quinta-feira, 16 de julho de 2020

MENINO DO ENGENHO [Resenha 112/20]


Escritor paraibano, nasceu no dia 3 de junho de 1901 na idade de Pilar, incluído nos manuais de literatura como um dos principais representantes do regionalismo nordestino, José Lins do Rego considerou que a primeira fase de sua produção, que chamou de "ciclo da cana-de-açúcar", incluía "Menino de Engenho", "Doidinho", "Banguê", "Usina" e "Fogo Morto.

Publicado em 1932 e livro de estréia do autor, "Menino de Engenho" tem como narrador-protagonista Carlos Melo. Chamado de Carlinhos pela família, ele conta a sua infância no engenho Santa Rosa, para onde vai após um começo de narrativa trágico: quando tinha quatro anos, o pai assassina a mãe e é internado num hospício.

Através de sentimentos memorialistas e de recordações saudosistas e fiéis ao que passou, o narrador conta aos seus leitores uma parte de sua infância, desde os quatro anos quando seu pai assassina sua mãe, até os doze anos, quando é mandado para um internato e o livro tem seu fim. O autor utiliza uma linguagem simples, direta, verdadeira e própria de um menino; além de ser extremamente espontânea, passando pelos sonhos, medos, curiosidades e amores. O autor mostra uma despreocupação com moldes estilísticos, já prenunciando o movimento do modernismo. Através de tal escrita, o autor toca seus leitores com profundas observações que um menino ingenuamente faz sobre um engenho, onde com tantas complexidades, parece tão simples aos olhos de uma criança.

Como cenário histórico, é presente no livro o pós-escravidão, mas há a continuidade dos laços de trabalho, confiança e respeito. Em troca de comida, casa e proteção, os escravos trabalhavam nos engenhos e nas casas grandes. Com isso, as negras contadoras de estórias, as crianças mulatas, as negras sedutoras, tudo faz parte do cotidiano do engenho e é retratado pelo menino. A relação entre negros e brancos é vista sob uma óptica positiva, de ganhos para ambos os lados. O avô de Carlinhos, sendo um homem justo e protetor, tem a confiança dos negros, chegando a exercer o papel da justiça, onde muitas vezes castiga àquele que age fora da lei social. Um negro chega a ir para o tronco, mesmo não sendo mais escravo segundo a lei.

O livro consegue transmitir a realidade de um menino perdido, sem rumo, sem saber como prosseguir depois de tantas perdas irreparáveis: a morte da mãe, a morte da prima Lili e o abandono da tia Maria. Mostra as consequências de uma infância má aproveitada e que obriga o amadurecimento precoce de um garoto. Esse amadurecimento precoce não é imposto pela sociedade, como acontece muitas vezes na atualidade, mas pelo próprio garoto que se vê na necessidade de se tornar um homem melhor do que o seu pai foi. Portanto, a obra traz diversas sensações e impressões para os diferentes leitores.
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REGO, José Lins do. Menino de Engenho. Rio de Janeiro, RJ: Editora José Olympio, 2014.

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