O livro é uma grande coluna de jornal ampliada. Fácil de ler, com linguagem coloquial, com implacável número de metáforas e comparações exageradas. Chega perto do sentimentalismo, mas não fica piegas. O autor é um jornalista competente.
Marley, o cão cujo nome homenageia o finado cantor de reggae Bob Marley, é superlativo em tudo. "Senhor terremoto" é o título de um capítulo. Anda pela casa derrubando objetos variados com seu rabo que não para de sacudir. Destrói colchões, sofás, vasilhas d'água. Come flores, arranca arbustos do jardim, que se transforma em um campo minado de fezes. Acima de tudo, bebe colossais quantidades de água para poder babar o tempo todo, de preferência em cima das pessoas. As situações descritas já foram vividas por qualquer um que já teve um animal doméstico. Cachorros grandalhões, mas bobões e de boa índole, assustam só pelo tamanho.
O livro também é um resumo da vida recente de Grogan e sua mulher. Os dois, jornalistas, se casaram e planejaram ter filhos. Jenny estava preocupada em saber se seria uma boa mãe -pois tinha conseguido matar uma planta de tanta água que dava para ela. Cuidar de um labrador seria uma espécie de "teste de maternidade/paternidade". Grogan narra o drama de uma gravidez interrompida e a alegria da chegada dos filhos e o papel de Marley na família ampliada.
A tradução tem alguns deslizes engraçados, como verter a abreviatura "lab" por "laboratório" em vez do óbvio "labrador". E o capítulo oito é um misterioso "Uma Batalha de Wills" - faltou traduzir a última palavra por "vontades".
O livro virou filme. Foi elaborado um roteiro que se transformou em duas horas de projeção. Não há recorte possível - e interessante - na história linear de um casal que quer simplesmente progredir na vida, a não ser que algo mais emocionante ou dramático que um cachorro alegre, divertido e brincalhão aconteça em suas vidas.
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GROGAN, John. Marley & Eu: a vida e o amor ao lado do pior cão do mundo. Rio de Janeiro, RJ: Ediouro, 2006.
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