quinta-feira, 29 de agosto de 2019

INFERNO [Resenha]


BROWN, Dan. Inferno. São Paulo, SP: Arqueiro, 2013


SINOPSE - No coração da Itália, Robert Langdon, o professor de Simbologia de Harvard, é arrastado para um mundo angustiante centrado numa das obras literárias mais duradouras e misteriosas da história: O Inferno, de Dante Alighieri. Numa corrida contra o tempo, ele luta contra um adversário assustador e enfrenta um enigma engenhoso que o leva para uma clássica paisagem de arte, passagens secretas e ciência futurística. Tendo como pano de fundo poema de Dante, e mergulha numa caçada frenética para encontrar respostas e decidir em quem confiar, antes que o mundo que conhecemos seja destruído.


O AUTOR – Dan Brown nasceu em Exeter, nos Estados Unidos, no dia 22 de junho de 1964. Graduou-se na Phillips Exeter Academy. Ingressou na Amherst College, em 1982. Foi membro da Fraternidade Psi Upsilon, onde durante o primeiro ano fez uma viagem para a Europa para estudar História da Arte na Universidade de Sevilha, na Espanha. Dan Brown é casado com a pintora e historiadora de arte Blythe, que colabora nas pesquisas de seus livros, que misturam organizações secretas, cidades históricas, pinturas renascentistas, símbolos medievais, códigos ocultos e conspirações, numa narrativa cinematográfica que prende o leitor até o fim da trama.

Em um eterno confronto entre religião e ciência, Dan Brown dá algumas pistas da sua própria formação. Nascido em 1964, na cidade de Exeter, em Nova Hampshire, nos Estados Unidos, Brown tinha uma mãe pianista que tocava na igreja. Daí a convivência do escritor, ainda menino, com os dogmas religiosos. O pai era professor de matemática. Frequentemente, a família era obrigada a morar nos campi das escolas onde o patriarca lecionava, o que fazia com que o autor respirasse ciência.

Adulto, estudou literatura e história da arte, época em que se dedicou às obras de Leonardo da Vinci, figura central do romance O código da Vinci, seu primeiro best-seller de Brown e também o primeiro livro a ser transportado para a película. Com a fama alcançada, vieram em seguida Anjos e demônios, Fortaleza digital, Ponto de impacto — que, na verdade, foram escritos antes d’O código da Vinci —, O símbolo perdido, Inferno e, finalmente, Origem.

Dan Brown é especialista em liderar as listas de mais lidos, tendo conseguido a impressionante façanha de ter quatro livros ao mesmo tempo na lista dos mais vendidos do New York Times em 2004. Em versão física ou digital, os livros de Dan Brown são fáceis de achar e bastante acessíveis, saindo a uma média de preço de 20 reais. É pechincha ou não é?


INFERNO - Composto por Dante Alighieri no início do século XIV, o Inferno redefiniu a percepção medieval da danação. Antes dele, a ideia do mundo inferior nunca havia fascinado as massas de forma tão arrebatadora. Da noite para o dia, a obra de Dante cristalizou esse conceito abstrato em uma visão nítida e aterrorizante – visceral, palpável, inesquecível. Como era de esperar, após a publicação do poema, houve um enorme aumento no número de fiéis da Igreja Católica, graças aos pecadores aterrorizados que buscavam evitar a versão atualizada do Inferno imaginada por Dante.
Dan Brown, Inferno, pág. 65-6.


ROBERT LANGDON - Robert Langdon é um professor de simbologia da Universidade de Harvard, claustrofóbico e que possui um relógio edição especial de colecionador do Mickey. Já conheceu o mundo inteiro, inclusive, sobreviveu a uma explosão no Vaticano, uma perseguição religiosa em Paris e desvendou mistérios maçônicos que rondavam o capitólio nos EUA. Claro, me esqueci de falar que o professor é uma espécie de Indiana Jones com terno Tweed. E sim, ele está de volta em Inferno, a mais nova obra do escritor Dan Brown. [1]

Depois de acordar com amnésia em Florença, Itália, Langdon passa o tempo todo fugindo de assassinos ao lado da misteriosa e inteligentíssima dra. Sienna Brooks. Como consequência de sua amnésia, Langdon tem pesadelos com rios de sangue, pessoas mortas e uma mulher de cabelos prateados que lhe diz uma frase enigmática: “busca e encontrarás”. A sua única pista para desvendar o mistério sobre como foi parar na Itália, quem está o perseguindo e o porquê de sonhos tão incomuns é um pequeno projetor que mostra a tela de Botticelli Mappa dell’Inferno, que logo Langdon percebe ter sido adulterado.

Enquanto isso, uma agência secreta a bordo do navio Mendacium, especializada em ajudar seus clientes a realizar propósitos escusos, está prestes a revelar para o mundo os segredos obscuros de um cliente paranoico que colocou toda a humanidade em perigo e se suicidou.

Após quatro anos do último lançamento, Dan Brown mostra que não se esqueceu da fórmula do sucesso e emplaca mais um best-seller com característica única: A facilidade de fazer seu público imaginar os acontecimentos do livro como se fossem filmes. Parece que o escritor faz a história já pensando em ajudar no trabalho do roteirista. Inferno não é diferente.

Todos os elementos estão bem explícitos para aqueles que leram outras obras de Brown: A garota que acompanha o protagonista, o fanático que busca impedi-lo de ir adiante, a entidade grandiosa por trás dos acontecimentos, e muita aula de história, algo que não pode faltar. Neste caso, nos sentimos praticamente ao lado de Robert Langdon em Florença, e, ao contrário dos anteriores, tudo é muito bem explicado nos seus mínimos detalhes, o que facilita muito a leitura. Confesso que mesmo gostando da Divina Comédia, nunca tive interesse na cidade, mas o professor fez com que eu buscasse conhecer todas suas origens e obras por onde passa.

De volta ao enredo, esse poderia ser tão grandioso quanto as aulas de história, chega perto, é verdade, mas perde o ritmo em determinado momento e culmina num desfecho raso e pouco convincente. Apesar do tema de superpopulação ser extremamente atual e a preocupação das entidades mundiais de saúde ser real, a impressão é que Dan Brown se enrolou e não soube criar uma conclusão à altura. No mais, apesar daquela velha repetição do professor sempre desvendar os segredos no timing certo da situação, tudo é muito dinâmico e bem coerente, além do suspense tomar boa parte da trama, o que aumenta o interesse do público pelos motivos de Langdon ter sido chamado para esse tipo de investigação, tendo em vista que o mesmo é apenas um simbologista.

Mais uma vez, a literatura de entretenimento de Dan Brown funciona e cumpre bem seu papel com Inferno. Se está esperando algo inovador, esqueça, o escritor optou pela segurança de manter seus leitores fiéis. No entanto, não dá para considerar isso um ponto negativo, pois o resultado é um thriller com bons personagens, ação, reviravoltas e enredo que, mesmo decepcionando o leitor com o desfecho, ainda assim o faz querer descobri-lo seguindo os passos de Robert Langdon. Além disso, prepare-se para passar algumas horas lendo a obra com o Google aberto e conhecendo Dante Alighieri muito além d’A Divina Comedia.


O VILÃO - Também digno de nota é o fato do vilão morrer logo no início da história e enfatiza o fator “refazer as próprias pegadas” que Langdon precisa percorrer. E a jornada será mais uma vez um divertido passeio turístico, passando por lugares como o Duomo de Florença, a Basílica de São Marcos, e a Galleria degli Uffizi. Vemos museus, igrejas, pinturas, esculturas, obras arquitetônicas; todos inspirados ou relacionados ao Inferno de Dante (pra quem não sabe, uma das três partes da Divina Comédia). As descrições de locais e obras podem irritar os mais impacientes, pois quebram um pouco o ritmo. Mas além de enriquecerem a história, mostram a importância de Langdon. Ele não é um homem de ação, um Indiana Jones. Mesmo em boa forma, ele continua sendo um tiozão acadêmico almofadinha, então sua arma tem que ser mesmo seu vasto conhecimento.


QUAL O PROPOSITO DO LIVRO? - Um provável pergunta: há alguma polêmica, Brown tentou atacar alguma instituição dessa vez? Bem, sim e não. A exemplo do livro anterior, quando aliviou para a Maçonaria, aqui o autor alfineta de leve a OMS, mas reconhece sua importância. Os temas discutidos mais uma vez são científicos, e envolvem armas biológicas, superpopulação e o transhumanismo (filosofia que prega a obrigação moral de se usar ciência e tecnologia para superar as limitações humanas). Porém, diferente dos tediosos debates sobre noética em O Símbolo Perdido, aqui a discussão é muito mais relevante. E Brown acerta em cheio ao estabelecer que não há respostas fáceis, óbvias… e nem mesmo “vilões” no sentido puro da palavra. Apenas pontos vista, alguns mais radicais e perigosos, mas não totalmente desprovidos de lógica. E palmas também para o final, consideravelmente corajoso ao buscar a resolução do dilema apresentado. Para um autor tão acostumado a panos quentes, surpreendeu. [2]


FICÇÃO E REALIDADE - Já passou da hora de as nações mais populosas pensarem no impacto que as massas populacionais têm sobre o território e sobre as riquezas da nação. É um pensamento frio e matemático, mas não dá mais para tapar o sol com a peneira e deixar a população crescer indefinidamente. Não temos planeta para isso, em breve também não teremos recursos, pois os solos aráveis encontram-se saturados depois de tantas gerações de monoculturas, pela compactação causada por rebanhos cada vez mais numerosos, pela drenagem de corpos d'água para alimentar lavouras e pela espoliação dos recursos naturais. Controlar a natalidade é polêmico, pois isso mexe com o mais básico do ser humano, que não é apenas a reprodução, mas “O CRESCER E MULTIPLICAR”. Enquanto tem nações com crescimento negativo da população oferecendo incentivos para as pessoas terem filhos, em outros lugares as crianças ainda são mão-de-obra para famílias miseráveis. Infelizmente, as gestações são, na grande maioria, não planejadas. Esse papo de "que sempre cabe mais um" não pode mais ser o modelo usado para o planejamento familiar seja no Brasil, seja em qualquer outro lugar. [3]


INFERNO cumpre seu dever de casa e garante uma excelente leitura. Promove uma boa reflexão sobre assuntos atuais (envolvendo ciência e o futuro da humanidade), possui cenários magníficos e nos permite conhecer mais a fundo a vida e a obra de Dante Alighieri, assim como sua influência, que perdura até hoje. Se você gosta de thrillers de conspiração, esse livro é perfeito.

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[1] https://medium.com/@salasete/resenha-de-livro-inferno-dan-brown-5c095f388577
[2] http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-inferno-dan-brown/
[3] https://www.momentumsaga.com/2013/05/resenha-inferno-de-dan-brown.html


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