O livro está dividido 12 capítulos recheado de assuntos palpitantes, trazendo a nossa mente de que toda boa dádiva vem das mãos do Pai, de que as bênçãos de Deus devem levar-nos à adoração e à generosidade e de que a paixão pela glória de Deus é tão grande quanto o mundo. E cada um desses assuntos é traduzido para o leitor com uma capacidade didática muito inteligente.
O livro é rico em citações de nome de autores que fazem a história da teologia protestante. Embora Joe Rigney informa que a teologia de Jonathan Edwards moldou o seu pensamento, que C. S. Lewis aparece em quase metade de um dos capítulos deste livro e que Douglas Wilson é o responsável pela “centelha da ideia deste livro” [p.31], o que observamos é que lista de nomes citados é bem maior do que esta – Agostinho, John Piper, Spurgeon e para quem gostou do livro “Notas da xícara maluca”, Rigney faz citação de N. F. Wilson. Temos ainda J. R. R. Tolkien, Calvino, Chesterton e muitos outros.
Vamos à análise de cada capítulo deste maravilhoso livro.
CAPÍTULO 1 - O primeiro capítulo chama-se “A glória do Deus trino” e toda a ênfase recai sobre o tema da Trindade. Esta doutrina que para muitos é um tema altamente complexo, aqui ela é examinada com muita precisão e de forma muito didática. O autor expõe essa doutrina por meio de dois modelos teológicos. O modelo psicológico é baseado no pensamento de Agostinho e na teologia de Jonathan Edwards e sobretudo fundamentado no Evangelho de João. “Remontando a Agostinho e encontrando espaço considerável na teologia de Jonathan Edwards, ele sustenta que na divindade há Deus em sua existência direta (Pai), Deus como autorreflexo ou contemplação de si mesmo (Filho), e o amor de Deus e o gozo de si mesmo (Espírito Santo). Ou, mais uma vez, há Deus, a ideia de Deus de Deus, e o amor de Deus pela ideia de si mesmo” [p.40].
E o mais importante que isto é bíblico e demonstrado claramente no Evangelho de João. O modelo familiar é o modelo mais direto, pois a Bíblia o endossa explicitamente. “O modelo familiar nos ajuda a reconhecer a plena igualdade de cada pessoa da divindade, porque cada membro tem um papel importante e crucial a desempenhar na obra da redenção. O Pai escolhe um povo para si e envia o Filho. O Filho obedece ao Pai e realiza a obra que lhe foi dada, renunciando à própria vida a fim de comprar o povo de Deus. O Espírito é enviado pelo Pai e pelo Filho (Jo 14.16; 16.7), o penhor de nossa herança (Ef 1.14), e de fato consiste na soma de todas as boas dádivas que Deus comprou para nós (Mt 7.11; Lc 11.13)” [p.43].
CAPÍTULO 2 – Este capítulo chama-se “O autor e sua história” e Rigney explora o fato de como Deus se relaciona com a sua criação. As Escrituras ensinam que Deus criou o mundo ex-nihilo, do nada. Apenas falou e trouxe a criação à existência. Gênesis 1 enfatiza o poder de Deus na criação e João começa seu livro com o relato trinitário da criação. O modo perfeito de relacionar com sua criação é a sua “providência” Rigney escreve: “Deus não só criou o mundo do nada, no princípio, ele também sustenta do nada a cada momento de sua existência. Todas as coisas foram criadas pelo Filho de Deus (Cl 1.16), e tudo subsiste nele (Cl 1.17). Isso também acontece no momento da enunciação. “[Ele sustenta} todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). Se parasse de falar, o mundo deixaria de existir” [p.52].
Em seguida, somos conduzidos a um outro aspecto empolgante: A onipresença de Deus. Fundamentado neste atributo divino ele levanta a questão da soberania divina e liberdade humana e afirma: “A Bíblia faz pouco esforço para reconciliar a soberania de Deus e a responsabilidade humana. Apenas ensina de forma clara e farta que ambas são verdadeiras. Os autores bíblicos parecem ter a mesma mentalidade de Charles Spurgeon, que, quando questionado como reconciliava soberania e liberdade, dizia: ‘Nunca tento reconciliar amigos’” [p.55-56].
Neste capítulo, Rigney faz menção de um assunto complexo. A questão do mal no mundo criado por Deus. Pois, compreender o mundo como a história de Deus fornece categorias importantes para confrontar o problema do mal. Se o mundo é uma história, então a presença do mal é fundamentalmente um exemplo de tensão narrativa. Rigney, escreve: “Deste modo, podemos ver com mais clareza o raciocínio de Deus em permitir e ordenar a existência do mal. Deus ordena o mal pela mesma razão que Lewis criou a Feiticeira Branca – para que Aslam tivesse algo que vencer. O mal existe para que o bem possa triunfar. A morte existe para que possa ser lançada no inferno (Ap 20.14). E isso de maneira alguma minimiza a perversidade ou o horror do mal. Deus é soberano, e o mal é real” [p.63-64].
Este capítulo é concluído mostrando Deus como o autor, o protagonista e personagem principal da sua criação. E o entendimento disto começa com a auto revelação de Deus a Moisés em Êxodo 3. “Deus se revela de duas maneiras: Como EU SOU O QUE SOU (3.14) e como ‘Senhor’ (Yahweh) (3.15), o nome pelo qual será lembrado por todas as gerações” [p.65]. Pois bem, o nome Yahweh, destaca a relação de Deus com sua criação, a realidade de que ele é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó (Ex 3.15). O nome memorial de Deus vincula-o ao mundo que criou e particularmente com seu povo da Aliança. Ela é Yahweh, um Deus compassivo, clemente, longânimo e grande em misericórdia e fidelidade (Ex 34.6).
CAPÍTULO 3 – Criação como comunicação este é o tema deste capítulo. Rigney já começa mostrando o seu propósito: “Deus construiu um sistema de símbolos que comunica continuamente sua presença na natureza e na história. Ele [citando Jonathan Edwards] escreve: ‘Tipos são uma espécie de linguagem, por assim dizer, em que Deus costuma falar conosco’” [p.72]. Isso é muito reto, pois a própria Escritura nos manda ler o ‘mundo’ para termos entendimento. “Na verdade, a Escritura nos manda ler o mundo dessa forma. “Olhai as aves do céu” (Mt 6.26). “Olhai os lírios do campo” (Mt 6.28). “Vai ter com a formiga” (Pv 6.6). Há lições divinas nos campos e sementes, na areia e na rocha, nos odres e nas figueiras. Assim, devemos, como disse Calvino, procurar ler a criação com os espetáculos da Escritura” [p.72]. Contudo, este tipo de leitura só pode ser feito por um “nascido de novo” e uma “nova criatura”. As páginas das Escrituras transbordam de tipologias, analogias e metáforas criacionais para ajudar-nos a compreender o mistério glorioso e inefável do Deus Triúno. “Esta é a glória da realidade criada: um veículo adequado para comunicar a vida divina” [p.33].
CAPÍTULO 4 – Este capítulo discorre sobre o nosso papel neste grande drama. O que significa ser criatura, uma personagem no teatro de deus, chamado a existência do nada e de algum modo capaz de relacionar-se com o autor de maneira real, pessoal e profunda? Dito de outro modo, o que quer dizer ser criado a imagem de Deus? A criação do homem no livro de Gênesis é digna de consideração e atenção cuidadosa. Primeiro, Deus fez o homem com um corpo que sente para sentir prazer. Se observarmos, veremos que depois que criou o homem, “do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvore agradáveis à vista e boas para alimento.” Em seguida, Deus viu que algo em sua criação não estava bom – a solidão de Adão. No entendimento de Deus a solidão de Adão “era um defeito, e Deus em sua bondade age para remediar essa falta. Observe o seguinte: Deus age. Ele satisfaz a necessidade. Deus dá vida, ar e todas as demais coisas (incluindo a companhia). Mas, ele projetou-nos de tal modo que satisfaria alguma de nossas necessidades por meio de outras pessoas” [p.95]. Adão encontrou uma esposa. Encontrou algo bom. Este é um favor do Senhor, que deve ser expresso. O raio da glória de Deus acerta a sensibilidade dele, e ele (de forma lenta e proposital) rastreia o raio até sua fonte, provando a dádiva por causa do doador. Contudo precisamos entender que Deus deu ao homem todas as provisões não tão somente para o gozo e prazer. Todas as dádivas foram dadas para a missão. Rigney diz que ser feito a imagem e semelhança de Deus é uma vocação, algo que somos chamados a fazer e para ser.
“A vocação do homem corresponde a um papel triplo de sacerdote (que guarda o santuário e cuida dele trabalhando), rei (exercendo domínio sobre a criação como mordomo que se preocupa por manter a casa a funcionar de acordo com o planejado pelo grande proprietário que é Deus) e profeta (dando nomes às coisas através de uma obediência a Deus e conhecimento dele, juntando-se a ele na construção na cidade-templo). Os seres humanos têm um valor derivativo (na medida que a vida que têm lhes é dada por Deus) e inerente (na medida em que, quando Deus dá uma coisa, realmente a dá).”[1]
Reconhecer o valor bíblico da criação para nosso contentamento é para o cumprimento da missão divina é glorioso. Mas é precisamente o valor e a riqueza evidentes da criação que criam alguma das tensões sentidas quando chega o momento de valorizar a Deus. Pois se a criação é valiosa, então ela tem o potencial de tornar-se um substituto de Deus – em termos bíblicos, um ídolo [p.101].
CAPÍTULO 5 - O quinto capítulo chama-se “A solução evangélica da idolatria” e quer tratar da questão de como nós devemos relacionar com os dons de Deus. “Quando amamos Deus suprema e plenamente, somos capazes de integrar a nossa alegria em Deus e a alegria nos seus dons, recebendo os dons como dardos da sua glória” [pág. 99].
É interessante que o Rigney já no início do capítulo faz referência a uma das frases célebres de Calvino. Ele escreve: “É verdade que o nosso coração é uma fábrica de desejos projetada por Deus, mas o tonamos uma fábrica de ídolos, produzindo com rapidez a falsa adoração como se fosse o nosso trabalho” [p.111]. Calvino escreveu: “E não só isso, mas também que os seres humanos, quase que um a um, têm tido seus próprios deuses. Porque, como à ignorância e às trevas se adicionam a temeridade e a petulância, dificilmente um só se achou que não fabricasse para si um ídolo ou imagem no lugar de Deus... Do que é lícito concluir que o coração do homem é, por assim dizer, uma perpétua fábrica de ídolos” [2]
Rigney estabelece dois modos de ver o relacionamento de Deus com suas dádivas. A primeira é uma abordagem comparativa, em que Deus e suas dádivas são separados e colocados próximos um dos outros para determinar o que é mais valioso. Na visão comparativa, segundo Rigney, colocamos Deus num dos pratos da balança, e as dádivas dele no outro, para ver qual é mais pesado, valioso e glorioso. O que se observa, é que comparada a Deus, toda a criação não é senão pó. Uma vez que todo o sistema da criação é como nada e inexpressivo em comparação com o Criador infinitamente glorioso, se estamos pensando de forma comparativa, então devemos desejar só a Deus e não suas dádivas. Ele é digno de toda a consideração, todo o valor, amor, deleite e toda a afeição. Rigney agora traz a segunda abordagem: “quando amamos a Deus suprema e plenamente, como capazes de integrar nossa alegria em Deus e em suas dádivas, recebendo as dádivas como raios de sua glória. O amor supremo a Deus orienta nossas afeições, ordena nossos desejos e integra nosso amor” [p.115]. Portanto, quando amamos a Deus de maneira suprema, somos livres para amar a criação como criação (e não como Deus). Porque a excelência divina está de fato presente nas dádivas, somos livres para desfrutar delas por causa dele. As dádivas divinas tornam-se vias para desfrutarmos dele, raios da glória que rastreamos até a fonte.
Este movimento – do teste comparativo à vida integrada – é precisamente como resolveremos a tensão criada pelas passagens bíblicas que nos ordenam não colocar a mente nas coisas da terra (Cl 3.1-4; Fp 3.19). dada a realidade objetiva de Deus
CAPÍTULO 6 - O sexto capítulo chama-se “Os ritmos da piedade” e trata da questão de como devemos viver na prática uma existência orientada para Deus e que afirma a bondade da sua criação. Para Rigney “piedade é a tentativa de viver com fidelidade a partir da famosa exortação bíblica em 1 Coríntios 10:31: “Quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” [p.136]. Assim, a piedade é um movimento da alma em direção a Deus de tal maneira que nossos pensamento, afeições e ações terminem, em última instância, nele.
Rigney classifica dois tipos de piedade, as quais ele denomina de piedade direta e piedade indireta. (1) A primeira envolve o nosso foco consciente e intencional no próprio Deus (através de atividades como a oração, a leitura da Palavra, o culto, e outras que significam devoção simples). “A marca da piedade direta é que nossos pensamentos e intenções estão concentrados particular e diretamente no próprio Deus, uma vez que a ele nos dirigimos e com ele comungamos” [p.139]. (2) A segunda envolve um foco subconsciente em Deus enquanto nos empenhamos no mundo que ele criou (e pode ser qualquer atividade desde comer uma refeição a jogar futebol). “A marca da piedade indireta é que nosso pensamentos e intenções estão concentrados primária e fundamentalmente no mundo de Deus e em tudo que nele há” [p.139]. Desta forma, o gozo intenso das dádivas divinas servem e aumentam a piedade direta ao criar categorias mentais, emocionais e espirituais para nosso gozo em Deus.
Portanto, uma forma de relacionar estes dois tipos de piedade é criando um ritmo regulares de piedade direta e indireta, envolvendo-nos de maneira plena com o mundo de Deus e em seguida focando com frequência – e de forma direta e proposital – nossos pensamentos, intenções e afeições no Deus Triúno.
Ao acrescentar a noção de ritmos da piedade direta e indireta, nos ajudam a entender como o gozo das dádivas de deus e um amor supremo por Deus podem ser mutuamente benéficos e frutíferos. Se integrarmos de forma adequada nossa alegria em Deus e nosso deleite em suas dádivas, então nosso gozo das dádivas deve enriquecer e aumentar nosso amor ao próprio Deus, e nosso ao próprio Deus deve enriquecer nosso gozo de suas dádivas. Ou, em termos rítmicos, temporais, a piedade direta acentua nossa piedade indireta, e a piedade indireta acentua nossa piedade direta. Uma serve à outra dando algo e protegendo de algo.
CAPÍTULO 7 - O sétimo capítulo chama-se “Nomeando o mundo” e trata da questão da cultura, de nos relacionarmos não tanto com o que Deus fez na criação mas de nos relacionarmos com aquilo que fazemos da criação de Deus. Em todos os capítulos anteriores, Rigney nos incentiva a gozar de todas as coisas que Deus fez e nos faz uma pergunta interessante: “Mas e quanto a desfrutar das coisas que nós fizemos? Podemos aplicar esse paradigma à forma com desfrutamos da literatura, arte, música, televisão, dos filmes (bem como dos móveis, das roupas e da arquitetura)? E quantos às outras formas de atividade humana? Receber o alimento como dádiva é diferente de jogar beisebol (ou assistir a um jogo de beisebol)?
A forma como o autor define a cultura, a partir da Escrituras é algo bastante edificante. Ele afirma que uma parte fundamental da vocação do homem encontra-se em Gênesis 1.28, passagem geralmente chamada “o mandato cultural”. Neste ponto o autor entende que Deus patrocina que desenvolvamos os recursos naturais da terra através da ciência e tecnologia. A cultura é, nesse sentido, um cultivo, um desenvolvimento daquilo que Deus fez, como que adornando o mundo (Criação + Esforços Criativos Humanos = Cultura). Partindo desta afirmativa, a cultura abrange mais que apenas “as artes” – pintura, escultura, literatura e música. Na verdade, incorpora todas as facetas da atividade humana – do trivial ao erudito, do mais baixo ao mais elevado. Refere-se ao desenvolvimento da atividade humana – a produção cultural – e aos produtos culturais daí resultantes.
Portanto, dentro do mandato cultural, o autor nos leva a um assunto bastante interessante é que a forma como o homem dá nome a todos os animais. O autor chama isso de “nomeação fiel”. “Nessa passagem, Deus dá a Adão o privilégio de nomear os animais e a mulher. Nomear parece envolver o princípio de realidade e o princípio de criatividade. Em outras palavras, nomear envolve, de um lado, o plano de deus, o propósito e a intenção da criação; de outro, o reconhecimento do plano de Deus pelo homem e o avanço do de Deus por este ato de nomear” [p.166]. Construir uma cultura é um dos modos essenciais de participarmos da natureza triúna de Deus, colaborando através do mandato cultural na tarefa de nomear e encher o mundo da glória de Deus.
Para concluir este capítulo, o autor levanta uma questão muito séria - a questão do mal e do pecado na cultura. “Tudo que deus criou é bom, mas agora está maculado pelo pecado e pela rebelião. Dada a presença difundida do mal e do pecado na cultura e na produção cultural, como podemos apreciá-la e não ser contaminados? O mundanismo é a maldade da cultura rebelde não são transmitidos a nós?” [p.173]
O autor nos mostra algumas observações importantes a seguir neste aspecto: (1) A existência do mal não impede o nosso prazer na criação. (2) A existência do mal é pedagógica por contraste com o que é bom. (3) Deus comunica coisas boas através de coisas más do mundo. (4) Temos reações emocionais complexas à criação e à cultura (que provam a nossa capacidade de lidar com o mal). (5) Há uma diferença entre distinguir o que é mau e deliciarmo-nos no que é mau. (6) A existência do mal nos objetos culturais permite-nos crescer em obediência bíblica, aborrecendo esse mal. (7) Devemos reconhecer que o nosso envolvimento cultural pode servir de pretexto para nos dedicarmos ao mal representado na cultura.
CAPÍTULO 8 – Este capítulo tem como título “Desejando o que não é Deus”. Aqui Rigney faz um relato de suas experiências com o propósito de ilustrar várias dimensões e cotidiano da vida para que entendamos que podemos perfeitamente desfrutar de tudo que Deus nos dá sem cometer idolatria. O mundo ao nosso redor é algo que Deus usa para transmitir algo acerca dele e o nosso cotidiano, inclusive as coisas mais simples da vida, quando feitas para a glória de Deus nos induz a santidade.
“Não podemos imaginar o que Deus tem reservado para nós. Nossa mente ainda não é grande o suficiente. Nosso coração ainda não é largo o bastante. Nem olhos viram nem ouvidos ouviram. E a única maneira de preparar-nos para as glórias vindouras é espremer o que Deus nos tem dado agora. Se ao final receberemos o riso do céu, devemos fielmente apreciar a música que podemos ouvir agora" [p,182-183]
CAPÍTULO 9 – Este capítulo tem como título “Sacrifício, abnegação e generosidade”. O propósito deste capítulo é mostrar por que celebrar as boas dádivas não atrapalha os esforços missionários, não subverte o chamado bíblico à abnegação nem corta a raiz da generosidade radical. Na verdade antes do fim deste capítulo, é propósito de Rigney, nos mostrar que chamar as pessoas a desfrutar de tudo que Deus com fartura dá, aliás, fazer avançar a missão de Deus entre as nações e fortalecer uma generosidade sacrificial, de mãos e corações abertos.
“Como exatamente desfrutar de Deus em tudo e de tudo em Deus promove a paixão divina pela glória do evangelho de Cristo entre os povos do mundo?” [p.204]
(1) O chamado a desfrutar das boas dádivas por amor a ele lembra-nos de um dos propósitos centrais da Grande Comissão, a saber, ensinar as nações a obedecer tudo que Jesus ordenou (Mt 28.20). “Por isso a proclamação fiel do evangelho deve incluir uma teologia sólida da bondade das dádivas divinas na criação. Se Deus está chamando as nações a conhece-lo como ele se revelou em sua Palavra e no mundo, então o elemento central do discipulado das nações deve ser ensiná-las a observar e a apreciar a beleza e a glória do Deus trino na natureza, no alimento, na família, em tudo. Portanto, como nós, os povos e nações do mundo devem aprender a honrar o doador ao desfrutar da forma correta de suas dádivas” [p.206].
(2) Onde quer que levemos o evangelho, vamos encontrar pessoas idolatras que abusam do mundo de Deus, adorando e servindo à criatura em lugar do criador. Portanto, se faz necessários missionários que ensinem aos povos que “a terra é do Senhor e sua plenitude, toda a criação de Deus é boa e deve ser desfrutada, que devemos pensar com profundidade em tudo que é verdadeiro, honrado, justo, puro, amável, louvável e excelente” [p.207]
(2) Onde quer que levemos o evangelho, vamos encontrar pessoas idolatras que abusam do mundo de Deus, adorando e servindo à criatura em lugar do criador. Portanto, se faz necessários missionários que ensinem aos povos que “a terra é do Senhor e sua plenitude, toda a criação de Deus é boa e deve ser desfrutada, que devemos pensar com profundidade em tudo que é verdadeiro, honrado, justo, puro, amável, louvável e excelente” [p.207]
Para desfrutar das coisas e ao mesmo tempo promover a paixão divina pela glória do evangelho, exige de cada cristão genuíno aquilo que Rigney chama de Abnegação Bíblica, ou seja, “Renunciar algo bom por causa de algo melhor”.
Vejamos como Rigney conceitua a abnegação bíblica?
(1) A abnegação bíblica é a renúncia voluntária de coisas legitimas por causa de Cristo e de seu reino.
(2) A abnegação bíblica se torna algo paradoxal (C. S. Lewis), pois os cristãos celebram a criação porque foi feita por Deus, mas lidam com a criação, com limitações, pois entendem que ela não é Deus.
(3) A abnegação bíblica é uma das principais formas pelas quais estabelecemos a supremacia de Deus em nossa vida, pois Cristo é “incomparavelmente melhor” do que tudo o mais que há no mundo.
(4) A abnegação bíblica é um tipo de morte. Deus nos deu desejos a fim de que fossem realizados, exatamente como nos deu vida para que a pudéssemos viver. Portanto, renunciar ao desejo é morrer, tomar a cruz nos ombros e seguir na estrada do Calvário.
(5) A abnegação bíblica sempre está acompanhada de “audaciosas promessas de galardão” (Mc 10.29-30). (6) A abnegação bíblica se dá com o coração alegre, mesmo enquanto negamos a nós mesmos.
Vejamos como Rigney conceitua a abnegação bíblica?
(1) A abnegação bíblica é a renúncia voluntária de coisas legitimas por causa de Cristo e de seu reino.
(2) A abnegação bíblica se torna algo paradoxal (C. S. Lewis), pois os cristãos celebram a criação porque foi feita por Deus, mas lidam com a criação, com limitações, pois entendem que ela não é Deus.
(3) A abnegação bíblica é uma das principais formas pelas quais estabelecemos a supremacia de Deus em nossa vida, pois Cristo é “incomparavelmente melhor” do que tudo o mais que há no mundo.
(4) A abnegação bíblica é um tipo de morte. Deus nos deu desejos a fim de que fossem realizados, exatamente como nos deu vida para que a pudéssemos viver. Portanto, renunciar ao desejo é morrer, tomar a cruz nos ombros e seguir na estrada do Calvário.
(5) A abnegação bíblica sempre está acompanhada de “audaciosas promessas de galardão” (Mc 10.29-30). (6) A abnegação bíblica se dá com o coração alegre, mesmo enquanto negamos a nós mesmos.
Depois de ter conceituado teologicamente o termo “abnegação bíblica”, Rigney faz uma pergunta: “O que então podemos dizer acerca da abnegação bíblica em relação as boas dádivas (incluindo riquezas) divinas?” Antes de aprofundar neste assunto, ela fala sobre as riquezas e afirma
“Três coisas sobre o exercício prático de vivermos a auto-negação num mundo de coisas boas. (1) Na Bíblia prosperidade ou riqueza é mais do que dinheiro. (2) A prosperidade é uma coisa boa na Bíblia. É um sinal de bênção vinda de Deus. (3) Mas na Bíblia a prosperidade também é uma coisa perigosa. Como qualquer outra coisa boa que se coloque no lugar de Deus, a prosperidade pode tornar-se uma idolatria. E a Bíblia é clara ao dizer que a prosperidade pode mesmo impedir-nos de entrar no Céu. Comparada com outras coisas, há muitos mais avisos da Bíblia acerca deste risco em particular. A prosperidade torna-se um braço missionário óbvio. As quantidades podendo variar, refletem sempre que a qualidade não varia (dar é parte fundamental de receber)”. [3]
CAPÍTULO 10 – Este capítulo tem como título “Quando o tempo de guerra dá errado”. Neste capítulo Rigney continua a focar na riqueza ao explorar a natureza e os desafios de viver em estilo de vida radical, de “tempos de guerra”. Vamos entender porque “Tempos de Guerra”. Esse termo, é explicado por John Piper sobre como os cristãos devem viver as suas finanças. Diz ele: “Jesus pressiona-nos para um estilo de vida de tempo guerra que não valoriza a simplicidade pela simplicidade, mas que valoriza a austeridade do tempo de guerra por aquilo que ela consegue produzir pela causa da evangelização do mundo” [p.230-231]. Todo este capítulo é fundamentado em experiências do próprio Rigney: “permitam-me apresentar um desafio com que deparei ao procurar viver esse tipo de estilo de vida” [p.232].
Rigney teve a experiência de fazer um estilo de vida de economia de tempo de guerra com o coração errado. Diz ele que é fácil prescindir de coisas que não valorizamos e, a partir daí, produzirmos arrogância espiritual. No fundo, era um caso de ser sovina sob a aparência de estratégia espiritual. E para evitar tal atitude ele afirma que o caminho é a gratidão. “Gratidão sem medida. Ação de graças profusas e transbordante. Sem culpa. Sem vergonha. Sem autorreprovação por ter nascido nos Estados Unidos ou por ter tido as oportunidades que tive” [p.234]. Essa gratidão tem uma fundamentação bíblica. (1) Paulo nos diz que temos de dar graça sempre e por tudo, Ef 5.20; (2) Ser grato pelo lugar que nasce, pois Deus é quem determina os limites da habitação de todos os homens na terra, At 17.26; (3) Paulo nos ensina o segredo para viver em fartura e abundância, Fp 4.13-13. “Um dos maiores desafios para os Cristãos do Ocidente é aprender a encarar a nossa abundância sem precedentes com a força fornecida por Cristo e não pela riqueza” [p.235].
A partir daí, Rigney conta-nos a sua experiência em ter nascido na nação mais rica do mundo e todas as suas adversidades na universidade, no amor e casamento. A estratégia da economia de tempo de guerra para o cristão tem de se saldar em resultados espirituais. Isto quer dizer que poupo não para provar que consigo viver sem alguma coisa, mas para provar que contribuo para que outros vivam com mais, neste caso, com o evangelho. Viver com uma economia de tempo de guerra é acerca de viver para o mais, e não de viver para o menos.
Na conclusão deste capítulo, Riney nos chama a atenção que o ponto principal é enfatizar a complexidade de viver com fidelidade num mundo de riqueza. Devemos receber as riquezas de coração aberto e entender que tudo que Deus nos dá tem um objetivo – a generosidade radical. Devemos buscar ser tão generosos com os outros quanto Deus tem sido conosco. Em síntese, como disse antes, receber de graça, dar de graça.
CAPÍTULO 11 – Este chama-se “Sofrimento, morte e a perda das boas dádivas”. Rigney começa nos lembrando que a Bíblia é um livro de sofrimento, de Gênesis 3 a Apocalipse 20. Perdem-se esposas. Perdem-se maridos. Perdem-se filhos. Perde-se riqueza. Perdem-se casas. Perdem-se reputações. Perde-se saúde. Perdem-se vidas. E esse tipo de sofrimento e perda é prometido aso seguidores de Jesus (2 Tm 3.12; At 14.22). Então, um livro sobre desfrutar das dádivas divinas simplesmente deve enfrentar a inevitabilidade da perda.
O capítulo está dividido em sete tópicos:
(1) Comer, beber e alegra-se debaixo do sol. As dádivas divinas são passageiras e vamos em qualquer momento ter que administrar a perda. Mas, quando compreendemos a nossa condição de criaturas finitas e olhamos para único pastor que é infinito e eterno e que cuida de cada um dos seus filhos, então somos libertos para beber, comer, alegra-nos e desfrutar a vida com pessoas que amamos, todos os dias de nossa vida enigmática, porque esta é nossa porção e Deus aprova.
(2) Como o sofrimento põe prova nosso gozo integrado. Quando Rigney fala de gozo integrado, ela chama-nos à relação integrada entre Criador e as suas dádivas. Isso significa que devemos encarar a perda de modo a honrar a Deus tanto em tê-las quanto em perde-las. Para isso, devemos começar a reconhecer que o sofrimento involuntário é um teste e inevitável de nosso amor integrado e desejos ordenados (Sl 73.35-36; 2 Tm 4.16-18; Sl 27.10; Jó 1.21).
(3) Integração na ausência. O sofrimento de fato sublinha o valor supremo, decisivo e infinito de Deus acima de todas as coisas boas que ele provê. Mas a presença da abordagem comparativa não abole a integração entre dádivas e doador. A integração continua, mesmo na ausência da dádiva. O coração pode expandir-se quando a dádiva está presente, e pode expandir-se quando a dádiva está ausente, as vezes de modos que só são possíveis por meio das perdas.
(4) Vivenciando uma grande perda. A confiança de Jó na bondade soberana de Deus para com ele não o leva aceitar estoicamente a perda de tudo que achava precioso. Ele não trata a perda de seus filhos com leviandade. Rasgou seu manto. Rapou a cabeça. Lançou-se a terra. Lamentou, e chorou, e adorou a Deus entre as lágrimas. E o interessante é o termo usado por Rigney – Luto Bíblico – “No entanto, por mais que nosso luto possa entregar-se ao pranto e à revolta, o luto bíblico jamais amaldiçoa ao Senhor, que dá e toma de volta segundo seus propósitos bons e sábios. A alegria integrada transforma-se em lamento e luto quando coisas preciosas são arrancadas de nossos braços. E, ao fazê-lo, até mesmo os sofrimentos e perdas mais terríveis expandem nossa alma, alargam nosso coração além do que pensamos que possa suportar a fim de que descansemos mais profundamente no Deus que será sempre e para sempre a nossa porção” [p.260].
(5) Gratidão sempre e por tudo. A verdadeira gratidão permanece, mesmo quando as dádivas são suprimidas. A gratidão recebe alegremente tudo que Deus dá, acolhendo o que é bom com satisfação e as dificuldades com um profundo senso de “entristecidos, mas sempre alegres”. A gratidão sabe que Deus é honrado na acolhida alegre de dádivas maravilhosas e na profunda e inabalável satisfação em Deus quando essas dádivas maravilhosas se vão. E a gratidão ama demonstrar o mérito e o valor do doador de toda boa dádiva e de profunda compaixão.
(6) Como a alegria integrada enfrenta a morte. Perder uma das grandiosas dádivas divinas pode parti-nos o coração. Perder várias delas, como Jó, pode lançar-nos em aflição. Mas, o que faremos quando somos confrontados com a perda de todas as coisas boas? Que faremos quando a realidade da morte posa sobre nós? Em nosso leito de morte, a alegria integrada busca a engrandecer a Deus, quer pela vida, quer pela morte (Fp 1.20). Deus nos está preparando para sermos homens e mulheres espirituais e encarnados. Ou seja, Deus está nos preparando para viver em corpos animados e transformados pelo Espírito Santo, como aconteceu com Jesus na ressurreição. A morte leva embora nossos prazeres terrenos, e então a ressurreição restaura-os em profusão. A integração celestial excede a capacidade da mente humana de saber. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram [...] o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Co 2.9).
(7) Qual é a nossa maior recompensa? Podemos dizer que em última instância é o próprio Deus. O que nos sustenta nos momentos mais sombrios e desencadeia os maiores sacrifícios por causa do amor é a presença santa e permanente de Deus com seu povo aperfeiçoado, transformado e encarnado em sua cidade-reino gloriosa e inabalável por toda a eternidade, no mundo que não terá fim. Essa é a nossa esperança.
CAPÍTULO 12 – Este é o último e chama-se “Abrace sua condição de criatura”. Uma das realidades que mais este livro nos chama a atenção é que devemos abraçar a nossa condição como criatura. Rigney estabelece dois pontos imutáveis.
(1) Deus é fundamentalmente um doador. Rigneu nos chama atenção para o Salmo 16 e a partir desta realidade ele escreve: “Em relação a criação, ele dá a todos os homens a vida, e o ar, e todas as coisas. Ele abre sua mão e satisfaz o desejo de cada coisa viva. Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho a nós, e o Pai se compraz tanto em seu filho que nos deu a ele. O pai e o Filho juntos nos dão o Espírito santo. O Espírito nos dá consolo e graça e poder e a si mesmo em nosso coração e em nosso meio como lugar de sua habitação eterna” [p.272].
(2) A criatura é ser um recebedor. “O grande privilégio do homem é receber tudo que Deus dá de todos os modos que ele dá, e então conhecer essas coisas, e desfrutar dessas coisas, e cantar sobre ele nessas coisas” [p.272]
Portanto, coisas importantes precisamos assimilar e guardar para toda a vida
(a) Abracemos a nossa condição de criatura, pois tudo o que temos é de Cristo
(b) Devemos imitá-lo em sua generosidade compartilhando o nosso tempo, talentos, tesouros e difundir a paixão pela supremacia de Deus em as coisas que temos recebido dele por intermédio de Jesus.
(c) Tenhamos uma vida de gratidão, pois é a nossa resposta à fartura de suas dádivas.
(d) Vivamos com humildade uma vez que só os que reconhecem sua dependência, sua necessidade, e seu prazer na bondade e na benignidade do outro podem ser gratos.
(e) se estamos vivendo um contexto de perda de algo ou de alguém precioso, não devemos nos desanimar é o único consolo, e ele está presente em nossas perdas.
(b) Devemos imitá-lo em sua generosidade compartilhando o nosso tempo, talentos, tesouros e difundir a paixão pela supremacia de Deus em as coisas que temos recebido dele por intermédio de Jesus.
(c) Tenhamos uma vida de gratidão, pois é a nossa resposta à fartura de suas dádivas.
(d) Vivamos com humildade uma vez que só os que reconhecem sua dependência, sua necessidade, e seu prazer na bondade e na benignidade do outro podem ser gratos.
(e) se estamos vivendo um contexto de perda de algo ou de alguém precioso, não devemos nos desanimar é o único consolo, e ele está presente em nossas perdas.
Um livro que foi feito não somente uma leitura. Mas, para quantas leituras forem necessárias.
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[1] Tiago Cavaco - https://goo.gl/8spbBV
[2] CALVINO, As Institutas, I.V.12
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Um comentário:
Caro Prof Pádua,
Fizestes um belo trabalho, uma resenha tão agradável quanto o livro.
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