Publicado em 1945, a ideia sobre o livro passou longo tempo maturando na imaginação de Jack, e é baseada no conceito de Refrigerium – refrigério –, da teologia medieval, que Lewis diz ter encontrado ao ler a obra de um teólogo anglicano do século 17, Jeremy Taylor. Lewis lera a obra de Taylor em 1931 e encontrara a referência, que o próprio autor reputara ao poeta do século 4.º Prudêncio, e foi tão marcante que ele não mais se esqueceu e chegou a comentar com seu irmão, que em 1933 registrou em seu diário: “Jack teve uma nova ideia para uma obra religiosa, baseada na opinião de alguns dos Pais, que, embora a punição para os condenados seja eterna, ela é intermitente. Ele se propõe a fazer uma excursão infernal de um dia ao Paraíso. Estou muito interessado para ver como ele tratará disso”. A obra só foi escrita em 1944, e também recebemos algumas informações sobre sua composição através de duas cartas de Tolkien a seu filho Christopher, pois Lewis fez leituras, durante o desenvolvimento da obra, aos Inklings – confraria literária que mantinha com outros amigos literatos, dentre eles Charles Williams, Hugo Dyson e o próprio Tolkien –, dizendo tratar-se de uma “nova alegoria moral ou ‘visão’, baseada na ideia fantástica de Refrigerium, na qual almas perdidas dão um passeio ocasional no Paraíso”. Pois essa é, exatamente, a ideia principal, e o modo como Lewis a conduz é sensacional.
Alguns chegaram a escrever que esta obra teve uma clara inspiração no clássico mundial, “Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Mas, não concordo. Prefiro como já foi dito acima: “nova alegoria moral ou ‘visão’, baseada na ideia fantástica de Refrigerium, na qual almas perdidas dão um passeio ocasional no Paraíso”.
Em primeiro lugar, a trama se inicia quando o protagonista se vê preso em uma fila para embarcar em um ônibus que o destino era o “Paraíso”. Mas, ele não se encontra sozinho, junto a ele, estão alguns personagens. Enquanto o protagonista aguarda o ônibus, nos deparamos com alguns diálogos entre os personagens, os quais C.S Lewis, de forma reflexiva, queria demonstrar a indignação com a soberba e as vontades que todos os seres humanos têm dentro de si. Ao decorrer da obra, compreendemos, acompanhando os diálogos entre os personagens e protagonista, que todos são “fantasma” ou “espíritos”, e já estão mortos.
O clímax da obra se dá na dificuldade dos personagens em aceitar o Deus Vivo, quem deu uma segunda chance para todos viverem junto a Ele no “Paraíso”. Contudo, todos estão cegos, cada um vê seu próprio deus, os quais não passam do egocentrismo, dúvidas e “pecados” em vida, segundo Lewis.
A obra apresenta vários diálogos muito profundos e reflexivos, onde temos o entendimento sobre o bem e o mal, a graça e o julgamento. Com um ótimo uso da sua criatividade, C.S Lewis cativa tanto com a diversão de uma boa leitura leve, quanto com a seriedade ao abordar vários assuntos desafiadores.
Por fim, o que podemos tirar do Grande Divorcio são várias experiências sobre nossas vidas, fé e reflexão sobre o que Deus significa para nós. Se Deus com sua misericórdia nos desse uma segunda chance para entrar no Paraíso, qual seria nossa decisão? Deixaríamos os prazeres, amores e deuses?
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LEWIS, C. S. O grande divórcio. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2020.
LEWIS, C. S. O grande divórcio. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2020.
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