Paulo é considerado incontestavelmente o autor dessa carta. Provavelmente, ele encontrava-se encarcerado em Roma, por volta de 62 d.C., já no final de sua carreira missionária. Esse mesmo Paulo em grilhões se utilizou de um meio de comunicação da época, as cartas, para se fazer presente entre aquela comunidade tão querida. Mesmo à distância ― que ironia comparar com os nossos tempos! ―, ele se fez presente no meio de uma igreja que havia plantado, a fim de fortalecer aqueles irmãos e irmãs e alegrá-los no Senhor Jesus. O objetivo de Paulo era claro: encorajá-los a viver não como cidadãos da polis ou do Imperium Romanum, mas da pátria celestial.
A igreja que se estabeleceu na importante cidade de Filipos foi o primeiro fruto missionário de Paulo em regiões propriamente gregas (ver At 16.6-40). O labor missionário de Paulo não é mensurável apenas pelos números das conquistas, mas também pelos diversos tipos de dificuldades que enfrentou naquela região. Por exemplo, junto com seu companheiro de viagem Silas, foi preso e severamente açoitado por ter exorcizado o espírito maligno de uma mulher que dependia economicamente da prática de adivinhação. Embora cidadãos romanos, Paulo e Silas foram torturados e lá, dentro da prisão, experimentaram um milagre: terremoto, grilhões rompidos e a conversão da família do carcereiro.
São experiências como essas que tornaram a igreja de Filipos tão importante para Paulo. O apóstolo chegou a elogiá-los pelo apoio financeiro que recebia de uma comunidade que não era das mais abastadas, mas que generosamente contribuía com seu trabalho missionário e também com o socorro a crentes que passavam por situações de provas e dificuldades ainda maiores (Fp 4.15-16). Mesmo aquém da mobilização de outras igrejas no mundo mediterrâneo, os filipenses estavam juntos de Paulo, tanto em momentos difíceis como em ocasiões favoráveis, sempre alegres e dispostos a com ele partilhar da missão de Jesus.
Este é o amálgama que a carta aos Filipenses nos convida a experimentar: por um lado, o avanço do evangelho sobre um dos berços da civilização ocidental; por outro, as intensas dificuldades que esse avanço cobrava. O exercício das virtudes fundamentais fomentadas pelo evangelho não estava na assimilação cognitiva de informações ― talvez um padrão com o qual os gregos estivessem mais acostumados ―, mas na obediência expressa no amar e servir aos outros, em amor ao Senhor, a despeito de todas as dificuldades. E é exatamente dentro desse contexto que as palavras alegria, encorajamento, consolo e fortalecimento devem ser entendidas. Aliás, esse é o padrão da experiência dessas virtudes ao longo de toda a história da igreja de Cristo desde então, até os dias de hoje.
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BIBO, Rodrigo; MIGLIORANZA, Alexandre; MARQUES, Cacau; FONTANA, Victor; WON, Paulo. Nova mentalidade: conversas em torno da carta de Paulo aos Filipenses. São Paulo: Mundo Cristão, 2021. 160p.
- Trecho do prefácio da obra escrito por Paulo Won.
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