sábado, 25 de julho de 2020

AS CRÔNICAS DE NÁRNIA E A FILOSOFIA [Resenha 120/20]


Apesar de terem sido escritas basicamente para crianças, As Crônicas de Nárnia são ricas em temas filosóficos. Entre as perguntas filosóficas apresentadas estão: como podemos distinguir a verdade da ilusão? O poder está acima do certo e errado, ou existem regras morais objetivas que devem ser respeitadas por todos? Por que devemos ser seres morais? Podemos aceitar algumas coisas apenas com base na fé? Pode mais de uma religião estar certa? O que é o tempo, e será que ele flui em ritmos diferentes em diferentes mundos? Alguém pode ser transformado em dragão, como diz Eustáquio, e continuar sendo a mesma pessoa? Os leitores que gostam da magia podem levantar as sobrancelhas em dúvida ante a ideia de filósofos entrarem em Nárnia. Reunir um grupo de filósofos para escrever a respeito das Crônicas pode ser como soltar um bando de calormanos, com licença para pilhar e saquear.

Mas, para tranquilizá-los, podemos afirmar que os editores e autores deste volume são fãs das Crônicas e não têm a menor intenção de transformá-las em uma coisa que elas não são. Os contos de Nárnia são, antes de qualquer coisa, histórias maravilhosas que devem ser apreciadas em seus próprios termos. Entretanto, cremos que tal apreciação condiz isso e é enriquecida por um entendimento de temas filosóficos e morais, inseridos com maestria nas histórias.

Contudo, não devemos negar o fato que o próprio Lewis, afinal, era uma espécie de filósofo. Seu primeiro emprego em Oxford, em 1924, foi ensinar essa disciplina, substituindo um professor que fora para os Estados Unidos para lecionar durante esse período. Vale mencionar também que, entre 1942 e 1954, Lewis foi presidente do Clube Socrático, uma sociedade estudantil de debates cujo propósito era discutir questões relacionadas ao Cristianismo.

Mais relevante ainda, é que alguns dos mais famosos e influentes livros de Lewis eram de natureza explicitamente filosófica. Abordavam assuntos como o problema do mal, a natureza e a base da moralidade, a existência de Deus, a credibilidade dos milagres, as deficiências do materialismo científico — em suma, os mesmos tópicos que aparecem nas Crônicas. Embora tais livros sejam populares por natureza, receberam considerável atenção e comentários críticos de filósofos profissionais.

Ao destacarmos os interesses filosóficos de Lewis, não estamos sugerindo que suas histórias sejam apenas veículos para expressar suas visões morais ou religiosas nem implicando que o "tema central" dos contos seja basicamente filosófico. Contudo, ignorar ou negar o filosófico quando ele está presente não é mais virtuoso do que ler as histórias como sermões em astuto disfarce.

Este tremendo livro possui 22 capítulos, que estão divididos em quatro partes assim intitulados: (1) Acreditar, duvidar e saber. (2) Moralidade e boa fama. (3) Explorando a natureza mais profunda da realidade. (4) Religião e o transcendente. Todos os capítulos têm o objetivo modesto de auxiliar os leitores que desejam explorar parte do fascinante terreno filosófico e moral que permeia de modo inegável as histórias de Nárnia. Nosso público-alvo são os fãs das Crônicas que também se interessam por Filosofia, e não os filósofos profissionais que se interessam por Nárnia. Com esse propósito, e diante de algumas óbvias limitações de espaço, os autores abordam essencialmente argumentos e questões importantes, em vez de qualificações e objeções detalhadas que deveriam estar presentes se estes ensaios fossem escritos para filósofos profissionais. Eles iluminam numerosos caminhos que os leitores interessados talvez queiram explorar um pouco mais e sozinhos, após terem realizado um reconhecimento do terreno. Como Lúcia e seus irmãos aprenderam, há em Nárnia mundos para descobrir que nem sequer sonhávamos que existiam. Então, nas palavras de Precioso, o Unicórnio, para cima e avante!
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BASSHAM, Gregory & WALLS, Jerry L. As Crônicas de Nárnia e a Filosofia: O leão, a feiticeira e a visão do mundo. São Paulo, SP: Editora Madras, 2006.

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