sábado, 25 de agosto de 2018

TULIP: OS CINCOS PONTOS DO CALVINISMO À LUZ DAS ESCRITURAS [Resenha]


SPENCER, Duane Edwards. TULIP: Os Cincos Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras. São Paulo, SP: Edições Parakletos. 127p.


Este livro Trata-se de uma defesa simples e lógica dos 5 pontos do calvinismo, ilustrados pelo acróstico: TULIP. O autor, que apresenta grande aversão aos pressupostos arminianos, aponta já no prefácio alguns dos grandes proponentes do calvinismo: Spurgeon, hitefield, Knox, Warfield, Pink, entre outros. O livro não está dividido em capítulos, e sim, em tópicos que parece mais degraus, em que a medida que sobre, lhe dá uma visão ampliada que estabelece as diferenças bíblico-teologicas entre o Calvinismo e o Arminianismo.

[1]Um dos mais excitantes sinais de nosso tempo é o crescente interesse pelo estudo da Palavra de Deus e da Teologia Bíblica da Reforma. Ao invés de preferirem a literatura mundana de seus pais, muitos jovens estão lendo hoje livros tais como “A Escravidão da Vontade”, de Martinho Lutero, e as “Institutas”, de João Calvino. Na medida em que lêem e comparam a Teologia dos Reformadores Protestantes com suas Bíblias, começam a perceber que muito da teologia do evangelismo contemporâneo tem negligenciado a graça, e tem dado ênfase às obras da carne. Se eles forem além e estudarem a história da Teologia, aprenderão também que a doutrina da maioria das igrejas “evangélicas”, hoje, é a teologia humanista de Erasmo, de Roma. É neste ponto que eles começarão a perceber, exatamente, por que fundamentalistas e liberais, protestantes e católicos, episcopais e pentecostais podem trabalhar lado a lado, nas maiores cruzadas de reavivamento do século vinte. Aquilo que essas igrejas sustentam, em comum, é a exaltada doutrina a respeito do homem esposada por Erasmo, e sagacissimamente definida por Arminius, tornada popular por Wesley e, finalmente, polida por muitos psicólogos cristãos de nosso tempo. Estranho como possa parecer, há muitos hoje que insistem, dizendo que crêem na salvação pela graça, contudo insistem também em que o homem tem o poder de “tomar a decisão por Cristo”. Argumentam, dizendo que “Deus ama a todos igualmente e do mesmo modo”, porém estão certos de que ele está mandando algumas pessoas para o inferno. Afirmam que a Bíblia ensina que o Criador de todas as coisas, certamente, é onipotente, mas estão igualmente convencidos de que o homem finito é plenamente capaz de obstruir a vontade de Deus. Em quase todos os casos, o problema está no fato de essas estimadas pessoas não conhecerem a doutrina bíblica. Elas não têm ouvido dos púlpitos de suas igrejas coisa alguma senão algo a respeito do plano da salvação e sumários sermões doutrinários que informam esse plano! Se lhes pedíssemos que explicassem o significado de doutrinas tais como redenção, propiciação, reconciliação, remissão e expiação, essas pessoas se limitariam a murmurar trivialidades ou ficariam simplesmente sem ter o que dizer. Por quê? Simplesmente porque nunca foram ensinadas, nem tiveram o vigor espiritual necessário para, por si mesmas, descobrirem o que é que as Escrituras ensinam a respeito da obra de Cristo. Há, porém, uma coisa que elas sustentam em comum: A convicção de que o homem pode usar sua própria vontade positiva para aceitar a Cristo e garantir, por si mesmo, “sua salvação”. Muitos batistas, que pensam ser anti-calvinistas, não estão cientes do fato de que um de seus maiores pregadores – Charles Haddon Spurgeon – foi um sólido defensor dos cinco pontos do calvinismo. Este pregador de língua de ouro disse: “As velhas verdades que Calvino pregou, que Agostinho pregou, que Paulo pregou são as verdades que eu devo pregar hoje, ou, de outro modo, serei falso a minha consciência e a meu Deus. Eu não posso fabricar a verdade. Eu nada sei a respeito de como abrandar as ásperas arestas de uma doutrina. O evangelho de João Knox é o meu evangelho. Aquele evangelho que ribombou através da Escócia deve ribombar através da Inglaterra outra vez.” [2] 

Através da História, muitos dos grandes evangelistas, missionários e vigorosos teólogos sustentaram as preciosas doutrinas da graça, conhecidas como calvinismo. Por exemplo, William Carey enfatizou solidamente a predestinação, mas não hesitou em chamar o homem ao arrependimento de seus pecados e a confiar em Cristo. A soberania de Deus e a responsabilidade do homem em crer na Palavra de Deus não são doutrinas absolutamente incompatíveis. Uma vez que os ensinos básicos do calvinismo sejam corretamente compreendidos, o coração se aquece e a urgência de partilhar o evangelho com outros torna-se quase irresistível. Burns, da China, M’Cheyne, Whitfield, Brainerd, Bonar, Lutero, Knox, Latimer, Tyndale, Rutherford, Bunyan, Goodwin, Owen, Watson, Watts, Newton, Hodge, Warfield e Pink são apenas uns poucos gigantes do púlpito, cujas pregações brilharam com a doutrina da graça soberana. Todos eles proclamaram um fervente amém às seguintes palavras de Spurgeon: “Deleito-me em proclamar estas velhas e fortes doutrinas apelidadas de calvinismo, porque são certa e seguramente a verdade revelada por Deus, como ela está em Jesus Cristo.” [3]


Os Cinco pontos do Arminianismo – Neste primeiro tópico, é traçado em poucas palavras a história dos Cinco Pontos do Calvinismo que tiveram sua origem a partir de um protesto que os seguidores de Jacobus Arminius (Jakob Herman, um professor de seminário holandês) apresentaram ao “Estado da Holanda” em 1610, um ano após a morte de seu líder. O protesto consistia de “cinco artigos de fé”, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou conhecido na história como a “Remonstrance”, ou seja, “O Protesto”. O partido arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg) fossem mudados para se conformar com os pontos de vista doutrinários contidos no Protesto.

Os cinco artigos de fé contidos na “Remonstrance” podem ser resumidos no seguinte:
1. Vontade Livre - Deus elege ou reprova na base da fé prevista ou da incredulidade.
2. Eleição Condicional - Cristo morreu por todos os homens, em geral, e em favor de cada um, em particular, embora somente os que creem sejam salvos.
3. Expiação universal - Devido à depravação do homem, a graça divina é necessária para a fé ou qualquer boa obra.
4. A graça pode ser impedida - Essa graça pode ser resistida.
5. O homem pode cair da graça - Se todos os que são verdadeiramente regenerados vãos seguramente perseverar na fé é um ponto que necessita de maior investigação.


O Contraste – o segundo tópico, o autor trabalhou um breve contraste entre as duas posições à base do ponto a ponto. Ou seja, temos aqui, claramente as “linhas de batalhas” traçadas pelas afiadas mentes de ambos os lados. 


A Vontade de Deus – este é o terceiro tópico, e aqui dedicado inteiramente a descrever a Soberania de Deus manifesta através de sua vontade. Para realmente introduzir o leitor na fundamentação dos Cincos Pontos do Calvinismo, Spencer escreve: Com base nas Santas Escrituras, comecemos nossa comparação dos Cincos Pontos do Arminianismo com os Cincos Pontos do Calvinismo, estabelecendo a base bíblica a respeito da vontade e dos decretos de Deus. Quando falamos da vontade de Deus (Jeová), queremos dizer que ela não é senão expressão de seu Ser onipotente e onisciente. Se Ele é onipotente, como atestam as Escrituras, ele realizará tudo o que está incluído em seus propósitos; e se ele é onisciente, não cometerá erros em seu plano original, nem terá necessidade de alterar seu propósito original. [p.20]

Não entrando no mérito da discussão, de uma verdade todos os cristãos são cientes. Deus é soberano na redenção, um fato que explica porque somos gratos a Deus pela nossa salvação e oramos a ele pela salvação de nossos amigos que estão espiritualmente perdidos. Se o poder de salvar está no livre-arbítrio do homem, se ele realmente reside na sua capacidade de se salvar, sem que necessite de ajuda, por que imploraremos a Deus que “vivifique”, “salve” ou “regenere”? O fato de que consistentemente agradecemos a Deus pela salvação das pessoas significa (admitamos ou não) que a crença no livre-arbítrio é inconsistente.


A partir do quinto tópico, intitulado “Depravação Total”, Spencer começa a trabalhar os Cinco Pontos do Calvinismo um a um. Eu vou procurar colocar aqui citações de diversos autores que concordam com os Cincos Pontos do Calvinismo. Compete ao leitor ler cada ponto e tirar suas próprias conclusões.

a) Depravação Total - Segundo o autor Gise Van Baren: O que nós devemos entender por 'depravação total'? 'Depravação' significa perversidade, corrupção, o mal inato do homem não regenerado. Adicionar a palavra 'total' a depravação, é enfatizar sem nenhuma sombra de dúvida, a verdade que não há absolutamente nenhuma bondade no homem natural, no homem que é nascido do Adão caído. [4] 

Sobre o relato da Queda, por exemplo, em Gênesis 3, Calvino registrou: Neste capítulo, Moisés explica que o homem, depois de ter sido enganado por Satanás, se rebelou contra o seu Criador, tornou-se totalmente mudado e degenerado, a ponto de a imagem de Deus, no qual ele tinha sido formado, ter sido destruída. Ele, então, declara que o mundo inteiro, que tinha sido criado para o bem do homem, caiu junto com ele da sua posição primária, e que neste estado muito de sua excelência natural foi destruída. [5]

b) Eleição incondicional – A eleição incondicional é uma das doutrinas mais controversas das Escrituras Sagradas. Alguns acham que ela é uma doutrina que Satanás usa para impedir o zelo evangelístico da igreja. Outros, incluindo os calvinistas, consideram-na uma verdade bíblica muito reconfortante, uma verdade sem a qual Deus seria privado de sua devida glória na salvação de pecadores. Para aqueles que minimizam o registro bíblico sobre a depravação total do homem, a eleição é a razão primária porque as pessoas estão no inferno. 

Para os calvinistas, que aceitam o ensino bíblico sobre a depravação total, a eleição é a razão primordial por que as pessoas estão no céu. Esses calvinistas podem dizer juntamente com Charles H. Spurgeon: Creio na doutrina da eleição porque estou certo de que, se Deus não me tivesse escolhido, eu nunca o teria escolhido. Estou certo de que Ele me escolheu antes de eu haver nascido, pois Ele não me teria escolhido depois. [6]

c) Expiação Limitada – Todavia, a doutrina da expiação limitada salienta a obra da redenção realizada por Cristo através de sua morte na cruz. Não obstante, Jesus se ofereceu como o único e perfeito sacrifício pelos pecados para satisfazer a justiça de Deus, sofrendo a ira divina, tornando-se maldição e morrendo no lugar de pecadores. Em suma, é “a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”.[7] A pergunta crucial que envolve a síntese da extensão da obra expiatória é esta: Por quem Cristo morreu? “No lugar de quem Cristo se ofereceu como sacrifício”? [8] Mediante a esta pergunta, existem inúmeras passagens nas Escrituras referente à morte de Cristo, onde é afirmado que a expiação “aparentemente” foi universal, ou que a morte de Cristo foi por todas ou muitas pessoas ou pelo mundo todo. No entanto, se analisarmos detalhadamente todo o contexto em geral sobre a questão da morte de Cristo, veremos que a expiação não foi universal, mas foi limitada ou particular. Em outras palavras, Jesus não morreu por todas as pessoas e nem pelo mundo inteiro.

d) Graça Irresistível – John Piper faz uma ótima análise a respeito deste assunto. 2 Timóteo 2:24-25: “e ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente; corrigindo com mansidão os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”. Piper escreve: “Aqui, como em João 6:65, arrependimento é chamado de dom de Deus. Perceba, ele não está meramente dizendo que a salvação é um dom de Deus. Está dizendo que o pré-requisito para a salvação também é um dom. Quando uma pessoa ouve um pregador chamá-la ao arrependimento, ela pode resistir a esse chamado. Mas se Deus conceder-lhe arrependimento, não poderá resistir porque o dom é a remoção da resistência. Não sentir vontade de se arrepender é o mesmo que resistir ao Espírito Santo. Assim, se Deus concede arrependimento, isso é o mesmo que remover a resistência. Esse é o motivo de chamarmos essa obra de graça irresistível. NOTA: Deveria ser óbvio a partir disso que a graça irresistível nunca implica em Deus forçar-nos a crer contra a nossa vontade, senão teríamos uma contradição de termos. Pelo contrário, a graça irresistível é compatível com a pregação e testemunho que tentam persuadir pessoas a fazer o que é racional e o que irá de acordo com seus melhores interesses.”[9]

e) Perseverança dos santos – Ao declarar-se a eterna segurança do povo de Deus, talvez seja mais claro falar de sua preservação que – como se costuma fazer – de sua perseverança. Perseverança significa contínuo apego a uma crença apesar do desencorajamento da oposição. A razão por que os crentes perseveram na fé e na obediência, contundo, não está na força de sua própria dedicação, mas em que Jesus Cristo, através do Espírito Santo, os preserva. Calvino escreveu: “Somente é um verdadeiro crente aquele que, convencido por firme convicção de que Deus é o Pai bondoso e bem-disposto, assume todas as coisas na base da sua generosidade; aquele que, apoiando-se nas promessas da divina benevolência, toma posse da indubitável expectativa de salvação… Nenhum homem é um crente, exceto aquele que, descansando na segurança da salvação, confiantemente triunfa sobre o diabo e a morte”. [10] 

Portanto, para o reformador a perseverança dos santos se caracterizava na vida daqueles que produziam uma fé salvífica, ou seja, uma fé que evidenciava arrependimento perante os pecados. Com isso, Calvino tratava a predestinação como uma consequência efetiva de uma eleição baseada na graça da escolha Divina em relação ao ato livre da vontade de Deus em julgar um pecador por meio da punição estabelecida na morte do Senhor Jesus Cristo. 


Os três últimos tópicos deste livro são: Uma conclusão do próprio Spencer sobre os Cinco Pontos do Calvinismo. Um ponto seguinte é sobre uma seleção de temas da Confissão de Fé de Westminster que lançam luz sobre a Doutrina da Eleição e último tópico é o confronto final entre os cincos pontos do Calvinismo e Arminianismo.


As nossas considerações finais sobre este didático livro é que creio que a diferença crucial entre o Arminianismo e o Calvinismo se resume na palavra Soberania. Enquanto os calvinistas entendem que Deus opera a salvação na vida do ser-humano conforme a sua livre e soberana vontade, os arminianos salientam que o homem é capaz de por si só querer ou não ser salvo. Se partirmos da premissa que o homem está completamente morto diante de Deus como nos ensina Efésios 2:1, entenderemos porque a salvação depende tão somente da graça e da misericórdia do SENHOR, pois “não depende de quem quer ou quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9:16). Portanto, creio que os objetivos deste artigo foram de fato alcançados, demonstrando assim a verdadeira história dos “Cinco Pontos do Calvinismo”. Que assim, queira o Senhor nosso Deus nos abençoar e nos dar sempre a graça de sermos verdadeiros propagadores da história reformada.

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[1] Prefácio da Obra
[2] “Uma Defesa do Calvinismo”, por C. H. Spurgeon, em C. H. Spurgeon Autobiography, eds. S. Spurgeon and J. Harrold, Rev ed., vol I, The Early Years 1834-1859 (Carlisle, PA: Banner of Truth, 1976: reprint), 165.
[3] Ibid.
[4] BAREN, Gise Van. Depravação Total. Fireland Missions: Agosto de 2018.
[5] CALVINO, João. Gênesis, Série Comentários Bíblicos. Recife, PE. CLIRE, 2018, p.107
[6] [1] BEEKE, Joel. Vivendo Para a Glória de Deus: Uma Introdução à Fé Reformada. Ed. FIEL; São José dos Campos, SP, 2010; pg 77.
[7] Teologia sistemática Wayne Grudem, pág 259.
[8] R.C. Sproul. Eleitos de Deus, pág 152.
[9] Graça Irresistível, John Piper in: http://www.monergismo.com/textos/graca_irresistivel/graca-irresistivel_piper.pdf
[10] ANGLADA, Paulo; Calvinismo – As Antigas Doutrinas da Graça; Os puritanos; Recife, 1999; Capitulo XVII, pp 85, 86.

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