sábado, 20 de março de 2021

TODO MEU CAMINHO DAINTE DE MIM [Resenha 018/21]


Embora C. S. Lewis seja um dos autores mais prolíficos da história, com contribuições diversas nos campos teóricos e literários, ele levou anos para desenvolver sua voz como escritor. Este diário – agora em formato de livro - acompanha sua fase inicial, período em que ele começava seus estudos em Oxford e ainda amadurecia seu estilo de escrita e suas referências teóricas.

Já nesse período, o leitor pode perceber como Lewis era culto. Ele devorava livros, que foram seu amor ao longo da vida e a base de seu trabalho como estudioso e escritor. Naturalmente, sua obra deixa transparecer a variedade de referências, contendo camadas com centenas dos grandes livros da história escondidos nas palavras do autor.

Os registros dos cadernos aqui apresentados (que vão de 1922 a 1927) possibilitam ao leitor formar um senso único de Lewis de maneiras que podem ajustar em sua mente a imagem do homem e do escritor, ajudando a descobrir os padrões de pensamento de Lewis fora do ensino formal e da escrita.

Para que o leitor realmente encontre Lewis, os organizadores tiveram a preocupação de não interferir no texto com alterações que comprometessem a forma original. Por isso, as abreviações são conservadas e até mesmo alguns erros ortográficos que não comprometem o sentido da frase. Foi mantido o uso de maiúsculas desnecessárias com a intenção de manter a autenticidade e o sabor do texto lewisiano.

Por idêntico motivo, não foi alterada a estrutura das frases — mesmo em casos que geram estranhamento ou parecem pouco corretos — a não ser que a clareza do pensamento estivesse comprometida. Sempre que possível, há explicação através de notas de rodapé conceitos que aparecem no livro, assim como os autores e obras mencionados. Contudo, muitas referências podem ter ficado de fora, já que é impossível mapear com precisão todo o intrincado de pensamentos que passavam pela cabeça do autor. Mas esse é justamente o desafio e a diversão de ler Lewis. Como J. R. R. Tolkien disse uma vez, à respeito de Lewis, ao biógrafo George Sayer: “Você nunca vai chegar ao fundo dele”.

Lewis encerrou seu diário com a anotação de 2 de março de 1927. Embora não tenham sido copiadas para os Lewis Papers, o caderno contém várias outras páginas de diário. Lewis fez anotações do dia 19 a 22 de janeiro e em 2 e 3 de junho de 1928 em inglês antigo e uma anotação em 4 de junho de 1928 em latim. O caderno também contém “retratos” ou descrições escritas de nove colegas de Lewis no Magdalen College, durante o período em que a última parte de seu diário estava sendo escrita. Eu acredito que eles foram feitos para acompanhar o diário e os incluí em um apêndice.

A diferença mais significativa entre o que é encontrado nos Lewis Papers e este livro é que este é bem mais curto. O diário inteiro usa, mais de um quarto de milhão de palavras, e o Espólio de Lewis e os editores achavam que o livro ficaria mais palatável para mais leitores se fosse diminuído em cerca de um terço. Isso foi feito de tal maneira que nenhum dos principais interesses de Lewis — amigos, livros, vida doméstica — fosse perdido. Havia muitas repetições no diário, e eu cortei principalmente alguns dos muitos detalhes das tarefas domésticas que, ouso dizer, Lewis estaria feliz em esquecer quando foram escritas.
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Lewis, C. S. Todo meu caminho diante de mim. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020. 640p.

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