terça-feira, 13 de agosto de 2019

O SÍMBOLO PERDIDO [Resenha]


BROWN. Dan. O Simbolo Perdido. Rio de janeiro, RJ: Sextante, 2009.


SINOPSE OFICIAL DO LIVRO - “Chamado por seu amigo Peter Solomon para dar uma palestra em Washington, Robert Langdon viaja até a capital americana, mas ao entrar no palco para iniciar a palestra descobre que tudo aquilo foi uma forma de atrai-lo até ali para iniciar uma busca por um antigo portal místico que tornaria possível a Apoteose. (Transformação do Homem em Deus). Robert se vê então forçado a colaborar com Mal`akh, vilão que esquematiza todos os passos de Langdon para que este decifre e revele o segredo da Pirâmide Maçônica (lenda maçônica onde estaria guardados os antigos mistérios da humanidade), para que assim Mal`akh tenha acesso ao poder prorrogado pela lenda dos Antigos Mistérios. No desenrolar da trama Robert recebe ajuda de Katherine Solomon, irmã de Peter, que está sendo mantido refém pelo vilão. Katherine é uma pesquisadora de um novo ramo da ciência, a Ciência Noética e, juntos, vão decifrando os segredos escondidos na Pirâmide e se aproximando cada vez mais do grande Símbolo Perdido, palavra que quando entendida daria ao homem um poder sobre-humano.”


O AUTOR [1] – Dan Brown, nascido em 22 de junho de 1964 em Exeter, New Hampshire, é um autor norte-americano que escreve histórias bem pesquisadas e tramas intricadas. Ele é mais conhecido pela série de Robert Langdon, que inclui como destaque O Código Da Vinci(2003).

Brown frequentou a Phillips Exeter Academy, uma escola preparatória onde seu pai era professor de matemática e, em 1986, se formou em Inglês e Espanhol pela Amherst College, de Massachussets. Depois mudou-se para a Califórnia para tentar seguir carreira como compositor. Embora tenha tido pouco sucesso na indústria musical, escreveu seu primeiro livro, junto de sua esposa, Blythe Newlon, em 1990. 187 Men to Avoid, um guia de sobrevivência em encontros para mulheres, foi publicado em 1995 sob o pseudônimo de Danielle Brown.

Em 1993, Brown se juntou a corpo docente da Exeter como professor de inglês e escrita criativa. Alguns anos depois, o Serviço Secreto dos Estados Unidos foi à escola interrogar um aluno que havia escrito um e-mail em que brincava sobre matar o presidente. O incidente despertou o interesse de Brown em agências secretas de inteligência, formando a base para o seu primeiro thriller, Fortaleza Digital (1998). Focado em organizações clandestinas e criptografia, o livro se tornou um modelo para os próximos trabalhos de Brown. Em seu próximo livro, Anjos e Demônios (2000), ele apresentou Robert Langdon, um professor de simbologia de Harvard. A trama de ritmo acelerado segue os esforços de Langdon para proteger o Vaticano dos Illuminati, uma sociedade secreta formada durante a Renascença que se opunha à Igreja Católica Romana. Embora tenha recebido resenhas positivas, o livro não foi um sucesso de vendas.

Depois de seu terceiro livro, Ponto de Impacto (2001), Brown trouxe Langdon de volta em O Código Da Vinci, um thriller focado em História da Arte, origens do Cristianismo, e teorias arcanas. Tentando solucionar o assassinato do curador do Louvre, Langdon se depara com organizações (Opus Dei e o Priorado de Sião), discute as mensagens escondidas nas obras de Leonardo Da Vinci, levanta a possibilidade de Jesus ter casado com Maria Madalena e se tornado pai, e encontra o Santo Graal. O Código Da Vinci causou muita controvérsia, e muitos teólogos e estudiosos da arte descartaram suas ideias. O livro, entretanto, se tornou incrivelmente popular com o leitores. Em 2009, mais de 80 milhões de cópias haviam sido comercializadas, e suas edições estavam disponíveis em mais de quarenta idiomas. O grande interesse pela história resultou em uma enorme quantidade de livros relacionados e impulsionou as vendas dos livros anteriores de Brown; em 2004, todos os quatro livros apareceram na lista de best-sellers do The New York Times. As adaptações cinematográficas de O Código Da Vinci e Anjos e Demônios estrearam em 2006 e 2009, respectivamente, com Tom Hanks no papel de Robert Langdon.


O LIVRO [2] - Ao iniciar a leitura de “O Símbolo Perdido” tem-se a sensação de que (para aqueles que já leram os outros livros de Dan Brown) a história está se repetindo. Isso, no entanto, não surpreende o leitor mais atento, pois uma das características mais latentes das obras de Dan Brown é justamente a estrutura básica de todas as suas obras, que se repetem (com alguma alteração aqui e ali em cada obra) religiosamente em todos os seus trabalhos. É importante deixar claro, porém, que essa característica não chega a ser um defeito ou uma falta de criatividade do autor, mas sim a simples repetição de uma fórmula que deu muitíssimo certo no estilo literário que o autor segue.

“O Símbolo Perdido” é uma obra relevante em vários sentidos. Acrescenta muito conhecimento ao leitor à medida que o autor descreve as razões que motivam os personagens e o contexto histórico em que a história se desenvolve, incita sua curiosidade (pois quem não correu no “google” para pesquisar sobre as informações mostradas no texto?), é uma obra bem estruturada e mantém de forma natural e fluída a tensão, que cresce com a história até um ponto quase insuportável.

A estrutura da história é outro ponto alto da obra, pois cria as condições de mistério e tensão necessárias que crescem naturalmente ao longo da história e joga o leitor dentro daquele universo repleto de segredos, mentes espetaculares, manipulações e lições históricas que fazem parte da cultura mundial. Uma verdadeira aula de história para aqueles mais curiosos e ávidos por saber mais sobre o mundo.

O desenvolvimento das personagens também é uma característica que enriquece o texto, pois é feita em doses calculadas ao longo da história e fornece ao leitor informações importantes e interessantes a respeito de suas motivações e seus planos, descrevendo meticulosamente cada passo dado de forma a criar na mente do leitor o cenário exato dos acontecimentos. Criando um mosaico aparentemente desconexo de atos, mas que se juntam quase que por mágica para formar um plano bem elaborado e cuidadosamente estruturado. A ambiguidade das personalidades presentes na história também contribui para o clima de tensão, pois o leitor nunca tem certeza de que lado certo personagem está e o que ele pretende com suas ações até que todo o plano geral é revelado.

Assim como nas demais obras de Dan Brown, as inúmeras reviravoltas presentes na história enriquecem a narrativa, impondo ritmo e tensão e criando uma sensação de urgência, prendendo o leitor à narrativa à medida que os segredos são revelados aos poucos. O curto período de tempo no qual a história se passa também contribui para esse ritmo e essa sensação de perigo presente nas sequências, pois a riqueza com que cada ação é descrita fornece base suficiente para aumentar o clima eufórico da ação.

No entanto a narrativa, que se fixa no real e na cultura mundana para basear a história, às vezes peca pelos excessos e até mesmo bizarrices ao longo da história, fazendo com que o desenvolvimento dos fatos e a importância que a história tem, justamente por se tratar de assuntos que supostamente são reais, se distancie da realidade ao narrar situações que dificilmente poderiam ocorrer ou que soam quase impossíveis considerando o local onde acorrem e os tipos das personagens envolvidas. Esses fatos, mesmo que sejam poucos, tiram um pouco o sentido de veracidade da história e contribui para classificar “O Símbolo Perdido” como um simples, mas bem estruturado, romance sobre os segredos da maçonaria e das sociedades secretas existentes nos EUA e não como uma referência sobre o assunto, mesmo que esse não seja o objetivo do autor.

Outro ponto importante a ser destacado na história diz respeito alguns detalhes sobre as manobras do vilão que são deixadas de lado, talvez, porque o autor não achasse importante para a história, mas que, de certo modo deixa algumas pontas soltas. Exemplo disso é o modo como o vilão consegue se infiltrar na fraternidade sem deixar suspeitas e de que modo ele conseguiu atingir o mais alto grau da hierarquia maçônica.

A ciência noética, conceito novo para os leitores e desconhecido para a grande maioria, também é abordada de uma maneira superficial e subestimada, pois apenas os conceitos que seriam aproveitados pela história são expostos e este, expostos de maneira precária pelo autor, deixando dúvidas sobre os resultados da pesquisa e qual razão teria a existência de um laboratório milionário superequipado com tecnologia de ponta, visto que boa parte da pesquisa foi sequer citado.

O laboratório de ciência noética criado por Brown também se distancia de algo crível, pois sua concepção o torna praticamente surreal e, nas notas não é citado se ele é real ou não, deixando mais dúvidas sobre a noética do que esclarecendo sua importância na ciência moderna e até mesmo para a história.

No entanto Dan Brown merece crédito também por tentar se distanciar de suas demais obras ao acrescentar elementos inéditos em "O Símbolo Perdido" e colocar Robert Langdon em situações cada vez mais perigosas e improváveis, levando seu personagem ao limite em algumas ocasiões.

"O Símbolo Perdido" é um livro fantástico, intenso, interessante e fascinante. Aborda temas conhecidos, mas que se escondem debaixo de lendas e teorias, e prende o leitor de uma forma completamente honesta, incitando a imaginação a cada página e dando uma lição histórica a cada capítulo, permeados com momentos de tensão, desespero e ação. É um livro que vale a pena ser lido, entendido e apreciado. E, mesmo que tenha alguns defeitos e tropeços, não deixa de ser uma brande obra de ficção baseada na realidade.


O PRÓLOGO

Casa do Templo
20h33

O segredo é saber como morrer. Desde o início dos tempos, o segredo sempre foi saber como morrer. O iniciado de 34 anos baixou os olhos para o crânio humano que segurava com as duas mãos. O crânio era oco feito uma tigela e estava cheio de vinho cor de sangue. Beba, disse ele a si mesmo. Você não tem nada a temer.

Como rezava a tradição, ele havia começado aquela jornada vestido com os trajes ritualísticos de um herege medieval a caminho da forca, com a camisa frouxa deixando entrever o peito pálido, a perna esquerda da calça arregaçada até o joelho e a manga direita enrolada até o cotovelo. De seu pescoço pendia um pesado nó feito de corda - uma "atadura", como diziam os irmãos. Nessa noite, porém, assim como os companheiros que assistiam à cerimônia, ele estava vestido de mestre.

O grupo que o rodeava estava todo paramentado com aventais de pele de cordeiro, faixas na cintura e luvas brancas. Em volta do pescoço usavam joias cerimoniais que cintilavam à luz mortiça como olhos espectrais. Muitos daqueles homens ocupavam cargos de poder lá fora, mas o iniciado sabia que suas posições mundanas nada significavam entre aquelas paredes. Ali todos eram iguais, irmãos unidos pelo juramento compartilhando um elo místico.

Correndo os olhos pelo impressionante grupo, o iniciado se perguntou quem, no mundo exterior, seria capaz de acreditar que todos aqueles homens pudessem se reunir em um mesmo lugar... Principalmente naquele lugar. O recinto parecia um santuário sagrado do mundo antigo.

A verdade, porém, era ainda mais estranha.

Estou a poucos quarteirões da Casa Branca.

Aquele edifício colossal, situado no número 1.733 da Rua 16 Noroeste, em Washington, D.C., era a réplica de um templo pré-cristão - o Templo do Rei Mausolo, o primeiro mausoléu... Um lugar para onde se era levado após a morte. Diante da entrada principal, duas esfinges de 17 toneladas montavam guarda ao lado das portas de bronze. O interior era um labirinto de câmaras ritualísticas, corredores, alcovas secretas, bibliotecas e até mesmo um compartimento contendo os restos mortais de dois corpos humanos. O iniciado havia aprendido que cada cômodo daquele edifício guardava um segredo, mas sabia que nenhum deles ocultava mistérios mais profundos do que a câmara colossal, na qual se encontrava agora, ajoelhado, segurando um crânio nas mãos.

A Sala do Templo.

Sua forma era a de um quadrado perfeito. E o ambiente era sombrio e grandioso. O teto altíssimo se erguia a surpreendentes 30 metros, sustentado por colunas monolíticas de granito verde. Ao redor da sala, fileiras de cadeiras russas de nogueira escura, estofadas com couro de porco trabalhado à mão, estavam dispostas em níveis. Um trono de 10 metros de altura dominava a parede oeste, e um órgão escondido ocupava o lado oposto. As paredes eram um caleidoscópio de símbolos antigos... Egípcios, hebraicos, astronômicos, alquímicos e outros ainda desconhecidos.

Nessa noite, a Sala do Templo estava iluminada por uma série de velas minuciosamente posicionadas. Seu brilho fraco era complementado apenas por um facho de luar que entrava pela ampla claraboia do teto jogando luz sobre o elemento mais surpreendente da sala - um imenso altar feito de um bloco maciço de mármore belga preto polido, situado bem no meio do recinto quadrado.

O segredo é saber como morrer, lembrou o iniciado a si mesmo.

– Chegou a hora - sussurrou uma voz.

O iniciado deixou seu olhar subir até o rosto do distinto personagem vestido de branco à sua frente. O Venerável Mestre Supremo. O homem, de quase 60 anos, era um ícone norte-americano, estimado, robusto e dono de uma fortuna incalculável. Seus cabelos outrora escuros estavam ficando grisalhos, e o semblante conhecido refletia uma vida inteira de poder e um vigoroso intelecto.

– Preste o juramento - disse o Venerável Mestre, com uma voz suave feito a neve. - Complete sua jornada.

A jornada do iniciado, assim como todas as daquele tipo, havia começado no grau 1. Naquela noite, em um ritual parecido com este de agora, o Venerável Mestre o vendara com uma faixa de veludo e pressionara uma adaga cerimonial contra seu peito nu, indagando:

– Você declara seriamente, pela sua honra, sem influência de motivações mercenárias ou quaisquer outras considerações indignas, candidatar-se de forma livre e espontânea aos mistérios e privilégios desta irmandade?

– Sim - Havia mentido o iniciado.

– Então que isso seja um estímulo à sua consciência - alertara o mestre -, bem como a morte instantânea caso algum dia você venha a trair os segredos que lhe serão revelados.

Na época, o iniciado não sentira medo. Eles jamais saberão meu verdadeiro motivo para estar aqui.

Nessa noite, porém, uma atmosfera de ameaçadora solenidade pairava na Sala do Templo, levando-o a rememorar todos os avisos severos recebidos durante a jornada, ameaças de punições terríveis caso ele algum dia revelasse os antigos segredos que estava prestes a conhecer: garganta cortada de orelha a orelha... Língua arrancada pela raiz... Entranhas removidas e queimadas... Espalhadas aos quatro ventos... Coração retirado do peito e jogado aos animais selvagens...

– Irmão - disse o mestre de olhos cinzentos, pousando a mão esquerda no ombro do iniciado. - Preste o juramento final.

Tomando coragem para dar o último passo de sua jornada. - O iniciado endireitou o corpo e voltou sua atenção para o crânio que segurava nas mãos. À fraca luz das velas, o vinho cor de carmim parecia quase negro. Um silêncio sepulcral reinava na sala, e ele podia sentir os olhos das testemunhas cravados nele, à espera que prestasse o juramento final e se unisse àquele grupo de elite.

Hoje à noite, pensou ele, entre estas paredes, está acontecendo algo que nunca aconteceu antes na história desta irmandade. Nem sequer uma vez em séculos.

Ele sabia que aquilo seria a faísca... E que lhe daria um poder inimaginável. Cheio de energia, respirou fundo e repetiu as mesmas palavras pronunciadas antes dele por incontáveis homens espalhados por todo o mundo.

– Que este vinho que agora bebo se transforme em veneno mortal para mim... Caso algum dia eu descumpra meu juramento de forma consciente ou voluntária.

Suas palavras ecoaram no espaço oco. Então, o silêncio foi total.

Firmando as mãos, o iniciado levou o crânio à boca e sentiu os lábios tocarem o osso seco. Fechou os olhos e o inclinou, bebendo o vinho em goles demorados, generosos. Depois de sorver tudo até a última gota, abaixou o crânio.

Por um instante, pensou sentir os pulmões se contraírem e seu coração começou a bater descompassado. Meu Deus, eles sabem! Então, com a mesma rapidez que havia surgido, a sensação passou.

Um agradável calor começou a percorrer seu corpo. O iniciado soltou o ar, sorrindo consigo mesmo enquanto observava o homem de olhos cinzentos que não desconfiava de nada e que acabara de cometer o erro de deixá-lo entrar para o círculo mais secreto de sua irmandade. Você logo perderá tudo o que lhe é mais precioso.

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[1] Biografia de Dan Brown, publicado originalmente e disponível in: <https://rededeleitores.com/2017/10/09/biografia-dan-brown/> Acesso 13 agosto 2019.
[2] Resenha originalmente publicada no blog: <http://fanaticreader.blogspot.com/2012/11/critica-o-simbolo-perdido.html>

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