na Bíblia foram severas demais se considerados os delitos a elas associados. E por que pensamos assim?

Não compreendemos o que significa dizer que algo é "sagrado". Vivemos em uma realidade centrada no ser humano; as pessoas se veem como autoridade máxima. Somos rápidos em dizer: "Não é justo!" quando não podemos desfrutar os direitos que julgamos ter pelo fato de sermos humanos. Porém, desconsideramos os direitos que Deus tem pelo fato de ser Deus. Até mesmo na igreja, nós nos comportamos como se as ações divinas estivessem submetidas à nossa conveniência. As histórias registradas na Bíblia se propõem nos mostrar que há algo muito mais valioso que nossa mera existência ou nossos direitos. Há coisas que dizem respeito a Deus, coisas sagradas - a arca da aliança, a ordem divina a Moisés, os sacrifícios no templo, o Espírito Santo, a ceia do Senhor, a santa igreja de Cristo. Todos aqueles que avançaram inadvertidamente em direção a essas coisas pagaram o preço por isso. Não deveríamos nos admirar, mas, sim, nos humilhar. Todos já fizemos coisas muito mais ultrajantes que essas; portanto, sejamos gratos a Deus por sua misericórdia e mais reverentes ao lidar com o sagrado. [p.28-29]


3. A ORDEM – Este capítulo, o autor enfatiza o nosso zelo por costumes e tradições, em detrimento dos mandamentos ordenados pelo Senhor a sua igreja.

Suponha que você vá a um restaurante e peça um bife. Vinte minutos depois, o garçom coloca um prato de espaguete à sua frente e comenta que aquela é a melhor macarronada que você poderia provar. Você ficaria satisfeito? Não, você devolveria o prato porque não era o que queria. Não tinha nada a ver com seu pedido.

Penso que é isso o que temos feito com a igreja. Deus nos apresentou seu "pedido" por meio dos mandamentos descritos na Bíblia, dizendo-nos o que queria. Em nossa arrogância, porém, criamos algo que julgamos funcionar melhor. Em vez de estudar diligentemente as ordenanças do Senhor e entregar-lhe exatamente o que ele pediu, temos nos deixado influenciar por muitas outras coisas. Consideramos nossos gostos pessoais, os interesses de outras pessoas, o que outros estão fazendo. No espírito de Caim, ofertamos algo que imaginamos ser aceitável a Deus, em vez de entregar a ele o que de fato nos pediu.

Em Lucas 12, Jesus apresenta a parábola do mestre que atribuiu tarefas específicas a seus servos. Mais tarde, voltando aos servos, esse mestre esperava ver as tarefas realizadas. Ao notar que suas ordens haviam sido negligenciadas, ele puniu duramente os empregados. Como podemos dar de ombros a um relato desses? É insano! Jesus logo virá e espera que sua igreja leve seus mandamentos a sério. Com muita frequência, porém, estamos bem mais preocupados com a qualidade do sermão, com a relevância do grupo de jovens ou com meios de aprimorar a música na igreja. Honestamente, o que é que incitará os irmãos de sua igreja à real mudança? Será que o problema é a desobediência aos mandamentos divinos? Ou será o não atendimento das expectativas que nós mesmos criamos? A resposta a essas perguntas pode nos mostrar se nossa congregação existe para agradar a Deus ou às pessoas, isto é, se é Deus quem conduza igreja ou se somos nós que o fazemos. [p.42-43]


4. A TURMA – O assunto deste capítulo nasce de uma pergunta: Vivemos uma época em que as pessoas frequentam um prédio aos domingos, participam de um culto de uma hora e se denominam membros da igreja. Isso lhe causa estranhamento?

Pouco antes de seu sacrifício na cruz, Jesus fez uma oração fascinante em favor de seus discípulos. Algumas das afirmações que ele incluiu nessa oração realmente desafiam minha fé. (João 17.20-23).

Jesus orou para que a unidade de seus seguidores se igualasse à unidade dele, o Filho, com o Pai! Ele deseja que você e eu sejamos um assim como o Filho e o Pai são um! Já se imaginou buscando esse tipo de unidade com a sua igreja? Você ao menos acredita que isso é possível?

Deixe-me prosseguir. A oração de Jesus não foi para que nós apenas nos relacionássemos bem e evitássemos divisões na igreja. Foi para que alcançássemos "unidade perfeita". Isso porque essa unidade provaria que ele era o Messias. Jesus disse que o propósito de nossa unidade era que "todo o mundo" soubesse que o Pai que o enviou é cheio de amor. Para alguns de nós, a oração de Jesus não faz sentido. Como é que nossa unidade pode levar o mundo a crer? De que maneira a constatação de que amamos uns aos outros pode fazer alguém acreditar que Jesus realmente desceu dos céus?

Unidos, os primeiros cristãos conduziram as pessoas à salvação. Veja como Atos descreve esse grau de unidade (At 4.32-35). Não sei quanto a você, mas esse trecho sempre me comove. Nele a igreja se mostra tão bela, tão atraente! É esse amor que torna nossa mensagem convincente. A Bíblia é clara: há um vínculo real entre nossa unidade e a credibilidade daquilo que apregoamos. Se de fato estamos comprometidos em conquistar os perdidos, devemos levar a sério a busca por unidade.

Empenhar-se para que a igreja viva como família não implica nenhum truque de mágica, nenhuma "amostra grátis" do que é ser parte de uma congregação. Trata-se de um mandamento, e também de algo que nos é ofertado. O que Deus mais deseja é transformar sua igreja em uma família unida e sobrenaturalmente amorosa. Será que acreditamos que ele é capaz de fazer isso? Confiamos que o propósito dele para a igreja é o mais eficaz?

Inventamos inúmeras técnicas para alcançar os perdidos, embora Deus afirme que a unidade é o único método eficiente. Pense nisto: Deus nos instruiu sobre como alcançar o mundo, mas nós abandonamos as orientações divinas e nos atrapalhamos criando aulas, programas e eventos que promovem tudo, menos a estratégia dada por Deus! [p.70-71, 73-74]


5. SERVOS – Uma pergunta: Qual seria a sua reação se Jesus o descalçasse agora mesmo e começasse a lavar os seus pés? Tente vislumbrar essa cena.

Essa noção de que o Deus todo-poderoso se humilhou a ponto de nos servir e de morrer por nós é a essência de nossa fé. Na raiz de nosso chamado está o mandamento para que imitemos a Deus servindo uns aos outros. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus ordenou que eles fizessem o mesmo entre si (Jo 13.14). Entretanto, em que medida os "cristãos" hoje se dispõem a servir aos outros?

Jesus disse: "Pois nem mesmo o Filho do Homem veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos" (Mt 20.28). No entanto, não é nenhum segredo que a maioria das pessoas vai à igreja mais para consumir que para servir. Sabemos que isso é uma estupidez, mas nos resignamos a esse ponto. Aprendemos a aceitar essa atitude como se não pudéssemos fazer nada a respeito. As pessoas entregam suas ofertas e, assim, mantêm a equipe ministerial; então, os ministros devem fazer sua parte e atender às pessoas. Parece uma engrenagem adequada e eficiente, e funciona muito bem em alguns casos. Não corresponde à vontade de Deus, mas funciona. (Fp 2.1-8) [p.78-79]


6. BONS PASTORES – Este capítulo foi escrito, segundo o autor “para que avaliemos nossa própria vida. A igreja precisa de líderes piedosos.”

Como mencionei no início do livro, procurei dar especial atenção às ocasiões em que a narrativa bíblica apresenta Deus usando uma linguagem firme. A meu ver, os líderes citados nas Escrituras foram o grupo que ouviu de Deus as palavras mais severas.

Por um lado, os discursos divinos mais temos e honrosos se destinaram à liderança espiritual. Parece que o Senhor não somente se relacionava de maneira ímpar com os líderes, mas também os defendia. Por exemplo, ele fez que Miriã fosse acometida por lepra quando ela se atreveu a falar contra Moisés (Nm 12.1-10). Também enviou duas ursas para que destruíssem quarenta e dois jovens que haviam zombado de Eliseu (2 Rs 2.23-24). João foi chamado de "discípulo a quem Jesus amava" (Jo 21.20), e Abraão ficou conhecido como "amigo de Deus"(Tg 2.23).

Em contrapartida, os líderes também foram alvo de algumas das mais graves repreensões divinas. O esforço por liderar implica advertências bastante firmes. Tiago afirmou que os ministros serão julgados com maior rigor (Tg 3.1), e o autor de Hebreus disse que eles prestarão contas acerca de seus discípulos (Hb 13.17). Jesus se referiu aos líderes religiosos de sua época como filhos do inferno (Mt 23.15). O ponto é que não devemos presumir que todo aquele que ocupa posição de autoridade espiritual o faz por merecimento.

Quem integra a liderança de uma igreja não pode presumir que ali é seu lugar de direito. É preciso se perguntar: "Estou certo de que deveria estar aqui? Estou em condição de liderar? Minha relação com Jesus é algo que desejo ver se reproduzir em outros irmãos?".


7. CRUCIFICADO – O autor ao escrever este capítulo, ele afirma que: “o assunto de que tratamos não é um ensinamento obscuro ou isolado no Novo Testamento. Esse conteúdo pode lhe parecer novidade caso você freqüente uma igreja que, em vez de ensinar a Bíblia em sua totalidade, apresenta apenas os trechos considerados mais palatáveis pela maioria das pessoas. Jesus esclareceu que seguir seus passos implica sofrimento, e todos os outros autores do Novo Testamento também afirmaram isso.”

O apóstolo Paulo escreveu: "Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (G1 2.20).

Milhões de pessoas se autodenominam cristãs por acreditar que ser cristão é admirar o exemplo de Cristo; elas não se dão conta de que se trata deum chamado para seguir esse exemplo. Se de fato entendessem assim, o número de cristãos seria drasticamente menor. O Novo Testamento não poderia ser mais direto: não devemos apenas acreditar que Cristo foi crucificado; devemos nos deixar crucificar com ele.

Milhões de homens e mulheres foram ensinados que é possível se tornar cristão sem oferecer nada em troca e acreditaram nisso! Existe até quem tenha a audácia de ensinar que, para ter uma vida melhor, basta orar e convidar Jesus a entrar no coração. Jesus ensinou exatamente o oposto! (Lucas 14.25-33)

Quando Jesus apresentou esse chamado, ninguém cometeu nenhum erro de interpretação, e foi por isso que ele teve tão poucos discípulos. A convocação para seguir Jesus é uma convocação para a morte. O preço estava estampado bem na frente de todos, em números bem grandes. Jesus o deixou bem evidente desde o início e disse às pessoas que elas deveriam avaliar o custo antes de se lançarem em um compromisso para o qual não estivessem preparadas. Hoje, só queremos falar da parte boa: graça e bênçãos. Claro que graça, perdão e misericórdia são elementos centrais do evangelho, mas Jesus foi muito sincero e objetivo quanto ao preço a ser pago, e esse é um conceito que negligenciamos totalmente.

A verdade é que perdemos de vista a essência do que significa ser cristão. Tomar-se seguidor de Jesus implica completa rendição de nossos anseios e apetites ao propósito maior de servir para a glória de Deus. Significa morrer para nós mesmos e viver para Cristo. É esse o compromisso que cabe a você. (Marcos 8.34-37; Mt 24.9-13) [p.114-116, 130]


8. LIBERTOS – Uma pergunta: Igreja ou jaula? Esse capítulo estabelece a diferença!

Poucos meses depois de chamar seus discípulos, Jesus os enviou ao mundo. Isso não quer dizer que eles estavam completamente treinados e isentos de errar; na verdade, mostra que o envio era parte do treinamento. Jesus não os ensinou dentro de uma sala de aula, mas andou com eles e os enviou. A expectativa de Jesus era que proclamassem arrependimento, expulsassem demônios e promovessem cura (Mc 6.12-13). Ele os advertiu de que estavam sendo enviados como ovelhas entre lobos e explicou que seriam odiados e perseguidos (Mt 10.16-22). Nessa mesma ocasião, Jesus prometeu que receberiam as palavras certas nos momentos mais desafiadores. Era uma missão extremamente perigosa e para a qual tinham apenas o mínimo de preparo.

Talvez tenha sido por isso que aqueles homens foram capazes de fazer discípulos. E o modo como treinamos as pessoas hoje é justamente o contrário! Será que o hábito de manter pessoas em auditórios e salas de aula confortáveis durante anos é mesmo o melhor jeito de treinar líderes destemidos? Considere alguns dos movimentos recentes em outras regiões do mundo; todos resultaram da prática de treinar e enviar, válida para todo cristão.

A igreja foi planejada para ser um belo exército, enviado para lançar luz por toda a terra. O que se espera de nós é que levemos bravamente a mensagem de Cristo aos lugares mais remotos, e não que fiquemos todos juntos, escondidos em uma espécie de abrigo. As pessoas devem se admirar ao ver o povo de Deus manifestando "paz que excede todo entendimento" e "alegria inexprimível" (Fp 4.7; I Pe 1.8). Reflita no conteúdo dessas passagens. Mais uma vez: quando falamos nessas coisas, parece exagero e não algo pelo que se deve aguardar. Alguém já se mostrou incrédulo diante da paz que você demonstra? Você é conhecido por ser absurdamente alegre? Inclua o elemento "grandeza insuperável do poder de Deus" (Ef 1.19) e não passará despercebido. Temos buscado atrair as pessoas com métodos diversos, mas e se elas testemunhas em um exército cheio de alegria inexprimível, paz incompreensível e poder insuperável? Acaso não se mostrariam intrigadas?

Todos ficavam fascinados com a igreja primitiva. Quem não ficaria? Aqueles irmãos dividiam seus bens, estavam sempre alegres, desfrutavam paz para além do entendimento, tinham poder incalculável, não reclamavam de nada, mostravam-se gratos por tudo... Houve quem se juntasse a eles e quem os odiasse, mas poucos os ignoraram. A intrepidez com que compartilhavam o evangelho não dava chance para que fossem tratados com desdém. Essa é a nossa herança. Está em nosso DNA. Devemos parar de criar refúgios onde as pessoas se escondem e começar a produzir e enviar guerreiros destemidos. [p.145, 147-148]


EPÍLOGO – Na conclusão deste livro encontra-se a última palavra do autor. É uma mensagem principalmente aos pastores e líderes, para aprenderem a lidar com os orgulhosos e arrogantes.

Não foi fácil para mim escrever este livro, porque sei que, nas mãos erradas, ele poderá mais machucar que ajudar a igreja. É difícil falar objetivamente sobre problemas da igreja, pois há pessoas que gravitam em tomo de críticas. Em vez de usar este conteúdo como ferramenta de autoavaliação, elas vão usá-lo como munição. O orgulho corre solto na igreja, e o conhecimento tem um jeito peculiar de fazê-lo crescer (I Co 8.1). Posso ver gente arrogante marchando em direção aos gabinetes pastorais e acusando os líderes por todas as falhas de sua igreja. “Leia este livro do Francis Chan! Ele concorda comigo quanto à necessidade de mudança nesta igreja!" Esse comportamento é a última coisa de que a igreja precisa.

Muitos de vocês estão cheios de entusiasmo, ávidos por reforma. Desejam ver a igreja florescer e querem ser usados por Deus para que haja mudança. Mas, para alguns, Deus não fará isso. Vocês falharão terrivelmente por uma razão: falta de humildade. “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes" (Tg 4.6). Ao invés de ser instrumento de Deus para reavivar a igreja, você será usado pelo inimigo para destruí-la.

Ao escrever as páginas finais deste livro, senti-me impelido a me dirigir aos arrogantes, na esperança de evitar que as igrejas sofram eventuais divisões. Contudo, quando comecei a trabalhar nesse sentido, dei-me conta de que esse tipo de esforço raramente dá resultado. Já tentou convencer um orgulhoso de que ele é orgulhoso? Alguns de vocês são extremamente orgulhosos, mas não conseguem se dar conta disso porque... são extremamente orgulhosos. Vocês leem este parágrafo e meneiam a cabeça como se eu estivesse falando de outra pessoa. Então, sabendo que minha intenção não daria em nada, decidi escrever algumas palavras de encorajamento àqueles que têm de lidar com orgulhosos. Penso que podemos chamar este trecho de “Amando o arrogante: Guia do líder”. [p.175-176]

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INFERNO [Resenha]


BROWN, Dan. Inferno. São Paulo, SP: Arqueiro, 2013


SINOPSE - No coração da Itália, Robert Langdon, o professor de Simbologia de Harvard, é arrastado para um mundo angustiante centrado numa das obras literárias mais duradouras e misteriosas da história: O Inferno, de Dante Alighieri. Numa corrida contra o tempo, ele luta contra um adversário assustador e enfrenta um enigma engenhoso que o leva para uma clássica paisagem de arte, passagens secretas e ciência futurística. Tendo como pano de fundo poema de Dante, e mergulha numa caçada frenética para encontrar respostas e decidir em quem confiar, antes que o mundo que conhecemos seja destruído.


O AUTOR – Dan Brown nasceu em Exeter, nos Estados Unidos, no dia 22 de junho de 1964. Graduou-se na Phillips Exeter Academy. Ingressou na Amherst College, em 1982. Foi membro da Fraternidade Psi Upsilon, onde durante o primeiro ano fez uma viagem para a Europa para estudar História da Arte na Universidade de Sevilha, na Espanha. Dan Brown é casado com a pintora e historiadora de arte Blythe, que colabora nas pesquisas de seus livros, que misturam organizações secretas, cidades históricas, pinturas renascentistas, símbolos medievais, códigos ocultos e conspirações, numa narrativa cinematográfica que prende o leitor até o fim da trama.

Em um eterno confronto entre religião e ciência, Dan Brown dá algumas pistas da sua própria formação. Nascido em 1964, na cidade de Exeter, em Nova Hampshire, nos Estados Unidos, Brown tinha uma mãe pianista que tocava na igreja. Daí a convivência do escritor, ainda menino, com os dogmas religiosos. O pai era professor de matemática. Frequentemente, a família era obrigada a morar nos campi das escolas onde o patriarca lecionava, o que fazia com que o autor respirasse ciência.

Adulto, estudou literatura e história da arte, época em que se dedicou às obras de Leonardo da Vinci, figura central do romance O código da Vinci, seu primeiro best-seller de Brown e também o primeiro livro a ser transportado para a película. Com a fama alcançada, vieram em seguida Anjos e demônios, Fortaleza digital, Ponto de impacto — que, na verdade, foram escritos antes d’O código da Vinci —, O símbolo perdido, Inferno e, finalmente, Origem.

Dan Brown é especialista em liderar as listas de mais lidos, tendo conseguido a impressionante façanha de ter quatro livros ao mesmo tempo na lista dos mais vendidos do New York Times em 2004. Em versão física ou digital, os livros de Dan Brown são fáceis de achar e bastante acessíveis, saindo a uma média de preço de 20 reais. É pechincha ou não é?


INFERNO - Composto por Dante Alighieri no início do século XIV, o Inferno redefiniu a percepção medieval da danação. Antes dele, a ideia do mundo inferior nunca havia fascinado as massas de forma tão arrebatadora. Da noite para o dia, a obra de Dante cristalizou esse conceito abstrato em uma visão nítida e aterrorizante – visceral, palpável, inesquecível. Como era de esperar, após a publicação do poema, houve um enorme aumento no número de fiéis da Igreja Católica, graças aos pecadores aterrorizados que buscavam evitar a versão atualizada do Inferno imaginada por Dante.
Dan Brown, Inferno, pág. 65-6.


ROBERT LANGDON - Robert Langdon é um professor de simbologia da Universidade de Harvard, claustrofóbico e que possui um relógio edição especial de colecionador do Mickey. Já conheceu o mundo inteiro, inclusive, sobreviveu a uma explosão no Vaticano, uma perseguição religiosa em Paris e desvendou mistérios maçônicos que rondavam o capitólio nos EUA. Claro, me esqueci de falar que o professor é uma espécie de Indiana Jones com terno Tweed. E sim, ele está de volta em Inferno, a mais nova obra do escritor Dan Brown. [1]

Depois de acordar com amnésia em Florença, Itália, Langdon passa o tempo todo fugindo de assassinos ao lado da misteriosa e inteligentíssima dra. Sienna Brooks. Como consequência de sua amnésia, Langdon tem pesadelos com rios de sangue, pessoas mortas e uma mulher de cabelos prateados que lhe diz uma frase enigmática: “busca e encontrarás”. A sua única pista para desvendar o mistério sobre como foi parar na Itália, quem está o perseguindo e o porquê de sonhos tão incomuns é um pequeno projetor que mostra a tela de Botticelli Mappa dell’Inferno, que logo Langdon percebe ter sido adulterado.

Enquanto isso, uma agência secreta a bordo do navio Mendacium, especializada em ajudar seus clientes a realizar propósitos escusos, está prestes a revelar para o mundo os segredos obscuros de um cliente paranoico que colocou toda a humanidade em perigo e se suicidou.

Após quatro anos do último lançamento, Dan Brown mostra que não se esqueceu da fórmula do sucesso e emplaca mais um best-seller com característica única: A facilidade de fazer seu público imaginar os acontecimentos do livro como se fossem filmes. Parece que o escritor faz a história já pensando em ajudar no trabalho do roteirista. Inferno não é diferente.

Todos os elementos estão bem explícitos para aqueles que leram outras obras de Brown: A garota que acompanha o protagonista, o fanático que busca impedi-lo de ir adiante, a entidade grandiosa por trás dos acontecimentos, e muita aula de história, algo que não pode faltar. Neste caso, nos sentimos praticamente ao lado de Robert Langdon em Florença, e, ao contrário dos anteriores, tudo é muito bem explicado nos seus mínimos detalhes, o que facilita muito a leitura. Confesso que mesmo gostando da Divina Comédia, nunca tive interesse na cidade, mas o professor fez com que eu buscasse conhecer todas suas origens e obras por onde passa.

De volta ao enredo, esse poderia ser tão grandioso quanto as aulas de história, chega perto, é verdade, mas perde o ritmo em determinado momento e culmina num desfecho raso e pouco convincente. Apesar do tema de superpopulação ser extremamente atual e a preocupação das entidades mundiais de saúde ser real, a impressão é que Dan Brown se enrolou e não soube criar uma conclusão à altura. No mais, apesar daquela velha repetição do professor sempre desvendar os segredos no timing certo da situação, tudo é muito dinâmico e bem coerente, além do suspense tomar boa parte da trama, o que aumenta o interesse do público pelos motivos de Langdon ter sido chamado para esse tipo de investigação, tendo em vista que o mesmo é apenas um simbologista.

Mais uma vez, a literatura de entretenimento de Dan Brown funciona e cumpre bem seu papel com Inferno. Se está esperando algo inovador, esqueça, o escritor optou pela segurança de manter seus leitores fiéis. No entanto, não dá para considerar isso um ponto negativo, pois o resultado é um thriller com bons personagens, ação, reviravoltas e enredo que, mesmo decepcionando o leitor com o desfecho, ainda assim o faz querer descobri-lo seguindo os passos de Robert Langdon. Além disso, prepare-se para passar algumas horas lendo a obra com o Google aberto e conhecendo Dante Alighieri muito além d’A Divina Comedia.


O VILÃO - Também digno de nota é o fato do vilão morrer logo no início da história e enfatiza o fator “refazer as próprias pegadas” que Langdon precisa percorrer. E a jornada será mais uma vez um divertido passeio turístico, passando por lugares como o Duomo de Florença, a Basílica de São Marcos, e a Galleria degli Uffizi. Vemos museus, igrejas, pinturas, esculturas, obras arquitetônicas; todos inspirados ou relacionados ao Inferno de Dante (pra quem não sabe, uma das três partes da Divina Comédia). As descrições de locais e obras podem irritar os mais impacientes, pois quebram um pouco o ritmo. Mas além de enriquecerem a história, mostram a importância de Langdon. Ele não é um homem de ação, um Indiana Jones. Mesmo em boa forma, ele continua sendo um tiozão acadêmico almofadinha, então sua arma tem que ser mesmo seu vasto conhecimento.


QUAL O PROPOSITO DO LIVRO? - Um provável pergunta: há alguma polêmica, Brown tentou atacar alguma instituição dessa vez? Bem, sim e não. A exemplo do livro anterior, quando aliviou para a Maçonaria, aqui o autor alfineta de leve a OMS, mas reconhece sua importância. Os temas discutidos mais uma vez são científicos, e envolvem armas biológicas, superpopulação e o transhumanismo (filosofia que prega a obrigação moral de se usar ciência e tecnologia para superar as limitações humanas). Porém, diferente dos tediosos debates sobre noética em O Símbolo Perdido, aqui a discussão é muito mais relevante. E Brown acerta em cheio ao estabelecer que não há respostas fáceis, óbvias… e nem mesmo “vilões” no sentido puro da palavra. Apenas pontos vista, alguns mais radicais e perigosos, mas não totalmente desprovidos de lógica. E palmas também para o final, consideravelmente corajoso ao buscar a resolução do dilema apresentado. Para um autor tão acostumado a panos quentes, surpreendeu. [2]


FICÇÃO E REALIDADE - Já passou da hora de as nações mais populosas pensarem no impacto que as massas populacionais têm sobre o território e sobre as riquezas da nação. É um pensamento frio e matemático, mas não dá mais para tapar o sol com a peneira e deixar a população crescer indefinidamente. Não temos planeta para isso, em breve também não teremos recursos, pois os solos aráveis encontram-se saturados depois de tantas gerações de monoculturas, pela compactação causada por rebanhos cada vez mais numerosos, pela drenagem de corpos d'água para alimentar lavouras e pela espoliação dos recursos naturais. Controlar a natalidade é polêmico, pois isso mexe com o mais básico do ser humano, que não é apenas a reprodução, mas “O CRESCER E MULTIPLICAR”. Enquanto tem nações com crescimento negativo da população oferecendo incentivos para as pessoas terem filhos, em outros lugares as crianças ainda são mão-de-obra para famílias miseráveis. Infelizmente, as gestações são, na grande maioria, não planejadas. Esse papo de "que sempre cabe mais um" não pode mais ser o modelo usado para o planejamento familiar seja no Brasil, seja em qualquer outro lugar. [3]


INFERNO cumpre seu dever de casa e garante uma excelente leitura. Promove uma boa reflexão sobre assuntos atuais (envolvendo ciência e o futuro da humanidade), possui cenários magníficos e nos permite conhecer mais a fundo a vida e a obra de Dante Alighieri, assim como sua influência, que perdura até hoje. Se você gosta de thrillers de conspiração, esse livro é perfeito.

Para adquirir, é só clicar na imagem acima.

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[1] https://medium.com/@salasete/resenha-de-livro-inferno-dan-brown-5c095f388577
[2] http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-inferno-dan-brown/
[3] https://www.momentumsaga.com/2013/05/resenha-inferno-de-dan-brown.html


sábado, 24 de agosto de 2019

ALÉM DO PLANETA SILENCIOSO [Resenha]


LEWIS. C. S. Além do Planeta Silencioso. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2019. 224p.


SINOPSE - A Trilogia Cósmica criada por Lewis é resultado de uma aposta entre ele e seu grande amigo J.R.R. Tolkien. Segundo relatos, os temas foram decididos no cara ou coroa; Lewis ficou com viagem no espaço, e Tolkien com viagem no tempo. Tolkien acabou não cumprindo a aposta, enquanto Lewis não parou em um só livro. A famosa amizade entre os dois foi eternizada pela criação do personagem principal, Elwin Ransom, professor e filólogo, assim como Tolkien. Nessas aventuras de Dr. Ransom pelo espaço encontramos criaturas mágicas, um mundo de encantos, batalhas épicas e revelações de verdades transcendentes.


O AUTOR - Clive Staples Lewis nasceu na Irlanda, em 1898. Em 1954, tornou-se professor de Literatura Medieval e Renascentista em Cambridge. Foi ateu durante muitos anos e se converteu em 1929. Essa experiência o ajudou a entender não somente a indiferença como também a indisposição de aceitar a religião. Suas obras são conhecidas por milhões de pessoas no mundo inteiro. A abolição do homem, Cartas de um diabo a seu aprendiz, Cristianismo puro e simples e Os quatro amores são apenas alguns de seus bestsellers. Escreveu também livros de ficção científica, de crítica literária e para crianças. Entre estes estão As Crônicas de Nárnia, sucesso mundial absoluto. C. S. Lewis morreu em 1963, em sua casa em Oxford.


O LIVRO - Tudo inicia quando Ransom, um pacato professor universitário, filólogo e pesquisador das faculdades de Cambridge resolve dar uma de mochileiro e começa sua viagem a pé de Nadderby em direção a Sterk (ambas cidades do interior da Inglaterra). Com a noite chegando, Ransom precisa encontrar uma pousada e após andar cerca de três quilômetros, avista uma luz adiante. Ao se aproximar do local, percebe que encontrou um chalé, e para sua surpresa, uma mulher sai correndo apressadamente do local quase colidindo com ele, pois ela acreditava que Ransom fosse outra pessoa (Harry). Aflita, a mulher pede ajuda ao professor para ir com ela até a "Casa Alta", local onde Harry trabalha.

"As últimas gostas da chuva forte mal tinham acabado de cair quando o Caminhante guardou o mapa no bolso, ajustou sua mochila mais confortavelmente sobre seus ombros cansados, saiu de debaixo do abrigo de uma enorme castanheira e foi para o meio da estrada [...]" p. 7.

Ransom, acreditando que poderia encontrar um lugar para descansar e também ajudar a mulher, resolveu acompanha-lá. Quando chegou ao local indicado, viu que tudo estava trancado e resolveu transpor o portão. Sem quaisquer respostas, ele decidiu esperar para ver se havia alguma movimentação no local e para a sua surpresa, começa a ouvir alguns barulhos. Ele vê pessoas lutando ou disputando algum tipo de jogo e gritando muito. Ransom não queria qualquer tipo de aventura, mas decide verificar o que estava acontecendo naquele lugar e encontra Harry chorando engalfinhado com outros homens.

Entre esses homens está Devine, um ex-colega de Ransom que vê uma ótima oportunidade com o aparecimento do velho companheiro. Devine oferece abrigo para Ransom que está sem local para dormir, contudo esse convite é repleto de segundas intenções. Antes de entender o que estava acontecendo ao seu redor, o professor perde a consciência após ser drogado. Ao acordar, descobre que foi vítima de um sequestro arranjado por Devine e seu comparsa, um cientista chamado Weston. Agora ele se encontra dentro de uma nave espacial a dezenas de milhares de quilômetros da Terra em direção a um planeta chamado Malacandra (Marte) e ele mal sabe as profundas mudanças que essa viagem forçada vai causar em sua vida.


OPINIÃO - Em Além do Planeta Silencioso, C. S. Lewis lança mão de uma narrativa que mescla o lirismo com a retórica, o que me deixou bastante fascinado. Lewis nos apresenta uma história extremamente fluía, com uma escrita ágil e uma trama bem elaborada mesclando elementos fantásticos com um pouco daqueles encontrados na ficção científica como viagens pelo espaço e seres extraterrestres que diferem do ser humano na aparência, mas que apresentam inteligência e racionalidade. Lewis é certeiro ao elaborar esse universo maravilhoso, ou melhor, um planeta maravilhoso que é Malacandra, que apresenta uma flora e fauna diversificadas em suas mais diversas cores e formas, algo que não foge muito do planeta que conhecemos e vivemos chamado Terra.

Lewis leva ao leitor um livro que tem alguns momentos de suspense, bem como momentos dramáticos, mas que fica caracterizado por apresentar diversos diálogos filosóficos acerca da natureza humana e sobre Deus, mas também sobre quem é o verdadeiro inimigo da humanidade. O autor trabalha diversos temas importantes e nos leva a refletir sobre as nossas escolhas, condutas e reações, bem como sobre o lado egoísta e ganancioso que o ser humano por vezes apresenta. Lewis também tece duras críticas ao cientificismo, uma concepção filosófica que afirmava a superioridade da ciência sobre as outras formas de compreensão humana da realidade.

Além do Planeta Silencioso é considerado uma das obras-primas da literatura inglesa e ainda que tenha esse título ou classificação, talvez possa não conquistar ou encantar em um primeiro momento os leitores que ficaram fascinados com "As Crônicas de Nárnia", tendo em vista que esse último é caracterizado pela aventura e fábulas, mas também que tem por vezes a forte e cativante presença do leão Aslam. Contudo, a Trilogia Cósmica nos oferece outra perspectiva sobre a escrita e imaginação frutífera do renomado britânico que ainda faz questionamentos sobre a moral e ética, algo que é marca registrada em seus livros.

Eu simplesmente recomendo essa leitura, pois Lewis nos apresenta uma história envolvente, repleta de revelações e descobertas, mas principalmente contendo diversas lições que muitos poderão carregar para suas vidas. Além do Planeta Silencioso foi publicado originalmente em 1938, mas acabou se tornando um livro atemporal que trata de assuntos ainda considerados atuais e, só por isso, já merece a atenção dos leitores e leitoras que gostam de uma ótima literatura.

Por fim, quero destacar o belo trabalho feito pela HarperCollins Brasil, que nos presenteia com uma edição, além de muito bonita, em capa dura, com folhas amareladas e ótima diagramação, além de alguns outros belos detalhas, o que só reforça ainda mais o comprometimento da HarperCollins com seus exigentes leitores, fazendo com que Além do Planeta Silencioso valha cada centavo investido.

Adquira o livro, clicando na imagem acima.


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Resenha publicada originalmente no blog
https://www.sagaliteraria.com.br/2019/04/resenha-632-alem-do-planeta-silencioso.html

O CORCEL NEGRO [Resenha]


FARLEY, Walter. O Corcel Negro. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2006.


Olá caros leitores. Encontrado na mesma biblioteca escolar que o incrível “Os meninos da Rua Paulo” (tema da resenha anterior a essa), “O corcel Negro” me cativa por um motivo especial. Quando ingressei no universo da leitura (em idos distantes de 2004) este havia sido um dos primeiros volumes que eu li, juntamente com “O mágico de Oz” e “O velho e o Mar”. Todavia, passada a juventude e já eu tendo entrado na idade adulta, muito pouco ou quase nada eu me recordava da trama. Incentivado pelas lembranças daquele tempo, engatei a releitura deste simpático livro. Vamos lá ?

O jovem rapaz nova-iorquino Alexander "Alec" Ramsey está a bordo do navio cargueiro a vapor Drake, em retorno da Índia após ter aproveitado as férias ao lado do seu tio Ralph. Durante uma das paradas da embarcação em um porto da Arábia, ele se depara com a marcante cena do embarque de um corcel negro selvagem. Ás voltas com o sentimento instantâneo de simpatia para com o animal, Alec passa a conviver cada vez mais tempo com o Negro (nome que ele dá ao cavalo). E essa convivência será pontuada por uma série de aventuras que nos conduzem através deste instigante livro.

Walter Farley (1916-1989), desde jovem ficou conhecido por dois fatores: a sua confessa paixão por cavalos e os livros que escreveu sobre eles. Nascido na Flórida, deveu ao seu tio a paixão por cavalos, que desde cedo lhe ensinou uma série de métodos para domá-los e as desvantagens de cada um deles. Começou a escrever “O Corcel Negro” quando ainda estava no ensino médio, tendo-o publicado em 1941, já na universidade, aos 25 anos de idade. O livro fez sucesso, encorajando Farley a prosseguir a sua carreira literária, na qual publicou mais de 30 outros volumes, a maioria sobre as aventuras do Negro e de outros corcéis. O livro de estréia de Walter Farley rendeu uma bela adaptação cinematográfica em 1979.

Farley é econômico no que diz respeito ao uso dos personagens, e não se pode dizer que há a presença de vilões no sentido pleno do qual estamos habituados a conhecer. Alec Ramsey é um rapaz na casa dos seus 11, 13 anos, inquieto, com gosto por aventuras, destemido e com uma confessa paixão por cavalos; Ralph é o tio deste que atua como missionário na Índia. Além deles temos o capitão do Drake, o tratador de "Negro" após o seu embarque na Arábia; Sr. E Sra Ramsey, os pais atenciosos e carinhosos de Alec; Henry Dailey, treinador de cavalos, outrora um jóquei célebre, agora uma lenda aposentada e grande amigo de Alec, e claro, não poderia me esquecer, o “Negro”, grande corcel árabe mestiço, protagonista do livro.

Narrado em terceira pessoa, vemos aqui uma ambientação que, embora diversa em suas locações, não é lá muito profunda em termos de tensionamento das relações psicológicas que poderiam ser tratadas ao longo da trama. As exceções ficam por conta da bela construção do personagem de Alec e das relações deste com o meio, bem como a sua encantadora amizade com Negro. Todavia, devemos levar em consideração os próprios objetivos do livro: agilidade, precisão e ritmo constante em uma trama voltada para crianças e jovens. Os três primeiros aspectos podem muito bem serem considerados vestígios de uma herança bastante hemingwayniana na ficção: o dizer muito escrevendo pouco. Farley opta por atravessar meio mundo para contar a história: passa pela Índia, ambienta o primeiro terço da história no cargueiro Drake, segue para a Arábia, Mar Mediterrâneo, Rio de Janeiro, Nova York e Chicago.

Seguindo a linha da agilidade, precisão e economia na escrita, o enredo do livro esta dividido em duas grandes partes. Na primeira, somos ambientados aos personagens principais da trama e ao processo de amizade entre o corcel e o menino. Na segunda, o autor nos encaminha para o final, em que ocorrerá a tão esperada corrida entre o cavalo de Alec e os famosos Cyclone e Sun Raider. O tempo, levando-se em conta tais fatores, é primordialmente cronológico, com a trama se desenrolando ao longo de pouco mais de um ano. Para os mais atentos, há nas entrelinhas a referência do nome de Alec a Alexandre, o Grande, soberano da Macedônia que estendeu seu domínio até o que hoje é a Índia, além de ser conhecido pelo dom em domar cavalos. Entre eles está o célebre Bucéfalo, corcel negro tido como indomável comprado por Felipe II, que, rezam as lendas, foi adestrado de maneira prodigiosa, após breve relutância paterna, pelo então adolescente príncipe Alexandre, gerando daí o mais célebre caso de cumplicidade homem/cavalo da História.

Revisitar este clássico infanto-juvenil me trouxe uma série de boas lembranças, embora eu tenha que fazer algumas considerações quanto ao livro. A despeito de sua qualidade no que diz respeito a condução hábil do enredo (linear, embora isso se justifique, auxiliado pelo formidável ritmo) a falta de complexidade psicológica de diversos personagens me incomodou bastante. Os pais de Alec não oferecem a mínima resistência ao fato do filho ter retornado da Arábia para Nova York com um corcel no limiar entre o domado e o selvagem. Os antagonistas, quando muito, aparecem de relance no final para troçar do rapaz e fica só por isso, além claro de que nós sabemos muito bem quem vai vencer a tal corrida, nem sendo preciso eu ter o trabalho de dar spoiler. Todavia, eu relevo tais falhas justamente pelo fato de ser o primeiro livro do autor (que, como disse, escreveu mais uma carrada depois desse). Fora isso, é um entretenimento confortável, uma leitura para todas as idades e uma obra que eu recomendo.

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Resenha escrita por Lucas Stefano e publicada originalmente no blog

EXEGESE? PARA QUÊ? [Resenha]


FEE, Gordon D. Exegese? Para quê? Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2019.


O AUTOR – Gordon D. Fee, nascido em 1934 em Ashland, Oregon) é um estudioso do Novo Testamento, após ensinar brevemente no Wheaton College em Illinois, ensinou Gordon-Conwell Theological Seminary em South Hamilton, Massachusetts até 1986. Ele em seguida foi para o Regent College em Vancouver, Canadá onde é agora Professor Emérito. Ele também serviu no quadro consultivo do Instituto Internacional para Estudos Cristãos. Fee recebeu sua graduação de B.A. e M.A. do Seattle Pacific University e seu Ph.D. da University of Southern California. Atualmente exerce a função de editor da série New International Commentary, sendo ele próprio autor de vários comentários do Novo Testamento. Além de sua notável atuação como um erudito da Bíblia, também é reconhecido como professor e orador brilhante.


O LIVRO – Nos últimos 25 anos, Gordon D. Fee produziu um fluxo constante de artigos acadêmicos que tratam de espinhosos assuntos do texto crítico, delicados temas exegéticos e profundas questões teológicas. Muitos desses documentos acadêmicos fizeram contribuições importantes para o campo de estudo do Novo Testamento, mas estão espalhados em ampla gama de publicações. Agora, neste livro, 21 dos melhores e mais curtos trabalhos de Fee estão convenientemente disponíveis em um único volume.

Em muitos aspectos, a coleção reflete a jornada de Fee como estudioso bíblico. O livro começa com o primeiro trabalho de Fee na crítica textual, volta-se para estudos de natureza mais estritamente exegética e conclui com estudos de intenção mais teológica. No decorrer dos estudos, Fee explora extensa diversidade de temas para leitores e intérpretes do Novo Testamento, entre eles, Paulo como um dos primeiros pensadores trinitários, a liberdade e obediência de acordo com Paulo, a cristologia e pneumatologia do Novo Testamento e muito mais. São estudos primorosos que demonstram o domínio que Fee tem na tarefa exegética e que ilustram o objetivo da exegese a serviço da comunidade cristã.

Exegese? Para quê? Fornecerá a professores, pastores e estudantes da Bíblia um banquete copioso da erudição do Novo Testamento.

O livro contém, além do prefácio, 21 capítulos, dividido em três seções: Estudos Textuais, Estudos Exegéticos e Estudos Teológicos. Logo abaixo você tem o SUMÁRIO e um resumo do prefácio, escrito pelo próprio autor do livro. Coloquei ainda dois retalhos do texto que exalta a importância da exegese. O nosso propósito é fomentar no leitor o desejo para a compra ou não do livro completo e a nossa proposta é se ter a estrutura do sumário e citações pontuais do livro. Adquira o livro clicando na imagem acima.


SUMÁRIO

ESTUDOS TEXTUAIS
1. Só uma Coisa É Necessária? Lucas 10.42
2. Sobre a Inautenticidade de João 5.3b,4
3. Sobre o Texto e Sentido de João 20.30,31
4. Observações Textual-Exegéticas sobre 1 Coríntios 1.2, 2.1 e 2.10
5. Sobre o Texto e Comentário de 1 e 2 Tessalonicenses

ESTUDOS EXEGÉTICOS
6. Uma Vez Mais: João 7.37-39
7. 1 Coríntios 7.1 na NIV: New International Version
8. 2 Coríntios 1.15: A Parousia Apostólica e a Cronologia de Paulo em Corinto
9. Uma Interpretação de 1 Coríntios 8—10
10. Os Alimentos Oferecidos aos ídolos: 2 Coríntios 6.14—7.1
11. A Liberdade e a Vida de Obediência: Gálatas 5.1—6.18
12. Filipenses 2.5-11: Hino ou Exaltada Prosa de Paulo?

ESTUDOS TEOLÓGICOS
13. Rumo a uma Teologia de 1 Coríntios
14. A Cristologia e Pneumatologia em Romanos 8.9-11 e em outros Lugares: Reflexões sobre Paulo como Trinitário
15. "Outro Evangelho que não Abraçastes": 2 Coríntios 11.4 e a Teologia de 1 e 2 Coríntios
16. Reflexões Exegéticas e Teológicas sobre Efésios 4.30 e a Pneumatologia Paulina
17. Exegese? Para quê? Reflexões sobre Exegese e Espiritualidade em Filipenses 4.10-20
18. Pneuma e Escatologia em 2 Tessalonicenses 2.1,2: Uma Proposta sobre "Pôr os Profetas à Prova" e o Propósito de 2 Tessalonicenses
19. Rumo a uma Teologia de 2 Timóteo —Segundo a Perspectiva Paulina
20. Paulo e a Trindade: A Experiência de Cristo e do Espírito para o Entendimento de Paulo sobre Deus
21. A Cristologia da Sabedoria nas Cartas de Paulo: Uma Visão Dissidente


PREFÁCIO - Congratulo-me com a oportunidade de reunir esta coletânea de trabalhos acadêmicos que constaram em variadas publicações durante um período de vinte e cinco anos e disponibilizá-los em um só volume. Espero que o livro ofereça acesso conveniente a estudos que, de outra forma, são mais difíceis de encontrar, visto que em muitos casos surgiram originalmente em Festschriften[1] em homenagem a amigos acadêmicos, ou em ensaios de seminário da Sociedade de Literatura Bíblica [na sigla em inglês, SBL] para determinado ano, ambos os quais, por sua natureza, tiveram publicação muito limitada. Por outro lado, aqueles que leram as duas coletâneas anteriores de trabalhos acadêmicos [Ouvindo ao Espírito no Texto], Eerdmans, 2000, e [Evangelho e Espírito: Questões na Hermenêutica do Novo Testamento], Hendrickson, 1991]) podem ficar um tanto quanto decepcionados por haver menos "aplicação" e mais hermenêutica pura.

Esta coletânea reflete meus interesses como estudioso do Novo Testamento, incluindo a crítica textual. Mas todos, mesmo os estudos textuais, concentram-se em meu interesse primário e permanente de entender o texto bíblico e de assimilar a teologia inerente aos textos. E tudo para o bem da comunidade cristã. Os estudos estão em ordem canônica, exceto a seção final dos estudos teológicos, que combina a ordem canônica com a ordem mais cronológica. O leitor interessado pode querer começar com o capítulo 17, do qual extraí o título, já que é uma palestra publicada que começa com uma espécie de nota autobiográfica que dá sentido ao resto.

Por outro lado, não alimento a ilusão de que muitos irão ler o livro todo, visto que é algo que raramente acontece com este tipo de estudos coletados. Mas considerando que o li completamente (como revisor), desejo fazer algumas observações sobre a coletânea como um todo.

Primeiro, embora o primeiro desses estudos remonte a 1976 (cap. 10), resisti à tentação de atualizá-los. Não mudei nada, porque a razão preliminar para a publicação é disponibilizar os estudos convenientemente em um único volume, e as pessoas que os consultarão não estão interessadas em minha interação comum a posterior resposta aos ensaios, mas com sua expressão original. Exceto por referência cruzada ocasional colocada entre parêntesis nos capítulos e correções de erros de digitação, optamos por deixá-los como eram originalmente (embora possamos ter inserido mais erros de digitação, visto que o livro foi produzido pela digitalização dos originais e recomposição segundo o estilo da editora).

Segundo, a ordem dos ensaios reflete, em parte, minha jornada como estudioso bíblico, começando com trabalhos sobre crítica textual, antes de dedicar-me a trabalhos mais estritamente exegéticos, e terminando com estudos de intenção mais teológica.

Terceiro, na última seção dos ensaios encontramos repetições. De certa forma, são inevitáveis, uma vez que meus interesses nos assuntos tenderam, na década passada, a centralizar-se na cristologia e pneumatologia, e sobretudo na questão de saber se é ou não apropriado usar a linguagem trinitária em relação à teologia de Paulo. Mas a repetição também ocorre nos estudos anteriores, pelo que preciso dar uma explicação.

A parte mais antiga da coletânea é o estudo da incômoda passagem de 2 Coríntios 6.14-7.1. O estudo surgiu quando eu lecionava um curso de grego na Wheaton College baseado em 2 Coríntios, ao mesmo tempo em que eu fazia um trabalho sobre 1 Coríntios para outra classe. Até então, eu já ensinara 1 Coríntios com frequência o bastante para chegar à conclusão de que 1 Coríntios 8-10 não trata de alimentos oferecidos aos ídolos e vendidos no mercado, mas de comer esses alimentos nos recintos do templo. O que me impressionou foram as ligações verbais entre a passagem de 2 Coríntios e a linguagem em 1 Coríntios 10.14-22. Passei meses pesquisando o assunto e publicando as conclusões (cap. 10 deste livro). Tempos depois, quando me solicitaram para dar uma palestra no Seminário Teológico Batista do Sudoeste, retrabalhei a parte de 1 Coríntios do documento que se tornou o conteúdo do ensaio que consta como capítulo 9. Minha razão para publicar isso separadamente foi que percebi que minha preocupação com a hipótese de "alimentos oferecidos aos ídolos" em 1 Coríntios passara despercebida, porque fora incorporada no estudo de um notório dilema que há em 2 Coríntios.

Quarto, notemos que estudos como esses costumam preceder a escrita de grandes livros ou comentários. Na verdade, em dias antigos (antes que a publicação eletrônica fizesse tantas mudanças para autores e editores), eu costumava dizer aos alunos que prestassem atenção a um aparecimento inesperado de artigos escritos por certo estudioso sobre determinado tópico, porque era indicação de futuros livros (e.g., os apontamentos de estudo feitos por C. E. B. Cranfield sobre Roma nos, que foram o prenuncio do seu grande comentário). A razão para isso é que dava ao estudioso a oportunidade de explorar as questões com mais profundidade do que permitiriam as constrições de um livro ou comentário. É o que também ocorre nos estudos neste livro (caps. 5, 7, 9, 11, 12 e 21).

Mas esta coletânea também reflete interesses que vão em sentido inverso. Em alguns dos trabalhos exegéticos que entraram na publicação de “A Presença de Deus que Capacita: O Espírito Santo nas Cartas de Paulo”, Hendrickson, 1994, manuscrito concluído em fins de 1992), pensei que estava abrindo novos caminhos em vários lugares. Nesse entretempo, recebi pedidos para contribuir para Festschríften em homenagem de amigos e colegas do mundo acadêmico. Então, aproveitei a oportunidade para reconfigurar parte dessa exegese e publicá-la de forma nova e expandida com vistas a alcançar um público mais amplo. Estudos desse tipo aparecem como os capítulos 13 a 16 e 18.


RETALHOS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA EXEGESE


SOBRE O SIGNIFICADO DA ESPIRITUALIDADE - No Novo Testamento, a Espiritualidade é definida em termos do Espírito de Deus. A pessoa é Espiritual na medida em que vive e anda pelo Espírito. Na Escritura, a palavra não tem outro significado e nenhuma outra medida. Quando Paulo diz que "a lei é espiritual" (Rm 7.14), ele quer dizer que a lei pertence à esfera do Espírito (inspirada pelo Espírito como é), não à esfera da carne. Quando diz aos crentes coríntios: "Se alguém cuida ser [...] espiritual" (1 Co 14.37), quer dizer:

"Se algum de vós pensa em si mesmo que é uma pessoa Espiritual, uma pessoa que vive a vida do Espírito". Do mesmo modo, quando diz aos crentes gálatas: "Vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado" (Gl 6.1), ele não está se referindo a um grupo especial ou elitista na igreja, mas ao restante da comunidade dos crentes, que ambos começaram a vida no Espírito e terminaram pelo mesmo Espírito que produz o devido fruto em suas vidas.

A existência cristã no Novo Testamento é de raiz trinitária. No começo e no fim de todas as coisas está o Deus eterno, a quem judeus e cristãos referem-se repetidamente como o Deus vivo. O propósito de Deus ao criar criaturas como nós, segundo a sua imagem, era para relacionamento: para que vivêssemos em comunhão e para a glória do Deus vivo, como aqueles que trazem a semelhança de Deus e como aqueles que realizam os propósitos de Deus na terra. Mesmo antes da queda, dizem-nos, o propósito de Deus era remir os caídos de modo a remodelar a visão difusa que tinham de Deus e restaurá-los à comunhão de onde caíram em sua rebelião. Deus o realizou, dizem-nos, quando Ele mesmo veio entre nós na pessoa de seu Filho, que, em certo ponto da história humana, efetuou nossa redenção e reconciliação com o Deus vivo, pela morte humilhante e ressurreição gloriosa. Mas Deus não nos deixou sozinhos para avançarmos. Ele se propôs a nos ajudar, e essa é a razão para Deus vira nós e entre nós pelo Espírito Santo.

O propósito de Deus em nossa vida é "Espiritual" neste sentido: para que nós, remidos pela morte de Cristo, sejamos capacitados pelo seu Espírito "tanto [para] querer como [para] efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2.13). A verdadeira Espiritualidade é nada mais nada menos do que a vida pelo Espírito. "Tendo sido vivificados pelo Espirito", diz Paulo aos crentes gálatas, "comportemo-nos de maneira que esteja de acordo com o Espírito" (cf. Gl 5.25).

Daí o objetivo da exegese: produzirem nossa vida e na vida dos outros a verdadeira Espiritualidade, na qual o povo de Deus vive em comunhão com o Deus vivo e eterno e, portanto, em conformidade com os propósitos de Deus no mundo. É erro crasso se pensamos que fazemos exegese, quando não cuidamos da Espiritualidade intencional do texto, seja ela teológica, doxológica, relacionai ou comportamental. [p.310-311]


REFLEXÕES FINAIS SOBRE ESPIRITUALIDADE - Nossa exegese deve, neste caso, levar-nos a envolver-nos na Espiritualidade de Paulo. Precisamos fazer uma pausa e refletir, para sentir a maravilha e admiração do momento. Para Paulo, não são meras palavras. São o âmago das coisas para ele. A realidade Espiritual do texto ajuda-nos a mostrar o sentido de sua paixão por Cristo e pelo povo de Cristo. Temos aqui alguém que está em comunhão constante com Deus na oração, que conhece o Deus eterno que habita nas insondáveis riquezas da graça e que sabe que Deus dispersa as riquezas, que são dEle em glória, sobre o povo por meio de Cristo Jesus.

Tornamos nossa exegese frutífera quando nos sentamos com indizível admiração na presença de Deus, contemplamos suas riquezas, oramos para que sejam derramadas sobre nossos familiares e amigos, e permanecemos na contemplação o suficiente para que nossa única resposta seja a doxologia: "A nosso Deus e Pai seja dada glória para todo o sempre. Amém!" (Fp 4.20). Até que tenhamos feito isso, arriscaria dizer, fizemos nossa exegese apenas hesitantemente. Somos meros historiadores. Para ser verdadeiros exegetas, temos de ouvir as palavras com o coração, banhar-nos com a glória de Deus, comover-nos com a sensação da avassaladora admiração pelas riquezas de Deus em glória, refletir sobre a incrível maravilha que essas riquezas são nossas em Cristo Jesus e adorar o Deus vivo cantando louvores à sua glória. Então, teremos em certa medida participado da intenção de Paulo para com os crentes filipenses, o que, eu diria, é o que a nossa exegese tem de ser. [p.318-319]

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[1] N. do T.: Em alemão, no original. Festschrift, "livro de homenagem" ou "livro de celebração". No mundo acadêmico, o termo refere-se a um conjunto de ensaios ou artigos publicados na forma de livro que homenageia uma pessoa influente ou reconhecida. O livro é publicado enquanto o homenageado está vivo.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

MEMÓRIAS DO SUBSOLO [Resenha]


FIODOR, Dostoiévski. Memórias do Subsolo. São Paulo, SP: Editora 34, 2000.


SINOPSE - Escrito na cabeceira de morte de sua primeira mulher, numa situação de aguda necessidade financeira, “Memórias do subsolo” condensa um dos momentos mais importantes da literatura ocidental, reunindo vários temas que reaparecerão mais tarde nos últimos grandes romances do escritor russo.

Aqui ressoa a voz do homem do subsolo, o personagem-narrador que, à força de paradoxos, investe ferozmente contra tudo e contra todos - contra a ciência e contra a superstição, contra o progresso e contra o atraso, contra a razão e a desrazão; mas investe, acima de tudo, contra o solo da própria consciência, criando uma narrativa ímpar, de altíssima voltagem poética, que se afirma e se nega a si mesma sucessivamente.

Não é por acaso que muitos acabaram vendo neste livro uma prefiguração das ideias de Freud acerca do inconsciente. O próprio Nietzsche, ao lê-lo pela primeira vez, escreveu a um amigo: "A voz do sangue (como denominá-lo de outro modo?) fez-se ouvir de imediato e minha alegria não teve limites".


ENREDO [1] - Considerada uma das primeiras obras existencialistas do mundo, Memórias do subsolo apresenta um compêndio das memórias de um empregado civil aposentado que vive em São Petersburgo. O pequeno romance, mais caracterizado como uma novela, é dividido em duas partes. A primeira intitulada "O Subterrâneo", contendo 11 capítulos; a segunda, "A Propósito da Neve Derretida", possui 10 capítulos.

Este personagem, que não menciona seu nome em nenhum momento, encena na primeira parte do romance um grande monólogo com a intenção de "comover" de alguma forma seu leitor. O subsolo é uma analogia ao subconsciente humano. É no subsolo que se encontram pensamentos e ideias que queremos esconder de todos, até de nós mesmos, e são esses pensamentos que comandam nossos atos.

Na segunda parte há três episódios que relatam de uma forma concreta como o nosso anti-herói é encurralado socialmente pelos discursos e ações de uma sociedade dominada pelo despotismo.

O texto é um exemplo do chamado “fluxo de consciência”, recurso literário que transcreve o complexo processo de pensamento de um personagem, com o raciocínio lógico entremeado com impressões pessoais momentâneas e exibindo os processos de associação de ideias.


O CONTEXTO [2] - Publicado em 1864, Memórias do Subsolo é um relato do “homem do subsolo”, um personagem-narrador que investe ferozmente contra tudo e contra todos. Em um primeiro momento, lemos o monólogo do narrador destilando seu ódio ao pensamento racionalista que começava a influir sobre a Rússia; na segunda parte do livro, o escárnio dá lugar a uma narrativa muito comum em Dostoiévski, a busca pela redenção por meio da culpa.

A novela abre a fase do escritor rumo à sua maturidade. Conforme destacado na orelha do livro, escrita pelo crítico Manuel da Costa Pinto, nesse livro “o escritor materializa sua visão abissal dos conflitos morais, psicológicos e sociais, que se interpenetram caoticamente de modo a destacar, como única medida do mundo, o desejo humano de salvação diante da morte”. No entanto, nesse caminho rumo à maturidade, dois pontos são de extremo interesse.

O primeiro deles é sua reclusão. Em 1849, Fiódor Dostoiévski foi preso por participar do Círculo de Petrachévski, um grupo de intelectuais que discutia a política russa. Junto do escritor, quinze outros foram condenados à pena de morte. No momento da execução, em 22 de dezembro, vendados e aguardando o fuzilamento, os presos ouviram a leitura do perdão do tsar. Ao invés de morrer, Dostoiévski é condenado a cumprir quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria. Nessa época ele já tinha escrito Gente Pobre e O Duplo, em 1846, um sucesso e um fracasso de vendas, respectivamente.

O segundo ponto é um pouco mais complexo e está ligado ao posicionamento ideológico e filosófico do escritor. Quando a Rússia perde a Guerra da Criméia e assina o tratado de Paris, em 1856, o país entra numa grande crise econômica. Como saída para solucionar esse problema, o tsar se vê obrigado a fazer uma série de propostas trabalhistas, arquitetônicas, econômicas e culturais para tentar modernizar a Rússia, principalmente do ponto de vista intelectual e geográfico.

Dentre as medidas tomadas, são famosas a proibição da mão de obra servil, que inseriu a Rússia no sistema econômico europeu, e a Urbanização de São Petersburgo e Moscou, que possibilitou o florescimento da indústria e atraiu os camponeses sem emprego (além disso, as outras reformas, como a trabalhista, a do alistamento militar e a do sistema judiciário, são tratadas em outras obras de Dostoiévski).

Como a França e a Inglaterra foram os grandes patrocinadores do processo de modernização russa, as influências culturais, como o Marxismo e o Ateísmo, germinaram e dividiram a intelectualidade: de um lado, o grupo de revolucionários que abraçava as mudanças culturais; do outro, intelectuais conservadores que via uma descaracterização da natureza do povo russo nesse processo.

Dostoiévski fazia parte do grupo dos conservadores, defendia o movimento pótchvienitchestvo. Com raiz na palavra potchva, que significa solo, a corrente exaltava as qualidades do camponês russo e tentava politizá-lo. Além disso, o escritor acreditava que o crescente ateísmo não se adequava ao espírito russo, naturalmente devoto e religioso. É daí que surge um elemento tão comum em suas obras a partir de Memórias do Subsolo: o conflito entre a razão, que vinha importada da Europa, e a fé cristã, supostamente natural do povo russo.

A partir daí, podemos destacar a ambiguidade presente no homem do subsolo. Ao mesmo tempo em que está ligado à aristocracia russa patriarcal deslocada do cenário agrário devido aos impactos do capitalismo, o personagem-narrador traz um acúmulo de coisas negativas, serve como porta-voz das críticas de Dostoiévski ao racionalismo, à mentalidade positivista e à porção anti-humanista presente no desenvolvimento burguês da Rússia.

A novela também tem uma forte carga filosófica. Segundo Boris Schnaiderman, Memórias do Subsolo também apresenta o conteúdo filosófico que permeia a produção de Dostoiévski. Devido à dramaticidade, à carga emocional e ao importante papel da introspecção, o pesquisador norte-americano W. Kaufman considerou Memórias do Subsolo como “a melhor introdução do existencialismo”.

Inspirando-se em Hegel, Dostoiévski representa a “consciência cindida” de quem começava a ingressar no sistema capitalista. Como afirmado ao longo de toda a narrativa, o personagem infame está ciente de seu caráter desprezível. A cena do diálogo com Lisa, uma prostituta que encontra num bordel clandestino, é o ápice do escárnio retratado. “A cena toda é uma representação assombrosa da dissonância entre o ético e o estético: a bela pregação [literária, conforme dito pelo narrador-personagem] sai dos lábios de um pregador que não tem nada de belo”, afirma Boris Schnaider em seu texto “Dostoiévski: a ficção como pensamento”, citando o crítico R. G. Nazirov.

Os textos literários, jornalísticos e filosóficos se confundiram ao longo de toda a obra de Dostoiévski. Nesse livro, é possível notar traços de influência do escritor na prosa moderna que fez com que Otto Maria Carpeaux o definisse como o mais poderoso escritor do século XIX ou XX.

Logo no começo, é possível notar a instituição do subterrâneo como um lugar metafórico para os conflitos internos. Além disso, como afirma Schnaiderman na introdução, “aquela subjetividade agressiva e torturada do narrador-personagem, o seu discurso alucinado, sua veemência desordenada, o fluxo contínuo de sua fala, que parece estar sempre transbordando, pode ser ouvido por trás da obra de muitos escritores da modernidade”.


SOBRE O AUTOR [3] - Dostoiévski, sem sombra de dúvidas, é considerado um dos maiores romancistas não só do século XIX, mas até hoje no século XXI sua obra é atual pela forma como explora a psicologia humana. Seus personagens não são feitos de papel, são feitos de sangue. Nietzsche, por exemplo, (e aqui cito uma passagem tirada do belíssimo prefácio de Boris Schnaiderman, tradutor do livro) escreveu a Overbeck, seu amigo, uma carta sobre as impressões que lhe causou “Memórias do subsolo” e disse: “(...) A voz do sangue (como denominá-la de outro modo?) fez-se ouvir de imediato e minha alegria não teve limites”.

Dostoiévski é um condenado a imortalidade. Philip Roth em toda a sua obra, Scorcese em seu filme Taxi Drive, Wood Allen em “Crimes e pecados”, Nelson Rodrigues e seus personagens malévolos e muitos outros, que não vêm à memória neste momento, não teriam sido os mesmos sem a existência deste gênio incontrolável, instável, esse Hamlet moderno e rancoroso, habitante de Saint Petersburgo: Dostoievski. Um escritor que dispensa grandes apresentações.

Otto Maria Carpeaux (retirado também do prefácio de Boris Schnaiderman) disse o seguinte a respeito de Dostoiévski: “Existem poucos escritores cuja obra tenha sido tão tenazmente mal compreendida como a de Dostoievski. Dostoiévski é, senão o maior, decerto o mais poderoso escritor do século XIX; ou do século XX, pois sua obra constitui o marco entre dois séculos de literatura. Literariamente, tudo o que é pré-dostoiévskiano é pré-histórico; ninguém escapa a sua influência subjugadora, nem sequer os mais contrários”.

“Memórias do Subsolo” é o aquecimento para o colosso que veio a seguir, “Crime e Castigo”. E pasmem, senhores leitores aqui deste espaço, para essa minha vergonha que revelarei a todos vocês, essa autocrítica fruto de uma negligência, imprevidência e descuido. Ainda não li “Crime e castigo”.


SOBRE O LIVRO - Vamos à história? “Memórias do subsolo” é composto de duas partes. A primeira parte é uma confissão, um monólogo que revela para o grande público seus pensamentos mais íntimos. Ele ridiculariza, ri de si mesmo, e provoca a todos a reagirem contra ele. Pois bem, o autor fictício de “Memórias do subsolo”, que escreve na primeira pessoa, afirma logo de cara que ele tem as características do anti-herói.

“Sou um homem doente... Um home mau. Um homem desagradável.”

Escrito por um aposentado burocrata do governo de quarenta anos, vivendo com um servo a quem despreza, aponta suas flechas para uma plateia imaginária, a que ele se refere como “você” ou “meus senhores”. Alternadamente ele insulta e se humilha diante deles, (deles quem?). Das ideias ocidentais do progresso, das ideologias do egoísmo racional, do utilitarismo, dos pensadores alemães, como Kant “do bem e do belo”, dos socialistas de sua época, em outras palavras, de todas as suas influências.

Quando o narrador diz que dois mais dois é igual a quatro, este é um fato matemático, mas os homens não funcionam dessa forma, ou seja, matematicamente. A parte racional do homem civilizado é apenas uma maquiagem, ou seja, o homem é composto de ambos: do racional (dois mais dois são quatro) e do irracional. Se os homens funcionassem de forma puramente racional, eles seriam previsíveis. E o homem é um ser imprevisível.

“O que suaviza pois em nossa civilização? A civilização elabora no homem apenas a multiplicidade de sensações e... absolutamente nada mais. E através do desenvolvimento dessa multiplicidade, o homem talvez chegue ao ponto de encontrar prazer em derramar sangue.”

“... Pelo menos, se o homem não se tornou mais sanguinário com a civilização, ficou com certeza sanguinário de modo pior, mais ignóbil que antes. Outrora, ele via justiça no massacre e destruía, de consciência tranquila, quem julgasse necessário; hoje embora consideremos o derramamento de sangue uma ignomínia, assim mesmo ocupamo-nos com essa ignomínia, e ainda mais que outrora” (pgs. 36 e 37)

O narrador revela-se incapaz de tomar decisões ou agir com confiança. Ele explica que essa incapacidade é devido à sua “hiperconsciência”, ou seja, ao seu grau intenso de consciência, capaz de imaginar as consequências de suas ações. Essa hiperconsciência faz com que ele perceba em si que é um fraco, mesquinho e covarde, compreendendo que não pode usufruir os prazeres da vida. Tudo isso faz com que ele se retire do mundo e migre para o seu subsolo, evitando fantasias sobre a vida e ao mesmo tempo sendo incapaz de fazer algo produtivo para si mesmo.

Essa amargura por inação acaba criando em torno de si uma quantidade imensa de dúvidas e questões não resolvidas, metade desespero, metade crença. Ele está consciente que está enterrado vivo no seu subsolo durante quarenta anos nesse estado de hiperconsciência e desesperança duvidosa, no inferno dos desejos insatisfeitos. E à medida que lemos, vamos chegando perto desse pântano autogerado e impenetrável.

Na segunda parte do livro, “A propósito da neve molhada”, o narrador revela dois incidentes em de sua vida pessoal que foram importantes para ele. O primeiro, com um oficial e o segundo, com uma prostituta. Ele conhece um oficial por acaso em uma situação social que lhe dá um empurrão, ele se sente humilhado. Ele passa anos de sua vida trabalhando uma maneira de retaliar esse empurrão. Ele imagina todas as situações possíveis de encontros. Até que um determinado dia esse oficial aparece e eles se chocam. O narrador considera-se vingado e o oficial não deu a mesma importância que o narrador deu, ou seja, para o oficial nada de importante aconteceu.

O segundo incidente ocorre após uma festa para a qual ele não fora convidado. Ninguém o queria lá, mas ele permanece só de maldade. Desprezado por todos os convidados, que se retiram para outro lugar sem convidá-lo, diz para si que pretende desafiar um dos homens para um duelo e sai a procura desse homem. Acaba conhecendo Lizza, uma prostituta. Mas fico por aqui.

“Memórias do Subsolo” é uma acusação da insuficiência humana e de sua racionalidade, e ao mesmo tempo é uma forma desesperada do próprio narrador de querer se encaixar nesse mundo que ele tanto despreza. O resultado disso tudo? Um livro perturbador, que se agarra em um imaginário fio da esperança solitariamente, sabendo que ele nunca será encontrado, apenas encontrará os males psicológicos assombrando egos esbofeteados. Podemos chegar à conclusão no final desse desabafo de sentirmos luto por nós mesmos, devida à nossa própria insuficiência, e sermos convidados pela vida a habitar os nossos subsolos. Mas caberá a você, leitor, a decisão.

Um livro genial. “Memórias de um subsolo” é um livro que merece um lugar de honra na sua estante.


NOTAS - Transcrevo abaixo, alguns trechos da obra “Memórias do subsolo” ou “Notas do subterrâneo”, dependendo do tradutor, do célebre escritor [e psicólogo] russo Fiódor Dostoiévski.

“Ah! Senhores! É possível que eu me considere extremamente inteligente pela única razão de que, em toda a minha vida, nunca pude começar nem acabar fosse o que fosse. Não passo pois de um tagarela, de um tagarela inofensivo, de um impertinente como nós todos. Mas que fazer, senhores, se o destino de todo homem inteligente é tagarelar, isto é, derramar água em uma peneira?” [p.30-31]

“Que faremos então desses milhões de fatos que atestam os homens, tendo embora perfeita consciência do seu interesse, o relegam a segundo plano e enveredam por um caminho totalmente diferente, cheio de riscos de acasos? Não são, entretanto, forçados a isso; mas parece que querem precisamente evitar a estrada que se lhes indicava, para traçar livremente, caprichosamente, uma outra, cheia de dificuldades, absurda, mal reconhecível, obscura. É que essa liberdade possui a seus olhos mais atrativos que seus próprios interesses… O interesse! Que é o interesse? Vós vos empenhais em me definir com toda a exatidão em que consiste o interesse do homem? Que direis vós se um belo dia se vem a descobrir que o interesse humano, em certos casos, pode ou mesmo deve consistir em desejar não uma vantagem, mas um mal? Se é assim, se esse caso se pode apresentar, então tudo desmorona. Que pensais disso? Tal caso pode se apresentar?” [p.33]


“Com licença! Vamos nos explicar; não é com jogos de palavras que se pode esclarecer a questão. O que faz a singularidade dessa coisa, desse interesse, é que ele destrói todas as nossas classificações e altera todos os sistemas edificados pelos amigos do gênero humano para a felicidade do homem. Em uma palavra, é um embaraço, um obstáculo. Mas, antes de vos apontar essa coisa, quero me comprometer pessoalmente, e afirmo então com altivez que todos esses belos sistemas, que todas essas teorias que pretendem explicar à humanidade em que que consistem seus interesses normais, a fim de que ela se torno logo virtuosa e nobre no seu esforço para atingir ditos interesses, declaro que tudo isso não passa de logística. Sim, pura logística!” [p.35]

“(…) O sangue corre em borbotões, alegremente mesmo, como champanha. Vede nosso século XIX (…) Então, em que é que a civilização nos adoça? A civilização não faz mais que desenvolver em nós a diversidade das sensações… nada mais. E, graças ao desenvolvimento dessa diversidade, é muito possível que o homem acabe por descobrir uma certa volúpia no sangue. (…) Mas se a civilização não tornou o homem mais sanguinário, tornou-o sem dúvida mais sordidamente, mais covardemente sanguinário. Antigamente, o homem considerava que tinha o direito de derramar sangue, e era com a consciência bem tranquila que destruía o que bem lhe parecia. Hoje, embora considerando a efusão do sangue uma ação condenável, nem por isso deixamos de matar, e mais frequentemente ainda do que antes. (…)” [p.36]

“Que sabe a razão? A razão não sabe senão o que aprendeu (…), ao passo que a natureza humana age com todo o seu peso, por assim dizer, com tudo o que ela contém em si, consciente e inconscientemente; acontece-lhe cometer disparates, mas vive.” [p.41]

“Em uma palavra, pode-se dizer tudo da história universal, tudo o que se apresentar à imaginação mais desregrada. Mas é impossível dizer que ela é racional; equivocar-vos-eis desde a primeira sílaba. E, ademais, eis ainda o que se passa constantemente: homens aparecem, sensatos e de bons costumes, filantropos, cujo fim é levar uma existência racional e honesta, a fim de agirem pelo exemplo sobre seus semelhantes e de lhes provarem que é possível viver sabiamente. Mas que acontece, então? Sabe-se que grande número desses amantes da sabedoria acabam, mais cedo ou mais tarde, por trair suas ideias e se comprometem em escandalosas histórias. Pois bem! Eu vos pergunto: o que se pode então esperar do homem, desse ser dotado de qualidades tão estranhas?” [p.43]

“(…) quereis libertar o homem de seus antigos hábitos e corrigir lhe a vontade segundo os dados da ciência e conforme o senso comum. Mas como sabeis que o homem pode e deve ser corrigido? De onde concluístes, que a vontade do homem deve necessariamente ser educada? Em uma palavra: por que pensais que essa educação lhe é realmente útil?” [p.45]

“(…) Ora, senhores, “duas vezes dois igual a quatro” é um princípio de morte e não um princípio de vida. (…) / É verdade que o homem não se ocupa senão da procura desses “duas vezes dois igual a quatro”; atravessa oceanos, arrisca a vida em sua perseguição; mas quanto a encontrá-los, quanto a apanhá-los realmente – juro-vos que tem medo, pois ele se dá conta de que, uma vez encontrados, nada mais tem a fazer. (…) Tenta aproximar-se do fim, mas, tão logo o atinge, não está mais satisfeito; e isso é verdadeiramente bem cômico. Em uma palavra: o homem é construído de uma maneira muito cômica, e tudo isso faz o efeito de um trocadilho. Mas, seja como for. “duas vezes dois igual a quatro” é uma coisa bem insuportável.” [p.47]

“Um homem decente e cultivado não pode ser vaidoso sem uma ilimitada exigência em relação a si mesmo e sem se desprezar, em certos momentos, até o ódio. Mas, quer desprezando, quer colocando as pessoas acima de mim, eu baixava os olhos diante de quase todos que encontrava.” [p.57]

“Em casa, o que mais fazia era ler. Tinha vontade de abafar com impressões exteriores tudo o que fervilhava incessantemente. E, quanto a impressões exteriores, só me era possível recorrer à leitura. Naturalmente, ela me ajudava muito: perturbava-me, deliciava-me, torturava.” [p.61]

“O amor é um mistério de Deus e deve ser oculto de todos os olhares estranhos, aconteça o que acontecer. Deste modo, tudo é mais santo, tudo é melhor. Eles se respeitarão mais um ao outro, e muita coisa baseia-se no respeito mútuo.” [p.112]



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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A OPERAÇÃO DO CARISMA E O EXERCÍCIO DO PODER [Resenha]


CORREA, Marina. A operação do carisma e o exercício do poder: a lógica dos ministérios das igrejas Assembleias de Deus no Brasil. São Paulo: Recriar, 2018. 372p.


O LIVRO E A SUA AUTORA



O LIVRO [1] – O livro de Marina Correa preenche uma lacuna no conhecimento sobre os “ministérios” da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. De início fica claro para o leitor que já não é mais possível falar sobre essa igreja no singular: as Assembleias são muitas igrejas sob um mesmo nome.

Marina desvela a maneira como esses ministérios são organizados e a lógica que preside as relações entre eles. Mostra-nos como, ao mesmo tempo em que fazem parte da mesma instituição, eles são ciosos de seu poder e autonomia.

Os ministérios acabam se constituindo em forma organizativa das Assembleias de Deus capaz de acomodar os interesses de suas lideranças, garantindo-lhes um espaço de atuação e poder de forma relativamente independente uns dos outros. Ao mesmo tempo, por meio das convenções, esses ministérios mantem entre si laços estreitos de reconhecimento mútuo e solidariedade, no sentido sociológico da palavra.

Para o observador externo, com pouco conhecimento e vivencia dessa denominação pentecostal, poderia parecer que a maneira como as Assembleias de Deus se organizam e se constituem, é muito fluida e porco institucionalizada. Em parte dessa percepção é verdadeira, mas Marina mostra como que subjaz por trás dessa fluidez uma maneira muito racional de manter a coesão entre as igrejas baseada na busca incessante do consenso.

Marina Costa é pesquisadora dessa igreja pentecostal. Seus estudos tem contribuído, ao lado de outros, para tornar o Grupo de Estudos do Protestantismo da PUC de São Paulo, um locus de acumulação de conhecimento sobre as Assembleias de Deus e a vertente pentecostal no Brasil.


A AUTORA – Maria Aparecida Oliveira dos Santos é doutora e mestre em Ciências da Religião, na área de concentração Religião e Sociedade pela PUC – SP e professora e pós-doutoranda (PNPD/-CAPES) pela Universidade Federal de Sergipe. Sua pesquisa de pós-doutoramento versa sobre a temática “As sucessões familiares das Igrejas Assembleias de Deus no Brasil; Pesquisadora do Pentecostalismo Brasileiro”.

Marina é especialista nas Igrejas Pentecostais das Assembleias no Brasil. Em parceria com a Universidade Federal da bahia (UFBA) pesquisa os impactos sociais do Pentecostalismo nas Comunidades Quilombolas nos estados da Bahia e Sergipe. Ela é graduada em Direito em Sociologia, e é membra do Grupo de Pesquisa: Rede Latino-Americana de Estudos Pentecostais (RELEP).


PREFÁCIO - O paradigma pentecostal constitui um dos fenômenos mais expressivos da tradição cristã no século XX, senão da própria religião que resiste com seu carisma às pressões teóricas e prática dos tempos modernos, sobretudo à previsão tida como certa: de que as religiões cederiam lugar as estruturas e aos significados construídos pela nova racionalidade laica e científica. O pentecostalismo é uma forma de re-construção do cristianismo em uma sociedade cada vez mais plural (que acolhe novas expressões religiosas), de uma cultura cada vez mais científica (que produz como reação afirmações de mentalidades míticas), de uma sociedade centrada no do bem-estar (que inclui em suas realizações também as ofertas simbólicas), enfim, de um sistema individualizado (que se afina com as tradições e práticas religiosas privatizadas). Trata-se de uma construção moderna no sentido dialético do processo, na medida em que reproduz em suas representações e práticas as dinâmicas modernas centradas na individualidade e, ao mesmo tempo, nega e resiste aos dinamismos racionalizadores que tendem a eliminar a leitura mítica do mundo e as intervenções mágicas no mesmo. Ofertas de visões e práticas pré-modernas produzidas dentro das diversidades inerentes a modernidade e operadas por meio de dinâmicas sócio-culturais modernas.

Nesse mesmo contexto, o pentecostalismo tem sido também um fenômeno de resistência, criatividade e expansão do cristianismo em confronto nítido com as tradições clássicas reproduzidas em suas burocracias hegemonicamente estabelecidas no ocidente. Um caso de religião popular frente à erudita, de religião carismática frente à racionalizada ou, ainda, de religião sectária frente às institucionalizadas. Parece certo que se pode ver nessa vertente cristã de muitos ramos – ao menos nos grupos mais tradicionais - um cristianismo centrado no sujeito, no emocional, no prático, no mágico e, em boa medida, na participação popular, ao menos do ponto de vista da celebração do culto e do acesso aos ministérios e funções eclesiais. E vale lembrar que os pentecostais não somente constituíram comunidades confessionais numerosas e diversificadas no decorrer no século passado, como também forneceram suas referências práticas e teóricas para as próprias igrejas históricas, incluindo o catolicismo, onde tomou forma como movimento que tem sabido conservar suas características fundamentais, porém hospedados dentro dos dogmas, da moral, da organização e da liturgia dessas tradições. A liberdade religiosa e o pluralismo, da parte das sociedades modernas, e a própria pluralidade pastoral, da parte das igrejas históricas, ofereceram as condições para tal expansão e adaptação pentecostal nessas esferas e escalas já consolidadas. A fé nos dons do Espírito Santo se fez democracia nas igrejas e movimentos pentecostais, chamando para suas comunidades os mais desvalidos e conferindo-lhes a cidadania negada pela sociedade anônima e pelas liturgias e hierarquias instituídas das igrejas históricas, sobretudo no contexto das grandes cidades para onde massas rurais migraram e se acomodaram, em todos os aspectos, no tempo e no espaço refeitos por uma sociedade em mudança.

No caso do Brasil, o pentecostalismo adquire feições próprias e se adapta em sua longa e consolidada tradição católico-popular como mais uma opção de religiosidade leiga, centrada no milagre, organizada na irmandade e capaz de falar a linguagem dos pobres, marcadamente estruturada na oralidade. Nascida entre os pobres e, desde esse lugar social, político e cultural, as igrejas pentecostais re-produziram entre nós aqueles ideais da santidade expressos sensivelmente nos dons do Espírito, de forma que uma afinidade eletiva entre os dois universos populares produziu frutos diversos nas inúmeras igrejas por aqui fundadas, sobretudo quando as tradições católicas rurais se esfacelavam longe de seus contextos vitais nas periferias dos grandes centros urbanos e suspiravam por meios políticos e institucionais de sobrevivência. As respostas às necessidades materiais e espirituais, indistintamente interligadas, oferecidas pelas representações e práticas religiosas populares disponíveis e de acesso irrestrito puderam continuar, agora com novos laços de sociabilidade, com novas referências culturais e com novos agentes. Nesse sentido, o pentecostalismo constitui mais um fenômeno de continuidade e ruptura religiosa no âmbito de uma sociedade em processo de transformação. E é no seio dessa mudança social mais ampla que podemos entender as suas próprias mudanças internas, do ponto de vista quantitativo (crescimento e diversificação) e qualitativo (processos de organização). Também, nesse mesmo processo é forçoso observar os modos próprios de sobrevivência do carisma do status nascendi em franca negociação com esquemas racionalizadores que inevitavelmente ocorrem na igreja, na medida em que se torna mais ampla (mais complexa) e, por conseguinte, mais pública (mais socialmente adaptada). O carisma original vai sendo mantido na base da igreja, marcadamente popular e portadora de dons individuais, enquanto uma elite assume cada vez mais o comando geral pelas vias da legitimidade tradicional ou racional/legal.

A Igreja Pentecostal Assembleia de Deus nasceu nesse tempo e percurso históricos e, como um ramo que se transforma em tronco, tornou-se a maior igreja pentecostal brasileira. O mapa de sua expansão e recriação acompanha o mapa dos movimentos migratórios brasileiros que terminaram por compor a saga dramática da urbanização que lançou as massas a sua própria sorte. Nesse sentido, se poderia dizer que os pentecostalismos brasileiros são sujeitos coletivos que escreveram a sua maneira e com seus recursos simbólicos, políticos e, até mesmo, econômicos a história atabalhoada e injusta da urbanização brasileira. Participam, evidentemente, como agentes que ao mesmo tempo resistem e reproduzem essas contradições sociais e políticas mais amplas como uma "empresa dos pobres" que em um primeiro momento se mantém como comunidades de resistência em torno de seus carismas e, em seguida, se afirma como grandes empresas cada vez mais legitimas do ponto de vista político e mais eficientes do ponto de vista econômico-administrativo. Essa saga racionalizadora expressa de modo muito preciso como o pentecostalismo tem conseguido institucionalizar-se, mantendo vivas suas dinâmicas carismáticas fundadoras, já não como uma memória registrada e controlada por ortodoxias legitimas, como no caso das igrejas históricas, mas como uma práxis que permanece viva e operante e que, em boa medida, sustenta todo o edifício institucionalizado, não somente no aspecto simbólico, mas também político e econômico.

A igreja Assembleia de Deus é a maior denominação pentecostal no Brasil. Esse tamanho expressivo não resulta evidentemente do acaso e, na ótica da ciência, de uma contabilidade de responsabilidade divina. Certamente, para além das condições históricas favoráveis sinalizadas acima, sua lógica organizacional foi um fator decisivo para tamanho crescimento. A organização em ministérios preservou sua unidade, não obstante a fragmentação institucional fosse tão natural à eclesiologia das tradições protestantes. De fato, a unidade assembleiana agregou sob sua sigla não somente uma enorme diversidade de pequenas igrejas em grande medida autônomas, alinhadas ou não a um Ministério, como possibilitou a manutenção de muitas delas sob a proteção institucional de um Ministério e, evidentemente, sob a guarda forte das Convenções. Foi o caminho de institucionalização inventado, mesmo que de forma espontânea, que permitiu a expansão do carisma assembleiano, lançado em terras brasileiras pelos missionários suecos no início do século XX.

Estou convencido de que a lógica dos Ministérios constituiu uma relação orgânica entre organização-teologia, política-pastoral, finanças-serviços ou, em termos weberianos, entre carisma-instituição, que controlou com relativo equilíbrio as divergências de todas as ordens, no momento em que a igreja se expandia para além da força do carisma dos fundadores e, na implacável rotina da história, as lutas pelo poder simbólico ou material esteve presente. Evidentemente, a organização em ministérios não somente cresceu quantitativamente numa árvore genealógica quase indecifrável, na medida em que as igrejas se expandiam, como também adquiriu sofisticação administrativa, vindo a constituir uma rede complexa e, ao mesmo tempo organizada de igrejas, semelhante ao que constituem as franquias do mercado atual.

E a organização ministerial não somente acolhe sob suas proteções pastoral e financeira as pequenas iniciativas eclesiais que eclodem pela força selvagem dos carismas religiosos populares, nascidos sem eira nem beira, como também sustenta uma espécie de "poder carismático local que permite o exercício político-eclesial de "sujeitos menores, como as mulheres ou os menos letrados, dentro das suas igrejas afiliadas, ao menos até que a autonomia financeira as faça independentes e venham a constituir-se como Ministério próprio.


O livro contém, além do prefácio e introdução, 4 capítulos com um conteúdo histórico e sociológico que o leitor a conhecer profundamente a história da maior denominação pentecostal da América Latina. Como todas as nossas resenhas, iremos trabalhar de conformidade a estrutura do livro, capítulo à capítulo, extraindo pequenos parágrafos e fazendo resumos. O nosso propósito é fomentar no leitor o desejo pela leitura e apresentar a estrutura do sumário e citações pontuais do livro.


1. DA HISTÓRIA AO MITO - O conteúdo deste capítulo está dividido em cinco tópicos principais, visando estabelecer os eventos que influenciaram o início das Assembleias de Deus (ADs) no Brasil. O primeiro tópico apresenta um breve histórico do pentecostalismo, objetivando contextualizar o surgimento das igrejas ADs dentro desse movimento religioso. Em seguida, o tópico “As práticas pentecostais suecas”, que tencionava fazer um levantamento da trajetória dos pentecostais escandinavos e sua transição entre a Igreja Batista no Brasil. Destaca-se, ainda, a figura de Lewi Pethrus, pastor sueco que teve participação ativa no início do movimento pentecostal na Suécia, e que futuramente seria considerado um dos missionários mais importantes nas Assembleias de Deus no Brasil.

O início do nome da AD é pormenorizado no terceiro tópico: “Missionário escandinavo versus norte-americanos”. Um dos aspectos diferenciais das Assembleias de Deus no Brasil em relação a outras igrejas pentecostais é justamente sua origem sueca. Seus dois fundadores, Vingren e Berg, trouxeram para o Brasil as características do movimento do seu país, como a informalidade nas escolas bíblicas, cursos mais curtos para o serviço na igreja conferências anuais para obreiros. Apesar de não haver profundas diferenças teológicas entre o pentecostalismo norte-americano e o escandinavo, é importante ressaltar que os suecos não inseriram a doutrina dispensacionalista na Assembleia de Deus. A partir dos anos 1950, os brasileiros adotaram os costumes dos missionários americanos, o que ocasionou uma maior sistematização e burocratização na rotina da igreja.

O quarto tópico – “A história do nome Assembleia de Deus” - aborda os fatos mais interessantes na busca pelo nome da denominação. A data de fundação da AD no Brasil é 1911, e o nome Assembly of God só foi adotado oficialmente pelas igreja nos Estados Unidos em 1914. Ao contrário de ser uma decisão hierárquica e unilateral dos fundadores, como pôde (e pode) ser visto em diversas igrejas brasileiras, as Assembleias de Deus norte-americanas contaram com uma eleição em 1912. Resolveu-se, então, usar a mesma nomenclatura nas igrejas fundadas sob o advento do pentecostalismo, mesmo sem haver vínculos financeiros e administrativos entre elas, o que veio a possibilitar às ADs' brasileiras usarem a mesma nomenclatura, sem precisar oferecer justificativas prévias às igrejas norte-americanas.

Finalmente, o quinto tópico – “O mito fundante da Assembleia de Deus” - elabora uma breve biografia de Gunnar Vingren e Daniel Berg, os fundadores suecos da igreja no Brasil. A epopeia desses missionários envolveu uma série de eventos considerados sobrenaturais. Primeiramente, podem ser encontrados relatos dessa natureza na infância de ambos. Posteriormente, os dois foram batizados com o Espírito Santo, passaram a manifestar dons carismáticos, inclusive o dom de cura divina. Em 1910, uma revelação espiritual foi responsável pela missão evangelística, o que culminou com a chegada de ambos, conjuntamente, à cidade de Belém do Pará, quando teve início a Assembleia de Deus no Brasil.


2. DO MITO À HISTÓRIA - No capítulo anterior, a autora apresentou “da história ao mito”, oferecendo uma história sagrada narrada como um acontecimento factual, que pode ser interpretada de várias maneiras. Neste capítulo, em oposição ao anterior, a autora fala “Do Mito à História”, estabelecendo uma leitura a respeito do mito construído, para descrever as outras faces das igrejas Assembleias de Deus no Brasil. Aqui é abordado sua origem, seu destino e suas transformações em diversos momentos, apontando outros pontos de vista.

Este capitulo faz um levantamento histórico da Assembleia de Deus no Brasil. O primeiro tópico. “Assembleia de Deus, igreja sueca com “jeitinho brasileiro””, trabalhará com a bibliografia a respeito da chegada dos missionários ao Brasil e os primeiros anos da formação da denominação. Mesmo antes de viajarem para o Brasil, Gunnar Vingren e Daniel Berg tiveram problemas sérios com as congregações batistas dos Estados Unidos. Já em Belém, os suecos seriam considerados responsáveis por enganos e cisões dentro da Primeira Igreja Batista do Para.

O tópico seguinte. “Expansão das ADs”, identificará algumas conexões entre o crescimento da igreja e o desenvolvimento industrial brasileiro. O ciclo da borracha, no início do século XX, transformou a região amazônica com a intensa migração de trabalhadores do Norte e do Nordeste. Após este período e o rápido encerramento do ciclo da borracha, as migrações tiveram como destino o Sul e o Sudeste do pais. Entre os migrantes estavam pastores e membros da Assembleia de Deus, que levaram a sua mensagem para as regiões mais populosas do Brasil.

No item Rumo a “institucionalização através da matriz sueca”, retrataremos a vinda de mais missionários suecos no período da Primeira Guerra Mundial. Com este novo fluxo humano, iniciaram-se as primeiras contribuições financeiras da igreja sueca para o Brasil. Serão apresentados também os modelos de governo da Assembleia de Deus, a criação da Convenção Nacional e as suas funções.

Ainda será tratado o “ministério feminino” dentro denominação. Vingren defendia a participação ativa das mulheres na comunidade, enquanto outro missionário, Nystron, sustentava que as mulheres cabia apenas o testemunho. Como síntese das duas posições, a Assembleia de Deus desenvolveu a ideia de que a mulher deveria ser vista como auxiliadora, seja no trabalho missionário, seja no trabalho educacional, negando-lhe a autoridade pastoral.

No item “Cisão dentro da AD”, será levantada a biografia de Manoel Higino de Souza, o primeiro pastor a deixar as ADs e fundar sua própria igreja com outro nome. Também falaremos a respeito da história de vida de Paulo Leivas Macalão, segundo pastor a se desligar oficialmente à Assembleia de Deus e o primeiro a fundar um ministério autônomo dentro da própria denominação, o Ministério Assembleia de Deus Madureira. A partir dessas primeiras cisões assembleianas, posteriormente, ocorreram novas cisões e, a partir de então, outros ministérios surgiram com mais independência, funcionando sem nenhum vínculo com os demais. Com isso, os ministérios ganharam fortalecimento administrativo, representado pela figura do pastor presidente - termo criado pelo próprio Macalão na década de 40, desencadeando o maior desafio dentro das ADs: a questão da fragmentação. Atualmente, as Assembleias de Deus fragmentam-se facilmente. Além da fragmentação dentro dos grandes ministérios, ainda existe o problema da pulverização, com o surgimento de inúmeras igrejas pequenas que formam uma grande rede chamada "Assembleia de Deus". Cada qual conta com uma liderança independente, o que torna cada vez mais difícil compreender a sua lógica de funcionamento e a questão do poder.

No tópico CGADB: “Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil) Associação de pastores ou de igrejas”, será tratada a história e os principais aspectos da convenção assembleiana. Apesar de funcionar desde a década de 1930, somente cerca de cinquenta anos depois a CGADB passou a concentrar influência e poder dentro da estrutura assembleiana. Sua primeira eleição para presidente aconteceu em 1996. Desde então, a CGADB é liderada pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa.

No último item. “Aparelhos de divulgação”, são identificadas as mídias utilizadas pelas Assembleias de Deus em sua expansão externa e também na comunicação interna entre lideranças e membros. São relacionadas as principais ações em jornais, rádio e televisão, além da atuação da editora Casa Publicadora das Assembleias de Deus.


3. A ORGANIZAÇÃO INTERNA DOS MINISTÉRIOS DAS ADS NO BRASIL - O presente capítulo foi basicamente construído a partir das observações empíricas e entrevistas realizadas com pastores e com adeptos das igrejas ADs, no sentido de realizar uma discussão sobre as cisões, destacando o crescimento e a autonomia de alguns ministérios que, após passar por cisões, funcionam com a mesma nomenclatura, AD, mas atuam isoladamente, possuindo suas próprias convenções e se relacionando com outros ministérios tão somente por "laços fraternos"; como exemplo pode se citar: O Ministério de Santos, o Ministério de Goiás, o Ministério Vitória em Cristo - este ministério liderado pelo pastor Silas Malafaia é o mais novo a passar pelo processo de cisão, o Ministério de Cordovil (ADMC), RJ, e ainda, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus Bereana, Vila Mariana - SP, liderada pelo pastor-presidente, Walter Brunelli. Esta igreja funciona dentro dos padrões modernos das tecnologias e possui um projeto de trabalho diferenciado de outras igrejas ADs, chamado de Células Bereanas. No decorrer deste capítulo serão citados alguns ministérios que já nasceram independentes, é o caso do Ministério da Assembleia de Deus Bom Retiro, SP - objeto de tese de mestrado desta autora (2006), e que serviu de inspiração para esse trabalho.

Dentro dessa perspectiva, o presente trabalho demonstra as características de cada ministério e aponta suas aproximações e distanciamentos entre si. Vimos que esses ministérios trabalham com uma racionalidade administrativa burocrática, visando o crescimento e uma atuação cada vez mais moderna (ou pós-moderna) diante das outras denominações pentecostais. Portanto, pretende-se aqui traçar alguns pontos de convergência, examinando se existe uma lógica de funcionamento dos ministérios assembleianos em suas diferentes formas de funcionamento, a relação entre os pastores associados a esses ministérios e os pastores que estão ligados às convenções da CGADB, a CONAMAD e as convenções independentes; por último, procurar compreender os motivos pelos quais os ministérios autônomos conservam o mesmo nome.

Dessa maneira, as pesquisas empíricas foram realizadas analisando o percurso dos ministérios estudados, levantando a hipótese de que e possível afirmar que os inúmeros ministérios autônomos atuam de maneira isolada, comandados de diversas formas, representados por-um pastor-presidente que coordena as suas redes de congregações e pontos de pregação de acordo com seus ideais, juntamente com sua própria mesa diretora, formada por um corpo de pastores administrativos em suas regiões locais, fortemente investidos do poder econômico, político e religioso.

Assim, diante de alguns resultados levantados nas pesquisas de campo, visa-se demonstrar, por amostragem, o perfil atual dos ministérios das ADs, as cisões, os ministérios independentes e os associados às convenções e seu tipo de funcionamento. Além disso, entender o funcionamento das convenções estaduais e nacionais, o processo de adesão a elas e sua importância e, por meio de gráficos, o panorama dos ministérios e/ ou igrejas desligadas ou autônomas, fazendo uma leitura de cada situação, e a existência de uma lógica de funcionamento entre as igrejas, principalmente pelo fato de, mesmo quando desligadas de formalidades, permanecerem no rol das ADs.

Dentro deste contexto, o conceito e a administração dos ministérios são trabalhados nas igrejas-sede (Ministérios). Após o ano de 1932, as ADs já davam indícios de uma nova estruturação local autônoma. Na ocasião da consolidação do Ministério Madureira, a Convenção Nacional traçou as linhas mestras da atuação espacial da Assembleia de Deus, pois foi a partir dessa consolidação que surgiram terminologias administrativas como campo, igrejas-Sede e invasão de campo. Este tópico também explica a constituição do pastor assembleiano comum e do pastor-presidente.


4. O PODER RELIGIOSO NAS ESTRUTURAS DOS MINISTÉRIOS DAS ADS – O quarto capítulo será construído a partir das análises sociológicas baseadas nas observações empíricas e entrevistas realizadas com os pastores e adeptos das igrejas ADs, no sentido de realizar uma discussão sobre a questão da "lógica" de funcionamento das igrejas e ministérios. Serão analisados o "poder religioso" dessas igrejas, não somente ligado ao poder de ordem jurídica, econômico ou político, mas do poder condicionado "pelas honras sociais que ele acarreta". Também serão analisadas as formas de governo, as estratégias, os mecanismos legitimadores (estancamentos), os sujeitos, os conflitos entre o "carisma, a tradição e a racionalidade" – no sentido weberiano, dos pastores, propondo que esses ministérios estejam se tornando um exemplo de redes de igrejas "Assembléia de Deus". Os discursos utilizados por esses pastores são cada vez mais atuais, dentro da sociedade moderna, como forma de acomodação e permanência viva no campo religioso sem perder a credibilidade conquistada ao logo dos anos.

Por fim, serão vistos os processos socioculturais subjacentes às mudanças religiosas ocorrida nas ADs, no contexto da sociedade moderna urbanizada. As mudanças detectadas no decorrer deste estudo, serão classificadas e analisadas sob a ótica weberiana, teórico central neste trabalho, destacando os tipos de dominação Segundo Weber, "dominação é a probilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis". O autor afirma que nas relações de poder e as suas formas de legitimação, "consiste na presunção de impor a própria vontade a outrem em uma relação social ou não, mesmo contra resistência". O "Poder" estabelece uma dominação e esta dominação cria a "disciplina", gerando uma "obediência pronta, automática e esquemática a uma ordem". A obediência não necessariamente a um comando, mas também o tomar decisões e exercer influências sobre o que é definido, mas envolve uma influência recíproca de dois ou mais elementos, direta ou indiretamente. "Disciplina", portanto, inclui o treino na obediência em massa, sem crítica e sem resistência.

Ainda serão analisadas a questão do poder religioso dos ministérios ADs, observando os discursos dos pastores, a influência e o potencial que o discurso religioso desperta em seus ouvintes, submetendo-os a uma relação direta com Deus. Os pastores estabelecem um canal direito entre Deus e os seus ouvintes, no qual "o locutor é Deus, logo, de acordo com a crença, imortal, eterno, infalível, infinito e todo-poderoso". Esses discursos fizeram com que alguns ministérios, tivessem um aumento significativo de adeptos nos últimos anos - pelo ganho de notoriedade que as figuras carismáticas, carregadas de emocionalidade e persuasão, vem recebendo desses ministérios.


CONCLUSÃO - Depois de ler as 370 páginas desta obra, só tenho algo acrescentar: Adquira o livro clicando na imagem acima.

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[1] Texto do Prof. Dr. Edin Sued Abumansur (PUC-SP). Escrito na orelha do livro.