quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

PAIS APOSTÓLICOS [Resenha]


Este volume reúne uma das mais importantes coleções de documentos cristãos antigos, os chamados Pais Apostólicos. Cobrindo um período que vai do final do século 1 até meados do século 2, as obras constituem um testemunho extremamente valioso sobre o pensamento e a vida da Igreja numa época remota da história do cristianismo, quando este ainda dava seus primeiros passos na sociedade greco-romana.

Esses textos podem ser definidos como o primeiro conjunto de literatura cristã posterior ao Novo Testamento. A designação pela qual são conhecidos, Pais Apostólicos, foi utilizada pela primeira vez pelo estudioso francês Jean Cotelier, em 1672, e reflete o fato de que tais documentos foram produzidos numa época muito próxima da era apostólica. A outra palavra do título os coloca no contexto dos “Pais da Igreja”, os pensadores e escritores cristãos dos primeiros séculos. Na verdade, os Pais Apostólicos constituem o início do período patrístico, a era dos Pais da Igreja.

Apesar de suas muitas diferenças, esses escritos apresentam algumas características comuns. Em primeiro lugar, destacam-se por sua simplicidade intelectual e doutrinária. Não encontramos neles as reflexões teológicas profundas — e muito menos as elaborações filosóficas — que irão caracterizar muitos escritos cristãos posteriores. Antes, são declarações de uma fé e piedade sinceras, revelando acima de tudo um interesse pastoral e prático. Suas principais preocupações são a paz, a unidade e a pureza da Igreja.

O presente volume contém treze documentos: duas cartas atribuídas a Clemente de Roma, sete cartas de Inácio de Antioquia, uma carta de Policarpo aos filipenses, uma narrativa do martírio de Policarpo, o manual eclesiástico conhecido como Didaquê e O Pastor de Hermas. Outras coletâneas também incluem entre os Pais Apostólicos a Epístola de Barnabé, a Epístola a Diogneto e fragmentos atribuídos ao bispo Papias de Hierápolis.

Concluindo, os Pais Apostólicos fornecem informações altamente relevantes sobre um importante período de transição na vida do cristianismo antigo, quando a Igreja ainda está relativamente próxima da geração dos apóstolos, mas começa a tomar novos rumos e a assumir novas características e ênfases. Ao mesmo tempo que se expande de maneira crescente no mundo grego-romano, o movimento cristão enfrenta difíceis desafios representados pela repressão estatal e pelo surgimento de heresias e cismas. Em resposta a essa nova e complexa situação, desenvolve-se o episcopado monárquico ou monoepiscopado, cristaliza-se o cânon do Novo Testamento e surgem as primeiras declarações credais — a “regra de fé”.
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Pais apostólicos / Clemente ... [et. al.]. São Paulo: Mundo Cristão, 2017. 272p.

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