sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A SUPREMACIA E A SUFICIÊNCIA DE CRISTO [Resenha]


NICODEMUS, Augustus. A Supremacia e a Suficiência de Cristo: A Mensagem de Colossenses para a Igreja de Hoje. São Paulo: Vida Nova, 2013.


A heresia de Colossos tinha este nome pois existia unicamente, naquela época, na igreja de Colossos. Tal heresia consistia numa combinação atraente de práticas legalistas, promessas místicas, rituais ascéticos e conhecimento gnóstico. Seus defensores ensinavam que a salvação era alcançada mediante um conhecimento secreto, que não fora revelado nem mesmo aos apóstolos originais, do qual eles, os mestres gnósticos, eram guardiães. Esse conhecimento tinha a ver com entes celestiais que funcionariam como mediadores e requeriam adoração e culto para mediar o caminho através do pleroma, a plenitude espacial entre Deus e os homens. 

A origem desta heresia é de cunho judaica pois começou nas sinagogas, pois alegavam que era preciso praticar a Lei de Moisés, especialmente a circuncisão, a observância do calendário judaico, da dieta levítica e a abstinência de prazeres ainda que lícitos, mediante rigor ascético. Também continha elementos cristãos, visto que falava a respeito de cristo, da salvação e de Deus. Ensinavam o conceito grego de dualismo, que era muito comum naquela época. Num mundo fortemente influenciado pelas ideias do filósofo grego Platão, as pessoas viam a vida separada em dois compartimentos: um deles de caráter inferior, onde ficavam as realidades materiais; e outro de caráter superior, onde ficavam as realidades espirituais. Os falsos mestres defendiam novas revelações, conhecimento privilegiados de alguns, misticismo e legalismo – tudo em nome de Jesus. [p.7] 

A resposta de Paulo ao desafio da heresia de Colossos foram a supremacia da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Neles os crentes encontram gratuitamente tudo o que pertence à salvação. Nele estão aperfeiçoados. Nele reside toda a plenitude e todo o conhecimento. Acrescentar a Cristo alguma coisa é negar sua pessoa e obra. Acredito que esta é a mensagem que precisa ser pregado urgentemente nos púlpitos brasileiros: Cristo, o Senhor. [p.8] Depois de Paulo, Deus levantou homens como Irineu e Tertuliano, que combateram a heresia de Colossos. 

Paulo, quando escreveu esta carta ele estava preso na capital do Império Romano, conforme descrito em Atos 28. Na própria epístola ele deixa transparecer isto quando escreveu “lembrem-se das minhas algemas” (Cl 4.18). E na prisão, recebeu a visita de um cristão chamado Epafras e conversou com ele acerca de uma dificuldade que estava enfrentando como pastor – a infiltração de uma perigosa heresia entre os irmãos que apascentava. Paulo considera essa religião sincrética extremamente perigos e foi para combate-la que escreveu a carta aos colossenses. 

O livro possui além do prefácio e introdução, 4 capítulos e está assim dividido:
1. A pessoa e a obra de Cristo, 1.1-23;
2. A proclamação do Evangelho e o combate às heresias, 1.24- 2.23;
3. Uma vida focada em Cristo e nas coisas de cima, 3.1-17;
4. A fé posta em prática, 3.18 – 4.18.
Finalmente, há as Conclusões Gerais. Nesta resenha iremos trabalhar de forma descritiva, trabalhando pontos com a intenção de despertar e fomentar o desejo dos leitores por esta significativa obra. 


No CAPÍTULO 1, Nicodemus trabalha sobre a pessoa e a obra de Cristo. O tema central da epístola aos colossenses é a suficiência de Cristo para a vida e a salvação. E o cerne da proclamação de Paulo reside no fato de que Jesus é o cabeça do corpo e de que, nele, está a plenitude: ele criou todas as coisas e está acima de toda a criação. Este primeiro capítulo ele está dividido em duas partes: 

1. A oração de Paulo pelos crentes em Colossos - Paulo inicia este capítulo orando pelos crentes e na medida que vai orando ele refuta as heresias dos gnósticos: (1) Paulo roga ao Senhor que eles sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus e não das heresias e dos falsos ensinos que estavam sendo propagados. Pois para os gnósticos todo o conhecimento adquirido era instantâneo, por meio de uma suposta iluminação. (2) Paulo ressalta que ora para que os crentes vivam da maneira digna do Senhor, pois o verdadeiro conhecimento tem se traduzir na prática, ou seja, vivendo de maneira digna do Senhor, vivendo ao contrário da ética dos gnósticos, que viviam de forma legalista. (3) Paulo também ora para os crentes frutifiquem em boas obras, ou seja, produzam frutos, abençoe as pessoas e façam aquilo que agrada a Deus. (4) Finalmente Paulo pede que os crentes em Jesus seja, fortalecidos com todo vigor, segundo o poder da sua glória. Portanto Paulo ora pelos irmãos para que tenham o pleno conhecimento de Deus e andem de maneira digna do Senhor. Eles não precisam de mais nada: já receberam tudo em Cristo e seria tolice dar ouvidos a falsos ensinamentos. 

2. Paulo teologiza a pessoa e a obra de Cristo – Paulo, como grande apologista que era, o apóstolo mostra que, muitas vezes, a melhor maneira de combater um erro ou de confrontar falsos mestres não é apontar as falácias da falsa doutrina, mas ensinar a verdade. Isso porque, uma vez que a verdade é transmitida com clareza, o erro vem à tona com todas as suas cores. Portanto, Paulo menciona seis consequências de Cristo ser o primogênito de toda a criação e de nele todas as coisas terem sido criadas. 

Augustos Nicodemus, esboça assim:
a) Ele antes de todas as coisas, 1.17
b) Nele tudo subsiste, 1.17b.
c) Ele é o cabeça do corpo da igreja, 1.18.
d) Ele é o princípio de todas as coisas, 1.18
e) Ele é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha o primeiro lugar, 1.18b
f) Toda a plenitude em Cristo, 1.19-20 

Portanto, neste capítulo, os ensinamentos que aprendemos é que:

(1) A proclamação da pessoa e da obra de Cristo é o remédio contra os falsos ensinos. Em Cristo todas as coisas foram criadas. Ele é o cabeça do corpo, o primogênito e tem primazia sobre todas as coisas, pois nele está a plenitude. Jesus criou todas as coisas e está acima de toda a criação. “Com Cristo, não há necessidade dos ensinamentos apócrifos, da mediação dos poderes espirituais: não é preciso qualquer outra coisa que seja, exceto Jesus” [p.39]. 

(2) A salvação não é uma verdade esotérica, hermética, destinada a uns poucos, mas uma realidade anunciada universalmente. Deus se revela em Cristo a todos. O Filho é a imagem do pai invisível. O senhor se fez carne, visível e palpável, veio ao mundo e quer que o mundo inteiro o ouça e o veja. 

(3) O conhecimento da salvação é obtido pela pregação da Palavra. O Evangelho pertence a Deus e que o Senhor usa o homem para anunciar essa verdade através da pregação, exposição e instrução. 


No CAPÍTULO 2, a ênfase recai sobre dois aspectos: (1) O Mistério outrora oculto e agora revelado e (2) A oração de Paulo pelos crentes de Colossos. 

(1) O Mistério outrora oculto e agora revelado. Nicodemus escreve: “A referência a Cristo como “o mistério” de Deus se refere ao fato de que Jesus estava presente no Antigo Testamento, mas de maneira velada, oculta, misteriosa. Ele foi anunciado na antiga aliança por meio de tipos, figuras, símbolos e instituições – como sacrifícios ou o sacerdócio levítico. Ou seja, Jesus está na Bíblia judaica de forma oculta, misteriosa. No momento em que ele encarna, quando Deus assume uma figura humana, ocorre a revelação desse mistério. Cristo veio ao mundo, ele é a revelação de Deus e os apóstolos foram encarregado de explicar essa verdade. Todo “mistério” da Bíblia é mistério revelado. [p.51] O apóstolo Paulo tinha um único alvo na vida: cumprir o seu ministério. E seu ministério era declarar e ensinar “o mistério de Cristo”, a verdade que outrora estava oculto, mas que então fora revelada: Jesus é o Salvador do Mundo. [p.53]. O ensino de Paulo era uma refutação a heresia de Colossos que falava de um conhecimento misterioso que os libertaria do mundo e os levaria a Deus.

(2) A oração de Paulo pelos crentes de Colossos. O apóstolo de Cristo lutava em oração pelos colossenses para que permanecessem firmes – e é exatamente isso que ele pede: (a) Que os corações deles fossem animados e unidos em amor; (b) Que tivessem toda a riqueza da forte convicção do entendimento (uma certeza plena) e (c) Que compreendessem plenamente o mistério de Cristo. O cumprimento desses três pedidos ajudaria os crentes a evitar a heresia de Colossos que ensinava um conhecimento secreto, uma sabedoria elevada e teoricamente concedida aos iniciados. Estes três pedidos compõem refuta tal ensino, pois se alguém deseja sabedoria e conhecimento deve buscar a Jesus. 

Durante o restante deste capítulo, Nicodemus faz uma análise apologética de Paulo contra os quatros pontos da heresia de Colossos: 

(1) Gnosticismo (filosofia e sutilezas vazias) – um dos ensinos é de que havia entre os homens e Deus uma hierarquia que dominava os corpos celestes e o destino da humanidade. Os gnósticos ensinavam ainda um tipo de religião pagã segundo a qual acreditavam num mundo dominado por seres espirituais, que aprisionam o homem na terra. Para vencer essa prisão, as pessoas precisavam agir de determinada maneira, cumprir certas regras, mortificar o corpo para, só então, ascender a Deus por meio de um conhecimento secreto que só eles possuíam. [p.61]. Os gnósticos ensinavam ainda que era necessário esse conhecimento ou aperfeiçoamento através de crescimento espiritual. Eles listavam patamares dentro da espiritualidade: o material, seguido pelo carnal, o psíquico e, por fim, o pneumático. Havia, então, pelo menos quatro níveis na ascensão gnóstica do conhecimento para se chegar a Deus. No entanto, Paulo que aquilo era desnecessário, pois os cristãos já estão aperfeiçoados em Cristo, de uma vez por todas. [p.63] Boa parte do ensinamento deles derivava da filosofia grega e do neoplatonismo. Ensinavam, em especial, o pensamento de que a realidade era dividida entre um mundo espiritual bom e um mundo material inferior e mau. É o chamado dualismo. 

(2) Legalismo (Sombras das coisas que haveriam de vir) – Um outro ingrediente da famigerada heresia que ameaçava a igreja daquela cidade era o legalismo. Podemos considerar o legalismo qualquer teoria de salvação de pecados que acrescente uma ou mais regra ou norma à obra completa de Cristo. Os legalistas geralmente não negam Jesus, apenas acrescentam algo ao evangelho. Essa visão não se contenta com o Senhor, mas estabelece como necessário mais algum ritual, norma ou crença além de Cristo. O legalismo nunca abandonou o cristianismo, sempre esteve presente em maior ou menor medida. No século 21, estamos familiarizados com tentativas dentro do próprio meio evangélico de pessoas que querem escravizar a consciência e pautar a conduta dos cristãos por meio de normas e regras que não estão presentes na Palavra de Deus. Isso sem mencionar os que colocam tais regras como condições para a salvação. [p.67] 

(3) Misticismo (sobrenatural e espiritualidade distorcida) – A terceira tendência combatida na carta por Paulo é o misticismo, uma forma distorcida de espiritualidade. É caracterizado pelo emocionalismo e um apego ao sobrenatural destituído de conteúdo bíblico. Por ter origem nas religiões pagãs, o misticismo afirma que o bem e o mal são dois lados da mesma moeda. Portanto, por essa visão, Deus e o diabo seriam o mesmo, dependendo do ponto de vista pelo qual se olha, pois a espiritualidade mística não faz distinção entre o bem e o mal. Não é raro ver pessoas que defendem uma linha de espiritualidade baseada em contemplações e visões, mas com pouco conteúdo doutrinário ou teológico. Isso acaba levando ao contato com seres espirituais que estão ao nosso redor, em bora não sejam necessariamente do bem. [p.74] 

(4) Ascetismo (Preceitos e doutrinas dos homens) – A quarta tendência que Paulo combate na carta à igreja de Colossos é o ascetismo. Trata-se da abstinência de alimentos e prazeres lícitos dentro da fé bíblica e da promoção da autoflagelação, com o objetivo de supostamente alcançar um nível superior de espiritualidade ou de comunhão com Deus. Por definição, é o ensino que diz que é preciso abster-se e punir-se para crescer espiritualmente. Geralmente os movimentos ascéticos negam a legitimidade ou a necessidade de instituições como o casamento, pregam a abstinência de certas comidas e bebidas e advogam a autoflagelação. O objetivo seria mortificar a natureza humana e aproximar o fiel de Deus. 


No CAPÍTULO 3 temos a parte mais prática de Colossenses, em que Paulo diz aos irmãos de que maneira devem viver a vida cristã. É um ponto da mais alta importância, pois a heresia de Colossos fixava-se exatamente nisso; oferecia um caminho de perfeição e avanço espiritual, mas com base naquilo que o homem poderia fazer, em regras, normas, preceitos ascéticos. Só que nada disso tem eficácia para mortificar a natureza humana e conduzir o pecador a Deus. Paulo argumenta que para isso há outro caminho, que é o da união com o Cristo morto e ressurreto. Esse é o tema que domina o restante da carta. Paulo começa o capítulo 3 falando dessa união com Jesus (3.1-4) para, em seguida, começar a tratar dos efeitos disso na vida diária do cristão. Primeiro, em termos de se despojar da velha natureza (3.5-11) e, depois, acerca das implicações de se revestir do novo homem (3.12 – 4.1-6). A apóstolo fala dos deveres familiares, sociais e eclesiásticos dos crentes e termina com saudações, por meio das quais é possível conhecer mais a respeito dos irmãos encarcerados na prisão de Roma. [p.83-84] Portanto, a Bíblia ensina que a união da igreja com Cristo é a única base de onde provém o poder necessário para que os cristãos vençam a natureza pecaminosa. Essa natureza pecaminosa exerce um poder muito grande, tentando arrastar o cristão para males como prostituição, lascívia, desejo mau, maledicência, idolatria, ira, indignação e cobiça. São, enfim, todas as emoções e pensamentos que infestam a nossa mente e o nosso coração. Como vencer isto? Essa é a luta de todo cristão. O caminho errado é tentar vencer por suas próprias forças, criando regras, impondo-se uma autodisciplina, estabelecendo limites, tomando determinações e fazendo propósitos – como os falsos mestres queriam que os crentes de Colossos fizessem pela guarda legalista das leis judaicas e pela prática ascética. O que Deus quer é que, diariamente, seus filhos busquem as coisas de cima, a comunhão com Cristo – seja estudando a sua Palavra ou orando em comunhão com ele. É preciso tomar posse dessa verdade, dos indicativos de Deus, pois é algo que já está feito, já foi realizado. Por isso Cristo bradou na cruz: “Está consumado” (Jo 19.30). Portanto, podemos tomar posse disso pela fé em nosso dia a dia. 


No CAPÍTULO 4, temos a fé posta em prática. Nicodemus diz que nesta última seção de Colossenses, Paulo continua suas orientações práticas para a para a igreja. Com foco em Jesus, o apóstolo torna as orientações mais detalhadas, em especial sobre os deveres que os crentes devem cumprir neste mundo. Primeiro ele fala dos deveres familiares (3.18-21). Em seguida, trata dos deveres sociais dos cristãos (3.22-41). O apóstolo prossegue abordando a questão dos deveres eclesiásticos (4.2-6). A epístola termina com orientações pessoais em referência a obreiros que estavam com Paulo, o qual deseja que a graça de Deus seja com todos aqueles irmãos. Esse trecho da epístola parece fazer parte de uma espécie de catecismo prático que era usado nas igrejas. É possível encontrar uma lista semelhante em Efésios 5.3-6.9, por exemplo. Talvez essa fosse uma cartilha utilizada pelos cristãos, que continha os deveres que deveriam praticar em sociedade. É muito relevante o fato de que, desde cedo, aos cristãos tenham sido atribuídos deveres e responsabilidade neste mundo. Cristianismo na igreja primitiva não era só aceitar determinadas doutrinas pregadas pelos apóstolos, mas era também viver segundo as consequências dessas doutrinas. Desse modo, havia deveres relacionados com a família, a sociedade e de uns para com os outros. Não importavam as circunstâncias em que determinada pessoa estivesse, como cristã ela tinha que se comportar de uma maneira já esperada. [p.111-112] 

Em Jesus somos plenamente salvos e santificados. Estamos unidos a ele em sua morte e ressurreição e de nada mais precisamos. Nele estamos completos, Ele é a base da nossa vida neste mundo. A partir dessa nossa união com ele, mortificamos a velha natureza, nos revestimos da nova, cumprimos nossos deveres e convivemos com os irmãos na igreja – com toda variedade e diversidade - até que o Senhor volte. 

Esta é a mensagem central dessa carta maravilhosa. Queira nosso Deus fazer com que não somente compreendamos essa mensagem, mas que a vivamos com toda intensidade e em toda sua plenitude. 


NOTAS 

Este livro é o segundo volume da série – A mensagem da Bíblia para a igreja de hoje – o qual fizemos uma postagem completa. Os autores desta série são: Augustus Nicodemus e Wilson Porte Jr. 

Para ler a resenha do primeiro, intitulado “O Culto segundo Deus: A Mensagem de Malaquias” acesse o link: 

Um comentário:

Ana Carolina Fernandes de Souza disse...

Muito bom, com sua postagem esclareceu muito a leitura que estou fazendo. (@esposatransformada)