Numa época (nos anos quarenta e início dos anos cinqüenta do século 20), quando a doutrina era tantas vezes ignorada pelos evangélicos e ate temida como “divisora", ele mostrou como a verdade apostólica em toda a sua amplitude e profundidade ("todo o conselho de Deus" como nossos pais a chamavam) não era um acréscimo opcional na vida da igreja, mas uma fonte vital de seu poder e uma demonstração constante da santidade, sabedoria, justiça e amor de Deus em Cristo. Sob seus conselhos e inspiração, os livros começaram a fluir das editoras, nas quais reformadores e puritanos ingleses mais uma vez exerceram seu ministério incomparável para uma nova geração de crentes; grandes líderes de avivamento e pregadores como Whitefield e Edwards, Ryle e Spurgeon, tornaram-se amplamente conhecidos na plenitude de seus ministérios para os evangélicos de hoje.
A lealdade do Dr. Lloyd-Jones à Escritura, seu senso de história, sua amplitude de leitura e sua profunda humildade diante das coisas de Deus levaram-no a acolher (embora não sem críticas) muitos aspectos do crescente movimento carismático e a ver sua compatibilidade fundamental com o evangelicalismo histórico, incluindo a tradição reformada na qual ele estava inserido.
Neste livro, o Dr. Lloyd-Jones aborda com muita autoridade o assunto que talvez seja o mais polêmico com o qual a igreja tem lidado, especialmente após o decisivo aparecimento do movimento pentecostal no apagar das luzes do século 19. Mas embora a polêmica que causa seja certamente um de seus maiores apelos para muitos, este livro é importante não pela controvérsia propriamente dita. É fato que ao estabelecer cirurgicamente a distinção entre regeneração e o batismo com o Espírito Santo, este como experiência pós-conversão, Lloyd-Jones confronta os fundamentos da pneumatologia reformada como entendida e difundida havia muito desde B.B Warfield.
Contudo, em que pese a polêmica incidental, este livro é muito mais importante porque expõe a mais correta interpretação dos textos bíblicos sobre a matéria e o ensinamento definitivamente amadurecido de Lloyd-Jones sobre a questão do batismo com o Espírito Santo, já que os sermões foram pregados entre 1964-65, cerca de três anos antes de sua aposentadoria. Para os que estavam em dúvida sobre a derradeira posição do Dr. Jones a respeito, este livro dissipará todas elas.
Os sermões demonstram a capacidade do Dr. Lloyd-Jones de alcançar um equilíbrio bíblico. Ele acreditava apaixonadamente no batismo com o Espirito Santo como uma experiência distinta e pós-conversão. Mas ele também percebeu que era um preenchimento de poder, que fazia com que aqueles que o receberam fossem melhores testemunhas de Cristo. Essa, de fato, era uma mensagem centrada em Cristo, enfatizando que um conhecimento e relacionamento mais profundo com Jesus Cristo estavam no coração do batismo com o Espírito. Da mesma forma, enquanto ele acreditava que todos os dons existiam hoje, ele se recusou a sustentar, com base nas Escrituras, que qualquer dom fosse necessário como prova do batismo com o Espírito. Ele era bastante consistente com suas visões da soberania de Deus quando afirmou que não podemos induzir o batismo com o Espírito – é algo que pode ser dado somente por Deus. Ele foi, assim, reformado e carismático, nos sentidos bíblicos dos termos.
_____________
LLOYD-JONES, D. Martin. O Batismo e os dons do Espírito: poder e renovação segundo as Escrituras (2ª edição). Natal, RN: Editora Carisma, 2020. 448p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário