sábado, 14 de dezembro de 2019

PRISIONEIROS DA MENTE [Resenha]


Augusto Cury em uma entrevista ao Jornal Gazeta do povo, em 19/03/2018, disse algo surpreendente: "Grandes pensadores como Freud, Piaget, Vygostsky, Kant, Hegel, Sartre, entre outros, usaram o pensamento pronto para produzir suas brilhantes teorias, mas não estudaram de maneira sistemática e profunda o próprio pensamento. Então a última fronteira da ciência, que é estudar a natureza dos pensamentos, seus tipos, registros e gerenciamento, não foi investigada, gerando uma lacuna sem precedente na formação do ser humano. Nós não sabíamos, por exemplo, que o registro dos pensamentos e das emoções não dependia da vontade do eu. Ou seja, se eu penso uma ideia perturbadora ou experimento uma emoção fóbica e se o meu eu não age nos primeiros segundos impugnando, discordando, confrontando aquela ideia e emoção angustiante, ela será registrada por um fenômeno chamado fenômeno RAM: registro automático da memória. Ele é um biógrafo implacável e não autorizado do cérebro, arquivando janelas traumáticas, acumulando cárceres da mente humana..."

Prisioneiros da mente é um romance permeado pelo universo psiquiátrico e sociológico, que disseca os cárceres mentais comuns a quase todos nós, mas que dificilmente conseguimos mapear ou desenvolver coragem para verbalizar. Seus protagonistas principais são Theo Fester, um magnata do Vale do Silício, e seus três egocêntricos filhos: Peterson, empresário do setor bancário; Brenda, presidente de uma cadeia de lojas de moda feminina; Calebe, um notável investidor em startups, especialista em ganhar bilhões de dólares — ainda que passando por cima de tudo e de todos.

Theo Fester, o patriarca, é inteligente, ousado e culto, e detesta conviver com pessoas lentas e inseguras. Ao mesmo tempo que é capaz de em segundos demitir um diretor de uma de suas empresas, não hesita em elogiar quem perdeu fortunas, mas ousou andar por caminhos nunca antes percorridos. Para o magnata, vale a máxima: “Quem vence sem riscos triunfa sem glórias”. Filho de um judeu que viveu os horrores dos campos de concentração e que depois de resgatado foi para Nova York, Theo Fester teve de ser, desde a infância, “pai” de seu pai, ajudando-o a abrandar os fantasmas mentais adquiridos pela atroz perseguição nazista.

Na adolescência, Theo Fester foi impelido a empreender para sobreviver. Forjado pelas perdas, pela exclusão social e pelos mais diversos tipos de bullying que sofreu, não se curvou à dor. Suas lágrimas irrigaram sua coragem, sua capacidade de se reinventar, mas também sua raiva. Em vez de se afastar ou perseguir as pessoas que o feriram na juventude, fazia valer outro provérbio: “A maior vingança contra um inimigo é levá-lo a trabalhar para você”. Empregou-as.

Tornou-se um empreendedor mundialmente invejado, entretanto, por fim descobriu que seu maior empreendimento, sua família, estava falido. Ele e seus filhos eram socialmente aplaudidos, mas na essência viviam uma farsa — eram um grupo de estranhos, especialistas em se digladiar, aprisionados pela necessidade neurótica de poder e de ser o centro de todas as atenções.

Iluminado pelo psiquiatra e pesquisador dr. Marco Polo, Theo Fester descobrirá que, de empresários a colaboradores, puritanos a pecadores, celebridades a anônimos, intelectuais a iletrados, todos temos nossos presídios mentais que sustentam egos inflados, fóbicos, depressivos, ansiosos, autopunitivos, intolerantes, mal-humorados, destituídos de resiliência. Foi difícil para ele descobrir que era um bilionário emocionalmente falido e um pai dilacerado.

Em algum momento da vida, os seres humanos que percorrem apenas a superfície de um mísero átomo do imenso espaço, e ainda assim proclamam, como deuses, que sabem tudo, perceberão que se esqueceram de explorar o mais complexo dos mundos: o “planeta” mente. Descobrirão, perplexos, que no cérebro humano há mais cárceres do que nas cidades mais violentas da Terra; que há mais mendigos emocionais morando em belas casas e apartamentos do que a psiquiatria supõe. Somos todos prisioneiros em busca de liberdade, mas muitos morrem encarcerados. Procuram-na em lugares em que ela nunca existiu.
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CURY, Augusto. Prisioneiros da mente: os cárceres mentais. Rio de janeiro, RJ: Harper Collins, 2018. 320p.

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