WILLARD, Dallas. A Gentileza que cativa: Defendendo a fé como Jesus faria. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2018. 176p.
O AUTOR - Dallas Willard lecionou filosofia na Universidade do Sul da Califórnia até sua morte, em 2013. É autor de livros como A conspiração divina, A renovação do coração e A grande omissão, que mudaram para sempre o modo como milhares de cristãos vivem e praticam sua fé. Com a esposa, Jane, teve dois filhos, John e Rebecca.
O LIVRO - O livro possui além do prefácio, introdução e fontes suplementares para estudo, têm sete capítulos onde o autor apresenta para uma reflexão transformadora acerca da apologética ao estilo de Jesus Cristo, que é fundamentada na gentileza, no amor e no respeito ao próximo. Conforme Dallas aponta, a defesa da fé cristã deve ser pautada por uma vida espelhada em Cristo e pela consideração por aqueles que possuem dúvidas sobre a doutrina. Somente com um comportamento receptivo e gentil, e por meio de um testemunho de vida cristalino, é que o cristão conseguirá despertar o interesse das pessoas em conhecer mais sobre aquele que é Deus.
Segundo o autor, não apenas o uso isolado da razão, da lógica e da verdade da doutrina tornarão o discurso do cristão eficaz, mas sua disposição para ajudar o próximo, tendo o amor como fundamento para o diálogo. Assim, apologética não é bullying intelectual, não é menosprezo, e não é uma forma de levar as pessoas à salvação sem a graça de Deus. A apologética cristã é um serviço amoroso, um ministério de ajuda, e só ‘de modo amável e respeitoso’ as pessoas poderão ver, confirmar e sentir-se persuadidas a responder àquilo que o cristão tem a dizer. Repleto de verdades contundentes sobre a fé e a vida cristã, “A gentileza que Cativa” também elucida questões como a importância do conhecimento e da razão, o envolvimento de Deus na ciência e na tecnologia e o problema do sofrimento e do mal.
No prefácio do livro, é apresentado o tema que será tratado neste livro: Hoje em dia, a apologética se tornou uma espécie de competição de ringue, orbitando em torno de provas da existência de Deus e do envolvimento divino nos fatos do mundo. Torou-se um campo de renhida batalha para debates que opõem design inteligente e darwinismo, e também para outras discussões candentes sobre religião versus ciência. O que se perde hoje na "apologética" é a habilidade de tratar com gentileza e amor — e até mesmo receber com alegria — as dúvidas e perguntas honestas que oprimem a fé dos que creem. "Mas a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura. Também é pacífica, sempre amável e disposta a ceder a outros. E cheia de misericórdia e é o fruto de boas obras. Não mostra favoritismo e é sempre sincera" (Tg 3.17). [p.10]
Na INTRODUÇÃO do livro temos um conceito de apologética e sua fundamentação bíblica e como fazer apologética caracterizada pela humildade e verdade.
APOLOGÉTICA - Na maioria das vezes, a palavra apologética está sempre associada a termos como discussão, prova, razão e defesa. Mas poucos pensariam em acrescentar à lista as palavras gentil ou gentileza. Isso acontece porque a palavra apologética provém do sistema jurídico grego, no qual um cidadão apresenta sua defesa contra as acusações do demandante. Esse não é o contexto ideal para gentilezas. Mas o apóstolo Paulo e outros autores do Novo Testamento adaptaram o termo, de modo que apologética passou a descrever as tentativas cristãs de defender ou explicar a fé para outros. E foi dessa maneira que a igreja passou a usar tal palavra.
SUA FUNDAMENTAÇÃO - O quadro apresentado no contexto de 1 Pedro 3.8-17 mostra discípulos dedicados à promoção do bem, e eles são perseguidos por isso. Como Jesus ensinara, esses discípulos deviam alegrar-se e regozijar-se (Mt 5.12). Isso levou aqueles que os observavam a indagar como podiam sentir-se alegres e esperançosos naquelas circunstâncias. Naturalmente, a pergunta não poderia ser outra naquele mundo rancoroso, desprovido de esperança e alegria. Assim os discípulos foram orientados por Pedro: "E, se alguém lhes perguntar a respeito de sua esperança, estejam sempre preparados para explicá-la. Façam-no, porém, de modo amável e respeitoso" (I Pe 3.15-16).
CARACTERIZAÇÃO - O que significa sermos caracterizados pela gentileza? (1) significa sermos humildes. O amor nos purificará de qualquer desejo de vencer por vencer, bem como da hipocrisia intelectual e do menosprezo pelas opiniões e habilidades dos outros. O apologista que defende Cristo se caracteriza pela "humildade total" (Cl 3.12; At 20.19; I Pe 5.5), um conceito que é fundamental no Novo Testamento mas que nossa palavra "humildade" não consegue captar por si só. (2) Somos servos incansáveis da verdade. Jesus, que disse: "De fato, nasci e vim ao mundo para testemunhar a verdade" (Jo 18.37), é chamado de "a testemunha fiel e verdadeira" (Ap 3.14). E por isso que declaramos a razão de nossa fé de modo respeitoso (ou com temor segundo outras traduções). A verdade revela a realidade, e a realidade pode ser descrita como aquilo com que nós, seres humanos, colidimos quando estamos errados — uma colisão na qual sempre saímos perdendo.
E, finalmente, em uma época moldada pelos belicosos compromissos intelectuais e pelas batalhas culturais sobre religião, ciência, verdade e moral, como conseguiremos que alguém nos dê ouvidos mediante nossa mera insistência de que temos a verdade e a razão do nosso lado? Muitos fizeram essas alegações antes de nós. Alguns movidos por um espírito de agressão, alguns por medo, e outros por arrogância. Nossa apologética acontece em um contexto eivado de inimizade, hostilidade, insultos e outras formas de oposição, o que, em última análise, vai exatamente contra aquilo que nossa mensagem exalta. E por isso que nossa apologética tem de incluir a mensagem e a pessoa que queremos divulgar. Só "de modo amável e respeitoso" as pessoas poderão ver, confirmar e sentir-se persuadidas a responder àquilo que temos a dizer.
Portanto, sobre estes capítulos iremos extrair textos (resumo) e aplicar comentários quando for preciso.
1. COMEÇANDO A PENSAR COMO CRISTO. O autor continua trabalhando com conceitos e fundamentando cada argumento com a Palavra de Deus. Neste capítulo temos conceitos de apologética (de forma mais estendida), conhecimento, verdade e conclui sobre a vida de discipulado que cada cristão deve entender (discípulo ou cristão?)
APOLOGÉTICA - A apologética é um ministério do Novo Testamento que faz uso do pensamento e do raciocínio, confiando na atuação do Espírito Santo para auxiliar quem tem o desejo sincero de abandonar a descrença e a desconfiança em relação a Deus e a seus bons propósitos para a humanidade. O trabalho da apologética ajuda as pessoas a conhecer fatos que estão especialmente relacionados com Jesus Cristo e a crer neles: sua vinda a este mundo, sua vida e morte e, agora, a continuação de sua vida em nós. A apologética é um ministério fundamental do Novo Testamento. [p.20] A apologética não é uma espécie de competição, com vencedores e perdedores. E um serviço amoroso. E a descoberta de respostas para fortalecer a fé. Ela deveria ser praticada no espírito de Cristo e com seu tipo de inteligência, que, a propósito, está ao nosso alcance (Fp 2.5). As pessoas que estão seguindo o caminho de Cristo devem ser as que melhor raciocinam em todo o planeta, assim como devem ser melhores em todas as outras coisas, porque dispõem de um auxiliar que lhes diz: "Estou sempre com vocês" (Mt 28.20). Jesus nos ajudará a pensar e nos dará seu Espírito. [p.27-28]
CONHECIMENTO - O conhecimento é o resultado de um envolvimento contínuo com um assunto, e, quando o conhecimento chega, vem com ele certa autoridade. Se você tem conhecimento, está autorizado a agir, a supervisionar a ação, a formular políticas e assegurar que sejam implementadas, e a ensinar. Se você tiver apenas crença ou fé, não disporá desse tipo de autoridade. As pessoas que atuam com base no conhecimento — algo que puderam testar e pôr em prática — têm uma maneira única de interagir com a realidade. Elas eliminaram a dúvida e a mente dividida sobre as quais lemos em Tiago 1.6-8, e não se pode superestimar a importância disso. E óbvio que ainda agimos baseados na fé e em nossas crenças, mas as pessoas não são unânimes em reconhecê-las como verdade, ao contrário do que acontece com o conhecimento. [p.26]
VERDADE - A verdade é tão importante que Jesus Cristo veio ao mundo para testemunhar dela, e seus seguidores, a igreja, são "coluna e alicerce da verdade" (I Tm 3.15). A verdade é preciosa para a vida humana em todas as suas dimensões, pois só por meio dela podemos chegar a um acordo com a realidade. E, quando pensamos no evangelho de Cristo e no que fazemos como cristãos, precisamos entender essas coisas no âmbito da verdade, da informação indispensável. Se não enxergarmos o evangelho sob esse prisma, simplesmente não o entenderemos. As palavras de Jesus são a melhor informação sobre os assuntos mais relevantes para os seres humanos, saibam eles disso ou não. Cristo é o único fundamento sólido para nossas ideias. [p.29-30]
2. A CARTA RÉGIA DA APOLOGÉTICA NO NOVO TESTAMENTO. Neste capítulo, o autor vai tratar da fundamentação da apologética no Novo Testamento e trabalha sobre o contexto e a abrangência da apologética. Ele também instrui sobre como lidar com dúvida.
CARTA RÉGIA DA APOLOGÉTICA – Os versículos de 1 Pedro 3.15-16 são a carta régia do Novo Testamento sobre a apologética, e uma das muitas passagens que examinaremos sobre esse tópico. Nela, identificamos duas dimensões: (1) o contexto do trabalho apologético: é um trabalho baseado na natureza e na qualidade da vida que se leva; e (2) a abrangência do trabalho apologético: a apologética é para todos. Essas duas dimensões, contexto e abrangência, serão muitíssimo importantes para entendermos o papel da apologética. Trata-se de algo que todo mundo deveria estar disposto a aprender e uma atividade na qual todos deveriam se envolver. [P.34]
O CONTEXTO – O contexto da apologética é realmente muito importante. Se você não demonstra uma vida que está acima do padrão deste mundo — não há nada em seu interior que lhe cause alegria, paz e força em uma situação que, vista de fora, parece muito ruim —, não haverá nada que leve outras pessoas a perguntarem sobre sua fé. Você simplesmente se comportará da mesma forma que se comportam os incrédulos de sua rua. Creio que isso implica muitas outras coisas além da apologética, e peço-lhes desculpas por isso, mas preciso dizer o seguinte: aqui estamos falando de vida, uma vida sobre a qual Jesus se expressou assim: "Quem vive e crê em mim jamais morrerá" (Jo 11.26). [p.40]
A ABRANGÊNCIA - Observem agora o pressuposto da carta régia segundo o qual a apologética é para todos. Ela se destina a toda a humanidade precisamente porque tão somente invoca uma capacidade humana natural: a razão. Devemos submeter essa habilidade a Deus para que ele possa completá-la com seu Espírito e usá-la como faz com todas as nossas outras habilidades naturais. [p.41]
DÚVIDA - Outra coisa que esse trecho revela é que a apologética não é apenas um ministério para os que não creem; antes, destina-se a qualquer um que esteja lutando com certos tipos de dilemas ou perplexidades. Precisamos enfatizar esse ponto com veemência, porque o grande problema para o evangelho de Jesus
Cristo não é a dúvida que se situa fora da igreja; é a dúvida que está dentro da igreja. Precisamos saber lidar com a dúvida de modo amoroso, esperançoso e, especialmente, sem censurar ou humilhar ninguém. Devemos permitir que as pessoas sejam quem são e, então, devemos ser capazes de nos encontrar com elas exatamente onde estão. [p.30-35]
3. APOLOGÉTICA BÍBLICA. Neste capítulo, o autor continua conceituando “apologética” e trabalha conceitos tais como: O que é Filosofia e o papel da razão. Desta vez ele faz a explanação de algumas ideias sobre a natureza da apologética bíblica. Para o autor, apologética bíblica é fazer o melhor uso de nossas faculdades naturais relativas ao pensamento, em submissão ao Espírito Santo com o intuito de remover dúvidas e solucionar problemas que impedem uma participação confiante e ativa em uma vida de relacionamento pessoal com Deus. [p.46] O autor diz também o que a apologética não é: (1) A apologética cristã não é uma tentativa de provar que estamos certos. (2) Apologética não é bullying intelectual, não é menosprezo, e não é uma forma de levar as pessoas à salvação sem a graça de Deus. (3) Por fim, a apologética cristã não se constitui de "provas cristãs" ou tentativas sistemáticas de mostrar que o cristianismo é verdadeiro - embora evidências cristãs sejam uma iniciativa legítima.
O QUE É FILOSOFIA? A propósito, o que é filosofia? E uma tentativa de descobrir a melhor maneira de viver, a melhor maneira de ser e agir. Se você examinar os filósofos, orientais ou ocidentais, de qualquer época da história, verá que era essa a preocupação deles. Uma característica distintiva da filosofia é que ela não precisa apelar para a revelação. Pode fazê-lo, mas não precisa. E possível identificar muitos filósofos que, embora acreditassem na revelação, não usariam em suas discussões premissas nela baseadas, porque estavam preocupados em fazer uso do que estava à disposição dos seres humanos comuns para lidar com a vida: questões acerca da natureza, da alma e da vida honesta; a diferença entre o certo e o errado; e assim por diante. Eles usaram a razão para tentar chegar a uma compreensão abrangente dessas questões básicas enfrentadas por todos os seres humanos. [p.48]
O PAPEL DA RAZÃO. A razão é a capacidade humana de estabelecer uma relação entre fatos reais ou possíveis e outros fatos reais ou possíveis, de tal forma que, tendo-se os primeiros também se têm os outros. Ou, se for uma relação excludente, tendo-se os primeiros, não se tem os outros. Quais eram os fatos aos quais Jesus se referia em Mateus 6.30? Premissa maior: Deus cuida da erva do campo. Premissa menor: vocês valem pelo menos tanto quanto a erva do campo. Qual é, então, a conclusão? Deus cuida de vocês. E o que explica isso é a relação entre fatos reais e possíveis e outros fatos reais ou possíveis. Você é capaz de raciocinar — pensar exatamente como é capaz de abrir e ler este livro. Por favor, perdoe-me, mas precisamos estabelecer com clareza inequívoca que o trabalho apologético emprega a razão. Submetemos nossa razão a Deus para ajudar as pessoas a entender coisas que vão aumentar e ampliar sua fé. A razão funciona como uma base de responsabilidade perante Deus precisamente por sua capacidade de atuar no sentido de instigar, alimentar e corrigir a fé. Devido a essa capacidade, somos responsabilizados perante Deus quando deixamos de agir de acordo com os resultados da razão. Menosprezar o papel da razão na produção e sustentação da fé é contradizer o propósito claro das Escrituras, segundo o qual a razão fornece fundamentos para um culto adequado a Deus. [p.51-52]
4. FÉ E RAZÃO. O tema deste capítulo está explicito no título. O autor mostra o modo com o Senhor Jesus fez uso da razão. Neste capítulo a assuntos empolgantes tais como: A razão humana sob a graça, a existência do inferno e “mitos triviais” tais como o Big Bang e a evolução cósmica, e finalmente, o envolvimento de Deus na ciência e na tecnologia.
JESUS FEZ USO DA PERCEPÇÃO E DA RAZÃO EM GRANDE PARTE DE SEU ENSINO. Você há de concordar comigo que, além de ter todas as outras boas qualidades, Jesus foi uma pessoa esperta. Acho que é seguro dizer que ele conhecia lógica melhor que ninguém. Conhecia química melhor que ninguém. E isso se aplica a qualquer matéria que se mencione. Lembre-se, em Colossenses 2.3 recebemos a informação de que "Nele estão escondidos todos os tesouros de sabedoria e conhecimento". E, óbvio, é perfeitamente lógico que a razão de todos os tesouros estarem escondidos nele é que ele criou tudo. Assim, se você está envolvido em algum campo de pesquisa, deve tê-lo como parceiro, pois ele realmente sabe o que faz tudo funcionar. Não importa o que você esteja investigando, Jesus tem o conhecimento que se requer para resolver seus problemas.
Jesus muitas vezes usou a razão para ensinar. Em Marcos 11.27-12.34, lemos sobre uma discussão na qual ele lidou de modo bastante veemente com os intelectuais da época. A "oposição" decidiu que estava na hora de livrar-se de Jesus, e lançou contra ele praticamente tudo o que tinha a seu dispor. Jesus lida cuidadosamente com cada pergunta e, depois, oferece uma lição adicional a ponderar (Mc 12.35-37). Essa é uma bela ilustração do papel do raciocínio na pregação e no ensino do evangelho. Jesus não está simplesmente tentando testar a paciência de seus opositores e impor-lhes o conhecimento de que haviam encontrado alguém que podia derrotá-los.
Aqui, Jesus está usando a lógica para questionar a noção que, naquela época, as pessoas tinham do que seria o Messias. (Em geral, elas julgavam que se tratava de alguém semelhante a Davi, mas talvez um pouco mais próximo da perfeição.) Assim, por meio desses textos de Salmos, Cristo leva essas pessoas "que pensam" a refletir sobre o relacionamento de Davi com o Messias. Quem é esse filho que Davi chama de Senhor? Eis aí algo que os pais e avós daquela época não faziam: não chamavam sua prole de "Senhor". Desse modo, Jesus está ajudando os que se mostram disposto a aprender. Está ajudando-os a entrar mais profundamente na natureza do Messias em sua relação com a aliança davídica. Esta tentando levá-los a descobrir o significado da natureza messiânica, uma vez que não a entendiam. Pelo raciocínio ele procura tirá-los de onde estão e levá-los aonde passarão a entender.
Ora, esse é o modo típico pelo qual as Escrituras abordam a razão. Todas as faculdades devem submeter-se a Deus: o poder físico, o poder artístico e o poder de percepção. De fato, todas as forças naturais devem submeter-se a ele. [p.62-63]
5. COMUNICAÇÃO ENTRE DEUS E A HUMANIDADE. Esse capítulo o autor procura mostrar que para o desenvolvimento de uma apologética que os cristãos deveriam seguir, é mais importante dar sentido à fé do que tentar provar isso ou aquilo para outras pessoas (especialmente para aqueles que, no fim das contas, não querem acreditar). Precisamos mostrar que dispor de uma Bíblia como a nossa é precisamente a coisa certa a se fazer, se visamos ao que Deus planeja realizar com seres humanos na história. [p.86]
O autor ela vai falar sobre vários aspectos da comunicação com Deus com a humanidade e quero aqui enfatizar apenas dois:
OS BONS PROPÓSITOS DE DEUS NA HISTÓRIA. Quando olhamos para a história humana hoje, nossa pergunta é esta: qual poderia ser o bom propósito da história humana? Mas uma das coisas que incomoda as pessoas quando lidam com essa questão é: como posso ter certeza de que Deus é bom? Vou lhe dizer de modo muito simples como sei que Deus é bom. Se ele não fosse bom, se ele fosse mau, o mundo seria muito pior do que é. Isso me garante que ele não poderia ser mau. A visão bíblica é que Deus está sempre nos protegendo do mal, contra o qual ele luta constantemente. Isso é afirmado muitas e muitas vezes nas Escrituras. Por exemplo, em Gênesis 6, antes do dilúvio. Deus diz: "Meu Espírito não tolerará os humanos por muito tempo, pois são apenas carne mortal. Seus dias serão limitados a 120 anos" (v. 3). Temos aí um quadro em que se vê Deus lutando contra o mal que há no coração da humanidade e impondo-lhe limites. De fato, nessa passagem, temos a impressão de que Deus decidiu encurtar a extensão da vida dos seres humanos para limitar o tempo durante o qual eles podem resistir ao próprio Deus. Percebe? O Espírito de Deus está constantemente presente na vida humana. [p.92-93]
O AMIGO DE DEUS. Assim, quando Deus entrou na história humana, ele encontrou um único homem. Eu não acho que todos os outros deixaram de ser tocados por Deus; mas acho que, quando veio para realizar esses propósitos específicos, Deus escolheu uma pessoa específica: Abraão. O termo usado nas Escrituras para descrever o relacionamento entre Abraão e Deus é "amigo". Abraão era amigo de Deus. Em um momento de crise nacional para o povo de Israel, Josafá ora dizendo: “Ó nosso Deus, acaso não expulsaste os habitantes desta terra quando Israel, teu povo, chegou? Não deste esta terra para sempre aos descendentes de teu amigo Abraão?” (2Cr 20.7). Isaías usa as mesmas palavras: "Quanto a você, meu servo Israel, Jacó, meu escolhido, descendente de meu amigo Abraão (Is 41.8) e explica em detalhes o chamado de Abraão. Observe como Deus é identificado: "Deus, o Senhor, criou os céus [...], criou a terra e tudo que nela há". E sempre dessa maneira soberana que Deus e identificado nas Escrituras. Em segundo lugar, ele é apresentado como alguém que tinha uma aliança com Abraão: "Eu o darei a meu povo, Israel, como símbolo de minha aliança com eles, e você será luz para guiar as nações". A ideia básica é que, por causa dos propósitos divinos para a história humana, quando ele estava pronto para entrar em contato com a humanidade. Deus o fez por meio de um indivíduo com o qual se relacionava como amigo. Por meio da família desse indivíduo, ele criou um povo e uma cultura. [p. 97-99]
6. O PROBLEMA DO SOFRIMENTO E DO MAL. Este é o capítulo que mais me chamou a atenção. O problema é tratado aqui, apologeticamente, com muita seriedade e fundamentação bíblica. Para o autor, algumas pessoas consideram a presença do sofrimento no mundo como um golpe particularmente fatal à fé cristã. Isso não deve causar nenhuma surpresa. Ao passar por uma crise de dor física ou de doença psicológica, a maioria das pessoas tende a pensar no universo como sendo qualquer coisa exceto o reino de um Deus benevolente e poderoso. E mais fácil amaldiçoar o mundo por ser estúpido e insensível para com os inestimáveis e admiráveis seres humanos que acreditamos ser.
Em seguida, ele levanta quatro argumentos que as pessoas usam com respeito a presença do mal no mundo e todo o restante do capítulo é uma resposta a essas argumentações: (1) Se o cristianismo é verdadeiro, então Deus é benevolente em relação à humanidade, bem como infinitamente poderoso. (2) Se Deus é benevolente em relação à humanidade e infinitamente poderoso, então ele providenciará para que nós não soframos. (3) Deus não providencia para que nós não soframos. (4) Logo, o cristianismo é falso, uma vez que Deus ou não é benevolente ou não é poderoso, o que é comprovado pela presença do sofrimento. (p.110)
Outros dois pontos neste livro, levantado pelo autor é a distinção entre o sofrimento e o mal e em seguida o valor do sofrimento.
DISTINÇÃO ENTRE O BEM E O MAL. sofrimento é, dos males, o mal supremo? O sofrimento em si mesmo não é, de modo nenhum, um mal. Considerar o sofrimento como mal é apenas um testemunho da cegueira moral de certas pessoas que equiparam aquilo de que elas não gostam com aquilo que é ruim ou errado. Assim, a dor, ou seja, o sofrimento não é em si um mal, muito menos o mal supremo. (p.114)
O VALOR DO SOFRIMENTO. O sofrimento poderia ter alguma finalidade boa? Sim, com certeza! Em primeiro lugar, ele torna possível a vida humana como a conhecemos. E, por mais estranho que isso possa parecer à luz de tudo o que nos oprime, a maioria das pessoas considera boa esta vida como a conhecemos. O prazer e o sofrimento são, em suma, os polos positivo e negativo entre os quais fluem as correntes da vida humana. Desligue um polo, e a vida humana cessará. As pessoas que pedem um mundo sem sofrimento não sabem o que estão pedindo. [p.114-115]
7. VIVENDO E AGINDO COM DEUS. Neste último capítulo além de fazer uma exposição acerca do viver e agir com Deus fundamentado no Salmo 23 e nutrir o hábito de oração, o autor dá três aspectos importantes sobre a defesa e testemunho de fé. (1) A suprema apologética é a vida do indivíduo que vive dos recursos do reino de Deus. Ter um belo conjunto de ideias e argumentos abstratos pode ser muito importante, mas nós precisamos ser gente que de fato atua no reino dos céus por meio de orações e palavras. (2) Uma das coisas cruciais que devem ser discutidas no propício ministério da apologética é o ministério de lidar com a dúvida e afastá-la com esclarecimentos que nos vêm do Espírito Santo: Deus está falando conosco. (3) A suprema apologética — isto é, o supremo fator de superação da dúvida - é o crente que age na fé, em uma vida interativa com Deus. A coisa mais importante que temos a fazer por meio da apologética é ensinar de tal maneira que as pessoas que realmente não confiam na interação genuína do indivíduo com o Grande Pastor sejam levadas a ver sentido nisso e se sintam inspiradas a experimentá-lo: isto é, elas tentarão alguma coisa.
O autor conclui: Precisamos ajudar os outros durante todo esse processo, de modo tal que vá além da apologética tradicional, a qual consiste em apresentar argumentos que resolvem possíveis objeções. Devemos adotar uma postura didática que pressupõe a investigação para chegar ao conhecimento, uma postura de descoberta compartilhada e de entendimento comunitário. Essas são partes naturais e essenciais da convivência comunitária. Mantenha, portanto, a postura didática em sua vida, e trabalhe com os que estão ao seu redor seguindo o estilo gentil de Jesus. Agindo assim, você de fato prestará um serviço em prol de todos no desempenho da apologética.
CONCLUSÃO - Um livro curioso e altamente provocante que não pode faltar na biblioteca do cristão que deseja fazer a diferença no meio em que está inserido e tornar o debate apologético uma oportunidade única para gerar empatia com aqueles que possuem dúvidas em relação à Palavra de Deus. Para adquiri clica na imagem acima.
BLOS, Ane. Milagres Acontecem. A.D. Santos Editora: Curitiba, PR. 2018, 320p.
O LIVRO E SUA AUTORA
"Aos 35 anos meu corpo estava tomado pelo melanoma metastático, câncer incurável para a medicina. Todos os médicos oncologistas disseram que não adiantaria fazer cirurgia ou tratamento com como quimioterapia ou radioterapia. Todos disseram que eu morreria dentro de poucos dias. Em meu corpo, praticamente não havia mais vida. Meu coração não tinha sonhos nem esperança. E, diante do meu médico oncologista, ao receber a notícia de que poderiam sedar-me para que eu tivesse uma morte mais confortável, completamente sozinha, decidi morrer em casa." [p.16]
É assim que a introdução deste livro descreve o estado terminal de sua autora, Ane Blos, uma gaúcha que andou “pela vale da sombra da morte” e que de forma magnífica nos conta a sua história de uma forma didática que instrui e edifica o mais “insensato” dos seres humanos. Professora, mestre em Letra, bacharel em Teologia com três pró-graduações. Tudo isso para a glória de Deus.
Além da introdução e um anexo, o livro está dividido em oito capítulos que contam em detalhes toda a trajetória de dor e peregrinação, culminando com um “milagre”. Capítulos permeados por citações bíblicas que sustentam todo o argumento da autora em seu processo de “cura, libertação, transformação emocional e física”. Extrairei de cada capitulo um texto e farei comentários com o propósito de fomentar no leitor o desejo de ler este testemunho do poder de Deus.
CAPITULO 1 – NÃO HÁ MAIS O QUE FAZER, IREI MORRER – São 15h do dia 30 de julho de 2008, não consigo mais respirar sozinha, a tosse aumentou muito nas últimas duas semanas, agora sem mesmo o oxigênio parece ajudar. Além de tossir muito, praticamente não consigo mais engolir a comida, a água e a saliva, isto é angustiante! Estou medicada, mas meu peito continua doendo muito. A última tomografia mostrou que há um tumor que fica na região do coração e pulmões, ele está do tamanho de uma bola de handebol. Além disso, o baço está comprometido e, possivelmente, outros órgãos também estejam. O tumor no peito na área do mediastino e pulmões, descoberto há pouco dias, dobra de tamanho a cada nova tomografia. Esta bola enorme está sufocando e trancando minha respiração. Os médicos disseram que, provavelmente, são metástase do melanoma advindas de uma mancha, um câncer, retirado nas costas há quatro anos. [p.19]
O trecho acima representa nada diante do quadro dantesco que a autora viveu e que é descrito neste capítulo. Além do trecho acima, há textos sobre: dias de pobreza na infância, abuso sexual, gravidez não planejada, casamento, maternidade, traição conjugal por parte do esposo, divórcio. Há também textos sobre: providência de Deus com novos empregos e um novo marido.
Este capítulo tem um lado devocional. A autora escreve: O melanoma é considerado a forma mais grave do câncer de pela, por ser pior prognóstico, ou seja, devido a sua alta potencialidade de produzir metástases, disseminando as células tumorais para outros órgãos do corpo com rapidez. O estágio avançado da doença ocorre quando o câncer se espalha além da superfície da pele para outros órgãos, como os nódulos linfáticos, pulmões, cérebro e outras partes do corpo. A fase metastática, em que o tumor se espalha pelo organismo, é fatal. Eu sabia que estava neste estágio avançado. Embora o Marcelo soubesse da gravidade desse tipo de câncer incurável e fatal, disse que eu não morreria e garantiu que não se importava que eu estivesse doente. Falou que poderia ser curada como o Rei Ezequias e contou-me a história - Naqueles dias adoeceu Ezequias mortalmente; e o profeta Isaías, filho de Amós, veio a ele e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás. Então virou o rosto para a parede, e orou ao Senhor, dizendo: Ah, Senhor! Suplico-te lembrar de que andei diante de ti em verdade, com o coração perfeito, e fiz o que era bom aos teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo. Sucedeu, pois, que, não havendo Isaías ainda saído do meio do pátio, veio a ele a palavra do Senhor dizendo: Volta, e dize a Ezequias, capitão do meu povo: Assim diz o Senhor, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas; eis que eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor.
E acrescentarei aos teus dias quinze anos, e das mãos do rei da Assíria te livrarei, a ti e a esta cidade; e ampararei esta cidade por amor de mim, e por amor de Davi, meu servo. (2 Reis 20.1-6) [p.65-66]
É importante que se diga que o salmo 116 foi composto, muito provavelmente, pelo rei Ezequias. Esse rei governou em Jerusalém 29 anos, fez o que era reto aos olhos do Senhor, entretanto, com 39 anos de idade ele foi atacado pelo maior império da época, o império Assírio, que já havia destruído a cidade de Samaria e levado o reino do norte para o cativeiro. Não bastasse essa tragédia política, Ezequias fica doente de uma doença mortal e Deus manda ao seu palácio o profeta Isaías com uma mensagem expressa: ponha em ordem a sua casa, porque morrerás e não viverás. Sobrou para aquele rei apenas uma parede e para a parede ele se voltou, e orou, e chorou abundantemente na presença de Deus. Deus ouviu a sua oração rapidamente e mandou o profeta Isaías de volta ao palácio dizendo: Deus mandou lhe dizer Ezequias, que ele viu as suas lágrimas, ele ouviu a sua oração, que ele vai livrar você e Jerusalém das mãos do império assírio e vai curar a sua enfermidade.
Causas perdidas nas mãos de Deus, causas vitoriosas. Deus é o Deus das causas perdidas. Este salmo é um salmo onde o rei conta sua experiência, e ele começa no verso 3 dizendo o seguinte: laços de morte me cercaram e angústias do inferno se apoderaram de mim, caí em tribulação e tristeza. Ele está enfrentando dois problemas: um problema externo e um problema interno. Ele diz que laços de morte o cercaram, a morte mostrou para ele a sua carranca. A cada passo que dava, em cada terreno que pisava, havia uma armadilha de morte para ele. Esse problema externo produz nele um problema interno; angústias do inferno, diz ele, se apoderaram de mim. Parecia que o inferno tinha mudado de endereço e se instalado em seu peito. O resultado disso é que ele caiu, machucado pela vida, pisado pelas circunstâncias adversas.
CAPÍTULO 2 – APRENDENDO A SER HUMILDE. A luz do caminho que se abre à minha frente é tão clara, tão forte e tão intensa que não consigo descrevê-la e, incrivelmente, ela não causa dor aos meus olhos! É uma luz diferente e estou indo até ela, estou flutuando até um túnel! Dentro do túnel há uma paz muito grande e, logo em frente, vejo um lugar muito, mas muito lindo! O ambiente está cheio de flores, muitas flores, com inúmeras cores as quais jamais vi, de diversas formas e tamanhos. Como é bom estar aqui! Quanta paz! Quanta beleza! Porém, algo está impedindo que eu chegue até elas, alguém, de costas, está puxando-me para o túnel novamente e tudo fica escuro. Ouço vozões de pessoas que parecem ser meu pai, meus tios e o Marcelo. Não consigo vê-los nem falar com eles. Ouço homens e mulheres, são enfermeiros, mas também não consigo vê-los nem comunicar-me com eles. Apenas escuto suas vozes e isso se repete sucessivamente. [p.73]
Neste segundo capítulo temos o histórico da primeira cirurgia, a quimioterapia, o avanço do câncer que é identificado como melanoma metastático, estagio IV [p.78], a retirada do baço, o uso de interferon, conflitos com o Marcelo (2º marido) e com os filhos.
Em dois momentos neste capítulo temos ciência do “vale da sombra da morte” em que a autora trilhava:
Primeiro momento – Escutar que a doença disseminou-se é assustador. Ouvir falar sobre o câncer avançado, sem cura, que as metástases estão espalhadas pelo corpo e que mesmo o uso de quimioterapia e cirurgias não irão conseguir detê-las, é algo difícil, porque, sobretudo, eu e as demais pessoas diagnosticadas com a doença, esperamos pela cura e quando isso não é mais possível é muito difícil pensar na própria vida como uma possibilidade de finitude. A equipe médica sempre deixou claro que eu não viverei e por isso fazem de tudo para que meu fim de vida aconteça com certo conforto, ou seja, poderei morrei sem tanta dor e sofrimento. [p.80]
Segundo momento – Tem sido difícil lidar com a doença e as frustrações, tenho questionado a Deus por que estou passando por tudo isso e por que não morro logo. Tenho tomado muitos remédios, em doses extremamente altas, para a depressão profunda, ansiedade e irritabilidade. Além disso, as fortes dores de cabeça, a fibromialgia e a febre reumática trazem febre e dores insuportáveis ao meu corpo inteiro. Estou tomando mais de 20 medicamentos diferentes por dia e não sinto melhora, pelo contrário, diariamente vejo que tudo piora... As semanas passam e continuo aplicando três vezes por semana 9 milhões de unidades de interferon. Aprendi a fazer as injeções e aplico-as ao redor do meu umbigo. Minha bariga está cheia de hematomas. E, em virtude das altas doses da droga, tenho tido problemas de falta de concentração e memória, dentre muitos outros, mas o Doutor Ruggero mantém o tratamento porque não têm surgido novas metástases. [p.93]
O ponto devocional deste capítulo é a presença pastoral. A autora assim escreve: Decidimos rever um grande amigo do Marcelo, o Pastor Wilson, que já havia orado por mim semanas antes de eu fazer a cirurgia no mediastino e pulmões. Em um culto, numa pequena igreja, ele viu as mãos de uma das mulheres intercessoras queimarem, quando as impuseram sobre meu peito. Aquelas mulheres disseram que eu estava curada. Eu não compreendi muito bem o que isto significava, porque a cirurgia foi feita e muitas e muitas metástase foram retiradas. O Pastor Wilson ora alto e usa as passagens da Bíblia para falar sobre milagres e curas que Jesus fez. Sua esposa, a Jô, é uma mulher simpática e muito querida, que faz um biju muito gostoso. Ela preparou uma linda mesa com um café delicioso. Gosto muito de estar com eles. Ouvi o Pastor contar muitas e muitas histórias de curas que viu depois de suas orações. Estas histórias chamam-se de testemunhos. E, ao voltarmos para o apartamento de Marcelo, guardei dentro de mim todas aquelas narrativas de milagres vivenciadas pelo Pastor.
Algo já estava acontecendo na vida da autora. Me permita voltar ao caso do Rei Ezequias. Talvez você esteja lidando com dramas na sua vida, você também está emparedado, encurralado por situações que você não tem mais controle. Talvez você está surrado por uma doença que assola o seu corpo, que mina sua energia, que suga a seiva do seu vigor, talvez você está caído e prostrado, esmagado debaixo de um rolo compressor de muitas angústias e tristezas.
O que Ezequias fez? Ele diz: então eu invoquei o nome do Senhor. Do fundo do poço, do ponto mais baixo da sua crise ele olhou para cima, ele olhou pra Deus. E quando ele clamou aos céus e recorreu a Deus, Deus o livrou e ele entende, então eu invoquei o nome do Senhor: ó Senhor, livra a minha alma. E ele entende algumas coisas: compassivo e justo é o Senhor, o nosso Deus é misericordioso, eu estava prostrado e o Senhor me salvou. Quando você clama a Deus, você descobre que Deus se importa com você, que ele é misericordioso, que as lutas e injustiças que você sofre não estão fora do alcance de Deus, porque ele é justo.
Ezequias percebe algo maravilhoso, ele percebe que Deus não é apenas justo e misericordioso, mas ele vela pelos simples; ele estava prostrado, nocauteado, e Deus o salvou. Não importa o que você está passando, a crise que você está vivendo no seu coração, no seu casamento, na sua família, no seu emprego, dos seus relacionamentos, na sua alma, Deus hoje pode reverter esse quadro, Deus pode mudar sua sorte, Deus pode colocar você de pé, Deus pode restaurar a sua sorte, e mesmo que você esteja na lona, nocauteado, Deus pode por você de pé outra vez.
CAPÍTULO 3 – SURGE UMA ESPERANÇA. Neste capítulo, há um ultimato médico sobre a situação da autora. Mas, também temos há toques de esperança, fé e sinais de um Deus que mesmo “no vale da desesperança” afirma haver esperança.
Ultimato médico – Infelizmente, não há nada mais nada a ser feito. Você conseguiu viver muito mais do que imaginamos que pudesse viver. O que posso fazer por você é prescrever medicamentos para que suporte a dor, são sedativos, posso mantê-la internada nesta fase final, para que tenha menos dor e fique mais confortável. É o que fazemos pelas pessoas que necessitam de “cuidados paliativos”. [p.108] Estou em choque, escreveu a autora. Por mais que soubesse que este dia chegaria, nunca pensei que fosse assim. Estou sozinha neste consultório, nenhum familiar ou amigo está aqui comigo, nem meus pais, nem irmãos, nem filhos, nem o Marcelo, ninguém. Eu sei que chega uma hora em que as pessoas cansam de ficar perto de alguém que está doente, além disso, todos têm suas famílias, seus trabalhos e suas próprias preocupações e, por estes motivos, não tenho mais pedido para que me acompanhem até o hospital, embora os médicos sempre perguntam por que estou sempre sozinha. Tenho certeza que chegou ao fim de tudo. Chorando pergunto ao Doutor Ruggero: - “Então não há realmente mais nada a fazer?” - “Não!” Responde o médico. [p.109]
Esperança alimentada – O Culto chega ao final e as mulheres levam-me para frente do altar, para que o Pastor Jairo faça uma oração por mim. Ao chegar perto dele arrependo-me dos maus pensamentos que já tive em elação a ele e aos pastores de igrejas de crentes e, neste momento, penso que jamais deveria ter julgado, porque via que, agora, ele estava trazendo “esperança”, por meio da palavra de Deus e das orações, para eu continuar vivendo. Ele pergunta o que eu tenho. E, com muita dificuldade para falar respondo: “Tenho um câncer sem cura, melanoma metastático, estágio IV, os médicos não podem fazer mais nada por mim. Todos os médicos que procurei disseram que irei morrer. Sugeriram que eu ficasse internada, iriam sedar-me até morrer, mas preferi morrer em casa. Estou vivendo minhas últimas horas de vida.” Ele olha pra mim e diz: “Você não irá morrer! Jesus irá lhe curar e você contará para todo mundo que foi curada por ele”. Eu insisto: “Os médicos disseram que meu câncer está todo espalhado. Irei morrer em poucos dias!” Imediatamente ele diz: “Irmã, nunca mais diga ‘o meu câncer’, por que não é seu!” Isso chama minha atenção. Nunca pensei sobre isso, sobre este câncer não ser meu. Mas como não poderia ser meu se está espalhado dentro de mim? O Pastor ora por mim e fala: “Irmã, a Bíblia fala de um rei chamado Ezequias que recebeu a notícia de que iria morrer e Deus permitiu que ele vivesse mais 15 anos. Você também viverá ainda! Jesus irá lhe curar!” Estou completamente sem reação, é a mesma história que Marcelo contou-me quando nos conhecemos pessoalmente, foi dela que me lembrei na noite antes da cirurgia no mediastino e pulmões e, agora, mais uma vez ouço-a da boca do Pastor! Algo mudou em mim depois que o Pastor Jairo orou e falou que eu não iria morrer, que serei curada pó Jesus e contarei isso para todo mundo. Estas palavras não saem da minha mente. Seria possível? Jesus curar meu corpo, mesmo que eu não veja mais vida nele? Poderia viver mais, como o rei Ezequias? [p.113-114]
A Conversão – Além disso, fiz com todo meu coração e de forma sincera a oração da reconciliação, recebendo Jesus em minha vida. Este é o começo para minha história mudar porque me reconciliei com Deus. Agora sou filha de Deus e ele passa a ser o meu pai Celestial. A oração que fiz foi: “Senhor, meu Deus e meu Pai, obrigada por tudo. Peço perdão por todos os meus erros, meus pecados e minhas maldades. Jesus Cristo, eu recebo-o como meu único Senhor e Salvador, vem morar em mim, no meu coração e na minha mente. Escreve meu nome no Livro da Vida. Senhor Jesus, entrego a minha vida ao Senhor, faz a sua obra em mim e que a sua vontade se cumpra na minha vida. Espírito Sato, endireita os meus caminhos, ajuda-me a ser uma mulher segundo o coração de Deus. Em nome de Jesus. Amém!” A autora conclui: Estava muito emocionada quando terminei a oração, pois recebi Cristo como meu Senhor e Salvador! Havia um tesouro em mim! Agora eu era filha de Deus! E sobre isso está escrito: “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1.12). [p.117]
Todo o restante deste capítulo, a autora expõe como Deus trabalhou na sua vida, o seu crescimento através do discipulado e modo maravilhoso como o Espírito de Deus a conscientizou sobre a renúncia das “coisas do velho homem”.
CAPÍTULO 4 – UM ENCONTRO COM DEUS. Meu coração tinha anseio pelo batismo nas águas, estava disposta a obedecer à Palavra de Deus quando ela afirma: “E João atravessou toda a região do rio Jordão, anunciando esta mensagem: Arrependam-se dos seus pecados e sejam batizados, que Deus perdoará vocês” (Lucas 3.3) e “Assim surgiu João, batizando no deserto e pregando um batismo de arrependimento para o perdão de pecados” (Marcos 1.4). Capítulo pequeno que mostra o desenvolvimento cristão da autora.
CAPÍTULO 5 – NASCI DE NOVO. Sou imersa nas águas, como Jesus foi e, hoje, 10 de abril de 2011, ao descer as águas do batismo, eu nasci de novo! Aleluia! Saio da piscina com a certeza de que estou curada e agora passarei pelo trabalhar de Deus em minha vida para que possa receber todas as suas promessas, uma vez que Pedro assegura: “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa” (2 Pedro 3.9). Como estou sentindo-me bem! Como estou leve e tranquila! Nunca senti isso antes! Que alegria! Estou muito feliz!
Como em cada capítulo, neste destaco quatro pontos.
O processo de cura. Deus espera que eu viva este momento e acredite que o futuro será repleto de conquistas e milagres. Milagres? Sim, milagres! Depois do meu batismo nas águas, decidi, por conta própria, sem falar nada a ninguém, parar de tomar todos os antidepressivos. Eu tomava mais de 20 medicamentos diferentes para depressão, para a dor provocada pela fibromialgia e febre reumática. Como eu fiz isso? Primeiramente, contei a Deus que iria fazê-lo, dizendo a ele que minha fé não estava mais naquela medicação e que não iria precisar mais dela e, em seguida, aos poucos, pois sabia que não deveria parar de uma só vez, retirei todos os medicamentos e ainda comecei a ofertar, sem que ninguém soubesse, o valor gasto com a medicação na igreja. Em poucos dias, não tomei mais nenhum remédio, e me senti muito bem. Depois do batismo nas águas nunca mais senti as horríveis dores de cabeça, as dores provocadas pelos sintomas da fibromialgia nem tinha mais a febre reumática e, além disso, não sentia mais tristeza. Eu fui curada no batismo nas águas! Agora sei que milagres acontecem! [p.160]
Pescadoras de pessoas. O dia da minha primeira célula havia chegado, estava feliz! Meu coração parecia sair do meu peito. Queria que o Espírito Santo usasse-me e, assim, estava em jejum e oração. A pele na mama e na axila ainda estava enegrecida devido à radioterapia. Porém, pedi a Deus, em oração, que ele não permitisse que ninguém sentisse o mau cheiro durante a reunião e, alguns minutos antes das mulheres virem, tomei um banho, usei uma pomada especial para queimaduras, receitada pelo radiologista, e vesti uma blusa limpa, de malha, conforme orientação médica. Em seguida, fiz um café e um chimarrão, coloquei alguns petiscos numa mesinha, deixei um louvor tocando baixinho, orei por mim e por cada convidada. O interfone tocou e elas começaram a chegar. Estava radiante e muito feliz, porque eu ouvi ao chamado de Deus e queria ajudar as pessoas a entenderem que o Senhor as ama e quer abençoá-las. Minha sala era minúscula, éramos quase 30 mulheres, acomodei a todas da melhor forma possível e iniciei a minha primeira célula e, no final, oramos umas pelas outras, tomamos o chimarrão e o café e comemos. [p.165]
Chegou o dia do casamento. Estávamos ansiosos e felizes por recebermos a bênção de Deus. Meu vestido de noiva era lindo! E, agora, vestida e maquiada, vi que ficou perfeito! Vendi meus cabelos que estavam no saco plástico a um cabeleireiro de Concórdia, ele maquiou-me e fez um lindo penteado para este dia especial. A decoração da igreja e da chácara em que oferecemos o jantar era muito simples, contudo, organizamos cada detalhe com muito amor. A mãe do Marcelo e um dos seus irmãos vieram, bem como meus pais, meus irmãos e alguns poucos amigos. Fiquei feliz porque minha mãe veio, havia orado neste sentido e, embora ela não tivesse sorrido em nenhum momento naquela noite e ainda tivesse falando mal de mim entre os convidados, não a condenei, tratei-a bem e procurei colocar-me em seu lugar e pensar que ela foi criada assim. O que me restava era orar a Deus para que seus olhos espirituais se abrissem e ela visse que eu estava seguindo a Palavra de Deus e que somente Jesus e quem salva e não uma religião. [p.175]
Mais uma cirurgia. Em meio a tudo isso, depois de quase 2 meses de casados, enquanto estávamos participando de um seminário da igreja, na chácara que fica há uns 20 quilômetros da cidade, num sábado à tarde, senti uma dor muito forte no abdômen. Olhei para o Marcelo e disse a ele que sabia exatamente que eram novas metástases e imediatamente lembrei que havíamos caído em pecado antes de casarmos. Fomos para o hospital de Concórdia, o médico que atendeu foi atencioso, fez exames de imagem e constatou a recidiva, realmente havia novas metástases. Fui transferida para o hospital de Joaçaba para uma nova cirurgia. O médico cirurgião que fez inúmeras cirurgias em mim, inclusive a do mediastino e pulmões, explicou-me sobre como seria a cirurgia a ser realizada no abdômen. Comentou que teria que fazer anestesista geral e falou sobre o tempo de duração do procedimento que seria de aproximadamente 3 horas. [p.181-182]
CAPÍTULO 6 – APRENDENDO A PERSISTIR PARA VER AS ORAÇÕES RESPONDIDAS. Transcorreram três meses desde que foram feitas as duas últimas cirurgias e estou com infecção hospitalar, há um buraco enorme em minha virilha, ele está do tamanho da minha mão fechada, o cheiro e a aparência são repugnantes, é possível ver os músculos expostos, além de vazar sangue e pus. Agora tenho que ficar deitada o tempo todo para que o buraco não aumente ainda mais e para que seja curada da infecção. Somente levanto quando preciso ir ao banheiro para fazer as minhas necessidades fisiológicas, quando tomo banho e, nos dias de célula, fico recostada no meu sofá da sala enquanto ministro a palavra de Deus e oramos. O médico não quer que eu fique internada nem tenha contato com outras pessoas, pois o risco de contrair mais bactérias devido à área exposta é muito grande. Assim, não posso ir a igreja e estou assistindo aos cultos pela internet, porém, sinto que não é o mesmo que estar lá, no entanto, não deixarei de fazer a célula porque este é o meu trabalho para Deus e ele irá proteger-me de toda e qualquer bactéria. [p.188]
A manifestação da cura. Entretanto, havia um problema: os exames da segunda bateria que eu fiz em Porto Alegre também tinham ficado prontos e estes não apontavam nenhuma nova lesão (metástase) no meu corpo que pudesse ser acompanhada ao longo do tratamento, isto é, eu não poderia fazer o tratamento, pois, em outras palavras, não ha\da doença para ser tratada! Eu não sabia se eu gritava ou chorava, mas comecei a crer ainda mais que “Para Deus nada é impossível” (Lucas 1.37), que milagres acontecem! [p.197]
A Gravidez. Os sintomas da gravidez estavam latentes em mim, vomitava, estava muito cansada e bastante emotiva. Lembramos das palavras do irmão do Marcelo de que Deus estava mostrando a ele um filho em meus braços. E, para nossa surpresa, aquela revelação poderia estar se cumprindo após quatro meses. Passaram-se 10 dias desde que eu havia sentido o primeiro enjoo e decidimos que era o momento de procurar o meu médico ginecologista/obstetra para termos certeza da gravidez e, certamente, ouvir muitas coisas ruins sobre o triste fim das mulheres com histórico de melanoma metastático. Porém, tínhamos convicção de que o Deus que havia me curado das dores de cabeça, da depressão profunda, da fibromialgia, das dores reumáticas e da infecção hospitalar, também iria revelar-se por meio da gravidez e provar que milagres acontecem. [p.210]
CAPÍTULO 7 – GERAR VIDA ONDE ELA NÃO EXISTE. No penúltimo capitulo, a autora descreve a prova definitiva do cuidado de Deus para com a sua vida. Estávamos diante do meu ginecologista. Ele cuidava há anos de mim e conhecia meu histórico de câncer. Conversamos e contei a ele que há menos de dois meses estive com o oncologista clínico e com um dos cirurgiões oncológicos de Joaçaba para fazer exames de rotina e eles observaram que eu ainda era fértil, mesmo depois de tantos tratamentos que fiz. Eles pediram de modo enfático que eu jamais pensasse em engravidar, pois seria um risco para mim, uma vez que a gravidez é um período de intensas modificações para a mulher e praticamente todos os sistemas do organismo são afetados, ocorrendo alterações hormonais e mecânicas, necessárias para que a mulher suporte a sobrecarga de gerar um bebê. Além disso, acontecem intensas alterações imunológicas, endócrinas, metabólicas e vasculares, as quais geram, na gestante, mudanças fisiológicas e patológicas. Eles afirmaram que eu não deveria engravidar, pois novas metástases surgiriam e chegariam até a placenta e ao bebê, o que seria fatal. O ginecologista obstetra concordou com os médicos de Joaçaba. Disse que era uma gravidez de alto risco e que imaginava que talvez eu não chegasse aos 2 meses de gestação. Sugeriu que seria prudente interromper a gravidez. Obviamente, não concordamos em fazer o aborto, pois nossa fé estava em Cristo. Eu sabia que era papel dos médicos alertar e orientar-me sobre o diagnóstico, evolução e prognóstico materno-fetal, bem como quanto as alterações fisiológicas e ao comportamento das metástases do melanoma durante a gravidez. Porém, tinha a minha fé em Jesus Cristo e estava tranquila. Eu sabia que o mesmo Deus que curou muitas feridas profundas do meu coração e doenças físicas, não permitiria que eu tivesse a felicidade de engravidar do marido que eu amava e não levar a gravidez até o fim. Eu cria que eu não teria metástases do melanoma, que o bebê nasceria perfeito e sem câncer e que eu iria poder segurá-lo em meus braços e amamentá-lo. [p.211-212]
O que mais poderia tirar deste livro e colocar aqui? Nada. O restante deste capítulo tem “cheiro de milagre”.
CAPÍTULO 8 – TESTEMUNHOS DE ALGUMAS PESSOAS QUE PRESENCIARAM ALGUNS DOS MILAGRES DE JESUS CRISTO EM MINHA VIDA. Todo este capitulo traz exatamente quarenta dois relatos de pessoas que testemunharam os milagres – digo milagres – pois, como escrevi anteriormente, a vida dessa irmã, é um celeiro de milagres
Para concluir: Há problemas insolúveis, há doenças incuráveis, há causas perdidas, a menos que Jesus realize um milagre. E foi o que ele fez na vida da irmã Ane Blos e é o que ele faz na vida de todo aquele que crê. O livro em apreço fala de uma mulher que passou por várias sessões de quimioterapia e mais de cem pequenas cirurgias, e que os médicos disseram que o último recurso era a sedação para uma morte mais tranquila. Tal mulher vai a Jesus, prostra-se diante dele e, clama: “Senhor, se tu quiseres, podes purificar-me”. Sua doença era incurável, seu problema era insolúvel, sua causa era perdida, mas Jesus estendeu a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpa! E, imediatamente, lhe desapareceu o câncer.
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ALBANO, Fernando. A ação do Espírito no mundo: novas perspectivas sobre o profetismo pentecostal em diálogo com Paul Tillich. São Paulo, SP: Editora Recriar, 2018. 236p.
O AUTOR - Fernando Albano é Doutor em Teologia pelo Instituto de Pós-Graduação da Faculdade EST, São Leopoldo, RS. Mestre em Teologia (EST/RS). Licenciado em Ensino Religioso (Ciência da Religião) pela Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, Joinville, SC. Atualmente é docente e pesquisador da Faculdade Refidim, Joinville, SC. Tem experiência na área de Teologia Sistemática e Ensino Religioso. Membro da Rede Latino-Americana de Estudos Pentecostais – RELEP. É pastor auxiliar da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Joinville, SC.
O LIVRO – Este livro é um marco divisório na Teologia Pentecostal, pois consegue se ver livre dos pressupostos ultrapassados das teologias dos Séculos XVIII e XIX que, embora sejam Teologias sérias e importantes para a reflexão da igreja, tentam encabrestar a ação do Espírito na igreja e no mundo, a um agir modesto, tímido e quase irrelevante. Em boa medida, a Teologia Pentecostal, quando começou a se organizar e na ausência de escritos autóctones, lançou mão dessas teologias dos séculos passados, que lhe ajudaram a formatar reflexões soteriológicas e cristológicas muito importantes, porém sufocaram e sufocam ainda, parcialmente, a liberdade do Espírito em agir de forma imprevisível, irreverente, paradoxal, holística, carismática e cuidadosa na vida da igreja e das pessoas que a compõe.
Para dirimir este déficit histórico da Teologia Pentecostal o autor faz propostas e aponta caminhos de uma profunda reflexão pentecostal, baseada em suas reflexões construídas há quase vinte anos ensinando teologia, convivendo com alunos, participando de eventos acadêmicos e eclesiais e, acima de tudo, através de uma formação acadêmica que lhe ampliou os horizontes e apontou caminhos de uma Teologia do Espírito que ultrapassasse as barreiras impostas por teologias limitadoras da liberdade do Espírito.
Sua proposta de uma pneumatologia pentecostal pública é inédita e extremamente relevante, pois reconhece o trabalho de resgate histórico de pessoas marginalizadas que o pentecostalismo faz, atraindo milhões de pessoas para o conforto de uma religiosidade que sempre deu alta importância à atuação da sobrenaturalidade divina, nas histórias individuais e coletivas, nas macro e micro histórias e narrativas de vida, trazendo conforto, consolo e segurança para uma sociedade que vive entregue à insegurança de instituições que não dão conta de atender as demandas que lhe cabem. Além disso, o pentecostalismo abre espaço para os marginalizados, para as mulheres, para missões em favor dos necessitados, incentiva profecias, revelações, curas milagrosas e os carismas do Espírito, bem como empodera para o serviço, para missões e evangelismo, permitindo acesso à liderança de pessoas que de outra forma não seriam protagonistas nem de suas próprias vidas.
Além de reconhecer o legado da teologia pentecostal na história e na sociedade, o autor propõe de forma profeticamente cirúrgica o mover do Espírito e suas implicações na eclesiologia. Ele se apropria dos principais teólogos pentecostais da atualidade, estabelecendo uma relação harmoniosa entre teólogos pentecostais tradicionais e aqueles pentecostais que dialogam com a sociedade de forma abrangente e propositiva como Amos Yong e Nimi Wariboko, além disso, traz para o texto e o enriquece com outros reconhecidos teólogos pentecostais como Roger Stronstad, Antony Palma, Stanley Horton e Kenneth Archer. Dessa forma, o autor faz seu trabalho ser considerado como um dos melhores tratados de Teologia Pentecostal em língua portuguesa, não deixando nada a desejar a importantes teólogos pentecostais internacionais.
A linha mestra de sua pesquisa se dá na aproximação da teologia pentecostal aos aportes dialógicos do sistema teológico filosófico de Paul Tillich, um teólogo de fronteiras e seu método de correlação, que, com suas obras procura descrever a profundidade da realidade última e o fenômeno religioso, emprestando ao livro de Albano clareza epistemológica no entendimento das principais doutrinas pneumatológicas do pentecostalismo, especialmente na atuação do Espírito no mundo e na existência concreta, apontando convergências e divergências na comparação entre as duas teologias, mas nunca permitindo que elas se fundam, cada uma mantendo sua identidade própria e suas particularidades, embora apontem para algumas aproximações muito interessantes e similares, afirmando contudo que o pentecostalismos não é a concretização da teologia de Paul Tillich. O Espírito para Tillich é a dimensão última da vida, que lhe empresta profundidade e fundamenta todas as coisas, superando as ambiguidades humanas através da possibilidade fragmentária do êxtase, fazendo o ser humano transcender as suas ambiguidades.
Para não ficar retido em torres de marfim e sacadas existenciais, o autor traz o debate da Teologia Pentecostal para a arena da Teologia Pública, propondo diálogos abertos com Rudolf Von Sinner e Michael Welker, fazendo o pentecostalismo estar no mundo como uma provável solução para a falta de perspectivas e situações de pobreza de muitas pessoas, contrariando seu próprio desejo de afastar-se do mundo. Para tal aproximação da Teologia Pentecostal com a Teologia Pública, o autor criou a expressão "cidade pentecostal" onde descreve com brilhantismo as implicações da pneumatologia pentecostal, com grande ênfase na experiência religiosa, que permite o protagonismo dos pobres, apontando para a sua dignificação a partir dessa experiência e de seu sentimento de profunda pertença religiosa.
Chamo atenção mais uma vez para a relevância desta pesquisa e desejo que sua leitura e aproveitamento pela academia traga novos aportes e reflexões para o bom desenvolvimento da Teologia Pentecostal no Brasil.
AÇÃO DO ESPÍRITO NO MUNDO
O objetivo principal deste livro, mais do que de apurar lacunas, é alcançar os aprendizados possíveis dessa correlação entre a pneumatologia pentecostal e a perspectiva teológica de Paul Tillich. O efeito mais destacado desse diálogo é a indicação de uma teologia do Espírito que contribua para a qualificação da presença pentecostal na esfera pública. A teologia neste caso é compreendida não tendo como objeto o próprio Deus, mas a análise dos discursos humanos sobre Deus. Ou, nas palavras de Rudolf Von Sinner: “reflexão metodologicamente responsável sobre o nosso falar sobre Deus e não sobre Deus em si. [...] Trata-se de uma empreitada humana, não divina. A teologia apresenta o que percebe da verdade com argumentos que podem ser discutidos e questionados, e não por decreto”.[1]
Concernente à qualificação da presença pública pentecostal, esta passa pela pneumatologia, entendida dentro do contexto da Trindade, da relação existente entre Deus e o mundo, assim como vinculada ao empoderamento da vida, sobretudo dos mais pobres. Outrossim, na concepção do Espírito como a força divina afirmadora da vida em sua diversidade religiosa, social, política, etc. Como aporte teológico, de modo que contribua na superação pentecostal do fundamentalismo e do frequente triunfalismo na esfera religiosa e política.[2]
O movimento pentecostal chegou ao Brasil no início do séc. XX, proveniente dos Estados Unidos e teve início em Belém do Pará, através dos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren que tinham passado por Chicago. Estes dois fundaram, inicialmente, a “Missão de Fé Apostólica”, depois denominada de "Igreja Evangélica Assembleia de Deus", até hoje a maior representante do chamado pentecostalismo clássico.[3] Também, igualmente importante nos primórdios do pentecostalismo brasileiro foi a atuação do leigo italiano Luigi Francescon, quem, em 1910, fundou a Igreja Congregação Cristã no Brasil.[4]
De acordo com Passos: "Os últimos dados do censo demográfico mostram o crescimento fenomenal dos grupos pentecostais nos últimos anos no Brasil. Eles passaram de 8,1 milhões em 1990 para 17,6 milhões em 2000”.[5] No último censo do IBGE realizado em 2010, o número dos pentecostais chega a impressionantes 25,4 milhões.[6] Esta representativa presença torna o pentecostalismo alvo de estudo e pesquisa por parte de teólogos, cientistas da religião, sociólogos, entre outros.[7]
Entre as principais características pentecostais, pode-se mencionar: ênfase nos dons espirituais, nova dinâmica litúrgica, intensa atuação leiga nas atividades e liderança das igrejas e uma notável preocupação com a missão. Tem na experiência intitulada de batismo no Espírito Santo seu fundamento doutrinário central.[8] Também a teologia pentecostal ensina que os fenômenos que acontecem dentro das suas comunidades são idênticos aos fenômenos pneumáticos que o Novo Testamento menciona nas primeiras comunidades cristãs.[9] Portanto, o interesse pentecostal no Espírito Santo se concentra geralmente no entendimento de sua atuação como de caráter sobrenatural, emocional e de empoderamento para o serviço e missão cristã. Recorrem às passagens da Bíblia que fazem menção de experiências extraordinárias ligadas á ação do Espírito de Deus (cf. At 2; 6.8-10; 1 Co 12.8-10) para fundamentar sua experiência.
Do mesmo modo, para o pentecostalismo o Espírito é Deus, é a terceira pessoa da Trindade. Ademais, o Espírito não é concebido como a terceira Pessoa da Trindade em si mesma, como uma pura abstração, mas é elaborada a partir da experiência do Espírito, feita pelos pentecostais em contextos de ameaça de vida e estreiteza de horizontes existenciais. Esta experiência religiosa é entendida como revestimento de poder, denominado de batismo no Espírito Santo.[10]
Esta experiência pentecostal, frequentemente vinculada ao serviço e missão cristãs, pode ainda ser concebida como força relativizadora das formas institucionais rígidas da fé cristã, proporcionando um espaço democrático de protagonismo religioso nas igrejas pentecostais, especialmente por parte dos pobres.[11] Desta forma como observa Bobsin: “[...] o pentecostalismo rompe com uma cultura religiosa e política hierárquica na esfera religiosa, O Espírito dá dons a todos, permitindo, assim, a participação na vida da congregação”. [12]
Além disso, cabe destacar que subjaz à pneumatologia pentecostal o fundamentalismo teológico que tende a ler as Escrituras de maneira literal e entende a Bíblia como inspirada pelo Espírito Santo, de modo que tudo o que escreveram é a palavra de Deus.[13] O dualismo da realidade em dimensão natural e sobrenatural, com primazia do último, se faz presente na construção pneumatológica.
Concernente à obra do Espírito Santo, esta é compreendida primeiramente como a ação de purificar indivíduos (santificação) e prepará-los para a vida futura no céu. De modo que geralmente a vida neste mundo é considerada importante apenas como campo de provação. Sendo assim, o Espírito, a partir desse contexto, é o ajudante divino que foi enviado para preparar o sujeito para a vida eterna.
Nesta dimensão terrena o crente é apenas um peregrino que juntamente com outros peregrinos constitui a Igreja de Deus, purificada e fortalecida pelo Espírito Santo para testemunhar para o mundo a vinda do reino de Deus. Assim, a obra do Espírito é praticamente entendida como restrita à igreja e à vida cristã. Como afirma Silva, teólogo pentecostal, “o Espírito Santo e a Igreja em tudo agem de comum acordo. A Igreja sem o Espírito seria um corpo sem vida; e o Espírito sem a Igreja, uma força sem meio de ação”.[14] Já a obra do Espírito em relação ao mundo é entendida pelos pentecostais em sentido geralmente de condenação, como apontamento de pecados. Portanto, há nessa perspectiva pneumatológica um notável caráter dualista, entre a realidade espiritual, ou eterna, e esta realidade material ou mundana. Outrossim, apresenta na atualidade um forte caráter individualista na relação Espírito de Deus e humanidade. Portanto, o foco é a salvação da alma individual e não a transformação do mundo ou a transformação de agrupamentos humanos e estruturas sociais.[15]
Nesta direção e também por conta desta teologia de caráter experiencial, as obras pentecostais que se ocupam com a teologia do Espírito carecem de fundamento mais sólido e sistemático.[16] Trata-se principalmente de organização abrangente de conteúdos da Bíblia. Pode-se dizer que é teologia para o consumo interno das igrejas pentecostais, sem diálogo com o pensamento da época.
Quanto à abordagem bíblica feita por esses teólogos, esta é basicamente caracterizada por uma leitura predominantemente literal, sem muitos recursos da hermenêutica contemporânea. Embora todas as três obras discutam a pneumatologia, nenhuma delas integra a teologia do Espírito no tecido maior das suas reflexões teológicas. Não há uma determinação pneumatológica sobre a apresentação do conteúdo das doutrinas e da interpretação da realidade.[17] Apesar disso, não deixa de abordar uma série de elementos doutrinários, tais como: Trindade, batismo no Espírito Santo, glossolalia, cura divina, a vinda de Cristo, santificação, salvação e a escatologia. Provavelmente, esse déficit sistemático ocorreu porque desde os primórdios do pentecostalismo, os seus teólogos não receberam treinamento formal em teologia. Isto resultou em postura anti-intelectual e resistência ao estudo acadêmico.[18] Ainda, por conta de sua escatologia que sempre enfatizou a vinda iminente de Cristo, os pentecostais julgaram que não dispunham de tempo suficiente para o estudo formal em teologia e até o consideraram um distanciamento da fé. Por isso, se ocuparam com tarefas que consideraram mais urgentes como a evangelização e a missão.
No pentecostalismo clássico também não há espaço para uma teologia negativa que reconheça a incapacidade e ambiguidades da linguagem humana para expressar o divino. Com isso, a teologia pentecostal, frequentemente peca por excesso de clareza na compreensão de Deus e da obra do Espírito na humanidade. Assim, não leva em conta a ambiguidade da linguagem humana, assim como do próprio espaço religioso, em que se dá a sua construção teológica.
Considerando os aspectos doutrinários do pentecostalismo clássico, seus aspectos positivos e negativos, acima esboçados, é que se propõe fazer um diálogo com o teólogo Paul Tillich. Este autor fez importante contribuição à teologia cristã no século XX, ao dar um lugar central para a teologia do Espírito em sua obra magna, isto é, sua Teologia Sistemática.[19] Segundo Enio Mueller: “sua teologia sistemática apresenta uma imensa e complexa trama contendo uma interpretação abrangente e transdisciplinar da realidade vista como um todo”.[20] Tillich nasceu num lar luterano, na cidade de Starzeddel, próximo de Berlim, em 1886. Graduou-se doutor em Filosofia, em Breslau, e em 1912 licenciou-se em Teologia, em Halle. Ao servir como capelão na I Guerra Mundial aproximou-se de tal modo da miséria humana que esta experiência lhe marcou profundamente, inclusive sua perspectiva teológica. Herdeiro do pensamento alemão do século XIX, especialmente do idealismo de Hegel e Schelling, também buscou no existencialismo e na psicologia do profundo, meios de ampliar sua visão teológica de realidade. Quando chegou aos Estados Unidos, em meados de 1933 como refugiado político, expulso da Alemanha por conta do nazismo, foi considerado como um teólogo subversivo.[21] Porém, posteriormente seu trabalho foi amplamente reconhecido na América e também na Europa.
A teologia de Tillich também apresenta uma dimensão política e social.[22] O teólogo da cultura foi influenciado pelos ideais concretos socialistas, principalmente no período em que viveu na Alemanha,[23] Teve colegas intelectuais socialistas da grandeza de Theodor Adorno e Max Horkheimer, da escola de Frankfurt.[24] Segundo Mueller, no início dos anos 20, Tillich é um dos co-fundadores do Círculo Kairós, um grupo de discussão sociológico, filosófico e teológico de perspectiva socialista.[25] Portanto, na construção teológica de Tillich, também pode se perceber potencial político e de transformação da realidade social. Seus conceitos de amor, poder e justiça, kairós, teonomia, teologia da cultura e Presença Espiritual são bons exemplo dessa realidade.[26]
No contexto brasileiro, muito já se escreveu a respeito da teologia de Paul Tillich. Há dissertações de mestrado e teses de doutorado em português que se ocupam com seu pensamento, enfatizando sua antropologia, a relação entre teologia e cultura, teologia sistemática, etc.[27] Tais pesquisas foram desenvolvidas principalmente na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) em São Bernardo do Campo/SP e na Faculdades EST/RS, principais polos de discussão do pensamento tillichiano no contexto brasileiro e Latino-Americano. Também há numerosos artigos na Revista Eletrônica Correlatio, coordenada pelo Prof. Dr. Etienne Higuet, que se ocupam diretamente com a teologia de Tillich.
Por outro lado, no contexto brasileiro são escassas as pesquisas que promovam a interface entre a teologia pentecostal e a teologia de Paul Tillich. Cabe registrar, no entanto, o esforço de Reginaldo Leandro Plácido nesta direção. Em sua dissertação de mestrado defendida na Faculdades EST, intitulada “Na dimensão do Espírito: uma leitura do Espírito Santo na teologia pentecostal em interface com a teologia sistemática de Paul Tillich” realizou este diálogo.[28] Plácido prioriza principalmente a experiência pentecostal denominada de batismo no Espírito Santo em interface com
o conceito de êxtase, conforme exposto por Tillich. Assim, Plácido procurou identificar as semelhanças e diferenças, encontros e desencontros entre a pneumatologia tillichiana e a pneumatologia pentecostal.[29] Conclui que há semelhanças na terminologia da pneumatologia de Paul Tillich com a abordagem pentecostal do Espírito Santo, principalmente na interface êxtase/batismo no Espírito Santo. Assim, conclui que a teologia do Espírito pode ser um ponto de diálogo entre a teologia de Paul Tillich com a teologia pentecostal.[30]
Aprofundando o bom trabalho de pesquisa feito por Plácido, acredita-se que a retomada do diálogo com Tillich pode resultar em aportes teóricos para a pneumatologia pentecostal, que ainda não foram explorados, principalmente dos efeitos tanto da pneumatologia tillichiana, quanto da pentecostal no que se refere ao espaço público e a ação responsável no mundo.
Convém destacar que teólogos pentecostais atuantes no contexto norte-americano, tais como Amos Yong, Frank Macchia e Nimi Wariboko, entre outros, já têm feito notáveis trabalhos nesta direção. Isto é, promovendo fecundos diálogos entre a teologia pentecostal e Paul Tillich, apresentando uma teologia pentecostal que valoriza sua experiência do Espírito e com implicações criativas para a renovação da teologia pentecostal e sua maior proximidade com a esfera pública.[31]
Isto posto, convém descrever o procedimento metodológico empregado nesta pesquisa a fim de promover este promissor diálogo. Primeiramente se pretende fazer a análise da teologia do Espírito em perspectiva pentecostal e de Paul Tillich separadamente, priorizando seus escritos teológicos.[32] Assim, pretende-se apresentar uma exposição abrangente das suas concepções pneumatológicas. Em seguida, observar-se-á suas concepções do Espírito Santo e suas implicações para a vida no mundo, conjuntamente com o objetivo de determinar seus pontos convergentes e divergentes. Ao pretender avaliar as suas concepções do Espírito de Deus se procurará empregar os seguintes critérios: 1) adequação das perspectivas teológicas à vida cidadã, caracterizada pelos princípios democráticos, por justiça e paz; 2) a ideia de ambiguidade na teologia; 3) adequação quanto aos requisitos de consistência e coerência; 4) além disto, o método utilizado é predominantemente teológico, com aportes interdisciplinares. Ou seja, a tese se situa dentro dos limites da teologia, especialmente da teologia sistemática; em estudos sistemáticos e bíblicos de perfil pentecostal, na Teologia Sistemática e outros escritos de Tillich e em insights de uma teologia pública no horizonte da cidadania.
Ainda, nesta pesquisa, não se pretende afirmar e/ou provar que o pentecostalismo seria uma espécie de concretização dos pressupostos pneumatológicos de Tillich. Definitivamente não é esta a questão. Também não se defende aqui que o êxtase segundo Tillich e o batismo no Espírito Santo na percepção pentecostal possam ser reputados como sinônimo. A tese desta pesquisa diz isto sim, respeito à necessidade de atualização da pneumatologia pentecostal no presente, a fim de recuperar os elementos proféticos das origens do pentecostalismo, que apresentam potencial de transformação religiosa, cultural e social. É preciso superar elementos fundamentalistas e autoritários que foram introduzidos no pentecostalismo clássico, ao longo do seu desenvolvimento histórico. Diante disto, se propôs o diálogo da pneumatologia pentecostal com Paul Tillich no horizonte da esfera pública. Esse diálogo mostrará a possibilidade de determinado tipo de pentecostalismo que não contradiz, mas intensifica a dimensão profética.
A ESTRUTURA DO LIVRO/TESE
1. A TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO DO PENTECOSTALISMO CLÁSSICO
1.1 Perfil do pentecostalismo clássico
1.2 O Fundamento bíblico-teológico da pneumatologia pentecostal clássica
1.3 Principais aspectos da pneumatologia pentecostal clássica
A estrutura da tese está dividida em três capítulos. No primeiro capítulo, A teologia do Espírito Santo do pentecostalismo clássico, pretende-se apresentar o perfil da pneumatologia pentecostal, principalmente da Assembleia de Deus. Discorrerá sobre o caráter distintivo da sua pneumatologia, priorizando sua experiência religiosa, intitulado de batismo no Espírito Santo. Serão analisados os fundamentos bíblico-teológicos utilizados pelos pentecostais para fundamentar sua doutrina do Espírito. Os pentecostais desde os seus primórdios, entenderam o seu movimento como uma obra de restauração do cristianismo primitivo pela via pneumatológica.
2 A TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO DE PAUL TILLICH
2.1 Considerações iniciais
2.2 Conceitos fundamentais da Teologia de Paul Tillich
2.3 O Espírito Santo
2.4 O Espírito Santo e o Novo Ser
2.5 Considerações finais
No capítulo 2, a teologia do Espírito Santo de Paul Tillich será analisada seus conceitos teológicos fundamentais, ou seja, seu método de correlação, a relação entre filosofia e teologia, razão e revelação; também, e, principalmente, o vínculo entre o Espírito e religião, cultura e ambiguidades da existência. Assim, pretende-se, demonstrar o potencial do pensamento pneumatológico de Tillich, que apresenta uma espiritualidade comprometida com a liberdade do Espírito e seu potencial transformador da realidade (kairos, teonomia), trazendo o Novo Ser para dentro da existência humana, a fim de superar suas ambiguidades. Portanto, elementos teológicos relevantes para o diálogo com a perspectiva pentecostal.
3 A PESSOA PÚBLICA DO ESPÍRITO: CULTURA, SOCIEDADE E POLÍTICA NA DIMENSÃO DO ESPÍRITO
3.1 Pentecostalismo, cultura secular e sociedade
3.2 Breves notas sobre política na perspectiva de Paul Tillich
3.3 A cidade pentecostal: as implicações sociopolíticas da pneumatologia pentecostal
3.4 Pentecostais, igrejas e esfera pública: unidade e serviço em esperança
No terceiro capítulo, denominado A pessoa pública do Espírito: cultura, sociedade e política na dimensão do Espírito se pretende sugerir para a teologia e práxis pentecostal acolher a totalidade da ordem social e suas instituições, como realidades chamadas a participar do reino de Deus, e, assim superar dualismos e demonizações de certos aspectos da realidade, principalmente a política. Para tanto, os conceitos teológicos de Tillich, tais como, a Presença Espiritual, teologia da cultura, a ambigüidade, o demoníaco, Novo Ser, etc., fundamentarão essa seção, ainda que em alguns momentos, não explicitamente. Além disto, também se recorrerá à escatologia pentecostal no horizonte da teologia pública.
Portanto, como escreveu o próprio autor: “Em tempos de pentecostalismos e assembleianismos dos mais diversos, confusão e dificuldades na compreensão do papel das igrejas na esfera pública, a presente reflexão quer contribuir a partir da teologia do Espírito, para a inserção responsável das igrejas na sociedade.”
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[1] SINNER, Rudolf von. Teologia pública no Brasil. In: SOARES, Afonso Maria Ligorio; PASSOS, João Décio. Teologia pública: reflexões sobre uma área de conhecimento e sua cidadania acadêmica. São Paulo: Paulinas, 2001. p. 264-276, à p. 271.
[2] O pentecostalismo aqui expresso se refere às Assembléias de Deus no contexto do Brasil (CGADB).
[3] ARAÚJO, Isael. Dicionário do movimento pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. p. 557s.
[4] MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestantes, pentecostais & ecumênicos: o campo religioso e seus personagens. 2. ed. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008. p. 128,135.
[5] PASSOS. João Décio. Pentecostais: origens e começo. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 18.
[6] BARTZ, Alessandro; BOBSIN, Oneide; SINNER, Rudolf von. Mobilidade religiosa no Brasil: conversão e trânsito religioso. In: REBLIN, lurí Andréas; SINNER, Rudolfvon (Orgs.) Religião e sociedade: desafios contemporâneos. São Leopoldo: Sinodal/ EST, 2012. p. 231-268, à p. 241.
[7] P. ex. SOUZA, Alexandre Carneiro de. Pentecostalismo: de onde vem, para onde vai? Viçosa (MG): Ultimato, 2004; ANTONIAZZI, Alberto et ai Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.
[8] GILBERTO, Antonio. Pneumatologia. A doutrina do Espírito Santo. In: GILBERTO, Antonio (Ed.) Teologia sistemática pentecostal. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p. 171-244, à p. 191. WYCKOFF, John W. O batismo no espírito santo. In: HORTON, Stanley M. (Ed.) Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p. 457.
[9] WYCKOFF, 2006, p. 462.
[10] WYCKOFF, 1997, p. 431-463.
[11] Segundo o sociólogo Ricardo Mariano, "depois de um século de presença no país, o pentecostalismo prossegue crescendo majoritariamente na base da pirâmide social, isto é, na pobreza". MARIANO, Ricardo. O pentecostalismo no Brasil, cem anos depois. Uma religião dos pobres. Disponível em: . Acesso em: 29 dez. 2016.
[12] BOBSIN, Oneide. Correntes religiosas e globalização. 2. ed. São Leopoldo: CEBI; Curitibanos: Pastoral Popular Luterana; São Leopoldo: Sinodal: lEPG EST, 2002. p. 73.
[13] ANDRADE, Claudionor C. Bibliologia: a doutrina das Escrituras. In: GILBERTO, Antônio (Ed.). Teologia sistemática pentecostal. 2. ed. Rio de Janeiro, CPAD, 2008. p. 17-48, p. 31.
[14] SILVA, Severino Pedro. A existência e a pessoa do Espirito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. p, 21.
[15] Entretanto, esta postura vem paulatinamente sofrendo mudanças. Isso ocorre pelo fato de começar a surgir um tímido discurso de transformação da sociedade. Isso pode ser verificado na abordagem dos últimos anos das Lições Bíblicas, órgão de doutrinação utilizado na escola bíblica dominical das congregações das Assembleias de Deus no Brasil. Por exemplo, Claudionor de Andrade, pastor e comentarista de Lições Bíblicas, critica o que chama de "conformismo escatológico", isto é, a atitude inerte e alienada de muitos crentes que interpretam erroneamente certas passagens da Bíblia para justificar a indiferença referente às questões públicas e, exorta: "É mister que nos lembremos ser a nossa missão atuar de forma profética, a fim de conscientizar este mundo, não apenas do poder do Evangelho, mas também da justiça de Deus" ANDRADE, Claudionor de. Lições bíblicas. As disciplinas da vida cristã: trabalhando em busca da perfeição. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p. 82. Convém salientar que a dissertação de mestrado de Rodrigo Gonçalves Majewski, orientada pelo Prof. Dr. Rudolf von Sinner (EST/RS), trata ricamente desta mudança do perfil assembleiano, expressa nas Lições Bíblicas - CPAD. Majewski fez um levantamento da teologia presente nas Revistas de Escola Bíblica Dominical - Lições Bíblicas a partir de 1987, coincidindo com o período histórico em que a Assembleia de Deus passou a participar da esfera pública de maneira mais efetiva, impulsionada pela Assembleia Nacional Constituinte. Sua pesquisa abrange 23 anos de Lições Bíblicas. Suas perguntas básicas de pesquisa foram: "1) Qual o mandato do crente para além dos muros da igreja? 2) O que a teologia pentecostal tem a dizer sobre a relação do crente com a sociedade?" Majewski constata em sua pesquisa que foi somente a partir do ano de 2005, que as Lições Bíblicas passaram a se ocupar de maneira mais ampla com a relação do cristão com a sociedade. Contudo, muito ainda precisa ser feito nessa direção. Nas palavras de Majewski: "na teologia popular assembleiana, a tensão entre 'material' e 'espiritual' existe, na medida em que o discurso de rejeição e separação do mundo continua, ao mesmo tempo em que se enfatiza a necessidade de uma presença ativa e positiva dos cristãos na sociedade, de forma que se procura, através das lições de escola dominical, passar-se uma visão teológica equilibrada, que não resulte em um extremismo antiespiritual, por um lado, ou docético, por outro”. MAJEWSKI, Rodrigo Gonçalves. Assembleia de Deus e teologia pública: o discurso pentecostal no espaço público. Dissertação [Mestrado em Teologia]. Programa de Pós-Graduação em Teologia, EST, São Leopoldo, 2010. p. 17-29.
[16] GILBERTO, 2008. HORTON, 1997. PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1996.
[17] Por exemplo, a teologia luterana tradicional, tem como norma da teologia sistemática a doutrina da justificação. Na teologia calvinista, a soberania de Deus expressa na predestinação, determina a apresentação e organização das doutrinas no seu sistema teológico. Cf. TILLICH. Paul. Teologia sistemática. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2005. p. 62. Algo semelhante praticamente não existe no pentecostalismo clássico.
[18] POMMERENING, Claiton. Fábrica de pastores: interfaces e divergências entre educação teológica e fé cristã comunitária na teologia pentecostal. Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Teologia, EST, São Leopoldo, 2015. p. 83-88.
[19] A influência teológica de Paul Tillich ainda está presente na teologia contemporânea. Isto pode ser verificado pelas “Sociedades Paul Tillich” espalhadas pelo mundo. Aqui no Brasil há a Sociedade Paul Tillich do Brasil, situada anexo à Universidade Metodista de São Paulo - UMESP e presidida pelo Prof. Dr. Etienne A. Higuet e Prof. Dr. Enio Ronald Mueller (vice-presidente). A finalidade da Sociedade é de reunir pesquisadores que trabalhem direta ou indiretamente com os conceitos e abordagens de Tillich e de viabilizar a publicação de trabalhos sobre Tillich. Seu principal veículo de divulgação é a revista virtual Correlatio, que contém um notável acervo de reflexões sobre a teologia de Paul Tillich. TILLICH. Disponível em: . Acesso em: 28 dez. 2016.
[20] TILLICH, 2005, p. 04.
[21] TILLICH, Paul. Perspectivas da teologia protestante nos séculos XIX e XX. São Paulo: ASTE, 2005. p. 12. Conferir também MUELLER, Êpio R.; BEIMS, Robert W. (Orgs.) Fronteiras e interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal: 2005. p. 11-39.
[22] STONE, Ronald H. Paul Tillich’s radical social thought. Atlanta; John Knox Press, 1980.
[23] MUELLER, 2005, p. 20-24. A expressão "teólogo da cultura" é devido ao fato de Paul Tillich ter considerado seriamente os desafios culturais do seu tempo. Ainda, ter desenvolvido o método da correlação, que ensina o teólogo em seu trabalho a atentar para a cultura em suas produções artísticas, literárias, filosóficas, entre outras, entendendo-as como perguntas existenciais abertas que remetem à Revelação (resposta divina); cabendo à teologia cristã fazer a correlação entre os polos. Segundo Tillich: "A religião, considerada preocupação suprema, é a substância que dá sentido à cultura, e a cultura, por sua vez, é a totalidade das formas que expressam as preocupações básicas da religião" TILLICH, Paul. Teologia da cultura. São Paulo: Fonte Editorial, 2009. p. 83. Por conseguinte, Tillich posiciona-se contra a neo-ortodoxia de Karl Barth, que, para Tillich, parece deixar de relacionar o Evangelho com o contexto cultural, e quem, como é sabido, posicionou-se contrário ao liberalismo teológico que prioriza a cultura em detrimento da Revelação. Cf. TILLICH, 2009, p. 83-93. Ver também: TILLICH, 2005, p. 21-81.
[24] MUELLER; BEIMS, 2005, p. 28.
[25] MUELLER, BEIMS. 2005, p. 23.
[26] Cf. TILLICH, PauL Amor, poder e justiça: análises ontológicas e aplicações éticas. São Paulo: Fonte Editorial, 2004.
[27] Neste sentido, Calvani fez um excelente levantamento bibliográfico, desta produção a respeito de Tillich. CALVANI, Carlos Eduardo. A recepção do pensamento de Tillich no Brasil. Revista Eletrônica Correlatio, São Bernardo do Campo, UMESP, v. 5, n. 10, nov. p. 152-182,2006.
[28] PLÁCIDO, Reginaldo Leandro. Na dimensão do Espírito: uma leitura do Espirito Santo na teologia pentecostal em interface com a teologia sistemática de Paul Tiilich. Dissertação [Mestrado em Teologia]. Programa de Pós-Graduação em Teologia, EST, São Leopoldo, 2008.
[29] PLÁCIDO, 2008, p. 12-14.
[30] PLÁCIDO, 2008, p. 131-135.
[31] MACCHIA, Frank D. Baptized in the Spirít: a global pentecostal theology. Grand Raplds: Zondervan, 2006. WARIBOKO, Niml. lhe pentecostal principie-, ethical methodology in new Spirít Grand Rapids: Eerdmans, 2012. YONG, Amos. In the days of Caesar. pentecostalism and political theology. Grand Rapids: Eerdmans, Sacra Doctrina: Christian Theology for a Postmodern Age Series, 2010. Ver também: WARIBOKO, Nimi; YONG, Amos (Eds.). Paul Tillich and Pentecostal theology. Spirítual Presence and Spirltual Power. Blooraington: Indiana University Press, 2015.
[32] No caso pentecostal, a literatura que foi pesquisada é predominantemente de fontes comuns, com poucas exceções, ou seja, não necessariamente teologia acadêmica. Contudo, essas fontes comuns refletem, ao menos, o ensinamento das igrejas Assembléias de Deus. Isto é, dada a parca produção acadêmica da teologia em nível reflexivo toma-se como fonte teológica textos, devocionais e documentos da vida comunitária e de formação por parte das igrejas.