sexta-feira, 6 de março de 2020

GRANDES ESPERANÇAS [Resenha]


Leland Ryken (autor do livro “Santos no mundo”), afirma que Grandes Esperanças de Charles Dickens é o melhor romance originalmente publicado em inglês. E sustenta que este romance é a melhor introdução possível ao povo e aos lugares da Inglaterra. E mostra dois motivos para tais elogios.

(1) A “britanicidade” de Grandes Esperanças está é sem igual. E diz que um bom romance é aquele que desejamos ao nos sentarmos para ler um romance é sermos transportados. “Grandes Esperanças” corresponde às expectativas. Nenhum escritor de ficção superou Dickens no dom de criar mundos. O mundo para o qual somos transportados quando lemos Grandes Esperanças é a Inglaterra britânica e vitoriana por excelência. É um mundo de natureza e campo, cidadezinhas e Londres.

(2) Um bom romance é aquele que desejamos ser entretidos. A defesa hedonista da literatura (a literatura defendida com base no princípio do prazer), nos proporciona lazer, e o lazer foi feito para ser desfrutado. Grandes Esperanças nos proporciona o lazer que buscamos. Ele também é uma obra-prima cômica. Entre os autores ingleses, Dickens está ao lado de Chaucer e Shakespeare como grandes maiores humoristas. Sua comédia é dividida entre comédia oriunda dos personagens e comédia oriunda das situações do enredo.

Dickens foi um estilista e artífice da palavra do mais alto calibre, e a obra em que ele mais deu provas disso foi em Grandes Esperanças, seu último grande romance. Ele pôde imortalizar momentos, dada a forma como os expressou. Seu estilo brilhante é autocompensador.

O que dizer da verdade de Grandes Esperanças? Um tipo de verdade que representa a experiência humana com precisão. Um escritor de ficção nos induz a encarar a vida, e o conhecimento que advém disso é conhecimento na forma de ver corretamente – ver as coisas com exatidão. Praticamente tudo que Dickens retrata em Grandes Esperanças “acerta” em sua interpretação acurada da experiência humana.

E a edificação, onde é que fica? Leland Ryken, coloca a literatura como um todo em uma sequência com três categorias principais: (1) Literatura cristã; (2) Literatura de esclarecimento e humanidade compartilhada e (3) Literatura de descrença.

Escrito em 1860, Grandes Esperanças se encaixa na categoria do meio. Ele não endossa explicitamente a fé cristã (embora contenha muitas referências bíblicas), mas se harmoniza facilmente com o cristianismo. A vida do personagem Pip (Philip Pirip) está dividida em três partes: sua infância penosa; a descoberta da vida adulta; e o desenrolar de suas grandes esperanças. O autor, em especial, levanta a questão dos valores de forma proveitosa. Pip perde sua alma (metaforicamente falando) quando baseia sua vida em suas “grandes esperanças” de uma vida de sossego material baseada no dinheiro herdado, e ganha sua alma (em um sentido moral, mas não espiritual) quando abandona suas grandes esperanças e baseia sua vida no amor, nos relacionamentos pessoais e no contentamento com a vida comum.
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DICKENS, Charles. Grandes Esperanças. São Paulo, SP: Penguim Classics Companhia das Letras, 2012.

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