Certa vez, Ernest Hemingway (autor de “Por quem os sinos dobram”), recebeu um jovem escritor em busca de orientação. O conselho do futuro Prêmio Nobel de Literatura foi para o garoto ler os livros clássicos, pois eles já haviam passado pelo teste do tempo. Ao ser questionado, então, quais clássicos ele recomendava, Hemingway fez uma lista com 17 obras fundamentais, entre elas Anna Karenina, de Tolstói, Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski, e o livro que é tema desta resenha: “O Vermelho e o Negro”, de Stendhal.
Stendhal é o pseudônimo do francês Henri-Marie Beyle, nascido em 1783, que acompanhou de perto momentos importantes da história do país, como a Revolução Francesa, e fez parte do exército de Napoleão Bonaparte em campanhas na Áustria, Alemanha e Rússia.
Só depois disso tornou-se escritor. “O Vermelho e o Negro” foi publicado em 1830, em meio à revolta que derrubou o Rei Carlos X. O livro, baseado em acontecimentos reais, conta a história de Julien Sorel, filho de um carpinteiro da pequena (e fictícia) cidade de Verrières que quer de qualquer forma mudar o seu futuro infeliz. Seu sonho era ascender socialmente como fez Napoleão, à base da espada, mas como os tempos eram outros, dedicou-se aos estudos de latim e a vida eclesiástica.
A partir deste diferencial, sua trajetória de vida muda completamente. Ele é escolhido para ser o educador dos filhos do prefeito da cidade, o Sr. de Rênal, e lá tem acesso a pessoas de outros níveis sociais. Enquanto sua erudição e polidez impressionam a todos, um romance inconcebível faz com que os planos do jovem sejam alterados e levados para o seminário na cidade de Besançon.
Após este período complicado (que também é a parte mais arrastada do livro), Julien é contratado para prestar serviços ao Marquês de La Mole, em Paris, e é lá que ele percebe com mais intensidade o desprezo por sua origem, as maquinações políticas e novamente um amor louco e proibido. Dessa vez é com Mathilde, a filha do Marquês, moça jovem, bela e de caráter duvidoso. Este relacionamento revela-se cada vez mais errático e inviável, em meio a um turbilhão político que precedia a Revolução de Julho de 1830. E as consequências dele mostram-se irreversíveis, fato que dá um fôlego interessante ao final da leitura.
O vermelho e o negro é um livro muito bom. A descrição é limpa, mas ainda assim com um toque de classe pertencente aos grandes da literatura. Uma característica interessante da narrativa é que ela é feita com ênfase nos pensamentos de Julien: os seus sentimentos, análises e planos são expostos com bastante freqüência, proporcionando ao leitor a opção de concordar ou discordar de suas idéias. Isso porque ele não é um herói, mas um homem ambicioso, calculista, que ao mesmo tempo em que despreza a alta sociedade, quer fazer parte dela a todo custo.
Apesar de toda essa complexidade, Stendhal soube conduzir muito bem a sua história. Vale a pena seguir a dica de Hemingway e ir atrás de obras desta estirpe.
Esta linda e luxuosa edição foi produzida pelo “Clube de Literatura Clássica” do qual sou assinante. Este é o segundo volume de muitos que virão.
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STENDHAL, [Henry Marie Beyle]. O Vermelho e o Negro. Novo Hamburgo, RS: Clube de Literatura Clássica, 2020. 656p.
Stendhal é o pseudônimo do francês Henri-Marie Beyle, nascido em 1783, que acompanhou de perto momentos importantes da história do país, como a Revolução Francesa, e fez parte do exército de Napoleão Bonaparte em campanhas na Áustria, Alemanha e Rússia.
Só depois disso tornou-se escritor. “O Vermelho e o Negro” foi publicado em 1830, em meio à revolta que derrubou o Rei Carlos X. O livro, baseado em acontecimentos reais, conta a história de Julien Sorel, filho de um carpinteiro da pequena (e fictícia) cidade de Verrières que quer de qualquer forma mudar o seu futuro infeliz. Seu sonho era ascender socialmente como fez Napoleão, à base da espada, mas como os tempos eram outros, dedicou-se aos estudos de latim e a vida eclesiástica.
A partir deste diferencial, sua trajetória de vida muda completamente. Ele é escolhido para ser o educador dos filhos do prefeito da cidade, o Sr. de Rênal, e lá tem acesso a pessoas de outros níveis sociais. Enquanto sua erudição e polidez impressionam a todos, um romance inconcebível faz com que os planos do jovem sejam alterados e levados para o seminário na cidade de Besançon.
Após este período complicado (que também é a parte mais arrastada do livro), Julien é contratado para prestar serviços ao Marquês de La Mole, em Paris, e é lá que ele percebe com mais intensidade o desprezo por sua origem, as maquinações políticas e novamente um amor louco e proibido. Dessa vez é com Mathilde, a filha do Marquês, moça jovem, bela e de caráter duvidoso. Este relacionamento revela-se cada vez mais errático e inviável, em meio a um turbilhão político que precedia a Revolução de Julho de 1830. E as consequências dele mostram-se irreversíveis, fato que dá um fôlego interessante ao final da leitura.
O vermelho e o negro é um livro muito bom. A descrição é limpa, mas ainda assim com um toque de classe pertencente aos grandes da literatura. Uma característica interessante da narrativa é que ela é feita com ênfase nos pensamentos de Julien: os seus sentimentos, análises e planos são expostos com bastante freqüência, proporcionando ao leitor a opção de concordar ou discordar de suas idéias. Isso porque ele não é um herói, mas um homem ambicioso, calculista, que ao mesmo tempo em que despreza a alta sociedade, quer fazer parte dela a todo custo.
Apesar de toda essa complexidade, Stendhal soube conduzir muito bem a sua história. Vale a pena seguir a dica de Hemingway e ir atrás de obras desta estirpe.
Esta linda e luxuosa edição foi produzida pelo “Clube de Literatura Clássica” do qual sou assinante. Este é o segundo volume de muitos que virão.
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STENDHAL, [Henry Marie Beyle]. O Vermelho e o Negro. Novo Hamburgo, RS: Clube de Literatura Clássica, 2020. 656p.
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