A ORIGEM DO LIVRO - O Natal estava chegando, e Dickens se sentia particularmente sensível e emotivo. Lamentava que essa época do ano houvesse perdido a importância que tivera nos tempos de sua infância. No turbilhão das mudanças que ocorriam — tanto em sua vida pessoal quanto na sociedade em geral —, a luta pela sobrevivência não deixava espaço para sentimentalismos. Todos estavam atarefados. Todos estavam atarefados. Sempre atrasados para cumprir agendas, estafados. Para piorar as coisas, Dickens não suportava caminhar pelas ruas observando tanta miséria: crianças magras e sujas pedindo esmolas, prostitutas doentes marcando ponto, velhos desamparados suspirando pelos cantos. Ele se perguntava por que os antigos valores (a solidariedade, a boa vontade, a boa vizinhança) haviam se tornado obsoletos.
Foi então que teve a ideia de criar uma história que pudesse comover as pessoas e, quem sabe, despertar nelas a solidariedade. Já era outubro, e a história tinha de ser publicada antes do Natal. Nesse curto período, ele escreveu o livro e agilizou as etapas de editoração e vendas. Uma canção de Natal foi publicado no dia 19 de dezembro. Até o Natal, 6 mil cópias haviam sido vendidas. Em maio do ano seguinte, já estava na sétima edição.
Contudo, os resultados alcançados superaram todas as expectativas de Dickens. As celebrações do Natal voltaram à moda. A ideia do "espírito natalino" como um momento de retomada das relações pessoais floresceu. Várias tradições foram recuperadas ou adotadas: as decorações nas casas e nas ruas, o encantamento com o cair da neve, os corais cantando canções de Natal e as ações beneficentes que visavam, ainda que fosse por um curto período por ano, garantir um pouco de conforto aos desvalidos.
O LIVRO - Uma canção de Natal foi a primeira das mais de vinte histórias de Natal que Dickens escreveu, algumas em parceria com outros autores. No centro de “Uma canção de Natal” temos a figura do sr. Scrooge, um homem velho, seco, sovina, duro, que não se deixa comover com o sofrimento alheio e que criou muros invisíveis que o protegem do resto da humanidade. Nos dias que antecedem o Natal, ele tem uma experiência sobrenatural, entrando em contato com quatro espíritos. O primeiro é uma alma penada, seu antigo sócio, o sr. Marley, que está morto há sete anos. Marley vem para mostrar a Scrooge os horrores pelos quais está passando e, principalmente, para alertá-lo; caso não consiga mudar radicalmente sua atitude diante da vida, essa triste sina estará reservada para ele também. Depois desse encontro alarmante, Scrooge passa um tempo com três espíritos guardiães, respectivamente o Fantasma dos Natais Passados, o Fantasma do Natal Presente e o Fantasma dos Natais Futuros.
Ao passar por essas experiências estranhas em uma realidade paralela, envolvendo uma alma penada e três espíritos guardiães, Scrooge finalmente percebe que, ao se fechar, perdeu mais do que ganhou. No final, somos sempre responsáveis tanto por nossos atos quanto por nossas omissões. Observando antecipadamente o final de sua vida patética, e os efeitos colaterais de tudo o que não fez, Scrooge se arrepende do pacto de mediocridade que selou com o destino, no qual um não incomodaria o outro.
O TÍTULO E TRADUÇÃO - Este título-já foi traduzido de várias formas para o português, como Uma história de Natal (por Ana Maria Machado), Um cântico de Natal (por Roberto Leal Ferreira), ou Um conto de Natal (por Carmen Seganfredo e Ademilson Franchini). Trata-se de diferentes soluções encontradas pelos respectivos tradutores. Nesta nova tradução, feita por Rodrigo Lacerda, o título é “Uma canção de Natal”. Uma história que pode ser lida em qualquer parte do ano, mas que precisa ser relida a cada novo Natal.
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DICKENS, Charles. Uma canção de natal (1ª Edição). São Paulo, SP: Penguin Classics Companhia das Letra, 2019.
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