quinta-feira, 23 de julho de 2020

MOBY DICK [Resenha 118/20]


Um animal versus um homem em busca de vingança. O clássico "Moby Dick" vai além dessa simples definição. Ismael é o narrador da trama e nos revela como o capitão Ahab e sua tripulação partirão em busca da baleia branca. Sedentos por sua pele, ou melhor, corpo, a equipe perceberá que, na verdade, está à caça de seus destinos e não da fera do mar.

"Moby Dick", de Herman Melville, foi escrito em 1851 e só ganhou reconhecimento anos depois na literatura norte-americana e mundial. Por décadas, a obra ficou na obscuridade. Somente após a Primeira Guerra Mundial, estudantes de literatura norte-americana descobriram as linhas do autor. Ismael é o herói da trama. Ele embarca como marujo no baleeiro Pequod, do capitão Ahab, na ilha de Nantucket rumo ao Pacífico. Seu companheiro é Queequeg, príncipe de uma tribo canibal da Polinésia que personifica o primitivo, a barbárie evidenciada. Por meio deste personagem, Melville traveste a selvageria que pertence ao ser humano - todos ali são mais brutais do que a própria baleia branca.

Moby Dick possui uma grandeza que se equipara ao objetivo do contar de escritor. Este registrou por meio da obra um capítulo singular da história norte-americana - o das baleias e sua pesca. Para tanto, utilizou-se de significados míticos para realizar o relato.

O autor, Herman Melville viveu anos a bordo de navios, pescando baleias e aventurando-se pelas aquáticas e árduas veredas da vida de marujo. Dessa vasta experiência vivida é que ele extraiu a matéria-prima para sua literatura. Porém não devemos nos enganar, pois Moby Dick, assim como O coração das trevas, não é um romance marítimo de aventura pura e simples, mas uma epopéia profunda e subjetiva que consegue prender até o mais exigente dos leitores.

Segundo os estudiosos da obra de Melville, a intenção do autor foi evidenciar o eterno conflito entre o homem e seu destino - a baleia representando o mal infinito por ter decepado a perna de um homem do mar (capitão Ahab), e ele a vontade do homem que se opõe às forças da natureza. O leitor percebe que a baleia branca é antes de tudo a concretização da ferocidade, da coisa que se revolta contra o ser humano.

Assim, a obra permanece em nosso imaginário como o duelo entre duas ferocidades: da pura fera e sua total capacidade de fera, que enfrentará a outra fera, mais conhecida como orgulho humano. E esse confronto entre dois primitivos ultrapassará os séculos e permanecerá vivo e atual. Melville prova ao leitor que nem a vastidão dos sete mares abarca a ira de ambos. A cada página virada e légua percorrida trememos de medo, compartilhamos a cólera da tripulação e do entusiasmo da aventura. Percebemos também que somos caçados tal qual Moby Dick o é, só que pelo destino. Este, de repente, emerge à nossa frente e atraca em algum ponto de nossos questionamentos.
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MELVILLE, Herman. Moby Dick [edição Bilingue]. São Paulo, SP: Editora Landmark, 2012. 527p.

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