sexta-feira, 10 de abril de 2020

GILEAD [Resenha 050/20]


Marilynne Robinson está entre as autoras mais talentosas do mundo. Gilead “é tão serenamente belo”, escreveu um resenhista, “e escrito em uma prosa tão gravemente cadenciada e cuidadosa, que dá para se sentir tocado pela graça só de lê-lo”.

Gilead é uma memória ficcional na qual um pastor moribundo escreve uma longa carta a seu jovem filho, contando a história de seus ancestrais, refletindo sobre sua vocação como um ministro e compartilhando toda uma vida de conselhos paternais que ele sabe que não estará por perto para dar ao filho que ama. O resultado é um retrato íntimo de uma vida ministerial que capta as alegrias, bem como as lutas do pastorado.

O protagonista em Gilead – o Reverendo John Ames – não serve a Deus de maneira perfeita, mas o faz de maneira visível. O retrato multidimensional que Marilynne Robinson faz de seu respeitável ministro capacita-nos a vê-lo como ele é. Vemos tanto sua paixão em proclamar o evangelho quanto sua nítida decepção em perceber que sua pregação nunca faz justiça plena à Palavra de Deus. Vemos sua gentil compaixão pelas pessoas às quais Deus o chamou para servir, mas também a profunda luta que enfrenta ao ministrar a um paroquiano rebelde e difícil de amar. John Ames nos mostra, portanto, o que é melhor e mais difícil no ministério pastoral.

Esta introdução é um convite para aprender a partir da vida e ministério de Ames pela leitura de Gilead, no qual Marilynne Robinson dá ao ministro a sua cativante voz. Consoante à sua forma literária – uma autobiografia fictícia –, Gilead não possui capítulos. Ele apresenta o fluxo de consciência de um homem, em vez de um enredo rigidamente construído. Por conseguinte, em vez de examiná-lo sequencialmente ou por episódio, os próximos posts explorarão temas variados a partir do romance.

Sua estrutura torna difícil saber como dividir a leitura de Gilead em porções adequadas. Talvez a melhor sugestão para esta primeira parte seja ler ao menos até à página 27. Você vai ficar tão fascinado com o texto de Robinson que vai ser difícil largar o livro.

Dois pontos são importantes aqui (1) esta minha edição está em inglês e foi publicada em 2004. No Brasil, o livro, publicado em português pela Editora Nova Fronteira (2005), encontra-se esgotado na editora. Mas é possível encontrá-lo em sebos de livros usados (como a Estante Virtual, por exemplo). (2) no livro O Pastor como Teólogo Público (Ed. Vida Nova, 2016), o teólogo Kevin Vanhoozer diz que está disposto a defender que “é possível aprender mais sobre a vida de um pastor com a leitura de Gilead do que com a leitura de muitos livros de teologia pastoral” (p. 158).
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ROBINSON, Marilynne. Gilead. New York, NY: Picador, 2004.

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