Escrevi este livro (ou melhor, recuperei-o) durante o confinamento que se deu por causa da pandemia em 2020. Depois de passar uma vida inteira nos queixando de falta de tempo, de repente, tínhamos tempo de sobra e não sabíamos o que fazer com ele. Então, comecei a concluir esta tarefa pendente. Nunca teria me perdoado se a tivesse esquecido.
Há, como creio, muitas coisas a aprender. Não só com as ditaduras, como também com a verdadeira missão do jornalista, que é questionar e desafiar os detentores do poder.
A história da entrevista censurada com Nicolás Maduro — como a realizamos, como nos despojaram dela e como a recuperamos — sempre esteve aí. Eu só precisava transcrevê-la, contextualizá-la, contar o antes e o depois, e incluir todas as vozes que a tornaram possível. O tempo passado não diminui sua relevância.
O ditador continua aí. Como em toda história, há coisas que não posso contar, para proteger a vida e a confidencialidade das nossas fontes. A operação para recuperar a entrevista, por exemplo, pôs muitas pessoas em risco. Contudo, o mais extraordinário foi a intenção e a motivação da maioria dos venezuelanos que colaboraram conosco: desmascarar e expor o ditador.
Dentro e fora do círculo vermelho de Maduro, há muitos venezuelanos absolutamente convictos de que não há futuro para seu país sem a queda do ditador. Alguns deles me ajudaram a preparar as perguntas e a pesquisa. Outros me apoiaram na Venezuela. Vários outros fizeram até o impossível para recuperar o material e para que a entrevista viesse à luz.
Tudo pela democracia da Venezuela e em defesa da liberdade de imprensa.
Como jornalista, eu sabia que pouquíssimas vezes na vida temos a oportunidade de entrevistar um ditador. Quando soube que Maduro estava disposto a falar comigo diante das câmeras de televisão, não pude perder a oportunidade. Preparei a minha entrevista como poucas vezes havia feito e analisei cada uma das perguntas. Especialmente a primeira, que define o ritmo e o tipo da conversa. Contudo, jamais pensei que fariam todo o possível para que a entrevista não fosse vista, que eu acabaria preso e deportado, e que os próprios agentes da ditadura roubariam o nosso equipamento.
Esta é a incrível história do que aconteceu.
Jorge Ramos
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RAMOS, Jorge. 17 minutos: entrevista com o ditador. São Paulo, SP: Editora Hábito, 2021
Descrição do prefácio da obra [p.11-12]
Disponível nos formatos físico e ebook Editora Hábito e Amazon
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