sexta-feira, 3 de abril de 2020

O ROSTO DE DEUS [Resenha 040/20]


Neste ensaio, o filósofo associa-se, em suas palavras, à “filosofia tal como a conhecemos no mundo de língua inglesa: filosofia como discussão, que tem a verdade como objetivo” (p. 106). O Rosto de Deus oferece uma surpreendente reflexão acerca da vivência do religioso e da experiência do sagrado. O tema geral do livro pode ser observado logo nas suas primeiras palavras, ele diz: “Lorde Gifford não era um fiel ortodoxo de religião nenhuma, mas alguém que mesmo assim acreditava que nossa relação com Deus é a relação mais importante que temos [...] Ele mesmo presumia que a filosofia, a psicologia e a antropologia iriam confirmá-la”. [p.17].

Com isso, o autor faz um contraste afirmando que a crença em Deus é amplamente rejeitada pela cultura dominante de hoje, considerando um sinal de imaturidade emocional e intelectual. Assim, Scruton passa a argumentar que algo está sendo perdido quando essa crença é esquecida e passa a considerar as consequências da cultura ateísta que cresce a nossa volta. Ele sugere que tal esquecimento não é apenas um fenômeno intelectual, que expressa uma descrença em Deus, mas também um fenômeno moral, que envolve um distanciar-se de Deus.

O livro é visto como o desenvolvimento de uma teoria geral do rosto: o rosto da pessoa, o rosto da Terra e o rosto de Deus. Para o escritor, rosto é a face que brilha no mundo dos objetos com uma luz que não é deste mundo: a luz da subjetividade. Olhar bem nos olhos do outro exige admirar seu rosto, isto é, reconhecer-lhe integralmente sujeito.

O livro é composto por seis capítulos: (1) A vista de lugar nenhum. (2) A perspectiva de algum lugar. (3) Onde estou? (4) O rosto da pessoa; (5) O rosto da Terra; (6) O rosto de Deus. – Este capítulo é a conclusão do livro. Nele o filósofo afirma que todos os seres humanos sofrem de solidão em todas as circunstâncias. Eles podem estar em uma sala repleta de pessoas amigáveis e mesmo assim, sua solidão é aprofundada. Existe uma solidão humana que nasce de alguma fonte que não é a falta de companhia. Ela é um defeito sobrenatural, que só pode ser remediada pela graça. Aqui, ele se propõe a argumentar sobre o rosto dizendo algo sobre a presença de Deus neste mundo e por que o fato de não O encontrarmos é a razão dessa inquietação tão profunda.


Lembrando que Roger Scruton é um filósofo e não um teólogo. Há nesse livro posições e ideias que não compartilho, mas não posso condenar o livro por completo, por algumas posições que o autor sustenta, especialmente quanto à Antropologia. O livro em si tem o seu valor para aquilo que o autor se propôs a defender e, quanto a isso, ele fez de modo plenamente satisfatório.
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SCRUTON, Roger. O Rosto de Deus. São Paulo: É Realizações, 2015. p 240.

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