sexta-feira, 17 de julho de 2020

A MORENINHA [Resenha 114/20]


Escrita durante o Segundo Reinado, período de estabilização política e formação cultural do Brasil, “A Moreninha” inaugura uma modalidade de romance denominada "pequeno realismo", por retratar a classe média e burguesa ascendentes no país, acarretando a identificação do público com as personagens. Tratando de temas como o amor puro, a virgindade e a luta vitoriosa do bem contra o mal, a obra tornou-se um best-seller.

Joaquim Manuel de Macedo nasceu em Itaboraí-RJ, em 24 de junho de 1820. Foi médico, jornalista, político, professor, preceptor dos netos de D. Pedro II e o autor mais lido de sua época. Assim se expressou sobre este livro: “Eis aí vão algumas páginas escritas, às quais me atrevi dar o nome de romance. Não foi ele movido por nenhuma dessas três poderosas inspirações que tantas vezes soem amparar as penas dos autores: glória, amor e interesse. Este pequeno romance deve sua existência somente aos dias de desenfado e folga que passei no belo Itaboraí, durante as ferias do ano passado. Longe do bulício da corte e quase em ócio, a minha imaginação assentou lá consigo que bom ensejo era esse de fazer travessuras, e em resultado delas saiu ‘A Moreninha’”.

Obra de caráter metalinguístico, retrata a história de Augusto, rapaz inconstante que aposta com seus amigos que não ficaria apaixonado por mais de 15 dias por mulher alguma. Seu castigo, caso perdesse a aposta, seria escrever um romance para esses amigos. “A Moreninha”, então, é o fruto dessa punição. Perdidamente apaixonado por Carolina, seu amor de infância que Augusto reencontra quando jovem, “A Moreninha” é um exemplo clássico do Romantismo. A obra gira em torno de uma promessa pueril, da luta de um homem para conquistar sua amada e dos obstáculos para a realização desse amor. Todos esses elementos são indispensáveis para uma boa novela que agrada gerações há anos. Será capaz alguém de não se apaixonar por “A Moreninha”?

Com linguagem simples, enredo cheio de intrigas amorosas com final feliz, ingredientes para os romances românticos iniciais no Brasil, Joaquim Manuel de Macedo trouxe para a obra também um pouco dos costumes do Rio de Janeiro da década de 1840, caracterizados pelas vozes dos estudantes da época, grupo do qual o autor também fazia parte. Foi com tramas fáceis, como no caso de “A Moreninha”, que Macedo conseguiu o feito de ser o autor mais lido do país em seu tempo. Foi, por excelência, o escritor da classe média carioca e seus romances eram repletos de jovens idealizadores e românticos que ele encontrava na agitada cidade do Rio de Janeiro do século XIX.
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MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Jandira, SP: Principis, 2020. 176p.

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