domingo, 28 de abril de 2019

FAÇA MAIS E MELHOR [Resenha]


CHARLES, Tim. Faça mais e melhor: um guia prático para a produtividade. São José dos Campos, SP: Fiel, 2018


Com as constantes notícias sobre crises ministeriais e a vida muitas vezes nebulosa de tantos líderes espirituais, ficamos perguntando o que está há de errado com os pastores. O fato é que há muita doença envolvida em todas as áreas profissionais e os pastores não são isentos de enfermidades e patologias da alma, da mente e do corpo, por isto Paulo já admoestava Timóteo: “cuida de ti mesmo e da doutrina”. Paulo não apenas exorta seu jovem discípulo a manter a sã doutrina, tendo convicções claras do evangelho, mas em cuidar da saúde emocional, espiritual e física. Precisa cuidar da doutrina e de si mesmo.

Um dos maiores desafios da vida pastoral para cuidar da doutrina e de si mesmo é manter um equilíbrio adequado em suas prioridades. Todo pastor precisa desempenhar vários papéis, a fim de permanecer fiel à sua chamada. Ele tem de ser um estudante da Palavra de Deus e um homem de oração; ele tem de liderar sua igreja, trabalhar muito para pregar e ensinar a Palavra, de modo que suas ovelhas estejam continuamente sendo transformadas por ela na imagem de Cristo. O pastor tem de realizar a obra de evangelista e dedicar-se à obra de lidar individualmente com os membros da igreja. Tudo isso e muito mais está incluído na obra de servir a Cristo como um pastor de almas.

Portanto, o trabalho em um ministério nunca termina. Há sempre algo para ser feito. Mais pessoas que poderão ser alcançadas. Mais sermões a serem escritos. Mais e-mails para serem respondidos. Mais oportunidades para serem alcançadas. Mais. Mais. Mais.

Produtividade é essencial para um pastor. Você não será capaz de fazer tudo, mas a Bíblia nos encoraja a sermos sábios e otimizar o nosso tempo: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus” (Efésios 5.15,16).

Pastores e os demais trabalhadores de um ministério serão responsabilizados pela forma como administram o tempo. Produtividade é o tema da nossa resenha.


O LIVRO E O SEU AUTOR

De início, a sinopse do livro diz que “este livro foi escrito para servir como um guia para uma produtividade eficiente e de qualidade. Tim Challies oferece conselhos sábios e práticos para a realização de tarefas cotidianas em nosso mundo cada vez mais ocupado e cada vez mais digital.”[1]

Pois bem, o livro trata da produtividade a partir de um aspecto bem prático. Embora seja escrito por um pastor e tenha boas reflexões a respeito de gestão do tempo e responsabilidades do ponto de vista bíblico, não é um estudo sobre o tema. Tim Challies indica softwares, aplicativos, e planilhas (estas, disponíveis no site dele). Neste livro, o método apresentado é basicamente o GTD, que a Thais Godinho, do Vida Organizada [2] pratica e ensina há vários anos, ou pelo menos uma forma simplificada dele. Gosto muito da abordagem.

O autor acredita que este livro pode melhorar a sua vida. Ele afirma: “Reconheço que essa é uma declaração ousada, mas o tempo gasto para escrever ou ler este livro não valeria a pena se eu não acreditasse nisso. Escrevi este livro porque quero que você faça mais e melhor, e porque acredito que você consegue. E isso é verdadeiro, seja você um profissional ou um estudante, um pastor ou um encanador, um pai que trabalha em casa ou uma mãe dona de casa. Não quero que você faça mais coisas, assuma novos projetos ou execute mais tarefas. Não necessariamente. Não quero que você trabalhe muitas horas ou passe menos tempo com sua família ou com seus amigos. Quero que você faça mais o bem. Quero que você faça o que mais importa e também que faça da melhor maneira possível. E isso é o que eu também quero para mim”.

Na introdução do livro, o autor diz mais que todos podem levar uma vida tranquila e organizada, tendo firmeza em suas responsabilidades e confiança em seu progresso. “Você pode colocar sua cabeça no travesseiro à noite e descansar tranquilamente”.

Eu gosto do exemplo que o autor usa: “Há milhares de anos, um homem chamado Salomão, rei de Israel, escreveu as seguintes palavras: Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem”. (SI 127.2)

Até esse rei, que governava uma nação inteira, administrava riquezas imagináveis e comandou projetos de construção espetaculares, foi capaz de se ver livre do estresse e da ansiedade, de descansar do seu trabalho e de ter um sono tranquilo. Então, por que nós achamos que isso é tão difícil em nossa vida pequena? Ao longo dos anos, eu me esforcei muito para compreender a produtividade e a habilidade de realizar tarefas. Eu amo usar meu tempo e minha energia da melhor forma possível e estou constantemente afinando as ideias, as ferramentas e os sistemas que me ajudam a continuar assim. De tempos em tempos, consigo até mesmo ensinar essas coisas a outras pessoas e ajudá-las a ser o melhor possível. É sempre uma alegria ver que as pessoas estão entendendo e aplicando em suas vidas o fruto desse aprendizado.

O autor diz mais. “Neste pequeno livro, compartilho um pouco do que aprendi ao longo do caminho porque creio que posso ajudá-lo a aprender mais do que você Já sabe sobre ter uma vida produtiva. Não estou dizendo que conheço tudo. Ainda estou aprendendo e, à medida que vou avançando, faço pequenos ajustes. Mas posso dizer com confiança que aquilo que vou ensinar a você realmente funciona, pois eu mesmo trouxe ordem para o meu caos e direcionamento para a minha falta de rumo. Além disso, também funcionou muito bem para outras pessoas. A melhor forma que conheço para ensinar esses princípios é me abrindo e falando um pouco sobre a minha vida. Vou mostrar o que aprendi, como uso minhas ferramentas, como construo meus sistemas, como faço aquilo que tenho para fazer. Acredito que a melhor maneira de aproveitar este livro é lendo, observando e imitando — pelo menos, no início. Depois, com o passar do tempo, inevitavelmente você adaptará as dicas que se mostrarem especialmente úteis e descartará aquelas inúteis. Se eu for capaz de estimular sua maneira de pensar para que você faça o melhor possível, posso considerar este livro um grande sucesso”.

O autor, Tim Challies É pastor da igreja Grace Fellowship, em Toronto, no Canadá, editor do site de resenhas Discerning Reader e co-fundador da Cruciform Press. Casado com Aileen e pai de três filhos, ele também é blogueiro, web designer e autor de várias obras, já publicadas no Brasil. “Teologia visual: Uma ferramenta inovadora para o estudo de Deus” (Thomas Nelson Brasil). “Desintoxicação sexual - Série Cruciforme” e “Discernimento Espiritual” (Edições Vida Nova) e agora pela “Faça mais e melhor” (Editoria Fiel). Os sites Voltemos ao Evangelho, Monergismo e Ministério Fiel tem vários de seus artigos publicados.

O livro, além da introdução e dois bônus, possui dez capítulos assim identificados abaixo e para cada um deles colocarei aquele parágrafo chave para fomentar o seu desejo em ler este excelente livro.


UM: Conheça Seu Propósito – “Para você compreender a produtividade, é necessário começar a entender a razão de sua existência. Produtividade não é o que dará um propósito à sua vida, mas é o que permitirá que você se sobressaia ao viver seu propósito atual”. [p.12] Neste capítulo o autor elaborou o que ele chamou de um breve "Catecismo da Produtividade", que se constitui de uma série de perguntas e respostas. E somente quando você entender essas questões fundamentais sobre o propósito e a missão que recebeu de Deus é que estará pronto para começar a trabalhar.

DOIS: Responda ao Chamado – O conceito usado pelo autor sobre produtividade é o seguinte “é administrar seus dons, talentos, tempo, energia e entusiasmo com eficácia pelo bem das pessoas e para a glória de Deus. Isso significa que você tem a responsabilidade de dedicar tudo o que tem a esse grande objetivo. Você tem a responsabilidade diante de Deus de se sobressair em produtividade. Você precisa apenas fazer a melhor coisa (o bem às pessoas) pelo melhor objetivo (a glória de Deus)”. [p.21]. Agora, para evitar o desvio do seu propósito, o autor apresenta três ladrões da produtividade – preguiça, excesso de ocupações e uma péssima combinação de cardos e abrolhos.

TRÊS: Defina Suas Responsabilidades – Para o autor, aqui inicia a parte prática do livro. “Não se engane; não é fácil viver neste mundo. Nós, seres humanos, somos criaturas finitas que lidam com exigências infinitas. Existem tantas coisas que poderíamos fazer em nossas vidas em qualquer dado momento, mas poucas são aquelas que realmente podemos fazer. Há uma quantidade ainda menor de coisas que somos capazes de fazer com excelência. Boa parte de nossas vidas envolve a tentativa de encontrar o equilíbrio apropriado entre exigências que competem entre si. Nós temos famílias, igrejas, hobbies e empregos, e todos competem entre si pelas 168 horas que recebemos a cada semana. Embora o tempo seja tão limitado, as diferentes possibilidades na maneira de usar o tempo são ilimitadas. A produtividade depende de promovermos a paz em cada uma das diferentes tarefas que poderíamos priorizar em qualquer dado momento”. [p.29]

QUATRO: Declare Sua Missão – Sobre o propósito e missão de cada pessoa, o autor assim ensina: “Como cristãos, nós temos uma missão. Nossa missão é fazer o bem às pessoas de um modo que glorifique a Deus. Esse é nosso objetivo no sentido mais amplo, mas nós precisamos encontrar maneiras de cumprir essa missão nos detalhes da vida. Então, o que eu quero que você faça agora é olhar para cada uma de suas áreas de responsabilidade e definir sua missão em cada uma delas. Afinal, mesmo quando suas obrigações e áreas de responsabilidade estão bem organizadas, você continua não dispondo de meios para saber onde deve ou não investir esforços”. [p.38]

CINCO: Escolha Suas Ferramentas – As ferramentas são essencialmente humanas. Na aurora da história humana, Deus criou duas pessoas, nuas e sozinhas em um jardim, e deu-lhes uma tarefa gigantesca: deveriam exercer domínio sobre toda a terra e enchê-la de pessoas (Gn 1.28). Eles só poderiam ser bem--sucedidos nesse chamado se desenvolvessem ferramentas apropriadas para a tarefa: arados para preparar a terra para o que seria plantado, serras para cortar madeira e transformá-la em combustível e pontes para atravessar rios. Os primeiros humanos eram completamente dependentes de suas ferramentas e, desde então, cada um de nós, em todas as áreas da vida, depende das ferramentas. Isso inclui você, em sua busca por produtividade. [p.47] As três ferramentas essenciais são: Gestão de tarefas, agendamento e informação. [p.49] Estas tarefas serão bem desenvolvidas pelo autor nos capítulos seis, sete e oito.

SEIS: Insira Suas Tarefas – A primeira ferramenta que você precisa dominar é a ferramenta de gestão de tarefas. Essa ferramenta representa o coração de um sistema eficaz de produtividade e você vai usá-la para armazenar e organizar seus projetos, tarefas e ações. Embora as três ferramentas sejam importantes, nenhuma é mais decisiva para o funcionamento do sistema que essa. Aliás, em certo sentido, todas as outras ferramentas são complementos dessa, pois é essa que, diariamente, determinará e impulsionará suas ações. [p.57]. Aqui ele começa a incentivar o uso de tecnologias e começa pelo Todoist.[3] Sem dúvida, um dos aspectos que mais chamam a atenção no Todoist é a interface descomplicada e a usabilidade, que são padronizadas entre todas as plataformas onde está presente. Desta forma, os desenvolvedores mostram a sua preocupação em criar um app com foco na produtividade e na agilidade.

SETE: Planeje Seu Calendário – Com suas tarefas no lugar apropriado, chegou a hora de analisar a terceira e última ferramenta essencial: sua ferramenta de agendamento, ou calendário. Embora o uso de calendários de papel ainda possa ser benéfico, os calendários eletrônicos dos dias atuais trazem recursos novos e poderosos, como o compartilhamento e as notificações, e essas novidades os tomam indispensáveis à produtividade. [p.63] Como aplicativo de agendamento, o autor recomenda Google Agenda [4]

OITO Junte Suas Informações – Com seus eventos e informações no lugar apropriado, você está pronto para lidar com sua ferramenta de gestão de informações. Como você sabe, essa ferramenta é usada para inserir, administrar e acessar informações. É um lar para os substantivos da vida — para os dados, os fatos, os documentos e as informações que talvez você precise acessar no futuro. Funciona como seu cérebro auxiliar. [p.70] Aqui o autor recomenda o Evernote.[5]

NOVE: Vivencie o sistema – O autor neste capítulo ele fala de algo essencial para toda aquele que deseja ser organizado – a motivação. Ele afirma: “Se você olhar com honestidade para sua vida, inevitavelmente enxergará momentos em que esteve altamente motivado e outros em que quase não tinha motivação. Esses momentos de muita motivação normalmente são o Réveillon, o início de um novo ano letivo ou quando sua vida passa por uma transição significativa. Em momentos assim, você ama estar organizado e é capaz de ter uma vida estruturada. Por algum tempo, tudo vai bem, e ser produtivo é fácil e divertido. Mas, com o passar do tempo, você fica preguiçoso, ocupado ou estressado, e o que antes era divertido toma-se penoso. Sem perceber, você volta à estaca zero. Por que esse retrocesso acontece? Por que esse padrão se repete? A motivação é como a lua: cresce e diminui. Às vezes, está cheia e brilhante; outras vezes, está completamente oculta. A motivação produz o desejo e a energia de começar a realizar mudanças em sua vida, mas, sozinha, não é capaz de sustentá-los. Todavia, isso não significa que você não possa ser produtivo mesmo quando sua motivação é pouca. Como muitos já observaram, a motivação dá o pontapé inicial, más o hábito é o que faz perseverar. Você precisa usar os momentos de motivação em alta para construir hábitos e embuti-Ios em um sistema. Assim, quando a motivação diminuir, o sistema fará você perseverar. [p.81-82]

Para mim, o ápice da proposta deste livro é o quarto ponto deste capítulo, intitulado CORAM DEO.[6] Veja só o que o autor escreve: Para gerenciar sua vida de forma eficaz, você precisa saber quais são as tarefas possíveis para aquele dia, quais são as tarefas necessárias para aquele dia e qual é o tempo necessário para realizá-las. Quando você dispuser dessas informações, pode começar a inserir as tarefas no seu dia como peças de um quebra-cabeça – você define os horários para realizar as tarefas. Isso é o que você tem de fazer na fase de planejamento diário. O objetivo dessa fase é considerar todos os seus projetos, obrigações e compromissos e, em espírito de oração, escolher as tarefas que receberão sua atenção naquele dia. Para fazer isso, você seguirá uma rotina em que todas as tarefas possíveis serão apresentadas para que você possa escolher quais delas tentará realizar. [p.85]

DEZ: A Manutenção Consistente do Sistema – O décimo capítulo, na minha opinião, é o mais preciso, porque, como diz o título, trata-se de manutenção destes hábitos adquiridos para que possa haver uma verdadeira produtividade. O autor escreve: “Agora, seu sistema está funcionando sem problemas e, diariamente, você está cumprindo com suas tarefas. Mas ainda não terminamos. É preciso abordar uma questão importante. Você já deve ter percebido que não há nada neste mundo que se incline naturalmente à ordem. Não há nada neste planeta pecaminoso que, por conta própria, se tome mais ordeiro. Seu sistema de produtividade não é uma exceção. Ele precisa de manutenção constante para continuar funcionando bem. Você precisa livrar-se do pensamento de que só tem de se preocupar com a organização de sua vida uma única vez. Pelo contrário, a produtividade não é um sistema que você organiza e depois esquece; é algo que, regularmente, exige atenção especial. Não é algo que você configure uma vez e, em seguida, finalize. É algo que você precisa constantemente aperfeiçoar. [p.99]

Finalmente, a palavra de conclusão deste livro: Obrigado por ler e por ouvir. Enquanto estava preparando este livro, minha oração foi para que você se sentisse estimulado ao amor e às boas obras que Deus nos chama a realizar (Hb 10.24). Como humanos criados à imagem de Deus e como cristãos salvos pela graça de Deus, nós temos um privilégio extraordinário. Temos a alegria e a responsabilidade de administrar nossos dons, talentos, tempo, energia e entusiasmo pelo bem das pessoas e para a glória de Deus. Esse é o seu privilégio e esse é o seu propósito. Então, vá em frente, faça mais e melhor.

No final deste livro, tem dois outros anexos, que o autor chama de BÔNUS: “Domando Seu E'mail” e “Vinte Dicas para Aumentar Sua Produtividade”.

Para adquiri este livro, é só clicar na imagem e será direcionado para o site da Editora Fiel.


___________________
[1] Sinopse do livro.
[2] https://vidaorganizada.com/ é um blog de Thais Godinho com ótimas dicas de como ter uma vida organizada. Ela indica métodos, livros, filmes tudo com o propósito pedagógico.
[3] Todoist é uma ferramenta que gerencia listas de tarefas e sincroniza-as entre diversos dispositivos. As atividades criadas pelos usuários podem ser organizadas pela data limite da entrega ou pelo projeto à qual elas pertencem. Gratuito, além da versão web, o serviço possui aplicativos para Windows, OS X, Android, iOS e pode ser instalado como extensão para Google Chrome e Mozilla Firefox. Acesse o link e conheça https://todoist.com/
[4] Segundo o site < https://www.qinetwork.com.br/google-agenda-ferramenta-de-organizacao-e-praticidade/> Este aplicativo é dedicado à facilitar e otimizar as atividades do dia a dia, o Google Agenda é uma das ferramentas mais utilizadas pelas empresas que já fazem uso do pacote G Suite. Com o Google Agenda, você organiza seu dia, recebe lembretes de eventos em sua caixa de email ou celular, e ainda pode anexar arquivos ou documentos em seu evento. Marcar compromissos e reuniões fica muito mais fácil, pois é possível ter acesso a agenda de todos seu amigos e colegas de trabalho.
[5] O Evernote é uma plataforma organizacional disponível para Android, iPhone (iOS), Windows Phone, Windows, MacOS e Web. Sua função é coletar, organizar e anotar informações anotadas no seu computador, celular, ou até mesmo através do website, e sincronizar tudo isso com um banco de dados virtual só seu.
[6] Coram Deo, uma frase em latim que significa "na presença de Deus" que nos faz lembrar diariamente que isto é a verdadeira razão do nosso viver. R. C. Sproul explica suas implicações: "Viver Coram Deo é viver a vida inteira na presença de Deus, sob a autoridade de Deus, para a glória de Deus". Uma pessoa que vive consciente da presença de Deus, que vive sob a autoridade de Deus e que deseja glorificar a Deus será muito motivada a fazer o bem — a fazer o máximo possível pelo bem das pessoas. 

sexta-feira, 26 de abril de 2019

TEOLOGIA PURITANA [Resenha]


BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana: Doutrina para a VidaSão Paulo: Vida Nova, 2016, 1524p. [1]

Não é exagero afirmar que se tornou proverbial o dito de J. I. Packer, quando ele afirma que “os puritanos eram gigantes em comparação a nós, gigantes de cuja ajuda carecemos, se quisermos crescer”.[2] A afirmação é justificada a partir de diversas contribuições dos puritanos elencadas pelo próprio Packer, de maneira que a que merece destaque é: “os puritanos me fizeram perceber que toda teologia também é espiritualidade, no sentido de exercer influência, boa ou má, positiva ou negativa, no relacionamento ou na falta de relacionamento das pessoas com Deus”.[3]

A prova da afirmação de Packer pode ser vista naquela que, muito provavelmente, foi a maior publicação dentre todas as editoras brasileiras, no ano passado: Teologia Puritana: Doutrina para a Vida, de Joel R. Beeke e Mark Jones, dois dos maiores especialistas contemporâneos nos puritanos. Joel Beeke, já bastante conhecido do público brasileiro, é presidente e professor de Teologia Sistemática e Homilética do Puritan Reformed Theological Seminary, além de pastor na Heritage Reformed Congregation, em Grand Rapids, Michigan. Obteve seu doutorado (PhD), em Teologia da Reforma e Pós-Reforma, pelo Westminster Theological Seminary, na Filadélfia, Pensilvânia. Nas palavras do seu co-autor: “Ele é um puritano contemporâneo tanto no conhecimento quanto na piedade” (p. 21). Mark Jones, por sua vez, é ministro presbiteriano, pastor da Faith Presbyterian Church, uma congregação filiada à Presbyterian Church in America, em Vancouver, Colúmbia Britânica, no Canadá. Pesquisador Associado da Faculdade de Teologia da University of the Free State, em Bloemfontein, na África do Sul. Jones obteve o seu doutorado (PhD) pela Leiden Universiteit. Interessetantemente, sua tese de doutoramento tratou da Cristologia do puritano Thomas Goodwin.

A Teologia Puritana nada mais é do que uma Teologia Sistemática elaborada a partir dos escritos dos puritanos: “Este livro trata de teologia puritana. Seus capítulos examinam várias áreas da teologia sistemática do puritanismo” (p. 23). Possui um total de oito loci (Prolegômenos, Teontologia, Antropologia e Teologia do Pacto, Cristologia, Soteriologia, Eclesiologia, Escatologia e Teologia na Prática), que compreendem sessenta capítulos. É importante destacar algo da metodologia dos autores, a saber, muitos dos capítulos lidam com temas teológicos clássicos, como por exemplo, teologia natural, hermenêutica e exegese, a Trindade, a providência, a pecaminosidade do pecado, as alianças das obras, da redenção e da graça, lei e evangelho e a regeneração. Outros capítulos apresentam a maneira como um puritano em específico lidou com determinado tema: “Stephen Charnock e os atributos de Deus”, “Thomas Goodwin e Johannes Maccovius e a justificação desde a eternidade”, “Anthony Burgess e a intercessão de Cristo por nós”, “Thomas Goodwin e o amoroso coração de Cristo” e “Christopher Love e as glórias do céu e os pavores do inferno”, por exemplo. Os capítulos que abordam temas teológicos “apresentam um quadro daquilo que se pode chamar de ‘posição puritana’ ou ‘consenso puritano’” (p. 29). Já os capítulos que se concentram num único puritano possuem o objetivo de “oferecer uma ideia razoavelmente abrangente acerca do que um teólogo específico pensava sobre uma doutrina específica” (p. 29).

Logo na Introdução os autores fazem questão de destacar que o movimento não era caracterizado por uniformidade em termos de linha teológica. Nem todos eram reformados ou calvinistas, como se supõe (p. 24). Richard Baxter (1615–1691), por exemplo, era neonomiano; John Goodwin (1594–1665), arminiano; John Milton (1608–1674), provavelmente ariano; e John Eaton (c. 1575-c. 1631), antinomiano. Não obstante, “a imensa maioria dos puritanos fazia parte do movimento teológico mais amplo denominado ortodoxia reformada” (p. 25).

Em razão da vastidão a obra, torna-se contraproducente uma apresentação exaustiva do seu conteúdo. Ainda assim, alguns destaques devem ser feitos, como, por exemplo, a dupla “estrutura arquitetônica” da obra: 1. A Teologia do Pacto; e 2. Seu caráter trinitariano. Logo no primeiro capítulo, ao tratarem da revelação, os autores destacam o caráter pactual do conhecimento de Deus em Cristo. De acordo com eles, a revelação de Deus a Adão se deu no contexto de um pacto denominado “pacto das obras”. Se assim foi necessário com Adão no Jardim no Éden, quanto mais o seria no contexto da Aliança da Graça: “A doutrina da aliança foi importante para os teólogos reformados do século 17, pois permitia que expressassem a natureza relacional da teologia, que é o propósito da revelação” (p. 55). É a doutrina do Pacto que estabelece a ponte que transpõe o abismo ontológico entre o Criador infinito e onipotente, de um lado, e a criação finita e dependente, de outro. Essa revelação, todavia, é cristológica, ou seja, ela é dada em Cristo e por meio dele através das várias alianças pós-queda, alcançando o seu ápice na Nova Aliança. A teologia do pacto como estrutura arquitetônica do pensamento puritano também se faz evidente quando os autores analisam a hermenêutica e a exegese puritanas. Tanto o pacto das obras quanto o pacto da graça funcionam como categorias hermenêuticas do pensamento puritano. Toda a Escritura é interpretada em termos dos dois pactos e os puritanos se esforçavam por destacar as semelhanças e distinções entre as duas. Beeke e Jones destacam como em seu método interpretativo, os puritanos ressaltavam a maneira como em cada administração pactual a revelação acerca de Jesus Cristo progredia:

Thomas Adams (1583–1652) comenta que Cristo é a “soma de toda a Bíblia, profetizado, tipificado, prefigurado, exibido, demonstrado, a ser encontrado em cada página, quase em cada linha […] Cristo é a parte principal, o centro para onde todas essas linhas conduzem”. De modo semelhante, ao comentar sobre como Cristo é o alvo e a extensão das Escrituras, Richard Sibbes (1577–1635) observa: “Cristo é a perola daquele anel, Cristo é o tema, o centro em que convergem todas aquelas linhas: remova Cristo e o que sobra? Portanto, em todas as Escrituras cuidemos para que Cristo não nos escape; sem Cristo, tudo é nada”. Isaac Ambrose (1604–1664) afirma que antes da encarnação Cristo vinha sendo apresentado em “cerimônias, rituais, símbolos, tipos, promessas [e] alianças” […] Em cada dispensação da revelação de Deus a seu povo, mais e mais de Cristo é apresentado por meio dos vários meios relacionados por Ambrose (pp. 63–64).

Beeke e Jones demonstram como além de pactual, a teologia puritana possui uma forte ênfase trinitária. Em todos os loci teológicos o enfoque trinitário dos puritanos pode ser percebido. Explicitando a eclesiologia de John Owen e Thomas Goodwin, os autores dizem o seguinte: “À semelhança de John Owen, Thomas Goodwin insistia numa teologia totalmente trinitária, não apenas uma doutrina trinitária da salvação” (p. 909). Três conceitos específicos a respeito das opera ad extra trinitatis são mencionados em conexão a diversas doutrinas: imanentes, transientes e aplicadas:

1. Imanentes em Deus em seu relacionamento conosco, conforme seu amor eterno estabeleceu e nos concedeu, sendo que Deus, por causa desse amor, nos escolheu e determinou que recebêssemos essa e todas as demais bênçãos;

2. Transientes em Cristo naquilo que fez por nós, em tudo que fez ou sofreu ao nos representar e ao tomar o nosso lugar;

3. Aplicadas, isto é, operadas em nós e por nós, todas aquelas bênçãos que o Espírito nos outorga, como chamado, justificação, santificação, glorificação (p. 210).

Tais conceitos podem ser vistos como estando relacionados a diversas doutrinas, como por exemplo, os atributos de Deus, especialmente o seu amor (p. 130), a justificação (pp. 210–229), a eleição (p. 235), a ordem dos decretos (p. 240), o Pacto da Redenção (p. 361) e a união mística com Cristo (p. 690). O gênio da teologia dos puritanos está justamente na maneira coesa como todos os loci teológicos são unidos, possuindo a teologia do pacto como a sua estrutura arquitetônica e a doutrina da Trindade como seu elemento norteador.

Dentre os sessenta capítulos da obra, alguns podem ser destacados, uma vez que apresentam conceitos e detalhes bastante interessantes a respeito do pensamento teológico dos puritanos ou de algum deles, especificamente. Em primeiro lugar, o capítulo 9, que discute o supralapsarianismo cristológico de Thomas Goodwin. Esta designação advém do fato de Goodwin fundamentar o seu supralapsarianismo em sua cristologia, tendo em mente “a glória do Deus-homem, Jesus Cristo, que une a igreja consigo” (p. 233). O diferencial da posição de Goodwin está em como ele apresenta a glória de Cristo e o desejo do Pai de agradar o seu Filho, como o propósito supremo e principal da eleição. Na discussão acerca do infralapsarianismo versus o supralapsarianismo é comum entender a reconciliação com Deus como sendo o propósito principal da eleição. A ideia por trás deste pensamento é que Jesus Cristo foi dado pela igreja, ou ainda, que ele foi entregue para, acima de todas as coisas, operar a reconciliação entre Deus e o homem. Ainda que a obra de Cristo tenha tido tal propósito, Goodwin entendia que não se tratava do fim supremo nem da obra vicária de Cristo nem da eleição. Beeke e Jones sublinham que, para Goodwin, “Cristo é o objetivo da eleição e de todas as outras coisas” (p. 238). Isto quer dizer que o principal motivo da predestinação de Cristo para ser o Redentor, não foi que os pecadores pudessem ser salvos pelos benefícios da sua obra. Antes, o motivo primário foi que a suprema excelência da sua pessoa fosse contemplada pelos pecadores. Todos os benefícios advindos da obra redentora de Cristo possuem um valor bem inferior à dádiva da sua pessoa. No Conselho da Redenção, que teve lugar na eternidade, ao decretar que o Filho assumisse a natureza humana, Deus, o Pai, não levou em consideração apenas a necessidade do ser humano de um redentor. Ele levou em consideração, acima de tudo, nas palavras do próprio Goodwin, citadas pelos autores: “aquela glória infinita da segunda pessoa a ser manifesta naquela natureza mediante essa apropriação. Os dois objetivos o levaram a agir, e, dos dois, a glória da pessoa de Cristo naquela união e por meio daquela união teve maior peso na eleição, de modo que até mesmo a própria redenção esteve subordinada à glória da sua pessoa” (p. 239).

Desse modo o esquema supralapsariano adquire um fundamento mais forte, uma vez que o foco é mudado de Cristo sendo dado aos pecadores, para estes sendo levados pelo Pai àquele, a fim de que a sua glória seja mais plenamente exibida. Decretar a encarnação apenas para que pecadores fossem salvos, ainda que um objetivo belo, seria diminuir e rebaixar a pessoa do Filho. A glória de Cristo é mais preciosa que a salvação dos eleitos.

No capítulo 25 os autores abordam outro aspecto do pensamento de Thomas Goodwin, mais especificamente, o amoroso coração de Cristo para com o seu povo. Em 1645, ele publicou a obra The Heart of Christ in Heaven Towards Sinners on Earth (O Coração de Cristo no Céu Voltado para Pecadores na Terra). Nessa obra Goodwin tinha o propósito de refutar a ideia bastante divulgada de que os cristãos do período pós-apostólico viviam em desvantagem em relação aos cristãos que conheceram a Cristo aqui na terra. O argumento que apoiava tal ideia era o de que, uma vez que, agora, Cristo está glorificado, ele é menos afetado por sua humanidade. De acordo com Beeke e Jones, “Goodwin afirmou que, com base nas Sagradas Escrituras, Cristo tem sentimentos fortes, compaixão profunda e empatia cheia de emoções por seu povo sofredor, mesmo quando já está assentado à direita de Deus” (p. 563). O argumento é que a exaltação de Cristo, diferentemente do que era crido por muitos, não diminuiu as suas emoções, mas que, ao contrário, as aumentou. O problema enfrentado por Goodwin era que, se Cristo “depois de ter se livrado de sua fragilidade aqui na carne e depois de ter vestido sua natureza humana com uma glória tão magnífica” se lembra de nós no céu, “ele é incapaz de se compadecer de nós da mesma maneira que fazia quando habitou conosco aqui embaixo; tampouco podem seus sentimentos ser afetados e tocados pelas nossas fraquezas”. Com certeza, ele deixou para trás todas as lembranças de fraqueza e dor (p. 564).

Uma vez que as Escrituras afirmam, de modo inequívoco, que “não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas” (Hb 4.15), é legítimo e correto inferir que as fraquezas do seu povo inspiram a compaixão de Cristo. Esclareça-se que, o termo “fraquezas” envolve tanto as dificuldades de cunho geral quanto pecados específicos: “Até mesmo nossa tolice e nossas escolhas pecaminosas despertam a compaixão de Cristo” (p. 565). As palavras de Goodwin citadas pelos autores são belas: “Vossos próprios pecados levam [Cristo] mais à compaixão do que à ira […] da mesma maneira como acontece com o coração de um pai para com o filho que tem alguma doença repugnante. Ou, de semelhante maneira, a atitude de alguém que tem uma parte do corpo com lepra não é odiar aquela parte, pois é sua carne, mas a doença, e isso o leva a ter ainda mais compaixão da parte afetada” (p. 565).

O compassivo coração de Cristo o leva a se inclinar com bondade em direção ao seu povo, ainda que sentindo repulsa pela imundícia inerente a tais pecados. Deve ser compreendido, porém, que o fato de Cristo reagir com compaixão aos pecados do seu povo, isso não implica em que ele ainda experimente qualquer tipo de sofrimento, visto a sua humilhação ter se completado na crucificação e no sepultamento. Ao questionamento sobre como é possível, então, que ele se sinta tocado pelos sentimentos gerados pelas debilidades humanas, Goodwin respondia que esse não é um ato de fraqueza, mas do poder do amor celestial. Embora Cristo não esteja mais sujeito a nenhum tipo de fragilidade, ele continua sendo alguém plenamente humano, com emoções, corpo e alma humanos: “Assim, nossos sofrimentos não ferem a Cristo, mas sua alma humana reage a nossos sofrimentos com ternura gloriosa e admirável” (p. 567).

Por fim, é importante destacar o capítulo 57, que aborda a casuística puritana. Primeiramente, o termo casuística, conforme definido pelos puritanos, não trata da “técnica desenvolvida pelos jesuítas para encontrar pretextos pata não fazer o que você deve fazer” (p. 1309). Antes, para os puritanos, a casuística era arte da teologia moral aplicada com integridade bíblica a diversos casos de consciência. Em outras palavras, a casuística puritana tratava de como casos de consciência eram tratados de acordo com as Sagradas Escrituras, algo bem próximo do que hoje é chamado de aconselhamento bíblico e pastoral. O capítulo é dividido em: 1. O início da casuística puritana, ainda no século 16, com Richard Greenham (1542–1594). Nesse período, as anotações dos casos de consciência tratados eram abundantes, indo “desde se as pessoas podiam deixar de ir ao culto de sua igreja para ouvir um pastor pregar em uma igreja vizinha até se alguém que havia admitido ter mentido aos amigos sobre um pecado de ordem pessoal devia agora confessá-lo em público” (p. 1312). 2. Uma apresentação de William Perkins como o pai da casuística puritana, visto ter ele estabelecido o “padrão para toda a obra posterior de teologia moral protestante” (p. 1315). 3. O florescimento da casuística puritana, nas obras de William Gouge (1575–1653), William Whately (1583–1639), Robert Bolton (1572–1631) e o discípulo mais famoso de Perkins, William Ames (1576–1633), que escreveu uma das mais importantes obras da casuística puritana: Conscience, with the Power and Cases Thereof (A Consciência, seu Poder e seus Casos), publicada em 1630, primeiramente em latim, e, posteriormente, em inglês, em 1639. 4. O apogeu da casuística puritana, com destaque para o trabalho de Thomas Brooks (1608–1680). 5. O desaparecimento da casuística puritana durante as últimas duas décadas do século 17. De acordo com Beeke e Jones, isso aconteceu em virtude do surgimento do deísmo, do embate com o socinianismo e com o arminianismo e dos ataques de Thomas Hobbes e John Locke à validade da ideia de consciência.

Não há dúvidas de que Teologia Puritana foi o grande lançamento editorial do ano de 2016. Numa época de redescobrimento do pensamento dos teólogos puritanos, uma teologia sistemática que apresenta o seu pensamento teológico é bem-vinda. Certamente, todos os amantes dos puritanos devem ler essa obra. Além disso, o livro é uma ferramenta indispensável para todos aqueles que desejam compreender, de fato, o que era ensinado pelos puritanos. Pesquisadores e estudantes em Teologia Sistemática muito se beneficiarão dessa obra. Algo interessante é que os autores deixaram de fora tópicos considerados difíceis em nossos dias, como Princípio Regulador do Culto e salmodia exclusiva. Por fim, destaca-se o caráter devocional com que as doutrinas e os tópicos são apresentados pelos autores.


___________________________

[1] Resenha de autoria do Rev. Alan Rennê, publicado originalmente no seguinte link: <https://medium.com/@alanrenn/teologia-puritana-resenha-365d26661152> Esta publicação é feita com a devida autorização.
[2] PACKER, J. I. Entre os Gigantes de Deus: uma visão puritana da vida cristã. 2.ed. São José dos Campos: Fiel, 2016. p. 22.
[3] Ibid. p. 20.

INABALÁVEIS [Resenha]


SOUZA, Paulo R. Inabaláveis: como manter a fé e nunca se desviar do caminho. GOIANIA, GO: Editora Publicar, 2019. 104p. 


UMA PALAVRA

Não haverá sobrevivência religiosa se não houver firmeza e ter uma postura inabalável. Daí a veemente exortação de Paulo: “Sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor” (1 Co 15. 58). Firmeza e inabaláveis não são palavras diferentes, são palavras idênticas com conotações diferentes. Mas, aqui neste texto é tratado como e com o mesmo significado.

Portanto, sem firmeza ninguém suporta a pressão da carne, a pressão do curso deste mundo e a pressão do diabo. Sem firmeza ninguém suporta a provação, a provocação e a tentação. Sem firmeza ninguém suporta certas circunstâncias, certos acontecimentos e certos lugares. Sem firmeza ninguém suporta a dor, a doença e a morte. Sem firmeza ninguém suporta a tristeza, a depressão e o estresse. Sem firmeza ninguém suporta o vazio, a solidão e a saudade. Sem firmeza ninguém suporta o imprevisto, o revés e a ruína. Sem firmeza ninguém suporta a indiferença alheia, o desamor e o ódio. Sem firmeza ninguém suporta a crise da adolescência, a crise da maioridade e a crise da terceira idade. Sem firmeza ninguém suporta a falta de emprego, a falta de dinheiro e a falta de comida.

A ausência de firmeza explica o abandono da fé, o abandono da esperança, o abandono do entusiasmo e o abandono do compromisso evangélico da parte de não poucos cristãos, depois de um razoável período de fidelidade a Cristo. É como cantamos: “Quantos que corriam bem/ De ti longe agora vão!/ Outros seguem, mas também/ Sem calor vivendo estão”.

Sem firmeza a fé não consegue desafiar o tempo. O tempo é a maior prova da autenticidade e da firmeza da fé. Jesus menciona este fato na parábola do semeador. O que aceita a Palavra com alegria mas não se preocupa com o crescimento da raiz terá fé de pequena duração: “Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da Palavra, logo a abandona” (Mt 13.21).


O AUTOR E O SEU LIVRO

Paulo R. Souza é evangelista, especialista em consolidação, com 13 anos de estudos sobre os principais problemas da vida cristã, é um ótimo conhecedor de estruturas de igrejas celulares. Casado com Rafaela César da Fonseca Prado, pai de Helloísa Fonseca e Fernanda Fonseca. É um fazedor de tendas, pois atualmente possui uma empresa de automoção comercial. Na igreja em que congrega é professor da escola bíblica, ministro da palavra e auxiliar em outros departamentos. É um incansável pesquisador sobre os principais problemas e soluções da igreja.

Uma fé inabalável é o assunto do livro experimental do nosso irmão e Evangelista Paulo R. Souza. No prefácio, ele escreveu: “Todo ser humano tem praticamente as mesmas dificuldades: problemas consigo mesmo, com a família, com o dinheiro, com a sociedade e com Deus. Não é diferente em nossa vida cristã. Nesse livro quero falar de situações que provavelmente você irá encontrar em sua caminhada com Deus. Iremos viajar em exemplos práticos baseados em pesquisas e testemunhos de pessoas que caíram em sua fé cristã e ponto de não conseguirem mais voltar. Se somente um destes exemplos falar com você, o propósito deste livro estará concluído, pois o meu objetivo como escritor é ajudar o máximo de pessoas possível para evitar a dor de sair dos caminhos do Senhor. Prometo a você que, se seguir os passos deste livro, irá conseguir se manter forte e jamais vai se perder em sua fé.”

O livro “Inabaláveis” está dividido em onze capítulos carregados de testemunhos, fundamentação bíblica e experiência pessoal, que traz os seguintes temas:


Capitulo 1: Não sou bom o suficiente para isto – O autor diz que neste capítulo, irá falar a respeito de um sentimento que todo novo convertido (e até crente mais velhos!) Tem em seu interior: o sentimento de não ser bom o suficiente, ou de não ter nascido para ser cristão. Vamos ver a luz da Palavra por que isto é uma mentira do diabo. Se você se identificar com este capítulo, preste atenção, pois ele pode mudar totalmente sua vida. [p.13]

Capítulo 2: Pequei. E agora? – Muitos novos convertidos têm desistido da fé cristã porque não conseguiram lidar com o pecado. Além disso, não conseguiram entender e aceitar o perdão de Deus. Este, para o autor, talvez, seja o maior fator para uma pessoa se desviar dos caminhos do Senhor. Portanto, neste capítulo, o autor pretende trabalhar junto com o leitor, sobre como evitar o pecado e como ser perdoado por Deus para viver uma vida reta.

Capítulo 3: Pensei que tudo fosse mudar rápido – o autor quando inicia este capítulo, ele dá o seu testemunho sobre como foi difícil a sua conversão como respeito as mudanças que esperavam e decepção com respeito ao processo de restauração. Ele escreve: Como eu achava que mudaria de um dia para o outro, os dias, semanas, meses e anos foram-se passando e eu continuava com aquelas dores dentro de mim, que me impediam de viver o melhor de Deus e a totalidade da vida cristã. E é claro que, como qualquer ser humano, a dor foi virando desânimo. Este é o conteúdo deste capítulo.

Capítulo 4: Cuidado com que você anda – Para o autor, as companhias erradas que temos é algo que passa muitas vezes despercebidas, e que não conseguimos entender o porquê que parecemos tanto com as pessoas que estão ao nosso lado. Não entendemos também porque acabamos nos tornando como elas. Para o autor, isto é um problema e trata-se do conteúdo de todo este capítulo.

Capítulo 5: O diabo está me atrapalhando – Este capítulo, o autor convida a uma reflexão sobre este assunto e começa assim: “Nos dias atuais temos colocado a culpa de tudo o que acontece em nossas vidas e até mesmo daquilo que fazemos no diabo, pois mais que pareça estranho dizer que na realidade o diabo não é culpado de tudo o que acontece na vida das pessoas, temos que admitir que nem tudo é culpa dele.”

Capítulo 6: Eu sou muito bom – Neste capítulo, o autor afirma que um dos maiores problemas que o crente pode enfrentar após algum tempo de conversão, é o ego descontrolado. O ego inflado é um inimigo implacável da caminhada cristã. Por causa dele, muitos não chegam até a vitória, e os que o alcançam é porque passaram por momentos difíceis e venceram o ego, pois ele tem grande potencial para desviar o homem do caminho reto.

Capítulo 7: Acontece tanta coisa ruim na minha vida que duvido que Deus me ame – Neste capítulo, o autor se propõe a falar um pouco sobre as adversidades que as pessoas gostam de falar como sendo “prova de Deus”. O autor quer mostrar na Palavra de Deus que existe um objetivo nas adversidades e que mesmo não sendo agradável serve para nosso crescimento. Se em algum momento da sua vida você já se encontrou abatido por alguma circunstância este capítulo vai te ensinar muita coisa.

Capítulo 8: Como deixo de amar o mundo – O autor ensina que o cristão tem basicamente três inimigos principais: o diabo, a carne e o mundo. Neste capítulo, o autor se propõe a falar sobre o terceiro inimigo. Para ele o mundo é um dos maiores, se não o maior inimigo do crente. Ele é um inimigo tão perigoso que até mesmo pessoas que há anos são cristãs acabam sendo derrotadas por ele.

Capítulo 9: Quando a graça vira desgraça – “Neste capítulo, diz o autor, vou falar sobre um assunto polêmico e que, por cauda dele, provavelmente serei criticado. Quero deixar claro que acredito totalmente na graça e sei o que ela é. Porém, não acredito e não consegui encontrar na Bíblia onde a graça dê embasamento ao ser humano para sair pecado e fazendo coisas erradas. Sem me delongar na introdução deste assunto, proponho discutir sobre ele.”

Capítulo 10: Decepção com a estrutura e com pessoas – Chegamos ao último desafio para o crente e para pessoas que estão envolvidas na igreja há anos fazendo algum trabalho. Creio que o temas deste capítulo é a maior dificuldade que enfrentam. Se você chegou a ter esse problema é sinal de que você venceu todos os obstáculos até aqui. Porém, se você se perder neste ponto será muito difícil se recuperar, mas, não é impossível. Contudo, se você ainda não passou por esse problema é muito importante que grave bem esse capítulo, pois um dia você vai passar por ele.

Capítulo 11: Uma breve palavra ao líder, pastor etc. – O último capítulo é uma espécie de epístola escrita sobre a necessidade que se tem de desempenhar o serviço cristão com amor. O autor descreve assim já no primeiro parágrafo: “Querido líder que toma conta de alguma função na igreja, seja qual for. Claro que você deve ter influência com as pessoas mesmo que seja uma pessoa somente. A responsabilidade maior está em suas mãos. Jesus disse: ‘ai daqueles que fizer um dos meus pequeninos se desviarem’, fazendo isto, Jesus deixou claro a importância que ele dá não somente à salvação mas também à caminhada cristã da pessoa. A sua maior responsabilidade é amar essas pessoas, uma vez que você consegue amá-las, você consegue suportar os defeitos, os pecados, e até mesmo as atitudes.”


CONCLUSÃO

Um crente inabalável, que resiste todos os embates em todo tempo, depende também da prática cristã. Basta ouvir o ensino de Jesus: “Quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha”. (Mt 7.24-25, NVI.)

Essa aliança de doutrina e prática, de fé e vida, de conhecimento e obras, de revelação e realização, de alvo e busca — é responsável por uma firmeza inabalável, da qual nenhum cristão sério e que deseja permanecer ligado a Jesus até a morte pode dispensar!

O livro pode ser adquirido diretamente com o autor. Clica na imagem acima que será levado para o instagram oficial @palavrarhemaa

quarta-feira, 24 de abril de 2019

DOZE MULHERES EXTRAORDINARIAMENTE COMUNS [Resenha]


MACARTHUR, John. Doze Mulheres extraordinariamente comuns: Como Deus usou as mulheres da Bíblia e como Ele pode usar você. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson, 2019. 224p.


O AUTOR - JOHN FULLERTON MACARTHUR [1]

John Fullerton MacArthur nasceu no dia 19 de junho de 1939 (77 anos), Los Angeles, Califórnia, EUA. Ele dá seguimento a mais uma geração de pastores em sua família, neste caso, a quinta geração de pastores.

John MacArthur é um pastor cristão que se destaca pelos livros que escreve. Textos inspirados e profícuos para a fé cristã. Suas obras já abençoaram milhões de pessoas ao redor do mundo. Seu ministério é frutífero, pois, além dos livros, ele atua no cenário evangélico fazendo palestras e pregações.

Ele atualmente preside o ministério Grace to You e atua desde 1969 como pastor e professor na Igreja Evangélica Grace Community Church, na Califórnia. Seu programa de rádio, Graça para Você, é veiculado internacionalmente. É considerado um dos pregadores mais influentes de seu tempo.

MacArthur tem base conservadora batista, e sua posição sobre alguns temas atuais segue essa linha. Quando é convidado para participar de programas de televisão, representa a perspectiva cristã, sendo vigoroso ao falar sobre assuntos considerados controversos como aborto, guerra, adultério, homossexualismo, entre outros.

Dentre seus trabalhos, o que mais se destaca é a Bíblia de Estudo MacArthur, com vendagem superior a 1 milhão de cópias, fato que lhe legou o reconhecido prêmio Gold Medallion Book Award.Outro importante trabalho de MacArthur são os Comentários sobre o Novo Testamento. Sua produção literária não para por aí, o Manual Bíblico MacArthur é uma obra relevante e muito estimada entre os estudantes da Bíblia.

Além das obras supracitadas, o renomado autor escreveu, entre outros, os seguintes livros: Introdução ao Aconselhamento Bíblico, Fogo Estranho, Como Estudar a Bíblia, A Parábola do Filho Pródigo, 12 Homens Extraordinariamente Comuns, A Outra Face de Jesus.

Ao todo são mais de 150 títulos que o renomado escritor produziu, atuando como autor ou editor. Acesse o link a seguir e veja os livros do notável e incansável pastor John MacArthur.


O LIVRO - DOZE MULHERES EXTRAORDINARIAMENTE COMUNS

Exaltadas por sua coragem, visão, hospitalidade e dons espirituais, não é de admirar que essas mulheres fossem tão importantes para o plano de Deus revelado no Antigo e no Novo Testamento. Não foram suas qualidades naturais que fizeram delas mulheres extraordinárias, mas o poder soberano do Deus a quem adoravam e serviram.

Em Doze mulheres extraordinariamente comuns, o renomado teólogo e autor best-seller John MacArthur apresenta mais do que informações fascinantes sobre a trajetória de algumas das grandes mulheres da Bíblia. Ele traça, através da vida dessas personagens, a cronologia inconfundível da obra redentora de Deus na história.

Nesta obra, MacArthur desafia você a lançar um olhar pungente e pessoal sobre a vida delas e suas histórias incríveis. Suas lutas e tentações são as mesmas enfrentadas pelos cristãos de hoje, de todas as idades, e o Deus a quem serviam com tanta devoção é o mesmo que continua a moldar e usar pessoas extraordinariamente comuns.[2]

O livro além dos agradecimentos e um belo prefácio – onde o autor justifica o motivo de escrever este livro – temos onze capítulos e cada um destes capítulos é um estudo biográfico completo sobre doze mulheres extraordinárias, com um guia de estudo no final. Para cada capítulo, eu transcrevi pequenos parágrafos para fomentar o leitor.

1. Eva - mãe de toda a humanidade – Criada por Deus especialmente para Adão, a partir de sua própria carne e osso, Eva combinava com Adão perfeitamente em todos os sentidos. Ela era uma ilustração maravilhosa da bondade da graça de Deus e da perfeita sabedoria de sua vontade. Repito que Deus a fez enquanto Adão estava dormindo, sem receber quaisquer dicas ou sugestões da parte dele. Mesmo assim, ela supriu todas as necessidades que Adão tinha, satisfez todos os anseios que ele possa ter sentido e agradou a todas as faculdades dos seus sentidos. Ela atendeu à sua necessidade de companhia, era fonte de alegria e prazer para ele e possibilitou a procriação da raça humana. Eva complementou Adão de forma perfeita e aperfeiçoou tudo o que diz respeito à sua existência. O Éden, a partir daí, passou a ser verdadeiramente um paraíso. [p.26]

2. Sara - esperando contra a esperança – Exemplo de contrastes e contradições, Sara era, de fato, uma mulher extraordinária. Apesar de ter dado à luz somente um filho e de não ter sido mãe até bem depois da idade fértil normal, ela é a matriarca principal da história hebraica. Apesar de sua fidelidade perseverante ser um dos aspectos mais exemplares do seu caráter, o erro mais crasso de sua vida envolveu um ato de infidelidade enorme. Às vezes, ela vacilou, mas, no final, perseverou contra os obstáculos incríveis, e a firmeza da sua fé se tornou a característica principal do seu legado. Na verdade, o Novo Testamento a consagra à galeria dos heróis da fé: “porque considerou fiel aquele que lhe havia feito a promessa” (Hebreus 11.11). E tem mais. Na verdade, do mesmo modo que o Novo testamento retrata Abraão como o pai espiritual de todos os que creem (Romanos 4.9-11; Gálatas 3.7), Sara é retratada como a matriarca espiritual e protótipo de todas as mulheres fiéis (1 Pedro 3.6). Longe de se concentrar nos momentos memoráveis em que Sara se comportou mal, ele a celebra como verdadeiro modelo de mulher adornada com “a beleza demonstrada num espírito dócil e tranquilo” (1 Pe 3.4). [p. 51,71]

3. Raabe - a redenção de uma vida horrível – Raabe é um belo exemplo do poder transformador da fé. Apesar de ter poucas vantagens espirituais e pouco conhecimento da verdade, ela tinha o coração voltado a YHWH. Ela arriscou a própria vida, abandonou um modo de vida que não honrava Deus e se afastou de tudo, exceto de seus parentes próximos, que ela trouxe para a comunidade do povo de Deus junto com ela. A partir daquele dia, ela teve uma vida completamente diferente, como uma verdadeira heroína da fé. Ela tem um lugar de honra em Hebreus 11, junto de outros nomes notáveis daquela “grande nuvem de testemunhas” que testificam sobre o poder salvador da fé. Depois do relato da destruição de Jericó, em Josué 6, o nome de Raabe nunca mais é mencionado no Antigo Testamento. Quando Josué observou que ela estava ainda morando em Israel, isso foi, provavelmente, muitos anos depois da queda de Jericó. Aparentemente, Raabe viveu em tranquila dignidade e graça em meio ao povo de Deus. Ela tinha sido radicalmente transformada do tipo de mulher que era. Ela era, e ainda é, um símbolo vivo do efeito transformador da fé salvadora. Essa é a mensagem principal da sua vida. [p.85-86]

4. Rute - lealdade e amor – A vida de Rute foi a experiência verdadeira e histórica de uma mulher genuinamente extraordinária. Foi também um retrato perfeito da história da redenção, contada com símbolos vivos e inspiradores. A própria Rute traz o perfil adequado de todo pecador. Ela era uma viúva estrangeira que foi morar em uma terra estranha. Trágicas circunstâncias a reduziram a uma pobreza deplorável. Ela não era somente marginalizada ou exilada, mas também era carente de tudo, reduzida a um estado de miséria total, do qual ela nunca esperaria ser resgatada por nada nesse mundo. Em sua total necessidade, ela buscou a graça do parente mais próximo de sua sogra. A história sobre como a sua vida foi transformada é uma das narrativas mais profundamente emocionante de toda a Bíblia. Rute é o símbolo adequado de todo cristão, e até mesmo da própria igreja – redimida, trazida a uma posição de grande favor, dotada de riquezas e privilégios, exaltada para ser a própria noiva do Redentor, e amada por ele com o afeto mais profundo. Essa é a razão pela qual a história extraordinária da sua redenção deve fazer com que o coração de todo cristão verdadeiro exploda em profunda alegria e gratidão por aquele que, de forma semelhante nos remiu do pecado. [p.89,104]

5. Ana - um retrato da graça feminina – Ana era diferente das mulheres que estudamos até agora, porque ela não estava na genealogia do Messias, mas sua famosa oração dedicatória, quando ofertou seu filho a Deus, é, na verdade, um hino profético para o Messias de Israel. De um modo bem claro, Ana cultivou a mesma esperança messiânica que estruturou a visão de mundo de quase todas as mulheres extraordinárias que estamos estudando. Ana [...] tinha um amor a Deus profundo e permanente. Seu entusiasmo espiritual era visto no fervor da sua vida de oração. Ela era mulher devota, cujos afetos se baseavam nas coisas do céu, não nas da terra. Seu desejo de ter um filho ter um filho não era um anseio de autossatisfação. Ela não estava pensando nela, nem em conseguir o que queria. Tratava-se de uma renúncia - dedicar-se àquela pequena vida para devolve-la ao Senhor. Séculos antes, Raquel, a esposa de Jacó, orou: “Dê-me filhos ou morrerei!” (Gênesis 30.1). A oração de Ana era mais modesta que essa. Ela não orou por “filhos”, mas por um filho. Ela rogou a Deus por um filho que fosse apto para servir no tabernáculo. Se Deus lhe desse um filho, ela o devolveria a Deus. Os gestos de Ana provaram que ela não queria um filho para seu próprio prazer, mas porque queria dedicá-lo ao Senhor. A Bíblia diz que Deus abençoou Ana com mais cinco filhos – três filhos e duas filhas. O seu lar e sua vida familiar se tornaram ricos e completos. Ela foi abençoada por Deus em receber a permissão de alcançar todas as ambições que tinha almejado realizar. Seu amor pelo céu, pelo marido e pelo lar ainda são as prioridades verdadeiras para toda esposa e mulher de Deus. Sua vida extraordinária se destaca como um exemplo maravilhoso para as mulheres de hoje que querem que seu lar seja um lugar onde Deus é honrado, mesmo em meio a uma cultura obscura e pecaminosa. Ana nos mostrou o que o Senhor pode fazer por meio de uma mulher dedicada a ele de forma total e irrestrita. Que a tribo dela venha a crescer! [p.106, 113-114, 121-122]

6. Maria - bendita entre as mulheres – De todas as mulheres extraordinárias nas Escrituras, uma se destaca dentre todas as outras como a mais abençoada, a mais bem-aventurada e a mais admirada universalmente. De fato, nenhuma mulher é tão marcante quanto Maria. Ela foi escolhida soberanamente por Deus – dentre todas as mulheres que nasceram – para ser instrumento único pelo qual ele, finalmente, traria o Messias ao mundo. A própria Maria testemunhou que todas as gerações a considerariam profundamente abençoada por Deus (Lucas 1.48). Isso não foi porque ela creditava ser algum tipo de santa sobre-humana, mas sim porque ela recebeu graça e privilégio extraordinários. A própria Maria nunca reivindicou ser, ou fingiu ser, algo mais do que uma humilde serva do Senhor. Ela foi extraordinária porque Deus a usou de um modo extraordinário. Ela claramente via a si mesma como perfeitamente comum. Ela é retratada nas Escrituras somente como um instrumento que Deus usou para cumprir seu plano. Ela mesmo nunca teve nenhuma pretensão de ser administradora da agenda divina, e nunca deu a ninguém incentivo para considera-la uma mediadora na dispensação da graça divina. A perspectiva submissa refletida na Magnificat é o mesmo espírito simples de humildade que influenciou toda sua vida e caráter. Realmente, é lamentável que a superstição religiosa tenha, de fato, idolatrado Maria. Ela, com certeza, é uma mulher digna de imitação, mas a própria Maria, sem dúvida, ficaria chocada só de pensar que alguém pudesse dirigir alguma oração a ela, venerasse sua imagem, ou acendesse velas em sua homenagem. Sua vida e testemunho nos apontam de forma coerente para seu Filho. Ele era o objeto de sua adoração. Ele era quem ela reconhecia como Senhor. Ele era aquele em quem ela confiava para tudo. O próprio exemplo de Maria, visto na luz pura das Escrituras, nos ensina a fazer o mesmo. [p.123, 141-142]

7. Ana - a profetisa: testemunha fiel – Ana aparece somente em uma introdução bem curta do evangelho de Lucas, mas sua menção nesse livro eleva a importância de sua vida e testemunho. Ela foi abençoada por Deus para ser uma das poucas testemunhas importantes que conheceram e entenderam a importância do nascimento de Jesus, e ela não fez nenhum esforço para guardar segredo. Por isso, passou a ser uma das primeiras e mais sólidas testemunhas de Cristo. Sem dúvida, em todos os lugares onde o evangelho de Lucas é proclamado, seu testemunho ainda leva pessoas ao Salvador. Por isso, ela merece um lugar importante em qualquer lista de mulheres extraordinárias. Na verdade, boa parte da vida extraordinária de Ana pode ser deduzida dos três versículos breves da Bíblia que são dedicados à sua história. A narrativa de Lucas está cheia de expressões importantes que nos dão um entendimento surpreendentemente rico sobre a vida e o caráter de Ana. É assim que essa mulher querida, que passou tantos anos na maior parte do tempo conversando com Deus, tornou-se mais conhecida por falar às pessoas sobre Cristo. O Messias, finalmente, tinha chegado, e Ana foi uma das primeiras a saber quem ele era. Ela não conseguiu se calar sobre essa notícia. Por isso, foi uma das primeiras e mais sólidas testemunhas de Cristo. Não há registros do que aconteceu com Ana. Ela sem dúvida já havia partido na época em que Cristo tinha começado o seu ministério público, trinta anos mais tarde. O dia de sua dedicação foi, provavelmente, a única vez que ela o viu, mas isso bastava para ela. Ela literalmente não conseguiu parar de falar sobre ele. Essa sim foi a parte mais cativante do legado extraordinário dessa mulher maravilhosa! [p.145-146, 153]

8. A mulher samaritana - encontrando a água da vida – Em João 4, encontramos uma mulher samaritana com um histórico bem sórdido, cujo nome não é revelado. Jesus a encontrou quando veio tirar água em um poço, e esse encontro transformou a sua vida. O apóstolo João dedicou 42 versículos para contar a história do encontro incrível dessa mulher com o Senhor. Essa parte tão importante das Escrituras não seria dedicada a esse episódio a menos que as lições contidas nele não fossem de suma importância. A primeira vista, boa parte da cena parece comum e sem importância. Trata-se de uma mulher anônima que realizava a tarefa mais banal do cotidiano: tirar sua porção diária de agua para sua casa. Ela veio sozinha, em uma hora em que, provavelmente, ninguém mais estivesse lá no poço. Essa foi, provavelmente, uma indicação de seu estado marginal. Jesus, viajando pela região a caminho de Jerusalém, estava descansando perto do poço. Seus discípulos estavam comprando comida na vila vizinha. Jesus, sem ter nenhum utensílio sem corda alguma para tirar agua, pediu à mulher para lhe dar de beber. Não se tratava de um incidente maravilhosos e, com certeza, essa não era uma cena que nos levaria a esperar que uma das lições teológicas mais profundas em toda a Bíblia estivesse começando. [p.155-156]

9. Marta e Maria - trabalho e adoração – Neste capítulo, entramos em contato com duas mulheres extraordinárias: Marta e Maria. Meditaremos sobre a vida delas em conjunto porque é desse modo que as Escrituras as apresentam de forma coerente. Elas moravam como seu irmão, Lázaro, na pequena vila de Betânia. Essa vila ficava a uma curta distância de Jerusalém, somente a três quilômetros a sudeste do portão oriental do Templo (João 11.18) – um pouco depois do Monte das Oliveiras, vindo do centro da cidade de Jerusalém. Tanto Lucas quanto João registram que Jesus foi bem recebido na casa dessa família. Ele foi até lá pelo menos em três momentos importantes nos evangelhos. Betânia era uma pousada comum para ele em suas viagens, e a casa dessa família parecia ser um local acolhedor para Jesus durante suas visitas à Judéia. Marta foi uma nobre mulher de Deus, que carregava um coração de serva e uma capacidade rara para o trabalho. Maria foi mais nobre ainda, com uma disposição incomum para a adoração e para a sabedoria. As duas foram notáveis à sua maneira. Se levarmos em conta seus dons e seus instintos em conjunto, eles nos dão um exemplo maravilhoso a seguir. Que possamos cultivar com dedicação os melhores instintos dessas duas mulheres extraordinárias. [p.167, 181]

10. Maria Madalena - liberta das trevas – Maria Madalena é um dos nomes mais conhecidos e menos entendidos da Bíblia. As Escrituras colocam de propósito uma cortina de silêncio sobre boa parte da vida e do perfil pessoal dela, mas Maria Madalena ainda desponta como uma das mulheres mais importantes do Novo Testamento. Ela é mencionada pelo nome em todos os quatro evangelhos, na maioria das vezes associada aos acontecimentos relacionados à crucificação de Jesus. Ela tem o privilégio eterno de ser a primeira pessoa a qual Cristo se revelou depois da ressurreição. Jesus lhe conferiu uma honra única e inigualável, permitindo que ela fosse a primeira a vê-lo e ouvi-lo depois da sua ressurreição. Os outros já tinham ouvido e crido na notícia alegre a partir da boca de um anjo. Maria a ouviu em primeira mão do próprio Jesus. O epitáfio bíblico de sua vida foi registrado em Marcos 16.9: “Quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena”. Esse foi o seu legado extraordinário. Ninguém nunca poderá igualar essa honra ou tirá-la dela, mas nós podemos e devemos imitar Maria em seu amor profundo a Cristo. [p.183, 196]

11. Lídia - a abertura de um coração hospitaleiro – A melhor forma de se lembrar de Lídia é como a primeira pessoa que foi convertida para o evangelho na Europa. Foi a primeira a ser registrada recebendo a mensagem de Cristo durante a primeira viagem missionária do apóstolo Paulo àquele continente. Sua conversão marcou a primeira base forte da igreja em um continente que finalmente se tornou o polo do testemunho do evangelho em todo o mundo. A Europa só perdeu esse lugar para a América do Norte há cerca de cem anos. Lídia era uma mulher notável que apareceu de repente e inesperadamente na narrativa bíblica, lembrando-nos que, embora os propósitos soberanos de Deus geralmente permaneçam ocultos aos nossos olhos, ele está sempre operando de maneira secreta e surpreendente para convocar um povo para o seu nome. A hospitalidade de Lídia era tão marcante quanto a sua fé. Por causa de sua generosidade para com Paulo e sua equipe missionária, o evangelho obteve uma base sólida em Filipos. A recompensa de Lídia no céu com certeza será grande. Ela foi verdadeiramente uma mulher extraordinária. Como todas as mulheres no nosso estudo, tudo o que a fez excepcional foi resultado da obra de Deus no seu coração. A Bíblia é clara quanto a isso, especialmente no caso de Lídia – mas trata-se de um fato que diz respeito a todas as mulheres que estudamos. [p.197-198, 207]


A JUSTIFICATIVA DA EXISTÊNCIA DESTE LIVRO POR JOHN MACARTHUR [3]

Eu não tinha a mínima previsão de que o meu livro sobre os apóstolos (Doze homens extraordinariamente comuns) seria tão bem acolhido pelos leitores como, de fato, foi. Parece que as pessoas apreciaram e gostaram do formato de estudo de personagens, mesmo saindo um pouco do meu estilo expositivo normal. O método e a estrutura do livro também pareceram bem adequados aos estudos de pequenos grupos, e isso deve ter ajudado a despertar um interesse ainda maior. Quem sabe tenha sido ainda mais importante o caráter intensamente prático e pessoalmente relevante desses estudos de personagens. Acho que ajudam a ver os apóstolos como eles realmente eram: homens comuns. Afinal, foi esse o propósito do livro. Todos conseguem se identificar com esses homens. A maioria de nós consegue enxergar aspectos do nosso próprio caráter na personalidade deles, nas falhas, nas dificuldades, nos erros frequentes, e em sua busca para serem tudo o que Cristo queria que eles fossem. Perceber o modo como Deus usou essas pessoas nos traz uma grande esperança.

Depois de Doze homens extraordinariamente comuns manter-se por mais de 1 ano na lista dos livros mais vendidos, meus amigos na Thomas Nelson sugeriram uma continuação: por que não abordar em um formato semelhante a vida de doze das principais mulheres da Bíblia? Foi assim que o livro que você tem em mãos tornou-se realidade.

Obviamente, não houve decisão alguma sobre quem faria parte do primeiro livro. Foi Jesus quem escolheu os doze discípulos: tudo o que fiz foi pesquisar sobre a vida deles e escrever sobre eles. Este livro novo, no entanto, trouxe algo diferente. Diante de uma infinidade de mulheres extraordinárias na Bíblia, elaborei uma grande lista de possibilidades. A tarefa de limitá-las a doze não foi nada fácil. Levei em conta a importância que possuem nas Escrituras e escolhi doze mulheres que desempenharam um papel vital na história da redenção.

Espero que você concorde que a minha lista restrita possui uma boa variedade de tipos de personalidade e um leque bem amplo de mulheres verdadeiramente extraordinárias. A minha esperança é que, assim como no primeiro livro, os leitores percebam características pessoais nesses estudos e sejam incentivados pela lembrança de que as nossas dificuldades e as nossas tentações pessoais são do mesmo tipo daquelas que todas as pessoas de fé enfrentam em todas as épocas. Desse modo, somos relembrados de que, mesmo em meio aos nossos problemas. Deus permanece eternamente fiel (I Coríntios 10:13). O Deus de Abraão, Isaque e Jacó é o Deus de Sara, Rebeca e Raquel também. Ele também é o Deus de todos que, em nossa geração, creem em Deus — sejam homens ou mulheres. Nós, como todas elas, temos nossas falhas, mas somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio (Salmos 100:3), e a sua fidelidade ainda chega até as nuvens (Salmos 36:5).

Algumas pessoas já me perguntaram sobre a importância desse contraste no título. Se essas pessoas eram "comuns", como também poderiam ser extraordinárias?

Com certeza, a resposta reside no fato de que, ainda que os discípulos tenham sido comuns em certo sentido, eles também eram extraordinários em outro. No que diz respeito aos talentos natos e ao histórico humano, eles foram realmente comuns de propósito.

Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele. (I Coríntios 1:27-29)

Só a obra de Cristo na vida dos discípulos é que lhes dava uma influência e um poder tão marcantes, de modo que se tomaram pessoas bem incomuns - e o que eles conquistaram (Atos 17:6) foi algo verdadeiramente extraordinário.

Isso é igualmente verdadeiro com relação às mulheres que fazem parte deste livro. A maioria delas nada tinha de especial por dentro ou por fora. Elas eram comuns, normais, e, em alguns casos, mulheres de classe declaradamente baixa — no mesmo sentido que os discípulos eram homens comuns. Veja a mulher samaritana de João 4, por exemplo. Nem sabemos o nome dela. Ana também era uma viúva desconhecida e idosa, que só aparece em uma breve introdução nos primeiros capítulos de Lucas (2:36-38). Raabe era uma prostituta comum. Até Maria, a mãe de Jesus, era uma moça que não tinha nada de especial, que morava em uma cidade desconhecida, em uma região inóspita e desprezada da Galileia. Em todos os casos, o que as fez extraordinárias foi um encontro inesquecível com o Deus do universo que transformou suas vidas.

A única exceção real é Eva, que começou a vida como uma pessoa extraordinária em todos os sentidos. Ela foi criada por Deus para ser o ideal puro e cristalino da feminilidade, mas logo estragou tudo cometendo pecado.

Mesmo assim, ela ainda se tornou o retrato vivo do feto de que Deus pode restaurar e redimir aqueles que caem — e fazer deles troféus extraordinários da sua graça, apesar dos seus fracassos. Na verdade, tenho certeza de que, pela graça redentora de Deus, Eva será por toda a eternidade bem mais gloriosa do que ela foi em sua inocência terrena original.

Em outras palavras, nenhuma dessas mulheres se tornou finalmente extraordinária por alguma qualidade natural própria, mas sim porque o Deus único e verdadeiro que elas adoraram é grande, poderoso, glorioso e incrível. Ele as refinou como a prata, as redimiu pela obra de um Salvador extraordinário — o seu Filho único divino — e as moldou conforme a sua imagem (Romanos 8:29). Em outras palavras, a obra graciosa de Deus na vida delas fez com que cada uma se tornasse verdadeiramente extraordinária.

Por esse motivo, elas permanecem como um lembrete da nossa queda e do nosso potencial. Em uma só voz, todas elas nos apontam para Cristo. Em todos os casos, ele foi aquele a quem elas recorreram para receber salvação. Veremos, por exemplo, como Eva, Sara, Raabe e Rute faziam parte da linhagem que traria o Prometido que esmagaria a cabeça da serpente. Do mesmo modo, as palavras de Ana sobre o Salvador (I Samuel 2:1-10) são ecoadas no Magnificat de Maria. Esse, por exemplo, foi o transbordar do louvor de Maria quando ela tinha acabado de descobrir que finalmente daria à luz ao Salvador. Ana, que tinha esperado por seu Salvador por toda a vida, foi abençoada na sua velhice com o privilégio de ser uma das primeiras a reconhecê-lo na sua infância (Lucas 2:36-38). Todas as outras mulheres que fazem parte deste livro estão entre suas primeiras discípulas. Cada uma delas nos dá testemunho de Cristo.

Minha oração por você é que compartilhe da mesma fé, imite a fidelidade delas e aprenda a amar o Salvador, cuja obra na vida delas fez com que elas passassem a ser verdadeiramente extraordinárias. Sua vida também pode ser extraordinária, pela sua maravilhosa graça.

__________________
[1] Biografia de John MacArthur, in: <https://store.leitorgospel.com.br/blog/john-macarthur/>
[2] Parte da sinopse do livro escrito na segunda capa.
[3] Transcrição do prefácio do livro [p.11-14]

sexta-feira, 19 de abril de 2019

DESCULPE O TRANSTORNO, ESTAMOS MUDANDO A IGREJA [Resenha]


SILVA, José Marcos. Desculpe o transtorno, estamos mudando a igreja: Um guia prático para promover mudanças na igreja. Curitiba, PR: Editora Esperança, 2018. 160p.


O AUTOR E O LIVRO

O autor deste é José Marcos da Silva, pastor da Igreja Batista em Coqueiral desde 2002, fundador e presidente do Instituto Solidare, ambos me Recife, no Nordeste do Brasil. Estudou teologia no Seminário Teológico Batista do Norte, Psicologia na UFPE, e é pós graduado em Fé e Política pela PUC-RIO, e é coautor dos seguintes livros: Igreja e sua missão transformadora; Igreja em movimento: comunidades em transformação; justice and consumption; Redescobrindo o Evangelho e Ética e participação popular na política a serviço do bem comum. Nasceu em 1975, na cidade de Caicó-RN, é casado com Erivaneide e tem dois filhos e uma neta.

Há coisas na vida que não escolhemos. Não escolhemos o lugar onde nascemos, não escolhemos os nossos pais e, consequentemente, não escolhemos a nossa composição genética. Depois, no processo natural do desenvolvimento humano, quando nos damos conta da existência, de maneira consciente ou não, vamos fazendo escolhas nos caminhos da vida. José Marcos, autor deste livro, fez escolhas diferenciadas. Aprendeu na arte da tecelagem, a redesenhar caminhos e compor novas histórias na sua vida, na vida de sua família e nas comunidades por onde passa. Também inspirado, principalmente, na vida do Jesus Cristo de Nazaré, à luz dos ensinos do Evangelho, vai tecendo de maneira lúcida sua vocação e missão.

De imediato, achei que este livro fosse a construção dos últimos 20 anos de história da Igreja Batista em Coqueiral (Recife-PE). Sem dúvida alguma, esta é a proposta de sistematização do trabalho escrito por Zé Marcos com tanto esmero e responsabilidade. Mas, de fato, a vida do autor tem muitos lances que transcendem aos registros do livro. Zé Marcos nasceu no semiárido nordestino, vem de uma família extremamente pobre. Perdeu três irmãos antes de completarem o primeiro ano de vida, como acontece com as famílias nordestinas que vivem abaixo da linha da pobreza. Sua família fez migração do mundo rural para o espaço urbano, sonhando com a possibilidade de encontrar novas alternativas de sobrevivência. Portanto, fazer um caminho ministerial, tecendo estratégias e alternativas para transformação de vidas em comunidades pobres, já fazia parte das entranhas da alma de Zé Marcos. O exercício cotidiano de tirar bálsamo da dor, contemplar as marcas do sofrimento para transformá-las em oportunidades de vida, estiveram sempre presentes nas peregrinações desse meu irmão por quem guardo a mais profunda admiração e respeito.

Em uma de suas poesias, é assim que Zé Marcos se autodescreve:

“Dos nove irmãos, como era comum
Três deles morreram de causas banais
Em tempos difíceis, a escassez de paz
Trabalho e renda obrigavam o jejum
Dinheiro e comida eram quase nenhum
Mas, como se sabe, sertanejo é forte
Desenha seu rumo, faz a própria sorte
Não cede em frente a nenhum obstáculo
E nessa cultura, seguia Zé Marcos
Com muito trabalho e com pouco suporte”.

Zé Marcos fala de contemplação com simplicidade e clareza, passando-nos a impressão de não se dar conta de que sua vida retirante fez dele um perito no ato de contemplar a vida, suas crises, oportunidades, desafios e possibilidades de transformação. Sua contemplação poderia ser um ato natural da natureza humana, mas no caso deste livro, o autor deixa muito explícito que a contemplação se aprofunda quando, no seu exercício, buscamos discernir a vontade de Deus nas rotas da vida:

“Contemplação não é sinônimo de meditação sobrenatural. Pode até envolver isso também, mas é olhar com os olhos abertos. Olhar as questões reais. Encarar o problema com lucidez. Um bom exemplo disso é o de Neemias (Ne 2.11-16). Ele tinha uma difícil missão pela frente: a de construir os muros de Jerusalém, mas, antes de qualquer coisa, passou um tempo contemplando o problema. Veja que ele se retirou para o lugar do problema e olhou para tudo o que precisava fazer. Esse é um grande modelo de contemplação.”

O menino nascido com um quilo e oitocentos gramas, chegou a um metro e sessenta e, no limite dos critérios, conseguiu ingressar no Exército Brasileiro em 1994. Tornou-se soldado no 1º Batalhão de Engenharia de Construção, em Caicó-RN. No mesmo ano recebeu condecoração do melhor soldado do ano e também concluiu o curso de cabo como primeiro colocado. No ano seguinte foi classificado para o Curso de Sargento Temporário e concluiu, também em primeiro lugar. Ainda neste ano de 1995 foi aprovado no concurso de sargento de carreira. Em um dado momento da vida, renunciou a toda a carreira promissora para atender a um chamado ministerial. Precisou retomar a rota, construir um novo percurso e conhecer novas estradas. Fez isso de tal forma que mudar, construir novos rumos, tomar novos caminhos - tudo indica - foi se tornando um jeito de ser do nosso escritor. Descreve o verbo "mudar" com a naturalidade de quem aprendeu a arte de redesenhar as crises da existência humana, sejam elas individuais ou comunitárias:

"Mudar é uma arte complexa, empolgante, desafiadora, estimulante e possível. O melhor de tudo: você pode ser o artista” (p. 25)

“Proponho um caminho a respeito de como conduzir os processos de mudanças para que os novos paradigmas não fiquem apenas na esfera dos sonhos do líder, mas se transformem em prática e permeiem a vida da igreja/instituição. Faço isso, não na condição de um teórico sobre o assunto, pois nesse caso, poderia ter escrito este livro há pelo menos dez anos, mas na qualidade de quem viveu e vive os processos de mudança, tanto na igreja quanto em minha vida pessoal.” (p. 25)

A história deste livro é a sistematização de um único autor, mas a elaboração dos acontecimentos é o resultado da tecelagem de muitas mãos. Erivaneide é casada com Zé Marcos, e ela, tanto quanto ele, oferece seus dons, talentos e habilidades para servir à comunidade em Coqueiral. A vida para os dois foi sempre muito desafiadora. Precisaram lutar contra um câncer que atingiu em cheio a vida de Marcos José, o primeiro filho do casal. Um tumor chamado meduloblastoma dava ao garoto um prognóstico de mais de 90% de possibilidades de morrer ou ficar muito semelhante às batalhas contra outras várias formas de doenças presentes na comunidade-igreja. A interação das dores e sofrimentos coletivos têm gerado na comunidade laços mais fraternos e de cooperação. Tudo tem acontecido como se uma mão invisível estivesse criando sanidade, inspirando a revisitação de paradigmas e sempre conduzindo todos os processos e mudanças na Igreja Batista em Coqueiral.

Neste livro há testemunhos nos quais aquilo que parece simples e trivial é transformado em uma comunicação de Deus. Há mensagens vindas da disciplina do silêncio, outras surgem das crianças, jovens e pessoas em condições de rua; mas há aprendizados, também, do esforço acadêmico. Outras lições profundas surgiram pela elaboração vivenciada na prática. Zé Marcos tem levado a sério o seu compromisso de propor o que pratica. Ele me inspira por sua coerência em vivenciar uma confluência intensa entre o que ensina e o que vive. Vários princípios e roteiros vão despontar à medida que você mergulha na leitura de cada linha deste livro. Mas, pode observar que os testemunhos estão pautados por experimentações concretas e vivenciadas. Isso não significa que as histórias se repitam em outros lugares, que tenham as mesmas implicações nem que se manifestem os mesmos resultados. Todavia, os princípios e virtudes precisam ser aplicados como ato de obediência a Deus e compromisso com a "vida abundante" para todas as pessoas.[1]

O livro, além do prefácio, introdução, considerações finais e acervo de fotos, está dividido em duas partes, com um total de nove capítulos, assim identificados:


PARTE I – O ESTABELECIMENTO DA MUDANÇA
1 - Insatisfação e crise
2 - Alimente a crise
3 - Compartilhando com os mais próximos
4 - Compartilhando com a igreja
5 – A hora “H”

PARTE II - RETROALIMENTAÇÃO
6 - O fogo tende a se apagar.
7 - Muitas mudanças e uma só direção
8 - Principais paradigmas mudados na Igreja Batista em Coqueiral e suas consequências
9 - S3H2R - muitos paradigmas, uma só espiritualidade.

Acerca do propósito do livro, o autor escreve:

“Na época a resposta foi "não", e todas as mudanças de paradigmas tinham a finalidade de construir uma igreja em missão, para a qual o mundo, e não o templo, seria o palco de operações de sua fé. Sendo assim, esse é o momento no qual a igreja começa a se lançar para fora e uma nova e abrangente categoria de paradigmas começa a ser mudada e, consequentemente, a igreja passa a se aprofundar mais ainda em uma “nova” maneira de viver a fé. Neste livro, proponho um caminho a respeito de como conduzir os processos de mudanças para que os novos paradigmas não fiquem apenas na esfera dos sonhos do líder, mas se transformem em prática e permeiem a vida da igreja/instituição. Faço isso, não na condição de um teórico sobre o assunto, pois nesse caso, poderia ter escrito este livro há pelo menos dez anos, mas na qualidade de quem viveu e vive os processos de mudança, tanto na igreja quanto em minha vida pessoal. Faço isso quase vinte anos depois de ter sonhado com este livro, simplesmente para que você acredite que é capaz de liderar processos de mudança e que eles são possíveis. Mudar é uma arte complexa, empolgante, desafiadora, estimulante e possível. O melhor de tudo: você pode ser o artista. Este livro pode revolucionar sua vida e sua liderança, pois trata de princípios e processos que revolucionaram a minha.”


INTRODUÇÃO DO LIVRO

Promover mudanças é uma arte. E das mais belas. No ano de 1999 decidi escrever um livro sobre a arte de conduzir os processos de mudanças, desde os paradigmas até sua prática. Nesse tempo, após ler o livro “Quebrando Paradigmas”, de Ed René Kivitz[2] duas coisas ficaram em minha mente: a primeira foi que a igreja precisa mudar paradigmas! Nesse aspecto o livro é claro. A segunda foi como conduzir um processo de mudança na prática. Este era um grande desafio para mim, e o livro não abordava essa questão.

Ainda cursava o primeiro ano de Teologia, com apenas 23 anos, mas com muitos sonhos envolvendo o meu pastorado. Sonhava com uma igreja vibrante, em constante transformação, relevante para seu tempo e lugar.

Consciente de que estava apenas no começo de uma longa jornada, sabia das minhas limitações e que este livro precisava ser amadurecido em minha mente e construído ao longo do caminho. Imaginei que cerca de quinze anos de caminhada, dali em diante, confeririam a mim a experiência e a autoridade que o livro requereria.

Assim, pensei que 2015 seria o ano ideal, pois já teria vivido na pele uma gama de experiências que me autorizariam a tal empreendimento. Mas aprouve a Deus que ele tenha se concretizado agora em que completo o 17º ano de pastorado da Igreja Batista em Coqueiral (daqui por diante identificada como IBC), na cidade do Recife e, após esse tempo, ao lembrar-me de como a igreja era e no que ela se tornou, posso assegurar que é possível efetivar mudanças em uma igreja local, por mais que ela seja considerada rígida e tradicional.

Em 1998, quando Deus me chamou para ser pastor, entrei em crise. Eu estava no auge de uma carreira de sucesso, mesmo que, poucos anos antes eu fosse um tecelão que trabalhava quinze horas por dia para ganhar um salário mínimo por mês, no sertão do Rio Grande do Norte. Tudo na minha vida caminhava a mil por hora e meus planos estavam dando tão certos que eu sempre era surpreendido com êxitos bem acima do que havia planejado. Na ocasião, eu já estava casado, e Erivaneide, minha amada esposa, estava grávida do nosso segundo filho.

Já havíamos adquirido uma boa quantidade de bens materiais e eu estava em um emprego público federal com um salário de dar inveja a qualquer jovem da minha idade. Estava investindo forte na faculdade e no preparo para outro concurso público que me levaria a um patamar tão elevado que me colocaria no topo do sucesso profissional. Minha meta era ser Coronel do Exército; e eu o seria.

Tudo estava perfeito e caminhando dentro dos planos mais ousados, até que veio um chamado radical para abandonar todos os sonhos, os frutos das conquistas, e migrar para uma vida na qual eu não estaria mais no centro das coisas. Deus não somente me chamava para o pastorado, mas, pedia-me para abandonar minha profissão. Tremi por dentro e por fora, literalmente.

Depois de seis meses de crise, disse sim ao Pai, porém, ousei colocar duas condições: que Ele também chamasse a minha esposa, e que eu pastoreasse uma só igreja durante toda a minha vida - uma igreja que nunca fosse a mesma por dois dias consecutivos. Deus tem me dado a graça de viver sua resposta para essas duas condições. Minha esposa é um grande suporte e uma mulher ímpar, e a igreja que pastoreio é uma máquina de promover mudanças, para a glória do Pai.

Hoje coloco em suas mãos este livro, com grande alegria e esperança. Alegria, porque sei que as linhas que se seguirão estão autenticadas por uma experiência exitosa de uma igreja que mudou radicalmente, e continua em mudança; e esperança, por que tenho certeza de que esta obra servirá como inspiração e guia para que você acredite que a mudança de sua igreja é possível. Asseguro que, como se trata de princípios, não serve apenas para nortear mudanças em igrejas, mas também, em qualquer outra organização, seja qual for a sua natureza.

Quando idealizei este livro, ainda em 1999, o fiz pela fé, mas, hoje o escrevo com a "caneta" da experiência concreta, e com a certeza de que a igreja, de fato, pode mudar. Qualquer igreja pode mudar! Qualquer instituição pode mudar!

Assumi o pastorado da IBC com apenas 27 anos. Sentia-me um menino inexperiente na liderança de uma igreja de 77 anos e com um histórico de tradicionalismo. Éramos como qualquer igreja batista tradicional. Nossas ações se concentravam no quadrado que Ed René Kivitz chama de "culto-clero-domingo--templo".[3] Aquela era exatamente o tipo de igreja que eu tinha decidido jamais pastorear, o que só fiz por uma intensa convicção de que era a vontade de Deus, e também por sentir que havia o embrião de uma insatisfação com o arranjo convencional da igreja, pelo menos por parte da liderança.

Lembro-me de que, por ocasião de um dos primeiros cultos como pastor da IBC, no momento de um louvor envolvente, um líder da igreja saiu de seu lugar, muito feliz com o que via, e me perguntou:
- Pastor, essa igreja tem a sua cara? Se parece com a que o senhor sonhava?

Com certo cuidado, pois sabia que a resposta não seria a que ele esperava ouvir, respondi que não. De fato, ela ainda precisava mudar muito e essa mudança não consistia apenas no mero formato do culto do domingo.

Na semana seguinte preparei um sermão com o título “Jesus Cristo não entraria no rol de membros da nossa igreja", pregação essa que levou um diácono muito antigo a me chamar à parte e exortar:
- Pastor, nunca mais pregue um sermão desses em nossa igreja!

Hoje nós vivemos outra dinâmica. Somos, sem sombra de dúvida, outra igreja. Mudamos muito... Repensamos e reconstruímos tantos paradigmas que não temos como mensurá-los mais. Mesmo assim, quando alguém chega a mim para dizer que a nossa igreja já mudou muito, eu sempre respondo que estamos apenas no começo de uma "looooonga" caminhada. Sei que ainda há muita coisa a ser feita, muitos paradigmas a serem repensados, e sei que Deus continua nos inquietando como no princípio, já nos acostumamos tanto com as crises das mudanças que quando passamos por um período de calmaria e conformação, entramos em crise. Realmente, o que mais nos deixa em crise é não termos crise.

Porém, mudar não é fácil! Em esfera alguma da vida. Quantas vezes começamos uma nova dieta? Quantas vezes entramos na academia? Quantas vezes planejamos coisas que foram já planejadas há anos e anos? Todo ano, os mesmos planos. Mudar é uma arte complexa, empolgante, desafiadora, estimulante e possível. O melhor de tudo: você pode ser o artista.

Neste livro, proponho um caminho a respeito de como conduzir os processos de mudanças para que os novos paradigmas não fiquem apenas na esfera dos sonhos do líder, mas se transformem em prática e permeiem a vida da igreja/instituição. Faço isso, não na condição de um teórico sobre o assunto, pois nesse caso, poderia ter escrito este livro há pelo menos dez anos, mas na qualidade de quem viveu e vive os processos de mudança, tanto na igreja quanto em minha vida pessoal. Faço isso quase vinte anos depois de ter sonhado com este livro, simplesmente para que você acredite que é capaz de liderar processos de mudança e que eles são possíveis.

Misturaremos aqui princípios e processos. Acredite neles!

Oferto a você um caminho prático que, se seguido, aposto todas as minhas fichas que a mudança chegará à sua vida e à sua igreja ou instituição de qualquer natureza, pois os princípios são universais e o processo é comprovado na prática da vida da IBC. Leia com calma e deguste sem moderação. Este livro pode revolucionar sua vida e sua liderança, pois trata de princípios e processos que revolucionaram a minha.

Minha oração, contudo, é para que Deus fale a você muito mais do que o que direi nas próximas páginas. Que o Espírito Santo conduza sua leitura, decodificando tudo para sua realidade. Oro para que você interrompa a leitura por muitas vezes, para meditar, não necessariamente no que está escrito, mas, a partir do que está escrito, no que virá como sopro do Senhor para sua vida.

O livro poder adquirido direto na Editora Esperança. É só clicar na imagem acima.


_________________
[1] Prefácio escrito pelo Pastor Carlos Pinheiro Queiroz, pastor na Igreja de Cristo em Aldeota (Fortaleza-CE).
[2] KIVITZ, Ed René. Quebrando paradigmas. (São Paulo: Abba Press, 1999.)
[3] Um conceito criado por Ed René Kivitz (op. cit.), que sintetiza o jeito de ser da maioria das igrejas. Para este autor, o modelo tradicionalizado nas igrejas históricas segue os mesmos parâmetros da estrutura judaica, tendo o culto como centro da adoração, com um sacerdócio masculino e exclusivo, em um dia sagrado de reunião e confinando as pessoas em um templo.