domingo, 15 de dezembro de 2019

A ILHA MISTERIOSA [Resenha]


Muitos consideram Júlio Verne um autor a frente de seu tempo. Talvez o mais correto fosse categorizá-lo com um viajante do tempo que por algum motivo escolheu o século XIX para viver e escrever os sucessos que mesmo após um século, continuam a moldar a literatura e a ciência. A Ilha Misteriosa é a prova de que Verne continuará nos influenciando por muitas e muitas gerações.

Escrita em 1874, a história começa com a fuga de cinco yankees abolicionistas do Norte) que haviam sido feitos prisioneiros pelos separatistas (do Sul), durante a Guerra Civil Americana, num balão que os próprios separatistas haviam construído. A companhia de fugitivos é formada por Ciro Smith, um engenheiro ferroviário e oficial do exército da União; Neb, corajoso e fiel servo afro-americano de Smith; o marinheiro Bonadventure Pencroft; Herberto Brown, jovem protegido de Pencroft e filho do seu capitão já morto; e o jornalista Gedeon Spilett, repórter do New York Herald.

Após voarem, durante vários dias, debaixo de uma tempestade, Smith cai ao mar e desaparece, e os restantes fugitivos acabam por se despencar no Pacífico, sobre um ilhéu vulcânico não cartografado e aparentemente desabitado. A Ilha Lincoln, assim batizada em honra do republicano Abraham Lincoln, era dividida em dois lados, um dos quais era árido, demonstrando erupção antiga do vulcão. O outro lado era coberto por espessa floresta. Os colonos, pois colonizaram a ilha até então desconhecida, construiram ali uma civilização, com tudo que há direito, e enfrentaram diversos perigos, tais uma invasão de piratas à ilha, em que sempre contaram com uma ajuda misteriosa.

A história já conhecida do público em geral, conta com a adaptação irretocável de Clarice Lispector no lançamento feito pela Editora Rocco. Embora centenária, a leitura acontece de maneira fluída e muito divertida, a escrita de Verne é instigante, permitindo ao leitor juntar as pistas deixadas ao longo da obra e preparar-se para um desfecho empolgante que expande ainda mais a mitologia criada por Verne em outras obras.

O interessante é notar como Verne transforma sobreviventes de um acidente em colonizadores da misteriosa ilha, homens que com a sua inteligência são obrigados a passar por etapas de desenvolvimento em que a sociedade já deixou para trás, como a agricultura, criação de ferramentas, etc.

O único ponto negativo (se é que pode ser considerado desta forma) é o excesso de detalhes em situações que poderiam ser explicadas de maneira mais simplória, mas isso é apenas um pequeno fato a se constatar de uma obra que completa 145 anos em 2019.

Por fim, A Ilha Misteriosa mostra-se um ótimo livro de entrada para aventuras fantasiosas dotadas de mistério e explicações científicas, uma leitura que poderia ser complicada mas flui de maneira dinâmica, permitindo que Verne continue servindo de inspiração para o cinema, ciência e tecnologia.

Não é a toa que A Ilha Misteriosa já tenha sido adaptado para o cinema diversas vezes, a mais recente com o astro Dwayne Johnson (The Rock) em 2012, num filme que arrecadou quase US$ 350 milhões.

E embora nenhuma obra cinematográfica tenha ficado no mesmo nível de escrita de Verne, há de se comemorar ainda que o livro traga de volta aquele que é seu personagem mais conhecido: Capitão Nemo.
_______________
VERNE, Júlio. A ilha misteriosa. Rio de Janeiro, RJ: Editora Rocco, 2007. 296p.

Nenhum comentário: