sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

DEUS NO BANCO DOS RÉUS [Resenha 004/21]


“O homem de antigamente aproximava-se de Deus (ou dos deuses) tal qual um acusado se aproxima do juiz. Para o homem moderno, os papéis são invertidos. Ele é o juiz; Deus está no banco dos réus.” Esta idéia da relação do homem moderno com Deus é uma espécie de “fio condutor” dos 45 textos que compõem a coletânea Deus no banco dos réus. É uma publicação póstuma, de 1970, sete anos após a morte de Lewis. Os textos foram reunidos pelo editor Walter Hooper para, segundo ele, fornecer um “antídoto” contra “obras controversas – e, muitas vezes, apóstatas – de religiosos que ‘problematizam’ cada ensaio da fé que são pagos para defender”.

Os textos cobrem um período de 24 anos e incluem de tudo: palestras, cartas, artigos para jornais, artigos para publicações mais especializadas, prefácios para outros livros, entrevistas. São tipos muito diferentes de texto, dirigidos, por vezes, a públicos também muito diferentes. Ao longo do livro, Lewis faz ou uma defesa explícita da fé cristã e da sua razoabilidade, ou uma exposição de um ponto de vista cristão (atenção: um ponto de vista cristão, não necessariamente o ponto de vista cristão) a respeito de certos temas em debate na sociedade.

Os 45 textos deste livro estão divididos em quatro partes. A Parte I – com 23 ensaios - claramente teológicos, cujo assunto principal é milagres. Lewis afirmava que a fé despojada de seus elementos sobrenaturais não pode, de modo algum, ser chamada de cristianismo. Parte II - contém 16 ensaios semiteológicos. Parte III – contém 9 ensaios - cujo tema básico é ética. Parte IV, é composta por todas cartas de Lewis sobre teologia e ética que apareceram em jornais e revistas, organizadas na ordem cronológica em que foram publicadas.

O Lewis que aparece em Deus no banco dos réus é alguém que apoia a ciência e a busca pelo conhecimento, mas que desconfia profundamente daquilo que os homens podem fazer com ela. Seja usá-la para a defesa do materialismo ou do ateísmo, extrapolando as implicações de teorias ou descobertas científicas, seja para estabelecer uma tecnocracia – um dos temas, aliás, que permeiam o último volume de sua Trilogia Cósmica. Essa desconfiança não tem nada a ver com alguma característica da ciência, mas com o fato de sermos criaturas decaídas, afetadas pelo pecado. “Poderemos nos tornar ora mais beneficentes, ora mais malignos. Meu palpite é que seguiremos por ambos os caminhos; consertaremos uma coisa e estragaremos outra, eliminaremos sofrimentos antigos e produziremos sofrimentos novos, proteger-nos-emos aqui e nos arriscaremos ali” (p. 383).
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LEWIS, C. S. Deus no banco dos réus. Rio de Janeiro, RJ. Thomas Nelson Brasil, 2018. 416p.

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