quinta-feira, 26 de março de 2020

SABEDORIA E PRODÍGIOS [Resenha 034/20]


Como avaliar as contribuições de um, digamos, Steve Jobs para a cultura humana? Como os cristãos explicam a quantidade imensurável de coisas boas realizadas por quem se presume não estar em um relacionamento pactual com Deus? A graça comum é a resposta: a misericórdia divina paira sobre todas as suas obras. Esta tradução da obra de Abraham Kuyper sobre a graça comum fornece o impulso necessário para os cristãos buscarem respostas às perguntas sobre a amplitude do evangelho, seu próprio papel na vida pública e as contribuições benéficas de outros, em especial na ciência e na arte. Altamente oportuno e recomendado.

Abraham Kuyper foi um teólogo profundo, um pensador enciclopédico e um homem profundamente espiritual que acreditava competir aos crentes “conhecer a Deus em todas as suas obras”

O livro está em duas partes, onde Kuyper aborda dois dos domínios mais difíceis que intimidam os cristãos nas nossas conversas modernas: ciências e arte.

Parte um: Ciência, composto por cinco capítulos onde o autor trata sobre sabedoria, conhecimento, entendimento, pecado e educação. Muitos cristãos se sentem ameaçados pela ciência, creem que não é digna de confiança e que afronta a fé. Questões concernentes à bioética, evolução, gestão ambiental e a probabilidade de aumento das descobertas científicas por meio de novas tecnologias obnubilam a objetividade entre certo e errado, bem e mal.

Parte dois: Arte, também possui cinco capítulos que trata sobre Maravilhas, beleza, glória, criatividade e adoração. A arte é outro aspecto com o qual os cristãos possuem relacionamento desconfortável e indefinido. Vivemos numa época na qual nossas imaginações se encontram sob ataque, de modo que, na vida de vários indivíduos, a criatividade se tornou uma vítima. Não estamos aptos a discernir entre a boa arte e a arte pobre, e os patronos da cultura sólida já se perderam. Infelizmente, grande parte da arte apreciada por cristãos é classificada como “arte cristã”, que são incapazes de nos comoverem profundamente.

Diante destes temas intimidadores, Kuyper vem ao nosso auxílio, empenhando-se em recuperar a noção de que a grande arte não deveria somente tocar nossos corações, mas também ocupar nossas mentes. Caso falhe nisso, não se configura como criativo.

A insistência de Kuyper de que Jesus é, de fato, Senhor sobre todas as coisas é ressaltada nas páginas deste livro. Sua convicção de que a ciência não é uma ameaça à nossa fé, mas uma aliada, e suas exortações para que celebremos a glória de Deus mediante a expressão criativa, farão, com regozijo, cantarmos cânticos novos de louvor àquele que é Senhor tanto dos céus quanto da terra. Portanto, Sabedoria e prodígios, de Abraham Kuyper, é um eloquente antídoto teológico contra os impulsos anti-intelectualistas e antiartísticos que tanto infectam a igreja contemporânea.
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KUYPER, Abraham. Sabedoria e prodígios: graça comum na ciência e na arte. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2018. 186p.

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