sexta-feira, 20 de março de 2020

A LEI DE DEUS CONTRA A LIBERDADE DOS HOMENS [Resenha]


Para o autor, que a religião viva ou sobreviva, tudo bem. Mas que pretenda pôr a lei de Deus acima da “liberdade” dos homens (grifo meu) parece inadmissível. Contudo, ele diz que é necessário tentar compreender como e por que as grandes tradições religiosas, monoteístas em particular, veem hoje uma parte de seus adeptos resvalar em formas radicais de contestação da sociedade moderna, em formas de crenças arcaicas, em cruzadas e guerras “santas”.

Antes de tratar como os adeptos das expressões fundamentalistas das três religiões (judaísmo, cristianismo e islamismo) convergem perfeitamente na rejeição das tendências surgidas na modernidade, ele deixa claro que estas três religiões não são fundamentalistas em seus dogmas, e sim, parte dos seus adeptos é que são. Em seguida ele estabelece conceitos para três termos que usa durante todo o livro: (1) Fundamentalismo religioso: Admite que há apenas um livro sagrado que deve ser a regra de fé e conduta para todos e que é inquestionável. Exemplo: Fundamentalismo protestante (a minoria dos evangélicos), Fundamentalismo Islâmico (a minoria dos grupos islâmicos).; (2) Integrismo: Admite que há uma tradição sagrada que deve permear até mesmo as interpretações de seus livros sagrados. Exemplo: Integrismo católico (uma minoria do catolicismo); (3). Fundamentalismo-Integrismo: Acredita que há tanto um livro sagrado como uma tradição sagrada que o interpreta e que um não existe sem o outro.

Neste livro, o autor procura captar, de múltiplos ângulos, a lógica que embasa os fundamentalismos e os integrismos, seu “problema” com a modernidade. E acerca desta tal “modernidade”, o livro mostra ainda como os adeptos das expressões fundamentalistas das três religiões (judaísmo, cristianismo e islamismo) convergem perfeitamente na rejeição das tendências surgidas na modernidade. Essas tendências o autor assim enumera: (1) a autonomia do homem que quer governar-se conforme sua própria razão; (2) a democracia que instaurou a separação entre Igreja e Estado; (3) a secularização da sociedade; (4) os direitos do homem que afirmam a posição do indivíduo diante do estado e dos poderes em geral; (5) a cultura crítica que faz com que o homem “ouse pensar”.

Jean-Louis Schlegel é um filósofo francês, editor, sociólogo das religiões e tradutor nascido em 1946. Ele estuda em particular a evolução das religiões, especialmente o catolicismo, nas sociedades contemporâneas.

Do meu ponto de vista, o livro é bom, mas, não recomendo para aqueles que não estão acostumados a ler o contraditório.
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SCHLEGEL, Jean-Louis. A lei de Deus contra a liberdade dos homens: integrismos e fundamentalismos. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

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