segunda-feira, 12 de outubro de 2020

PARAÍSO PERDIDO [Resenha 148/2020]


John Milton nasceu em Londres em 9 de dezembro de 1608. Seu pai, que também se chamava John, desempenhava a função de um scrivener, um ofício que reunia o trabalho hoje atribuído a vários profissionais diferentes: notário, banqueiro, consultor legal, contador. Era também músico, tendo colaborado com artistas de renome. Isso quer dizer que o futuro poeta não nasceu em família pobre. Desde criança, foi educado na fé puritana, à qual se manteve fiel a vida inteira, e seu pai procurou desde sempre primar pela educação de seus filhos, a começar pelo mais velho. O pequeno John teve uma ótima formação musical e literária. Aprendeu, ainda criança, o latim, o grego e o hebraico, estudando por conta própria depois o francês e o italiano.

Originalmente Paraíso Perdido foi publicado em 1667 com dez cantos, na edição chamados de "livros", porém em uma segunda edição, publicada em 1674 a edição ganhou mais dois cantos, totalizando doze livros com revisões de John Milton. Na divisão em três partes, temos o seguinte: nos livros I-IV, Satã é o grande protagonista. Vemo-lo caído no Inferno, e de lá sair para descobrir o mundo novo criado por Deus; nos livros V-VIII, temos a estadia do anjo Rafael junto de Adão, na qual o emissário divino relata ao homem a grande batalha no Céu e a criação do mundo; Adão, por sua vez, narra ao anjo suas primeiras impressões de homem e a criação da mulher. Nos livros IX-XII, temos o relato da Queda e do destino final da humanidade.

Uma das características mais marcantes de Paraíso Perdido, a par de sua feição clássica, é a onipresença da Bíblia. E este é outro traço marcante que distingue o poema de Milton de outras epopeias. Milton faz mais: transforma em epopeia toda a teologia da História contida nas Escrituras, tendo como eixo o pecado original. Assim, todo o poema é entretecido de referências bíblicas, do início ao fim, e isso até em detalhes que, a princípio, poderiam parecer simplórios. Desde o primeiro versículo de Gênesis até o fim do Apocalipse – tudo está presente em Paraíso Perdido.

Milton não se propõe a nos dar uma resposta. Apesar disso, consegue ele “justificar os caminhos de Deus aos homens?” Deixamos ao leitor que chegue à sua própria conclusão. Afinal, fazer parte dessa grande conversação com os homens do passado também é isto: indagar dos clássicos acerca de grandes questionamentos e, às vezes, discordar deles, ou se deixar surpreender com aquilo que talvez nunca seríamos capazes de pensar por nós mesmos. Aos leitores menos inquisitivos, contudo, resta sempre o deleite de conviver com um grande monumento de beleza que é Paraíso Perdido.

Este é o quarto volume da coleção Clube de Literatura Clássica, uma edição bilíngüe e que veio acompanhado de um Livro com as ilustrações de Medina, Doré e Blake e Marca-páginas na temática da obra.
_______________________
MILTON, John. Paraíso Perdido. Novo Hamburgo, RS: Clube de Literatura Clássica, 2020. 832p

Nenhum comentário: