terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O GRANDE DIVÓRCIO [Resenha 015/2022]


Como a sinopse relata, acompanhamos uma pessoa sem nome que entra em um ônibus que vai ao Céu, lá é tudo diferente, pois as pessoas que vivem lá são sólidas, e os visitantes não. E a cada capítulo vemos a história dos “fantasmas”, que são as pessoas que, assim como o protagonista, vieram com o ônibus. Cada um desses fantasmas tem algo que é tão importante que os cega da grande oportunidade que estão recebendo: aparência, estudos, trabalho, filho, ressentimento, etc.

Publicado em 1945, a ideia sobre o livro passou longo tempo maturando na imaginação de Jack, e é baseada no conceito de Refrigerium – refrigério –, da teologia medieval, que Lewis diz ter encontrado ao ler a obra de um teólogo anglicano do século 17, Jeremy Taylor. Lewis lera a obra de Taylor em 1931 e encontrara a referência, que o próprio autor reputara ao poeta do século 4.º Prudêncio, e foi tão marcante que ele não mais se esqueceu e chegou a comentar com seu irmão, que em 1933 registrou em seu diário: “Jack teve uma nova ideia para uma obra religiosa, baseada na opinião de alguns dos Pais, que, embora a punição para os condenados seja eterna, ela é intermitente. Ele se propõe a fazer uma excursão infernal de um dia ao Paraíso. Estou muito interessado para ver como ele tratará disso”. A obra só foi escrita em 1944, e também recebemos algumas informações sobre sua composição através de duas cartas de Tolkien a seu filho Christopher, pois Lewis fez leituras, durante o desenvolvimento da obra, aos Inklings – confraria literária que mantinha com outros amigos literatos, dentre eles Charles Williams, Hugo Dyson e o próprio Tolkien –, dizendo tratar-se de uma “nova alegoria moral ou ‘visão’, baseada na ideia fantástica de Refrigerium, na qual almas perdidas dão um passeio ocasional no Paraíso”. Pois essa é, exatamente, a ideia principal, e o modo como Lewis a conduz é sensacional.

Alguns chegaram a escrever que esta obra teve uma clara inspiração no clássico mundial, “Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Mas, não concordo. Prefiro como já foi dito acima: “nova alegoria moral ou ‘visão’, baseada na ideia fantástica de Refrigerium, na qual almas perdidas dão um passeio ocasional no Paraíso”.

Em primeiro lugar, a trama se inicia quando o protagonista se vê preso em uma fila para embarcar em um ônibus que o destino era o “Paraíso”. Mas, ele não se encontra sozinho, junto a ele, estão alguns personagens. Enquanto o protagonista aguarda o ônibus, nos deparamos com alguns diálogos entre os personagens, os quais C.S Lewis, de forma reflexiva, queria demonstrar a indignação com a soberba e as vontades que todos os seres humanos têm dentro de si. Ao decorrer da obra, compreendemos, acompanhando os diálogos entre os personagens e protagonista, que todos são “fantasma” ou “espíritos”, e já estão mortos.

O clímax da obra se dá na dificuldade dos personagens em aceitar o Deus Vivo, quem deu uma segunda chance para todos viverem junto a Ele no “Paraíso”. Contudo, todos estão cegos, cada um vê seu próprio deus, os quais não passam do egocentrismo, dúvidas e “pecados” em vida, segundo Lewis.

A obra apresenta vários diálogos muito profundos e reflexivos, onde temos o entendimento sobre o bem e o mal, a graça e o julgamento. Com um ótimo uso da sua criatividade, C.S Lewis cativa tanto com a diversão de uma boa leitura leve, quanto com a seriedade ao abordar vários assuntos desafiadores.

Por fim, o que podemos tirar do Grande Divorcio são várias experiências sobre nossas vidas, fé e reflexão sobre o que Deus significa para nós. Se Deus com sua misericórdia nos desse uma segunda chance para entrar no Paraíso, qual seria nossa decisão? Deixaríamos os prazeres, amores e deuses? 
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LEWIS, C. S. O grande divórcio. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2020.

Disponível nos formatos e-book e físico no Amazon.

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