quinta-feira, 26 de março de 2020

KIERKEGAARD: UMA VIDA EXTRAORDINÁRIA [Resenha 035/20]


É impossível falar da Filosofia moderna sem lembrar de seus representantes mais ilustres, como Nietzsche, Schopenhauer, Heidegger, Kant, Sartre, Spinoza, Witgenstein, Descartes e Hegel, entre outros. Ao lado deles, igualmente respeitado como grande luminar do pensamento ocidental, figura Søren Kierkgaard. Acadêmico, poeta, dono de um senso crítico aguçado, ele se notabilizou não apenas por suas articulações teóricas brilhantes, que lhe valeram o epíteto de primeiro filósofo existencialista, mas também pela maneira como desenvolveu um sólido arcabouço ético e filosófico da fé cristã.

Os textos e pensamento de Søren Kierkgaard são considerados pelos jornalistas, filósofos e outros como algo difícil de entender. Os modernistas desconfiam desse pensador aparentemente pós-moderno que nunca falou nada diretamente e escreveu sob pseudônimos. Os pós-modernos adoram suas múltiplas vozes, mas suspeitam de sua adesão insistente à Verdade revelada com um V maiúsculo. As pessoas religiosas ouvem que Kierkgaard é o “pai do existencialismo” e suspeitam que ele seja ateu. Os ateus não se convencem quando ouvem que Kierkegaard está por trás da ideia popular de um “salto de fé”. Os apologistas cristãos adoram seu ataque à idolatria da racionalidade científica, mas estão menos interessados no seu ataque à apologética cristã. Os liberais apreciam seu amor pelo homem comum e suas percepções sobre a natureza insípida dos meios de comunicação e da política impulsionados pelo mercado, mas não gostam de sua crítica vigorosa sobre as soluções sociais para os problemas individuais ou sobre a crença ilusória dos tempos modernos no progresso histórico. Os conservadores valem-se muito do foco altamente cristão de Kierkegaard sobre a liberdade do indivíduo, mas não gostam quando ele considera como os principais inimigos dessa liberdade a própria cultura cristã e muito do que é chamado de valores familiares tradicionais. Seja qual for a opinião que você tem sobre a vida moderna, existem duas coisas verdadeiras que podem ser ditas sobre Kierkegaard: sua influência sobre os nossos vários modos de pensamento é bastante difundida, e a natureza exata dessa influência é difícil de articular.

Ler Kierkegaard pode ser um trabalho árduo. Mas, este livro nos traz visões gerais que se destinam a ajudar e orientar o leitor da biografia. Em “Kierkgaard – Uma vida extraordinária”, o estudioso Stephen Backhouse passa em revista a vida pessoal e a trajetória dialética de um homem que reuniu razão e religiosidade, influenciando em grande medida o pensamento de sua época e dos séculos seguintes. O autor revela como racionalidade e sensibilidade conviviam na vida acadêmica, na poesia, na teologia, nos amores e humores do intelectual dinamarquês.

O livro possui dez capítulos e faço três destaques sobre a obra de Backhouse: a prosa do autor é muito fluida e agradável, sendo a leitura envolvente; no fim do livro tem um capítulo que apresenta sistematicamente as obras de Kierkegaard em que se faz uma visão geral de cada uma delas; contudo, falta nessa obra a apresentação ou destaque de conceitos centrais em Kierkegaard, como "salto da fé".
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BACKHOUSE, Stephen. Kierkegaard: uma vida extraordinária. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson, 2019. 272p.

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