O enredo é trata da trajetória de Eugênio Pontes, jovem humilde da Porto Alegre dos anos 30 com aspirações de grandeza, que se esforça para se formar em medicina as custas dos sacrifícios dos pais e que decide dar um passo pragmático e polêmico: casar-se por interesse com uma refinada integrante da alta sociedade para ascender socialmente, ignorando os apelos do seu lado emotivo que apontam que sem dúvida alguma irá abdicar da companhia da mulher da sua vida. Decisão que ditará o rumo de sua vida e o colocará em debates constantes consigo mesmo, especialmente quando o passado retorna de forma abrupta e violenta o colocando em desesperadora agonia.
O esmiuçamento do lado psicológico do personagem, o seu modo de pensar, suas reflexões, seus medos, suas angústias, seus desejos são materializados no papel de forma muita competente. Não chega a se equiparar ao monumental trabalho de Hermann Hesse, no que concerne a esse aspecto, em seu Lobo da Estepe, mas o resultado nesse campo de Olhai os lírios do campo é exitoso.
Destaco o relacionamento de Eugênio com sua família, em especial com o seu pai, pois rende bons momentos de teor dramático, assim como a interação do protagonista com o seu par romântico, Olívia, descrita de forma bem humanizada, representando o núcleo feminino dignamente. A personagem demonstra não só jovialidade e candura de modos, o normal de se esperar pela função que desempenha dentro do enredo, mas inteligência, independência, determinação. Não é exagero dizer que dentro da dinâmica do casal ela é a personagem mais lúcida e forte. Se considerarmos que estamos falando de um romance de 1938, é mais um ponto positivo para o seu Érico.
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VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2005.
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