terça-feira, 5 de maio de 2020

CARTAS A MALCON [Resenha 072/20]


Malcolm é um amigo fictício de Lewis. Mas este o fez muito real. Deu-lhe uma esposa, Betty; um filho doente, George; uma casa com escadas em outra cidade; amigos comuns. Deu-lhe vasta cultura e liberdade de discordar do amigo. Viajaram juntos, conversaram, trocaram confidências, quase trocaram socos. Malcolm chamou a atenção de Lewis por este tentar guardar uma dor. É anglicano como Lewis, incomodado com questões relativas à liturgia e à ressurreição. Por isso, trocam cartas francas sobre esses assuntos, mas principalmente sobre oração.

Por meio de 22 cartas C.S. Lewis de maneira profunda e com sabedoria, compartilha sua compressão sobre várias questões relativas ao diálogo íntimo entre homem e Deus. Pondera sobre aspectos práticos e metafóricos da oração. Indaga sobre nossa real necessidade de falar com Deus e sobre a forma ideal de oração. Busca saber qual dos nossos muitos eus mostramos a Deus enquanto oramos. Lewis investiga ainda o papel da oração em comunidade e na liturgia do culto, abordando também os aspectos práticos e metafísicos da oração em particular, da oração como adoração, da oração como penitência, e discute esses e diversos outros assuntos com sua ternura característica e sagacidade.

Um dos temas mais polêmicos está na Carta XX. Lewis deixa claro que sua crença no Purgatório não é naquele purgatório em que os romanistas acreditam, uma espécie de tormento pré-Paraíso. Mas sim como se fosse um estado em que os que morreram salvos seriam purificados [de todas as suas impurezas] e transformados para poder gozar do Céu.

O livro preserva o máximo possível, o estilo de Lewis. O editor escreve que “respeitamos a pontuação estranha, as maiúsculas sem muito critério, as afirmações ousadas, as frases curtas, secas, bem como as frases longas, intricadas, cheias de interrupções. Dada sua vasta cultura, tivemos de redigir muitas notas explicativas e bibliográficas de rodapé, a fim de ajudar o leitor a compreender argumentos e ilustrações.

Os leitores serão desafiados a revisitar o poder da oração em todas as esferas da vida, pois "não temos atividades não religiosas", escreve ele, "somente religiosas e irreligiosas". E muito mais. A carta final contém pensamentos instigantes sobre “cristãos liberais”, alma e ressurreição.
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LEWIS, C. S. Cartas a Malcon. Rio de janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2019. 176p.

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