segunda-feira, 19 de agosto de 2019

MEMÓRIAS DO SUBSOLO [Resenha]


FIODOR, Dostoiévski. Memórias do Subsolo. São Paulo, SP: Editora 34, 2000.


SINOPSE - Escrito na cabeceira de morte de sua primeira mulher, numa situação de aguda necessidade financeira, “Memórias do subsolo” condensa um dos momentos mais importantes da literatura ocidental, reunindo vários temas que reaparecerão mais tarde nos últimos grandes romances do escritor russo.

Aqui ressoa a voz do homem do subsolo, o personagem-narrador que, à força de paradoxos, investe ferozmente contra tudo e contra todos - contra a ciência e contra a superstição, contra o progresso e contra o atraso, contra a razão e a desrazão; mas investe, acima de tudo, contra o solo da própria consciência, criando uma narrativa ímpar, de altíssima voltagem poética, que se afirma e se nega a si mesma sucessivamente.

Não é por acaso que muitos acabaram vendo neste livro uma prefiguração das ideias de Freud acerca do inconsciente. O próprio Nietzsche, ao lê-lo pela primeira vez, escreveu a um amigo: "A voz do sangue (como denominá-lo de outro modo?) fez-se ouvir de imediato e minha alegria não teve limites".


ENREDO [1] - Considerada uma das primeiras obras existencialistas do mundo, Memórias do subsolo apresenta um compêndio das memórias de um empregado civil aposentado que vive em São Petersburgo. O pequeno romance, mais caracterizado como uma novela, é dividido em duas partes. A primeira intitulada "O Subterrâneo", contendo 11 capítulos; a segunda, "A Propósito da Neve Derretida", possui 10 capítulos.

Este personagem, que não menciona seu nome em nenhum momento, encena na primeira parte do romance um grande monólogo com a intenção de "comover" de alguma forma seu leitor. O subsolo é uma analogia ao subconsciente humano. É no subsolo que se encontram pensamentos e ideias que queremos esconder de todos, até de nós mesmos, e são esses pensamentos que comandam nossos atos.

Na segunda parte há três episódios que relatam de uma forma concreta como o nosso anti-herói é encurralado socialmente pelos discursos e ações de uma sociedade dominada pelo despotismo.

O texto é um exemplo do chamado “fluxo de consciência”, recurso literário que transcreve o complexo processo de pensamento de um personagem, com o raciocínio lógico entremeado com impressões pessoais momentâneas e exibindo os processos de associação de ideias.


O CONTEXTO [2] - Publicado em 1864, Memórias do Subsolo é um relato do “homem do subsolo”, um personagem-narrador que investe ferozmente contra tudo e contra todos. Em um primeiro momento, lemos o monólogo do narrador destilando seu ódio ao pensamento racionalista que começava a influir sobre a Rússia; na segunda parte do livro, o escárnio dá lugar a uma narrativa muito comum em Dostoiévski, a busca pela redenção por meio da culpa.

A novela abre a fase do escritor rumo à sua maturidade. Conforme destacado na orelha do livro, escrita pelo crítico Manuel da Costa Pinto, nesse livro “o escritor materializa sua visão abissal dos conflitos morais, psicológicos e sociais, que se interpenetram caoticamente de modo a destacar, como única medida do mundo, o desejo humano de salvação diante da morte”. No entanto, nesse caminho rumo à maturidade, dois pontos são de extremo interesse.

O primeiro deles é sua reclusão. Em 1849, Fiódor Dostoiévski foi preso por participar do Círculo de Petrachévski, um grupo de intelectuais que discutia a política russa. Junto do escritor, quinze outros foram condenados à pena de morte. No momento da execução, em 22 de dezembro, vendados e aguardando o fuzilamento, os presos ouviram a leitura do perdão do tsar. Ao invés de morrer, Dostoiévski é condenado a cumprir quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria. Nessa época ele já tinha escrito Gente Pobre e O Duplo, em 1846, um sucesso e um fracasso de vendas, respectivamente.

O segundo ponto é um pouco mais complexo e está ligado ao posicionamento ideológico e filosófico do escritor. Quando a Rússia perde a Guerra da Criméia e assina o tratado de Paris, em 1856, o país entra numa grande crise econômica. Como saída para solucionar esse problema, o tsar se vê obrigado a fazer uma série de propostas trabalhistas, arquitetônicas, econômicas e culturais para tentar modernizar a Rússia, principalmente do ponto de vista intelectual e geográfico.

Dentre as medidas tomadas, são famosas a proibição da mão de obra servil, que inseriu a Rússia no sistema econômico europeu, e a Urbanização de São Petersburgo e Moscou, que possibilitou o florescimento da indústria e atraiu os camponeses sem emprego (além disso, as outras reformas, como a trabalhista, a do alistamento militar e a do sistema judiciário, são tratadas em outras obras de Dostoiévski).

Como a França e a Inglaterra foram os grandes patrocinadores do processo de modernização russa, as influências culturais, como o Marxismo e o Ateísmo, germinaram e dividiram a intelectualidade: de um lado, o grupo de revolucionários que abraçava as mudanças culturais; do outro, intelectuais conservadores que via uma descaracterização da natureza do povo russo nesse processo.

Dostoiévski fazia parte do grupo dos conservadores, defendia o movimento pótchvienitchestvo. Com raiz na palavra potchva, que significa solo, a corrente exaltava as qualidades do camponês russo e tentava politizá-lo. Além disso, o escritor acreditava que o crescente ateísmo não se adequava ao espírito russo, naturalmente devoto e religioso. É daí que surge um elemento tão comum em suas obras a partir de Memórias do Subsolo: o conflito entre a razão, que vinha importada da Europa, e a fé cristã, supostamente natural do povo russo.

A partir daí, podemos destacar a ambiguidade presente no homem do subsolo. Ao mesmo tempo em que está ligado à aristocracia russa patriarcal deslocada do cenário agrário devido aos impactos do capitalismo, o personagem-narrador traz um acúmulo de coisas negativas, serve como porta-voz das críticas de Dostoiévski ao racionalismo, à mentalidade positivista e à porção anti-humanista presente no desenvolvimento burguês da Rússia.

A novela também tem uma forte carga filosófica. Segundo Boris Schnaiderman, Memórias do Subsolo também apresenta o conteúdo filosófico que permeia a produção de Dostoiévski. Devido à dramaticidade, à carga emocional e ao importante papel da introspecção, o pesquisador norte-americano W. Kaufman considerou Memórias do Subsolo como “a melhor introdução do existencialismo”.

Inspirando-se em Hegel, Dostoiévski representa a “consciência cindida” de quem começava a ingressar no sistema capitalista. Como afirmado ao longo de toda a narrativa, o personagem infame está ciente de seu caráter desprezível. A cena do diálogo com Lisa, uma prostituta que encontra num bordel clandestino, é o ápice do escárnio retratado. “A cena toda é uma representação assombrosa da dissonância entre o ético e o estético: a bela pregação [literária, conforme dito pelo narrador-personagem] sai dos lábios de um pregador que não tem nada de belo”, afirma Boris Schnaider em seu texto “Dostoiévski: a ficção como pensamento”, citando o crítico R. G. Nazirov.

Os textos literários, jornalísticos e filosóficos se confundiram ao longo de toda a obra de Dostoiévski. Nesse livro, é possível notar traços de influência do escritor na prosa moderna que fez com que Otto Maria Carpeaux o definisse como o mais poderoso escritor do século XIX ou XX.

Logo no começo, é possível notar a instituição do subterrâneo como um lugar metafórico para os conflitos internos. Além disso, como afirma Schnaiderman na introdução, “aquela subjetividade agressiva e torturada do narrador-personagem, o seu discurso alucinado, sua veemência desordenada, o fluxo contínuo de sua fala, que parece estar sempre transbordando, pode ser ouvido por trás da obra de muitos escritores da modernidade”.


SOBRE O AUTOR [3] - Dostoiévski, sem sombra de dúvidas, é considerado um dos maiores romancistas não só do século XIX, mas até hoje no século XXI sua obra é atual pela forma como explora a psicologia humana. Seus personagens não são feitos de papel, são feitos de sangue. Nietzsche, por exemplo, (e aqui cito uma passagem tirada do belíssimo prefácio de Boris Schnaiderman, tradutor do livro) escreveu a Overbeck, seu amigo, uma carta sobre as impressões que lhe causou “Memórias do subsolo” e disse: “(...) A voz do sangue (como denominá-la de outro modo?) fez-se ouvir de imediato e minha alegria não teve limites”.

Dostoiévski é um condenado a imortalidade. Philip Roth em toda a sua obra, Scorcese em seu filme Taxi Drive, Wood Allen em “Crimes e pecados”, Nelson Rodrigues e seus personagens malévolos e muitos outros, que não vêm à memória neste momento, não teriam sido os mesmos sem a existência deste gênio incontrolável, instável, esse Hamlet moderno e rancoroso, habitante de Saint Petersburgo: Dostoievski. Um escritor que dispensa grandes apresentações.

Otto Maria Carpeaux (retirado também do prefácio de Boris Schnaiderman) disse o seguinte a respeito de Dostoiévski: “Existem poucos escritores cuja obra tenha sido tão tenazmente mal compreendida como a de Dostoievski. Dostoiévski é, senão o maior, decerto o mais poderoso escritor do século XIX; ou do século XX, pois sua obra constitui o marco entre dois séculos de literatura. Literariamente, tudo o que é pré-dostoiévskiano é pré-histórico; ninguém escapa a sua influência subjugadora, nem sequer os mais contrários”.

“Memórias do Subsolo” é o aquecimento para o colosso que veio a seguir, “Crime e Castigo”. E pasmem, senhores leitores aqui deste espaço, para essa minha vergonha que revelarei a todos vocês, essa autocrítica fruto de uma negligência, imprevidência e descuido. Ainda não li “Crime e castigo”.


SOBRE O LIVRO - Vamos à história? “Memórias do subsolo” é composto de duas partes. A primeira parte é uma confissão, um monólogo que revela para o grande público seus pensamentos mais íntimos. Ele ridiculariza, ri de si mesmo, e provoca a todos a reagirem contra ele. Pois bem, o autor fictício de “Memórias do subsolo”, que escreve na primeira pessoa, afirma logo de cara que ele tem as características do anti-herói.

“Sou um homem doente... Um home mau. Um homem desagradável.”

Escrito por um aposentado burocrata do governo de quarenta anos, vivendo com um servo a quem despreza, aponta suas flechas para uma plateia imaginária, a que ele se refere como “você” ou “meus senhores”. Alternadamente ele insulta e se humilha diante deles, (deles quem?). Das ideias ocidentais do progresso, das ideologias do egoísmo racional, do utilitarismo, dos pensadores alemães, como Kant “do bem e do belo”, dos socialistas de sua época, em outras palavras, de todas as suas influências.

Quando o narrador diz que dois mais dois é igual a quatro, este é um fato matemático, mas os homens não funcionam dessa forma, ou seja, matematicamente. A parte racional do homem civilizado é apenas uma maquiagem, ou seja, o homem é composto de ambos: do racional (dois mais dois são quatro) e do irracional. Se os homens funcionassem de forma puramente racional, eles seriam previsíveis. E o homem é um ser imprevisível.

“O que suaviza pois em nossa civilização? A civilização elabora no homem apenas a multiplicidade de sensações e... absolutamente nada mais. E através do desenvolvimento dessa multiplicidade, o homem talvez chegue ao ponto de encontrar prazer em derramar sangue.”

“... Pelo menos, se o homem não se tornou mais sanguinário com a civilização, ficou com certeza sanguinário de modo pior, mais ignóbil que antes. Outrora, ele via justiça no massacre e destruía, de consciência tranquila, quem julgasse necessário; hoje embora consideremos o derramamento de sangue uma ignomínia, assim mesmo ocupamo-nos com essa ignomínia, e ainda mais que outrora” (pgs. 36 e 37)

O narrador revela-se incapaz de tomar decisões ou agir com confiança. Ele explica que essa incapacidade é devido à sua “hiperconsciência”, ou seja, ao seu grau intenso de consciência, capaz de imaginar as consequências de suas ações. Essa hiperconsciência faz com que ele perceba em si que é um fraco, mesquinho e covarde, compreendendo que não pode usufruir os prazeres da vida. Tudo isso faz com que ele se retire do mundo e migre para o seu subsolo, evitando fantasias sobre a vida e ao mesmo tempo sendo incapaz de fazer algo produtivo para si mesmo.

Essa amargura por inação acaba criando em torno de si uma quantidade imensa de dúvidas e questões não resolvidas, metade desespero, metade crença. Ele está consciente que está enterrado vivo no seu subsolo durante quarenta anos nesse estado de hiperconsciência e desesperança duvidosa, no inferno dos desejos insatisfeitos. E à medida que lemos, vamos chegando perto desse pântano autogerado e impenetrável.

Na segunda parte do livro, “A propósito da neve molhada”, o narrador revela dois incidentes em de sua vida pessoal que foram importantes para ele. O primeiro, com um oficial e o segundo, com uma prostituta. Ele conhece um oficial por acaso em uma situação social que lhe dá um empurrão, ele se sente humilhado. Ele passa anos de sua vida trabalhando uma maneira de retaliar esse empurrão. Ele imagina todas as situações possíveis de encontros. Até que um determinado dia esse oficial aparece e eles se chocam. O narrador considera-se vingado e o oficial não deu a mesma importância que o narrador deu, ou seja, para o oficial nada de importante aconteceu.

O segundo incidente ocorre após uma festa para a qual ele não fora convidado. Ninguém o queria lá, mas ele permanece só de maldade. Desprezado por todos os convidados, que se retiram para outro lugar sem convidá-lo, diz para si que pretende desafiar um dos homens para um duelo e sai a procura desse homem. Acaba conhecendo Lizza, uma prostituta. Mas fico por aqui.

“Memórias do Subsolo” é uma acusação da insuficiência humana e de sua racionalidade, e ao mesmo tempo é uma forma desesperada do próprio narrador de querer se encaixar nesse mundo que ele tanto despreza. O resultado disso tudo? Um livro perturbador, que se agarra em um imaginário fio da esperança solitariamente, sabendo que ele nunca será encontrado, apenas encontrará os males psicológicos assombrando egos esbofeteados. Podemos chegar à conclusão no final desse desabafo de sentirmos luto por nós mesmos, devida à nossa própria insuficiência, e sermos convidados pela vida a habitar os nossos subsolos. Mas caberá a você, leitor, a decisão.

Um livro genial. “Memórias de um subsolo” é um livro que merece um lugar de honra na sua estante.


NOTAS - Transcrevo abaixo, alguns trechos da obra “Memórias do subsolo” ou “Notas do subterrâneo”, dependendo do tradutor, do célebre escritor [e psicólogo] russo Fiódor Dostoiévski.

“Ah! Senhores! É possível que eu me considere extremamente inteligente pela única razão de que, em toda a minha vida, nunca pude começar nem acabar fosse o que fosse. Não passo pois de um tagarela, de um tagarela inofensivo, de um impertinente como nós todos. Mas que fazer, senhores, se o destino de todo homem inteligente é tagarelar, isto é, derramar água em uma peneira?” [p.30-31]

“Que faremos então desses milhões de fatos que atestam os homens, tendo embora perfeita consciência do seu interesse, o relegam a segundo plano e enveredam por um caminho totalmente diferente, cheio de riscos de acasos? Não são, entretanto, forçados a isso; mas parece que querem precisamente evitar a estrada que se lhes indicava, para traçar livremente, caprichosamente, uma outra, cheia de dificuldades, absurda, mal reconhecível, obscura. É que essa liberdade possui a seus olhos mais atrativos que seus próprios interesses… O interesse! Que é o interesse? Vós vos empenhais em me definir com toda a exatidão em que consiste o interesse do homem? Que direis vós se um belo dia se vem a descobrir que o interesse humano, em certos casos, pode ou mesmo deve consistir em desejar não uma vantagem, mas um mal? Se é assim, se esse caso se pode apresentar, então tudo desmorona. Que pensais disso? Tal caso pode se apresentar?” [p.33]


“Com licença! Vamos nos explicar; não é com jogos de palavras que se pode esclarecer a questão. O que faz a singularidade dessa coisa, desse interesse, é que ele destrói todas as nossas classificações e altera todos os sistemas edificados pelos amigos do gênero humano para a felicidade do homem. Em uma palavra, é um embaraço, um obstáculo. Mas, antes de vos apontar essa coisa, quero me comprometer pessoalmente, e afirmo então com altivez que todos esses belos sistemas, que todas essas teorias que pretendem explicar à humanidade em que que consistem seus interesses normais, a fim de que ela se torno logo virtuosa e nobre no seu esforço para atingir ditos interesses, declaro que tudo isso não passa de logística. Sim, pura logística!” [p.35]

“(…) O sangue corre em borbotões, alegremente mesmo, como champanha. Vede nosso século XIX (…) Então, em que é que a civilização nos adoça? A civilização não faz mais que desenvolver em nós a diversidade das sensações… nada mais. E, graças ao desenvolvimento dessa diversidade, é muito possível que o homem acabe por descobrir uma certa volúpia no sangue. (…) Mas se a civilização não tornou o homem mais sanguinário, tornou-o sem dúvida mais sordidamente, mais covardemente sanguinário. Antigamente, o homem considerava que tinha o direito de derramar sangue, e era com a consciência bem tranquila que destruía o que bem lhe parecia. Hoje, embora considerando a efusão do sangue uma ação condenável, nem por isso deixamos de matar, e mais frequentemente ainda do que antes. (…)” [p.36]

“Que sabe a razão? A razão não sabe senão o que aprendeu (…), ao passo que a natureza humana age com todo o seu peso, por assim dizer, com tudo o que ela contém em si, consciente e inconscientemente; acontece-lhe cometer disparates, mas vive.” [p.41]

“Em uma palavra, pode-se dizer tudo da história universal, tudo o que se apresentar à imaginação mais desregrada. Mas é impossível dizer que ela é racional; equivocar-vos-eis desde a primeira sílaba. E, ademais, eis ainda o que se passa constantemente: homens aparecem, sensatos e de bons costumes, filantropos, cujo fim é levar uma existência racional e honesta, a fim de agirem pelo exemplo sobre seus semelhantes e de lhes provarem que é possível viver sabiamente. Mas que acontece, então? Sabe-se que grande número desses amantes da sabedoria acabam, mais cedo ou mais tarde, por trair suas ideias e se comprometem em escandalosas histórias. Pois bem! Eu vos pergunto: o que se pode então esperar do homem, desse ser dotado de qualidades tão estranhas?” [p.43]

“(…) quereis libertar o homem de seus antigos hábitos e corrigir lhe a vontade segundo os dados da ciência e conforme o senso comum. Mas como sabeis que o homem pode e deve ser corrigido? De onde concluístes, que a vontade do homem deve necessariamente ser educada? Em uma palavra: por que pensais que essa educação lhe é realmente útil?” [p.45]

“(…) Ora, senhores, “duas vezes dois igual a quatro” é um princípio de morte e não um princípio de vida. (…) / É verdade que o homem não se ocupa senão da procura desses “duas vezes dois igual a quatro”; atravessa oceanos, arrisca a vida em sua perseguição; mas quanto a encontrá-los, quanto a apanhá-los realmente – juro-vos que tem medo, pois ele se dá conta de que, uma vez encontrados, nada mais tem a fazer. (…) Tenta aproximar-se do fim, mas, tão logo o atinge, não está mais satisfeito; e isso é verdadeiramente bem cômico. Em uma palavra: o homem é construído de uma maneira muito cômica, e tudo isso faz o efeito de um trocadilho. Mas, seja como for. “duas vezes dois igual a quatro” é uma coisa bem insuportável.” [p.47]

“Um homem decente e cultivado não pode ser vaidoso sem uma ilimitada exigência em relação a si mesmo e sem se desprezar, em certos momentos, até o ódio. Mas, quer desprezando, quer colocando as pessoas acima de mim, eu baixava os olhos diante de quase todos que encontrava.” [p.57]

“Em casa, o que mais fazia era ler. Tinha vontade de abafar com impressões exteriores tudo o que fervilhava incessantemente. E, quanto a impressões exteriores, só me era possível recorrer à leitura. Naturalmente, ela me ajudava muito: perturbava-me, deliciava-me, torturava.” [p.61]

“O amor é um mistério de Deus e deve ser oculto de todos os olhares estranhos, aconteça o que acontecer. Deste modo, tudo é mais santo, tudo é melhor. Eles se respeitarão mais um ao outro, e muita coisa baseia-se no respeito mútuo.” [p.112]



AQUISIÇÃO DO LIVRO – Adquira o livro clicando na imagem acima.

Nenhum comentário: