quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A OPERAÇÃO DO CARISMA E O EXERCÍCIO DO PODER [Resenha]


CORREA, Marina. A operação do carisma e o exercício do poder: a lógica dos ministérios das igrejas Assembleias de Deus no Brasil. São Paulo: Recriar, 2018. 372p.


O LIVRO E A SUA AUTORA



O LIVRO [1] – O livro de Marina Correa preenche uma lacuna no conhecimento sobre os “ministérios” da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. De início fica claro para o leitor que já não é mais possível falar sobre essa igreja no singular: as Assembleias são muitas igrejas sob um mesmo nome.

Marina desvela a maneira como esses ministérios são organizados e a lógica que preside as relações entre eles. Mostra-nos como, ao mesmo tempo em que fazem parte da mesma instituição, eles são ciosos de seu poder e autonomia.

Os ministérios acabam se constituindo em forma organizativa das Assembleias de Deus capaz de acomodar os interesses de suas lideranças, garantindo-lhes um espaço de atuação e poder de forma relativamente independente uns dos outros. Ao mesmo tempo, por meio das convenções, esses ministérios mantem entre si laços estreitos de reconhecimento mútuo e solidariedade, no sentido sociológico da palavra.

Para o observador externo, com pouco conhecimento e vivencia dessa denominação pentecostal, poderia parecer que a maneira como as Assembleias de Deus se organizam e se constituem, é muito fluida e porco institucionalizada. Em parte dessa percepção é verdadeira, mas Marina mostra como que subjaz por trás dessa fluidez uma maneira muito racional de manter a coesão entre as igrejas baseada na busca incessante do consenso.

Marina Costa é pesquisadora dessa igreja pentecostal. Seus estudos tem contribuído, ao lado de outros, para tornar o Grupo de Estudos do Protestantismo da PUC de São Paulo, um locus de acumulação de conhecimento sobre as Assembleias de Deus e a vertente pentecostal no Brasil.


A AUTORA – Maria Aparecida Oliveira dos Santos é doutora e mestre em Ciências da Religião, na área de concentração Religião e Sociedade pela PUC – SP e professora e pós-doutoranda (PNPD/-CAPES) pela Universidade Federal de Sergipe. Sua pesquisa de pós-doutoramento versa sobre a temática “As sucessões familiares das Igrejas Assembleias de Deus no Brasil; Pesquisadora do Pentecostalismo Brasileiro”.

Marina é especialista nas Igrejas Pentecostais das Assembleias no Brasil. Em parceria com a Universidade Federal da bahia (UFBA) pesquisa os impactos sociais do Pentecostalismo nas Comunidades Quilombolas nos estados da Bahia e Sergipe. Ela é graduada em Direito em Sociologia, e é membra do Grupo de Pesquisa: Rede Latino-Americana de Estudos Pentecostais (RELEP).


PREFÁCIO - O paradigma pentecostal constitui um dos fenômenos mais expressivos da tradição cristã no século XX, senão da própria religião que resiste com seu carisma às pressões teóricas e prática dos tempos modernos, sobretudo à previsão tida como certa: de que as religiões cederiam lugar as estruturas e aos significados construídos pela nova racionalidade laica e científica. O pentecostalismo é uma forma de re-construção do cristianismo em uma sociedade cada vez mais plural (que acolhe novas expressões religiosas), de uma cultura cada vez mais científica (que produz como reação afirmações de mentalidades míticas), de uma sociedade centrada no do bem-estar (que inclui em suas realizações também as ofertas simbólicas), enfim, de um sistema individualizado (que se afina com as tradições e práticas religiosas privatizadas). Trata-se de uma construção moderna no sentido dialético do processo, na medida em que reproduz em suas representações e práticas as dinâmicas modernas centradas na individualidade e, ao mesmo tempo, nega e resiste aos dinamismos racionalizadores que tendem a eliminar a leitura mítica do mundo e as intervenções mágicas no mesmo. Ofertas de visões e práticas pré-modernas produzidas dentro das diversidades inerentes a modernidade e operadas por meio de dinâmicas sócio-culturais modernas.

Nesse mesmo contexto, o pentecostalismo tem sido também um fenômeno de resistência, criatividade e expansão do cristianismo em confronto nítido com as tradições clássicas reproduzidas em suas burocracias hegemonicamente estabelecidas no ocidente. Um caso de religião popular frente à erudita, de religião carismática frente à racionalizada ou, ainda, de religião sectária frente às institucionalizadas. Parece certo que se pode ver nessa vertente cristã de muitos ramos – ao menos nos grupos mais tradicionais - um cristianismo centrado no sujeito, no emocional, no prático, no mágico e, em boa medida, na participação popular, ao menos do ponto de vista da celebração do culto e do acesso aos ministérios e funções eclesiais. E vale lembrar que os pentecostais não somente constituíram comunidades confessionais numerosas e diversificadas no decorrer no século passado, como também forneceram suas referências práticas e teóricas para as próprias igrejas históricas, incluindo o catolicismo, onde tomou forma como movimento que tem sabido conservar suas características fundamentais, porém hospedados dentro dos dogmas, da moral, da organização e da liturgia dessas tradições. A liberdade religiosa e o pluralismo, da parte das sociedades modernas, e a própria pluralidade pastoral, da parte das igrejas históricas, ofereceram as condições para tal expansão e adaptação pentecostal nessas esferas e escalas já consolidadas. A fé nos dons do Espírito Santo se fez democracia nas igrejas e movimentos pentecostais, chamando para suas comunidades os mais desvalidos e conferindo-lhes a cidadania negada pela sociedade anônima e pelas liturgias e hierarquias instituídas das igrejas históricas, sobretudo no contexto das grandes cidades para onde massas rurais migraram e se acomodaram, em todos os aspectos, no tempo e no espaço refeitos por uma sociedade em mudança.

No caso do Brasil, o pentecostalismo adquire feições próprias e se adapta em sua longa e consolidada tradição católico-popular como mais uma opção de religiosidade leiga, centrada no milagre, organizada na irmandade e capaz de falar a linguagem dos pobres, marcadamente estruturada na oralidade. Nascida entre os pobres e, desde esse lugar social, político e cultural, as igrejas pentecostais re-produziram entre nós aqueles ideais da santidade expressos sensivelmente nos dons do Espírito, de forma que uma afinidade eletiva entre os dois universos populares produziu frutos diversos nas inúmeras igrejas por aqui fundadas, sobretudo quando as tradições católicas rurais se esfacelavam longe de seus contextos vitais nas periferias dos grandes centros urbanos e suspiravam por meios políticos e institucionais de sobrevivência. As respostas às necessidades materiais e espirituais, indistintamente interligadas, oferecidas pelas representações e práticas religiosas populares disponíveis e de acesso irrestrito puderam continuar, agora com novos laços de sociabilidade, com novas referências culturais e com novos agentes. Nesse sentido, o pentecostalismo constitui mais um fenômeno de continuidade e ruptura religiosa no âmbito de uma sociedade em processo de transformação. E é no seio dessa mudança social mais ampla que podemos entender as suas próprias mudanças internas, do ponto de vista quantitativo (crescimento e diversificação) e qualitativo (processos de organização). Também, nesse mesmo processo é forçoso observar os modos próprios de sobrevivência do carisma do status nascendi em franca negociação com esquemas racionalizadores que inevitavelmente ocorrem na igreja, na medida em que se torna mais ampla (mais complexa) e, por conseguinte, mais pública (mais socialmente adaptada). O carisma original vai sendo mantido na base da igreja, marcadamente popular e portadora de dons individuais, enquanto uma elite assume cada vez mais o comando geral pelas vias da legitimidade tradicional ou racional/legal.

A Igreja Pentecostal Assembleia de Deus nasceu nesse tempo e percurso históricos e, como um ramo que se transforma em tronco, tornou-se a maior igreja pentecostal brasileira. O mapa de sua expansão e recriação acompanha o mapa dos movimentos migratórios brasileiros que terminaram por compor a saga dramática da urbanização que lançou as massas a sua própria sorte. Nesse sentido, se poderia dizer que os pentecostalismos brasileiros são sujeitos coletivos que escreveram a sua maneira e com seus recursos simbólicos, políticos e, até mesmo, econômicos a história atabalhoada e injusta da urbanização brasileira. Participam, evidentemente, como agentes que ao mesmo tempo resistem e reproduzem essas contradições sociais e políticas mais amplas como uma "empresa dos pobres" que em um primeiro momento se mantém como comunidades de resistência em torno de seus carismas e, em seguida, se afirma como grandes empresas cada vez mais legitimas do ponto de vista político e mais eficientes do ponto de vista econômico-administrativo. Essa saga racionalizadora expressa de modo muito preciso como o pentecostalismo tem conseguido institucionalizar-se, mantendo vivas suas dinâmicas carismáticas fundadoras, já não como uma memória registrada e controlada por ortodoxias legitimas, como no caso das igrejas históricas, mas como uma práxis que permanece viva e operante e que, em boa medida, sustenta todo o edifício institucionalizado, não somente no aspecto simbólico, mas também político e econômico.

A igreja Assembleia de Deus é a maior denominação pentecostal no Brasil. Esse tamanho expressivo não resulta evidentemente do acaso e, na ótica da ciência, de uma contabilidade de responsabilidade divina. Certamente, para além das condições históricas favoráveis sinalizadas acima, sua lógica organizacional foi um fator decisivo para tamanho crescimento. A organização em ministérios preservou sua unidade, não obstante a fragmentação institucional fosse tão natural à eclesiologia das tradições protestantes. De fato, a unidade assembleiana agregou sob sua sigla não somente uma enorme diversidade de pequenas igrejas em grande medida autônomas, alinhadas ou não a um Ministério, como possibilitou a manutenção de muitas delas sob a proteção institucional de um Ministério e, evidentemente, sob a guarda forte das Convenções. Foi o caminho de institucionalização inventado, mesmo que de forma espontânea, que permitiu a expansão do carisma assembleiano, lançado em terras brasileiras pelos missionários suecos no início do século XX.

Estou convencido de que a lógica dos Ministérios constituiu uma relação orgânica entre organização-teologia, política-pastoral, finanças-serviços ou, em termos weberianos, entre carisma-instituição, que controlou com relativo equilíbrio as divergências de todas as ordens, no momento em que a igreja se expandia para além da força do carisma dos fundadores e, na implacável rotina da história, as lutas pelo poder simbólico ou material esteve presente. Evidentemente, a organização em ministérios não somente cresceu quantitativamente numa árvore genealógica quase indecifrável, na medida em que as igrejas se expandiam, como também adquiriu sofisticação administrativa, vindo a constituir uma rede complexa e, ao mesmo tempo organizada de igrejas, semelhante ao que constituem as franquias do mercado atual.

E a organização ministerial não somente acolhe sob suas proteções pastoral e financeira as pequenas iniciativas eclesiais que eclodem pela força selvagem dos carismas religiosos populares, nascidos sem eira nem beira, como também sustenta uma espécie de "poder carismático local que permite o exercício político-eclesial de "sujeitos menores, como as mulheres ou os menos letrados, dentro das suas igrejas afiliadas, ao menos até que a autonomia financeira as faça independentes e venham a constituir-se como Ministério próprio.


O livro contém, além do prefácio e introdução, 4 capítulos com um conteúdo histórico e sociológico que o leitor a conhecer profundamente a história da maior denominação pentecostal da América Latina. Como todas as nossas resenhas, iremos trabalhar de conformidade a estrutura do livro, capítulo à capítulo, extraindo pequenos parágrafos e fazendo resumos. O nosso propósito é fomentar no leitor o desejo pela leitura e apresentar a estrutura do sumário e citações pontuais do livro.


1. DA HISTÓRIA AO MITO - O conteúdo deste capítulo está dividido em cinco tópicos principais, visando estabelecer os eventos que influenciaram o início das Assembleias de Deus (ADs) no Brasil. O primeiro tópico apresenta um breve histórico do pentecostalismo, objetivando contextualizar o surgimento das igrejas ADs dentro desse movimento religioso. Em seguida, o tópico “As práticas pentecostais suecas”, que tencionava fazer um levantamento da trajetória dos pentecostais escandinavos e sua transição entre a Igreja Batista no Brasil. Destaca-se, ainda, a figura de Lewi Pethrus, pastor sueco que teve participação ativa no início do movimento pentecostal na Suécia, e que futuramente seria considerado um dos missionários mais importantes nas Assembleias de Deus no Brasil.

O início do nome da AD é pormenorizado no terceiro tópico: “Missionário escandinavo versus norte-americanos”. Um dos aspectos diferenciais das Assembleias de Deus no Brasil em relação a outras igrejas pentecostais é justamente sua origem sueca. Seus dois fundadores, Vingren e Berg, trouxeram para o Brasil as características do movimento do seu país, como a informalidade nas escolas bíblicas, cursos mais curtos para o serviço na igreja conferências anuais para obreiros. Apesar de não haver profundas diferenças teológicas entre o pentecostalismo norte-americano e o escandinavo, é importante ressaltar que os suecos não inseriram a doutrina dispensacionalista na Assembleia de Deus. A partir dos anos 1950, os brasileiros adotaram os costumes dos missionários americanos, o que ocasionou uma maior sistematização e burocratização na rotina da igreja.

O quarto tópico – “A história do nome Assembleia de Deus” - aborda os fatos mais interessantes na busca pelo nome da denominação. A data de fundação da AD no Brasil é 1911, e o nome Assembly of God só foi adotado oficialmente pelas igreja nos Estados Unidos em 1914. Ao contrário de ser uma decisão hierárquica e unilateral dos fundadores, como pôde (e pode) ser visto em diversas igrejas brasileiras, as Assembleias de Deus norte-americanas contaram com uma eleição em 1912. Resolveu-se, então, usar a mesma nomenclatura nas igrejas fundadas sob o advento do pentecostalismo, mesmo sem haver vínculos financeiros e administrativos entre elas, o que veio a possibilitar às ADs' brasileiras usarem a mesma nomenclatura, sem precisar oferecer justificativas prévias às igrejas norte-americanas.

Finalmente, o quinto tópico – “O mito fundante da Assembleia de Deus” - elabora uma breve biografia de Gunnar Vingren e Daniel Berg, os fundadores suecos da igreja no Brasil. A epopeia desses missionários envolveu uma série de eventos considerados sobrenaturais. Primeiramente, podem ser encontrados relatos dessa natureza na infância de ambos. Posteriormente, os dois foram batizados com o Espírito Santo, passaram a manifestar dons carismáticos, inclusive o dom de cura divina. Em 1910, uma revelação espiritual foi responsável pela missão evangelística, o que culminou com a chegada de ambos, conjuntamente, à cidade de Belém do Pará, quando teve início a Assembleia de Deus no Brasil.


2. DO MITO À HISTÓRIA - No capítulo anterior, a autora apresentou “da história ao mito”, oferecendo uma história sagrada narrada como um acontecimento factual, que pode ser interpretada de várias maneiras. Neste capítulo, em oposição ao anterior, a autora fala “Do Mito à História”, estabelecendo uma leitura a respeito do mito construído, para descrever as outras faces das igrejas Assembleias de Deus no Brasil. Aqui é abordado sua origem, seu destino e suas transformações em diversos momentos, apontando outros pontos de vista.

Este capitulo faz um levantamento histórico da Assembleia de Deus no Brasil. O primeiro tópico. “Assembleia de Deus, igreja sueca com “jeitinho brasileiro””, trabalhará com a bibliografia a respeito da chegada dos missionários ao Brasil e os primeiros anos da formação da denominação. Mesmo antes de viajarem para o Brasil, Gunnar Vingren e Daniel Berg tiveram problemas sérios com as congregações batistas dos Estados Unidos. Já em Belém, os suecos seriam considerados responsáveis por enganos e cisões dentro da Primeira Igreja Batista do Para.

O tópico seguinte. “Expansão das ADs”, identificará algumas conexões entre o crescimento da igreja e o desenvolvimento industrial brasileiro. O ciclo da borracha, no início do século XX, transformou a região amazônica com a intensa migração de trabalhadores do Norte e do Nordeste. Após este período e o rápido encerramento do ciclo da borracha, as migrações tiveram como destino o Sul e o Sudeste do pais. Entre os migrantes estavam pastores e membros da Assembleia de Deus, que levaram a sua mensagem para as regiões mais populosas do Brasil.

No item Rumo a “institucionalização através da matriz sueca”, retrataremos a vinda de mais missionários suecos no período da Primeira Guerra Mundial. Com este novo fluxo humano, iniciaram-se as primeiras contribuições financeiras da igreja sueca para o Brasil. Serão apresentados também os modelos de governo da Assembleia de Deus, a criação da Convenção Nacional e as suas funções.

Ainda será tratado o “ministério feminino” dentro denominação. Vingren defendia a participação ativa das mulheres na comunidade, enquanto outro missionário, Nystron, sustentava que as mulheres cabia apenas o testemunho. Como síntese das duas posições, a Assembleia de Deus desenvolveu a ideia de que a mulher deveria ser vista como auxiliadora, seja no trabalho missionário, seja no trabalho educacional, negando-lhe a autoridade pastoral.

No item “Cisão dentro da AD”, será levantada a biografia de Manoel Higino de Souza, o primeiro pastor a deixar as ADs e fundar sua própria igreja com outro nome. Também falaremos a respeito da história de vida de Paulo Leivas Macalão, segundo pastor a se desligar oficialmente à Assembleia de Deus e o primeiro a fundar um ministério autônomo dentro da própria denominação, o Ministério Assembleia de Deus Madureira. A partir dessas primeiras cisões assembleianas, posteriormente, ocorreram novas cisões e, a partir de então, outros ministérios surgiram com mais independência, funcionando sem nenhum vínculo com os demais. Com isso, os ministérios ganharam fortalecimento administrativo, representado pela figura do pastor presidente - termo criado pelo próprio Macalão na década de 40, desencadeando o maior desafio dentro das ADs: a questão da fragmentação. Atualmente, as Assembleias de Deus fragmentam-se facilmente. Além da fragmentação dentro dos grandes ministérios, ainda existe o problema da pulverização, com o surgimento de inúmeras igrejas pequenas que formam uma grande rede chamada "Assembleia de Deus". Cada qual conta com uma liderança independente, o que torna cada vez mais difícil compreender a sua lógica de funcionamento e a questão do poder.

No tópico CGADB: “Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil) Associação de pastores ou de igrejas”, será tratada a história e os principais aspectos da convenção assembleiana. Apesar de funcionar desde a década de 1930, somente cerca de cinquenta anos depois a CGADB passou a concentrar influência e poder dentro da estrutura assembleiana. Sua primeira eleição para presidente aconteceu em 1996. Desde então, a CGADB é liderada pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa.

No último item. “Aparelhos de divulgação”, são identificadas as mídias utilizadas pelas Assembleias de Deus em sua expansão externa e também na comunicação interna entre lideranças e membros. São relacionadas as principais ações em jornais, rádio e televisão, além da atuação da editora Casa Publicadora das Assembleias de Deus.


3. A ORGANIZAÇÃO INTERNA DOS MINISTÉRIOS DAS ADS NO BRASIL - O presente capítulo foi basicamente construído a partir das observações empíricas e entrevistas realizadas com pastores e com adeptos das igrejas ADs, no sentido de realizar uma discussão sobre as cisões, destacando o crescimento e a autonomia de alguns ministérios que, após passar por cisões, funcionam com a mesma nomenclatura, AD, mas atuam isoladamente, possuindo suas próprias convenções e se relacionando com outros ministérios tão somente por "laços fraternos"; como exemplo pode se citar: O Ministério de Santos, o Ministério de Goiás, o Ministério Vitória em Cristo - este ministério liderado pelo pastor Silas Malafaia é o mais novo a passar pelo processo de cisão, o Ministério de Cordovil (ADMC), RJ, e ainda, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus Bereana, Vila Mariana - SP, liderada pelo pastor-presidente, Walter Brunelli. Esta igreja funciona dentro dos padrões modernos das tecnologias e possui um projeto de trabalho diferenciado de outras igrejas ADs, chamado de Células Bereanas. No decorrer deste capítulo serão citados alguns ministérios que já nasceram independentes, é o caso do Ministério da Assembleia de Deus Bom Retiro, SP - objeto de tese de mestrado desta autora (2006), e que serviu de inspiração para esse trabalho.

Dentro dessa perspectiva, o presente trabalho demonstra as características de cada ministério e aponta suas aproximações e distanciamentos entre si. Vimos que esses ministérios trabalham com uma racionalidade administrativa burocrática, visando o crescimento e uma atuação cada vez mais moderna (ou pós-moderna) diante das outras denominações pentecostais. Portanto, pretende-se aqui traçar alguns pontos de convergência, examinando se existe uma lógica de funcionamento dos ministérios assembleianos em suas diferentes formas de funcionamento, a relação entre os pastores associados a esses ministérios e os pastores que estão ligados às convenções da CGADB, a CONAMAD e as convenções independentes; por último, procurar compreender os motivos pelos quais os ministérios autônomos conservam o mesmo nome.

Dessa maneira, as pesquisas empíricas foram realizadas analisando o percurso dos ministérios estudados, levantando a hipótese de que e possível afirmar que os inúmeros ministérios autônomos atuam de maneira isolada, comandados de diversas formas, representados por-um pastor-presidente que coordena as suas redes de congregações e pontos de pregação de acordo com seus ideais, juntamente com sua própria mesa diretora, formada por um corpo de pastores administrativos em suas regiões locais, fortemente investidos do poder econômico, político e religioso.

Assim, diante de alguns resultados levantados nas pesquisas de campo, visa-se demonstrar, por amostragem, o perfil atual dos ministérios das ADs, as cisões, os ministérios independentes e os associados às convenções e seu tipo de funcionamento. Além disso, entender o funcionamento das convenções estaduais e nacionais, o processo de adesão a elas e sua importância e, por meio de gráficos, o panorama dos ministérios e/ ou igrejas desligadas ou autônomas, fazendo uma leitura de cada situação, e a existência de uma lógica de funcionamento entre as igrejas, principalmente pelo fato de, mesmo quando desligadas de formalidades, permanecerem no rol das ADs.

Dentro deste contexto, o conceito e a administração dos ministérios são trabalhados nas igrejas-sede (Ministérios). Após o ano de 1932, as ADs já davam indícios de uma nova estruturação local autônoma. Na ocasião da consolidação do Ministério Madureira, a Convenção Nacional traçou as linhas mestras da atuação espacial da Assembleia de Deus, pois foi a partir dessa consolidação que surgiram terminologias administrativas como campo, igrejas-Sede e invasão de campo. Este tópico também explica a constituição do pastor assembleiano comum e do pastor-presidente.


4. O PODER RELIGIOSO NAS ESTRUTURAS DOS MINISTÉRIOS DAS ADS – O quarto capítulo será construído a partir das análises sociológicas baseadas nas observações empíricas e entrevistas realizadas com os pastores e adeptos das igrejas ADs, no sentido de realizar uma discussão sobre a questão da "lógica" de funcionamento das igrejas e ministérios. Serão analisados o "poder religioso" dessas igrejas, não somente ligado ao poder de ordem jurídica, econômico ou político, mas do poder condicionado "pelas honras sociais que ele acarreta". Também serão analisadas as formas de governo, as estratégias, os mecanismos legitimadores (estancamentos), os sujeitos, os conflitos entre o "carisma, a tradição e a racionalidade" – no sentido weberiano, dos pastores, propondo que esses ministérios estejam se tornando um exemplo de redes de igrejas "Assembléia de Deus". Os discursos utilizados por esses pastores são cada vez mais atuais, dentro da sociedade moderna, como forma de acomodação e permanência viva no campo religioso sem perder a credibilidade conquistada ao logo dos anos.

Por fim, serão vistos os processos socioculturais subjacentes às mudanças religiosas ocorrida nas ADs, no contexto da sociedade moderna urbanizada. As mudanças detectadas no decorrer deste estudo, serão classificadas e analisadas sob a ótica weberiana, teórico central neste trabalho, destacando os tipos de dominação Segundo Weber, "dominação é a probilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis". O autor afirma que nas relações de poder e as suas formas de legitimação, "consiste na presunção de impor a própria vontade a outrem em uma relação social ou não, mesmo contra resistência". O "Poder" estabelece uma dominação e esta dominação cria a "disciplina", gerando uma "obediência pronta, automática e esquemática a uma ordem". A obediência não necessariamente a um comando, mas também o tomar decisões e exercer influências sobre o que é definido, mas envolve uma influência recíproca de dois ou mais elementos, direta ou indiretamente. "Disciplina", portanto, inclui o treino na obediência em massa, sem crítica e sem resistência.

Ainda serão analisadas a questão do poder religioso dos ministérios ADs, observando os discursos dos pastores, a influência e o potencial que o discurso religioso desperta em seus ouvintes, submetendo-os a uma relação direta com Deus. Os pastores estabelecem um canal direito entre Deus e os seus ouvintes, no qual "o locutor é Deus, logo, de acordo com a crença, imortal, eterno, infalível, infinito e todo-poderoso". Esses discursos fizeram com que alguns ministérios, tivessem um aumento significativo de adeptos nos últimos anos - pelo ganho de notoriedade que as figuras carismáticas, carregadas de emocionalidade e persuasão, vem recebendo desses ministérios.


CONCLUSÃO - Depois de ler as 370 páginas desta obra, só tenho algo acrescentar: Adquira o livro clicando na imagem acima.

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[1] Texto do Prof. Dr. Edin Sued Abumansur (PUC-SP). Escrito na orelha do livro.


Um comentário:

Blogger disse...

Prof. Pádua me sinto honrada com os elogios e comentários tecidos em minha pesquisa, que se transformou em livro. Gostaria de registrar que não foi somente pelos seus comentários positivos, mais pelo reconhecimento de um trabalho sério, que me custou sacrifícios, vejo que valeu a pena chegar até aqui. Os meus sinceros agradecimentos.