segunda-feira, 18 de maio de 2020

UM EXPERIMENTO A CRITICA LITERÁRIA [Resenha 080/20]


No início da década de 1960, quase tudo estava sendo questionado, e não foi diferente com a chamada “crítica literária”. Como acadêmico ilustre e leitor ávido, C.S. Lewis não se furtou à discussão e, contrapondo-se à ortodoxia de seus pares, propôs uma maneira diferente de analisar livros: a partir da experiência de quem lê, e não de quem escreveu. O resultado dessa “crítica à crítica” está nas páginas de Um experimento em crítica literária.

Neste livro, Lewis, nos oferece um caminho seguro na experiência subjetiva com a literatura. O objetivo da obra é, como o próprio título indica, propor que a leitura literária seja um experimento individual, no qual o leitor “letrado” será capaz de se libertar de seu próprio mundo e perceber, por meio da relação com o texto e pelo texto, a construção de outros mundos e perspectivas.

Com a fluidez argumentativa que fez do autor de As crônicas de Nárnia um comentador reverenciado até pelos colegas de Academia, Lewis sugere que a “boa leitura” envolve uma experiência profunda de envolvimento com a obra e as propostas de quem a escreveu. “Ao ler bons livros, tornei-me mil homens sem deixar de ser eu mesmo”, afirma. Sua noção de avaliação de um trabalho literário tem como pilar o compromisso do crítico de se despir de expectativas e valores pessoais e entrar no texto com a mente aberta.

A obra é composta por 11 capítulos, um epílogo e um apêndice sobre Édipo. Os quatro primeiros capítulos são destinados a categorizar e a exemplificar quem são os leitores “literariamente letrados” (os “poucos”) e os “literariamente iletrados” (os “muitos”). Aqueles são distintos destes por algumas razões pragmáticas em relação ao trato do texto literário. O que Lewis deseja nos primeiros capítulos é deixar claros “os diferentes modos de ler” (p. 11).

Nem todos leem da mesma forma uma obra literária. Os “literariamente iletrados” em geral nunca leem duas vezes a mesma coisa. De acordo com Lewis, o principal argumento deles é: “Eu já li isso” (p. 8). Estes também raramente dão importância à leitura. “As pessoas se voltam à leitura como última opção e a abandonam com entusiasmo assim que qualquer alternativa de passatempo se faça presente” (p. 8).

Por outro lado, os “literariamente letrados” são aqueles que “estão sempre procurando tempo livre e silêncio para poder ler e fazê-lo com toda a sua atenção” (p. 8). Eles leem grandes obras 10, 20 ou 30 vezes ao longo de suas vidas. Não apenas leem as obras como sentem a obrigação de criticá-las, tornando-se escravos de um objetivo definido de certo trabalho a ser cumprido.

Não há dúvida de que Um Experimento na Crítica Literária é, ainda que escrito originalmente em 1961, uma novidade no modo de se fazer crítica literária hoje. Nós mesmos que somos leitores vorazes devemos examinar nosso método de leitura e verificar, de acordo com Lewis, se somos dignos de nos considerar “literariamente letrados”. Talvez muitos ainda vejam a obra literária como uma redenção ou catarse. Alguns, não há dúvida, como substituto existencial. Normalmente, os “literariamente iletrados” habitam mundos minúsculos. São vazios de sentido e conteúdo.
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LEWIS, C. S. Um experimento em critica literária. Rio de janeiro, RJ: Thomas Nelson, 2019. 160p.

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