sábado, 24 de agosto de 2019

EXEGESE? PARA QUÊ? [Resenha]


FEE, Gordon D. Exegese? Para quê? Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2019.


O AUTOR – Gordon D. Fee, nascido em 1934 em Ashland, Oregon) é um estudioso do Novo Testamento, após ensinar brevemente no Wheaton College em Illinois, ensinou Gordon-Conwell Theological Seminary em South Hamilton, Massachusetts até 1986. Ele em seguida foi para o Regent College em Vancouver, Canadá onde é agora Professor Emérito. Ele também serviu no quadro consultivo do Instituto Internacional para Estudos Cristãos. Fee recebeu sua graduação de B.A. e M.A. do Seattle Pacific University e seu Ph.D. da University of Southern California. Atualmente exerce a função de editor da série New International Commentary, sendo ele próprio autor de vários comentários do Novo Testamento. Além de sua notável atuação como um erudito da Bíblia, também é reconhecido como professor e orador brilhante.


O LIVRO – Nos últimos 25 anos, Gordon D. Fee produziu um fluxo constante de artigos acadêmicos que tratam de espinhosos assuntos do texto crítico, delicados temas exegéticos e profundas questões teológicas. Muitos desses documentos acadêmicos fizeram contribuições importantes para o campo de estudo do Novo Testamento, mas estão espalhados em ampla gama de publicações. Agora, neste livro, 21 dos melhores e mais curtos trabalhos de Fee estão convenientemente disponíveis em um único volume.

Em muitos aspectos, a coleção reflete a jornada de Fee como estudioso bíblico. O livro começa com o primeiro trabalho de Fee na crítica textual, volta-se para estudos de natureza mais estritamente exegética e conclui com estudos de intenção mais teológica. No decorrer dos estudos, Fee explora extensa diversidade de temas para leitores e intérpretes do Novo Testamento, entre eles, Paulo como um dos primeiros pensadores trinitários, a liberdade e obediência de acordo com Paulo, a cristologia e pneumatologia do Novo Testamento e muito mais. São estudos primorosos que demonstram o domínio que Fee tem na tarefa exegética e que ilustram o objetivo da exegese a serviço da comunidade cristã.

Exegese? Para quê? Fornecerá a professores, pastores e estudantes da Bíblia um banquete copioso da erudição do Novo Testamento.

O livro contém, além do prefácio, 21 capítulos, dividido em três seções: Estudos Textuais, Estudos Exegéticos e Estudos Teológicos. Logo abaixo você tem o SUMÁRIO e um resumo do prefácio, escrito pelo próprio autor do livro. Coloquei ainda dois retalhos do texto que exalta a importância da exegese. O nosso propósito é fomentar no leitor o desejo para a compra ou não do livro completo e a nossa proposta é se ter a estrutura do sumário e citações pontuais do livro. Adquira o livro clicando na imagem acima.


SUMÁRIO

ESTUDOS TEXTUAIS
1. Só uma Coisa É Necessária? Lucas 10.42
2. Sobre a Inautenticidade de João 5.3b,4
3. Sobre o Texto e Sentido de João 20.30,31
4. Observações Textual-Exegéticas sobre 1 Coríntios 1.2, 2.1 e 2.10
5. Sobre o Texto e Comentário de 1 e 2 Tessalonicenses

ESTUDOS EXEGÉTICOS
6. Uma Vez Mais: João 7.37-39
7. 1 Coríntios 7.1 na NIV: New International Version
8. 2 Coríntios 1.15: A Parousia Apostólica e a Cronologia de Paulo em Corinto
9. Uma Interpretação de 1 Coríntios 8—10
10. Os Alimentos Oferecidos aos ídolos: 2 Coríntios 6.14—7.1
11. A Liberdade e a Vida de Obediência: Gálatas 5.1—6.18
12. Filipenses 2.5-11: Hino ou Exaltada Prosa de Paulo?

ESTUDOS TEOLÓGICOS
13. Rumo a uma Teologia de 1 Coríntios
14. A Cristologia e Pneumatologia em Romanos 8.9-11 e em outros Lugares: Reflexões sobre Paulo como Trinitário
15. "Outro Evangelho que não Abraçastes": 2 Coríntios 11.4 e a Teologia de 1 e 2 Coríntios
16. Reflexões Exegéticas e Teológicas sobre Efésios 4.30 e a Pneumatologia Paulina
17. Exegese? Para quê? Reflexões sobre Exegese e Espiritualidade em Filipenses 4.10-20
18. Pneuma e Escatologia em 2 Tessalonicenses 2.1,2: Uma Proposta sobre "Pôr os Profetas à Prova" e o Propósito de 2 Tessalonicenses
19. Rumo a uma Teologia de 2 Timóteo —Segundo a Perspectiva Paulina
20. Paulo e a Trindade: A Experiência de Cristo e do Espírito para o Entendimento de Paulo sobre Deus
21. A Cristologia da Sabedoria nas Cartas de Paulo: Uma Visão Dissidente


PREFÁCIO - Congratulo-me com a oportunidade de reunir esta coletânea de trabalhos acadêmicos que constaram em variadas publicações durante um período de vinte e cinco anos e disponibilizá-los em um só volume. Espero que o livro ofereça acesso conveniente a estudos que, de outra forma, são mais difíceis de encontrar, visto que em muitos casos surgiram originalmente em Festschriften[1] em homenagem a amigos acadêmicos, ou em ensaios de seminário da Sociedade de Literatura Bíblica [na sigla em inglês, SBL] para determinado ano, ambos os quais, por sua natureza, tiveram publicação muito limitada. Por outro lado, aqueles que leram as duas coletâneas anteriores de trabalhos acadêmicos [Ouvindo ao Espírito no Texto], Eerdmans, 2000, e [Evangelho e Espírito: Questões na Hermenêutica do Novo Testamento], Hendrickson, 1991]) podem ficar um tanto quanto decepcionados por haver menos "aplicação" e mais hermenêutica pura.

Esta coletânea reflete meus interesses como estudioso do Novo Testamento, incluindo a crítica textual. Mas todos, mesmo os estudos textuais, concentram-se em meu interesse primário e permanente de entender o texto bíblico e de assimilar a teologia inerente aos textos. E tudo para o bem da comunidade cristã. Os estudos estão em ordem canônica, exceto a seção final dos estudos teológicos, que combina a ordem canônica com a ordem mais cronológica. O leitor interessado pode querer começar com o capítulo 17, do qual extraí o título, já que é uma palestra publicada que começa com uma espécie de nota autobiográfica que dá sentido ao resto.

Por outro lado, não alimento a ilusão de que muitos irão ler o livro todo, visto que é algo que raramente acontece com este tipo de estudos coletados. Mas considerando que o li completamente (como revisor), desejo fazer algumas observações sobre a coletânea como um todo.

Primeiro, embora o primeiro desses estudos remonte a 1976 (cap. 10), resisti à tentação de atualizá-los. Não mudei nada, porque a razão preliminar para a publicação é disponibilizar os estudos convenientemente em um único volume, e as pessoas que os consultarão não estão interessadas em minha interação comum a posterior resposta aos ensaios, mas com sua expressão original. Exceto por referência cruzada ocasional colocada entre parêntesis nos capítulos e correções de erros de digitação, optamos por deixá-los como eram originalmente (embora possamos ter inserido mais erros de digitação, visto que o livro foi produzido pela digitalização dos originais e recomposição segundo o estilo da editora).

Segundo, a ordem dos ensaios reflete, em parte, minha jornada como estudioso bíblico, começando com trabalhos sobre crítica textual, antes de dedicar-me a trabalhos mais estritamente exegéticos, e terminando com estudos de intenção mais teológica.

Terceiro, na última seção dos ensaios encontramos repetições. De certa forma, são inevitáveis, uma vez que meus interesses nos assuntos tenderam, na década passada, a centralizar-se na cristologia e pneumatologia, e sobretudo na questão de saber se é ou não apropriado usar a linguagem trinitária em relação à teologia de Paulo. Mas a repetição também ocorre nos estudos anteriores, pelo que preciso dar uma explicação.

A parte mais antiga da coletânea é o estudo da incômoda passagem de 2 Coríntios 6.14-7.1. O estudo surgiu quando eu lecionava um curso de grego na Wheaton College baseado em 2 Coríntios, ao mesmo tempo em que eu fazia um trabalho sobre 1 Coríntios para outra classe. Até então, eu já ensinara 1 Coríntios com frequência o bastante para chegar à conclusão de que 1 Coríntios 8-10 não trata de alimentos oferecidos aos ídolos e vendidos no mercado, mas de comer esses alimentos nos recintos do templo. O que me impressionou foram as ligações verbais entre a passagem de 2 Coríntios e a linguagem em 1 Coríntios 10.14-22. Passei meses pesquisando o assunto e publicando as conclusões (cap. 10 deste livro). Tempos depois, quando me solicitaram para dar uma palestra no Seminário Teológico Batista do Sudoeste, retrabalhei a parte de 1 Coríntios do documento que se tornou o conteúdo do ensaio que consta como capítulo 9. Minha razão para publicar isso separadamente foi que percebi que minha preocupação com a hipótese de "alimentos oferecidos aos ídolos" em 1 Coríntios passara despercebida, porque fora incorporada no estudo de um notório dilema que há em 2 Coríntios.

Quarto, notemos que estudos como esses costumam preceder a escrita de grandes livros ou comentários. Na verdade, em dias antigos (antes que a publicação eletrônica fizesse tantas mudanças para autores e editores), eu costumava dizer aos alunos que prestassem atenção a um aparecimento inesperado de artigos escritos por certo estudioso sobre determinado tópico, porque era indicação de futuros livros (e.g., os apontamentos de estudo feitos por C. E. B. Cranfield sobre Roma nos, que foram o prenuncio do seu grande comentário). A razão para isso é que dava ao estudioso a oportunidade de explorar as questões com mais profundidade do que permitiriam as constrições de um livro ou comentário. É o que também ocorre nos estudos neste livro (caps. 5, 7, 9, 11, 12 e 21).

Mas esta coletânea também reflete interesses que vão em sentido inverso. Em alguns dos trabalhos exegéticos que entraram na publicação de “A Presença de Deus que Capacita: O Espírito Santo nas Cartas de Paulo”, Hendrickson, 1994, manuscrito concluído em fins de 1992), pensei que estava abrindo novos caminhos em vários lugares. Nesse entretempo, recebi pedidos para contribuir para Festschríften em homenagem de amigos e colegas do mundo acadêmico. Então, aproveitei a oportunidade para reconfigurar parte dessa exegese e publicá-la de forma nova e expandida com vistas a alcançar um público mais amplo. Estudos desse tipo aparecem como os capítulos 13 a 16 e 18.


RETALHOS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA EXEGESE


SOBRE O SIGNIFICADO DA ESPIRITUALIDADE - No Novo Testamento, a Espiritualidade é definida em termos do Espírito de Deus. A pessoa é Espiritual na medida em que vive e anda pelo Espírito. Na Escritura, a palavra não tem outro significado e nenhuma outra medida. Quando Paulo diz que "a lei é espiritual" (Rm 7.14), ele quer dizer que a lei pertence à esfera do Espírito (inspirada pelo Espírito como é), não à esfera da carne. Quando diz aos crentes coríntios: "Se alguém cuida ser [...] espiritual" (1 Co 14.37), quer dizer:

"Se algum de vós pensa em si mesmo que é uma pessoa Espiritual, uma pessoa que vive a vida do Espírito". Do mesmo modo, quando diz aos crentes gálatas: "Vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado" (Gl 6.1), ele não está se referindo a um grupo especial ou elitista na igreja, mas ao restante da comunidade dos crentes, que ambos começaram a vida no Espírito e terminaram pelo mesmo Espírito que produz o devido fruto em suas vidas.

A existência cristã no Novo Testamento é de raiz trinitária. No começo e no fim de todas as coisas está o Deus eterno, a quem judeus e cristãos referem-se repetidamente como o Deus vivo. O propósito de Deus ao criar criaturas como nós, segundo a sua imagem, era para relacionamento: para que vivêssemos em comunhão e para a glória do Deus vivo, como aqueles que trazem a semelhança de Deus e como aqueles que realizam os propósitos de Deus na terra. Mesmo antes da queda, dizem-nos, o propósito de Deus era remir os caídos de modo a remodelar a visão difusa que tinham de Deus e restaurá-los à comunhão de onde caíram em sua rebelião. Deus o realizou, dizem-nos, quando Ele mesmo veio entre nós na pessoa de seu Filho, que, em certo ponto da história humana, efetuou nossa redenção e reconciliação com o Deus vivo, pela morte humilhante e ressurreição gloriosa. Mas Deus não nos deixou sozinhos para avançarmos. Ele se propôs a nos ajudar, e essa é a razão para Deus vira nós e entre nós pelo Espírito Santo.

O propósito de Deus em nossa vida é "Espiritual" neste sentido: para que nós, remidos pela morte de Cristo, sejamos capacitados pelo seu Espírito "tanto [para] querer como [para] efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2.13). A verdadeira Espiritualidade é nada mais nada menos do que a vida pelo Espírito. "Tendo sido vivificados pelo Espirito", diz Paulo aos crentes gálatas, "comportemo-nos de maneira que esteja de acordo com o Espírito" (cf. Gl 5.25).

Daí o objetivo da exegese: produzirem nossa vida e na vida dos outros a verdadeira Espiritualidade, na qual o povo de Deus vive em comunhão com o Deus vivo e eterno e, portanto, em conformidade com os propósitos de Deus no mundo. É erro crasso se pensamos que fazemos exegese, quando não cuidamos da Espiritualidade intencional do texto, seja ela teológica, doxológica, relacionai ou comportamental. [p.310-311]


REFLEXÕES FINAIS SOBRE ESPIRITUALIDADE - Nossa exegese deve, neste caso, levar-nos a envolver-nos na Espiritualidade de Paulo. Precisamos fazer uma pausa e refletir, para sentir a maravilha e admiração do momento. Para Paulo, não são meras palavras. São o âmago das coisas para ele. A realidade Espiritual do texto ajuda-nos a mostrar o sentido de sua paixão por Cristo e pelo povo de Cristo. Temos aqui alguém que está em comunhão constante com Deus na oração, que conhece o Deus eterno que habita nas insondáveis riquezas da graça e que sabe que Deus dispersa as riquezas, que são dEle em glória, sobre o povo por meio de Cristo Jesus.

Tornamos nossa exegese frutífera quando nos sentamos com indizível admiração na presença de Deus, contemplamos suas riquezas, oramos para que sejam derramadas sobre nossos familiares e amigos, e permanecemos na contemplação o suficiente para que nossa única resposta seja a doxologia: "A nosso Deus e Pai seja dada glória para todo o sempre. Amém!" (Fp 4.20). Até que tenhamos feito isso, arriscaria dizer, fizemos nossa exegese apenas hesitantemente. Somos meros historiadores. Para ser verdadeiros exegetas, temos de ouvir as palavras com o coração, banhar-nos com a glória de Deus, comover-nos com a sensação da avassaladora admiração pelas riquezas de Deus em glória, refletir sobre a incrível maravilha que essas riquezas são nossas em Cristo Jesus e adorar o Deus vivo cantando louvores à sua glória. Então, teremos em certa medida participado da intenção de Paulo para com os crentes filipenses, o que, eu diria, é o que a nossa exegese tem de ser. [p.318-319]

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[1] N. do T.: Em alemão, no original. Festschrift, "livro de homenagem" ou "livro de celebração". No mundo acadêmico, o termo refere-se a um conjunto de ensaios ou artigos publicados na forma de livro que homenageia uma pessoa influente ou reconhecida. O livro é publicado enquanto o homenageado está vivo.

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