Em 1939, depois que Hitler declarou guerra contra a Polônia, e depois que Bonhoeffer retornou de sua viagem para os EUA, ele pediu direção a Deus sobre o que deveria fazer a seguir. Bonhoeffer foi então trabalhar para a inteligência militar alemã – denominada Abwehr – sob a supervisão de seu cunhado, Hans von Dohnanyi. Enquanto trabalhava para a Abwehr, Bonhoeffer se envolveu na chamada “Operação 7”, um ousado plano para contrabandear judeus para fora da Alemanha. Essa operação atraiu suspeitas da Gestapo, e em 05 de abril de 1943, após o fracasso de três atentados contra a vida de Hitler, Bonhoeffer foi preso e enviado para a prisão militar de Tegel, em Berlim.
Ainda antes de ser preso, Bonhoeffer denunciava profeticamente, por diferentes meios, a cooptação da igreja alemã, a participar da Igreja Confessante e a liderar o seminário clandestino dessa igreja. Porém, o engajamento ativo na luta política, que lhe custou a vida decorria da percepção que tinha do significado de ser discípulo de Cristo. Como salienta Metaxas, embora altamente competente como teólogo e professor, Bonhoeffer não estava interessado em abstração intelectual, mas nos aspectos práticos de como viver como cristão no seu contexto, aplicando a Bíblia a cada dimensão da existência.
Suas opções foram moldadas, como aponta Metaxas, pela formação recebida no ambiente familiar, que ajudou a desenvolver um pensamento teológico independente, mesmo estudando ou sendo amigo dos mais renomados teólogos do seu tempo, como Adolf von Harnack, Karl Barth, Reinhold Niebuhr e Paul Lehamann.
O livro também conta uma história de amor pouco conhecida, entre Bonhoeffer e sua noiva Maria von Wedemeyer, bem mais nova do que ele. Quando se conheceram ela estava com 18 anos e ele com 37. Logo após, em março de 1943, ele foi preso e acabou sendo enforcado, pouco tempo antes de o próprio Hitler cometer suicídio e a guerra acabar. Vale ressaltar que, durante o tempo que passou na prisão, Bonhoeffer escreveu cartas inspirativas e poemas que hoje são considerados como clássicos cristãos. “Porque eu descobri finalmente, e continuo ainda descobrindo, que é tão somente através do viver completo neste mundo que se aprende a crer”. Dietrich Bonhoeffer.
A vida desse homem nos apresenta ainda uma pessoa que não aceitava preconceitos; que correu riscos para defender os perseguidos; um lutador que não se omitia. A beleza e verdade contidas no livro de Metaxas levam o leitor à reflexão de que nós, “cidadãos politicamente corretos” do século 21, também não podemos nos esconder e muito menos nos omitir, face as grandes injustiças da humanidade e diante de gente que destila preconceitos como os que acompanhamos nos noticiários e em nosso dia a dia.
O livro, contem 31 capítulos escritos em 615 páginas, onde Eric Metaxas conta essas e outras histórias. Trata-se de um livro de leitura fácil, bem documentado, em que, sempre que possível, o autor deixa o biografado “falar por si mesmo” por meio de uma série de citações contextualizadas.
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METAXAS, Eric. Bonhoeffer: pastor, mártir, profeta, espião. São Paulo, SP: Editora Mundo Cristão, 2011. 615p.
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