Sagarana é uma palavra composta. Saga vem dos mitos germânicos e rana é um sufixo tupi-guarani. Quer dizer semelhante, parecido com, ou seja, são histórias que parecem com uma saga. Mas não são sagas. Guimarães Rosa explora as possibilidades literárias de diferentes tipos narrativos, e está contando também uma espécie de formação do Brasil, tendo como um elemento marcante a violência. Ao mesmo tempo que tem uma pretensão de fazer uma literatura grande, universal, ele reflete o lugar onde nasceu e viveu, o da sua experiência.
Compêndio de nove contos longos, por vezes categorizados como novelas ou noveletas, a obra é toda situada no sertão mineiro, em esmiuçadas descrições de suas paisagens, revelando o vasto conhecimento que o autor tinha do sertão mineiro. Outro detalhe estão presentes os temas básicos de João Guimarães Rosa: a aventura, a morte, os animais forizados em gente, as reflexões subjetivas e espiritualistas. Cinco deles - O burrinho pedrês, Duelo, São Marcos, A hora e a vez de Augusto Matraga e Corpo fechado - trazem para os sertões de Minas Gerais peripécias de antigas histórias épicas ou heróicas. O lirismo dos temas do amor e da solidão transparece em Sarapalha e Minha gente. Em A volta do marido pródigo há uma espécie de heroísmo gaiato, enquanto que as reflexões sobre o poder e a fraqueza se centralizam em Conversa de bois.
Esse é um livro fundamental para quem quiser se iniciar na literatura de Guimarães Rosa, Sagarana é um livro de experiências. O autor está buscando caminhos e tem uma ambição literária muito grande.
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ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro, RJ: Editora Record, 1984. 386p.
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