quarta-feira, 8 de maio de 2019

O ZELO EVANGELÍSTICO DE GEORGE WHITEFIELD [Resenha]


LAWSON, Steven J. O zelo evangelístico de George Whitefield. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014. 160p.


O AUTOR

Dr. Steven J. Lawson é o pastor da Christ Fellowship Baptist Church em Mobile, Alabama e serviu por vinte e cinco anos como pastor em Arkansas e Alabama. Ele formou-se Bacharel em Administração de Empresas na Universidade Tecnológica do Texas, em Mestre em Teologia no Seminário Teológico de Dallas, e em Doutor em Ministérios no Seminário Teológico Reformado.

Dr. Lawson escreveu treze livros, sendo os mais recentes Foundations of Grace e Psalms - Volume II (Salmos 76-150), na série Holman Comentários no Antigo Testamento. Seus outros livros incluem Famine in the Land: A Passionate Call for Expository Preaching; Psalms - Volume I (Salmos 1-75), e Job, na série Holman Comentários no Antigo Testamento; Made in Our Image; Absolutely Sure; The Legacy; e Faith Under Fire. Seus livros têm sido traduzidos em várias línguas, em várias partes do mundo, incluindo russo, italiano, português, espanhol e a língua Indonésia.


O LIVRO

Na apresentação do livro, escrita pelo próprio autor da obra, intitulada “Seguidores dignos de serem seguidos”, ele nos diz que através dos séculos, Deus providencialmente tem levantado uma longa linha de homens piedosos, os quais têm usado de modo poderoso em momentos estratégicos na história da igreja. Estes valorosos soldados da cruz vieram de todos os tipos de vida - desde os prédios cobertos de hera das melhores escolas de elite até as empoeiradas salas dos fundos de pequenos artesãos. Surgiram de todos os pontos deste mundo - desde locais de alta visibilidade, em cidades densamente populosas, a obscuros vilarejos dos mais remotos lugares. A despeito dessas diferenças, essas figuras fundamentais têm muito em comum.

Cada um desses homens possuía não somente uma fé inabalável no Senhor Jesus Cristo, mas também, tinham profundas convicções sobre as verdades que exaltam a Deus, conhecidas como doutrinas da graça. Embora tivessem diferenças secundárias em questões de teologia, andavam ombro a ombro na defesa dos ensinamentos bíblicos que engrandecem a soberana graça de Deus na salvação. Eles sustentavam a verdade fundamental de que "a Salvação é do Senhor" (Jonas 2.9; SI 3.8).

Qualquer avaliação de história da igreja revela que aqueles que assumiram estas verdades reformadas tiveram confiança extraordinária no seu Deus. Longe de paralisar esses gigantes espirituais, as verdades da soberana graça lhes deram coragem para levantar e avançar a causa de Cristo sobre a terra. Com visão ampliada de sua graça salvadora, com ousadia, eles deram passos adiante e realizaram, muitas vezes, a obra de vinte homens. Subiram com asas como águias e sobrevoaram o seu tempo. As doutrinas da graça os fortificaram para que servissem a Deus na hora divinamente determinada, deixando uma influência piedosa sobre gerações futuras.


SERIE UM PERFIL DE HOMENS PIEDOSOS

Esta série, Um Perfil de Homens Piedosos, destaca personagens principais da procissão de homens da graça soberana através dos séculos. O propósito da série é examinar como essas personagens utilizaram os dons e habilidades dados por Deus para impactar seu tempo e difundir o reino do céu. Sendo eles corajosos seguidores de Cristo, os seus exemplos são dignos de serem imitados hoje.

O presente volume enfoca o grande evangelista britânico George Whitefield. No século XVIII, tempo infestado pela ortodoxia morta, Whitefield rompeu no cenário com poder e paixão. Em dias marcados por grande declínio espiritual, Whitefield pregava com unção sobrenatural e intensa ousadia, tornando-se o principal catalisador da entrada de dois reavivamentos simultâneos, um no Reino Unido e o outro nas colônias da América do Norte. À medida que o

Senhor lhe dava forças, a voz de clarim de Whitefield conclamava homens e mulheres aos pés da cruz. Quem sabe não tenha havido outro arauto do evangelho que fosse usado tão efetivamente, em tantos lugares, durante período tão extenso de tempo. Por estas e inúmeras outras razões, George Whitefield permanece eminentemente digno de ter seu perfil nesta série.

O autor conclui: Que o Senhor use grandemente este livro para dar coragem a uma nova geração de líderes, a fim de que eles, como Whitefield, deixem uma indelével marca por Deus neste mundo. Por meio deste perfil, que você se fortaleça para andar de modo digno de seu chamado. Que você seja cheio da Escritura e, portanto, zeloso em seu empenho evangelístico, para a exaltação de Cristo e o avanço de seu reino.


RAIOS DE UM CÉU SEM NUVEM

O autor diz: Se eu pudesse ser qualquer figura da história da igreja, desejaria ser George Whitefield. Digo isso, não por sua grande habilidade de oratória nem sua fama mundial, mas principalmente por seu ardente zelo evangelístico. Preeminentemente, Whitefield instilou em mim uma paixão pela pregação. Fui motivado a buscar maior ousadia pela verdade por meio de Martinho Lutero. Adquiri maior desejo de pregar a Escritura de maneira sequencial, expositiva, através de João Calvino. Fui desafiado em termos de disciplina na vida cristã por meio de Jonathan Edwards. Aprendi a necessidade de um intenso foco no evangelho em cada sermão através de Charles Spurgeon. Mas, quando chego a George Whitefield, sou cativado por seu zelo ímpar na proclamação da mensagem do evangelho até os confins da terra.

Aqui temos o propósito do livro. Neste livro, é meu desejo desvendar o coração de um homem que ardia por realizar a obra de Deus. Minha sincera esperança é que o exemplo de George Whitefield renove a sua paixão por levar o nome de Cristo às nações. Oro para que este livro mova uma nova geração de pregadores do evangelho, que avancem nos campos do mundo, brancos para a colheita. Mas, antes de examinar a vida e o ministério desse homem extraordinário, permita-me estabelecer primeiramente o ambiente histórico no qual ele viveu.


O CONTEXTO EM QUE GEORGE WHITEFIELD VIVIA

Para o mundo de língua inglesa, o século XVIII foi um período monumental de despertamento espiritual. Martyn Lloyd-Jones chamou este tempo de "a maior manifestação do poder do Espírito Santo desde os dias apostólicos".^ Essa era provou ser tempo sem precedentes de esforços evangelísticos e renovação espiritual. Seus efeitos se estenderam por dois continentes e foram especialmente dramáticos, dada a letargia espiritual que permeava a igreja e a cultura da época. Este tempo provou ser nada menos que uma "segunda reforma".

Desde o século XVII a pregação do evangelho havia se esfriado em toda a Europa, mas especialmente na Inglaterra. A igreja estatal já estava em declínio espiritual. O presbiterianismo havia se enfraquecido, e os batistas gerais começavam uma escorregadia descida do arminianismo para o unitarianismo.

Diversos fatores causaram tais dias de sequidão. Muitas igrejas não exigiam mais uma membresia regenerada e eram descuidadas quanto a quem admitiam à Mesa do Senhor. O puritanismo sofreu um golpe devastador quando o parlamento aprovou o Ato de Uniformidade em 1662, que dividiu permanentemente a Igreja da Inglaterra de todas as demais igrejas protestantes, dali em diante conhecidas como "Dissidentes". Debaixo de Carlos II, este decreto determinou uma forma mais católica de orações públicas, o sacerdócio, os sacramentos, e outros ritos na Igreja da Inglaterra. Pastores puritanos foram obrigados a abandonar as suas ordenações originais e serem reordenados sob essa nova forma da igreja do estado.

A crise que se fomentava chegou ao ápice em 24 de agosto de 1662, no dia de São Bartolomeu, quando dois mil ministros puritanos foram enxotados de suas igrejas. Em um só dia, a maior geração de pregadores do evangelho foi despedida do púlpito e proibida de pregar. Esses pastores puritanos sofreram restrições ainda maiores com a aprovação do Ato De Conventicle, em 1664. Foram banidos da pregação em campos ou condução de cultos particulares de adoração nos lares dos párocos. Restrições ainda maiores vieram com o Ato das Cinco Milhas, em 1665, que proibia os pastores expulsos de chegar mais perto que cinco milhas das suas antigas igrejas, bem como de qualquer cidade ou vilarejo em que tivessem pastoreado anteriormente.

Essa perseguição foi retirada em 1689 pelo Ato de Tolerância, sob Guilherme e Maria [William e Mary], mas até chegar esse tempo, a maioria dos principais pastores puritanos já havia morrido. Proibidos de serem enterrados em cemitérios adjacentes às igrejas inglesas, muitos pastores puritanos foram sepultados em um cemitério separado, não conformista, em Bunhill Fields, fora de Londres. Incluídos nesse cemitério desprezado estavam pessoas de renome como John Bunyan, John Owen, Isaac Watts e Thomas Goodwin. Considerados párias indignos, estes homens de Deus eram sepultados fora dos limites da cidade. A influência puritana havia declinado fortemente.

Ao mesmo tempo, muitos púlpitos anglicanos altamente estimados ensinavam uma corrupção moralista e legalista da justificação pela fé. Tal declínio doutrinário deixava a igreja inglesa com pouco apetite pela pregação da Palavra. Havia desvanecido qualquer interesse pelos perdidos. Como os apóstolos no jardim de Getsêmane, os pastores ingleses tinham deixado de vigiar e eram acalantados em profundo sono. As convicções bíblicas foram substituídas pelas filosofias seculares prevalecentes. Havia verdadeira fome na terra por ouvir a Palavra de Deus.

Foi nesse vazio espiritual que Deus levantou o evangelista inglês George Whitefield. Como um raio vindo de um céu sem nuvens, Whitefield subiu ao palco mundial como o mais eloquente arauto do evangelho desde os dias do Novo Testamento. Deus deu poder a Whitefield para se tornar como uma lâmpada de chamas fortes, colocada sobre uma montanha, no meio do negro império de Satanás.

Esta figura poderosa, de incomum fervor evangélico, encabeçou um ressurgimento cristão sem precedentes. Sua retumbante voz foi catalisadora de despertamento espiritual, à medida que sua pregação tomou conta das Ilhas Britânicas como tempestade, dando choques elétricos às colônias americanas. Através de seu zelo evangelístico, Whitefield atiçou as chamas do avivamento até que se espalhassem no coração de incontáveis homens e mulheres. Pode-se afirmar que mediante a sua pregação, as Ilhas Britânicas foram salvas do que seria equivalente à Revolução Francesa. E do outro lado do Atlântico, uma nação nasceria com o despertar de sua proclamação do evangelho.

Dados os muitos males que contaminam a igreja de hoje, a presente geração necessita uma forte dose de George Whitefield. Ao olharmos o cristianismo dos dias atuais, existe muito pelo qual ser grato, especialmente à luz do ressurgimento reformado dos anos recentes. Contudo, tem se tornado uma tendência para muitos deste movimento se afastar em uma clausura calvinista, tendo pouco impacto sobre o mundo a seu redor. Whitefield, mediante seu intenso envolvimento com o mundo e sua fervorosa proclamação do evangelho, tem muito a nos ensinar sobre aquilo que tem de ser desesperadamente recobrado.

Temos muitos apologetas pobres, dando palestras inócuas em nossos púlpitos hoje em dia. A necessidade da hora é de calorosos proclamadores de Deus e de sua graça salvadora - não apenas explanadores filosóficos. E muito fácil nos emaranharmos nas teias das pressões sociais e políticas que deslocam nosso dever principal de pregar a Cristo. Na presente hora, é necessário recuperar a profunda crença de Whitefield na soberana graça de Deus, junto com um desejo zeloso de chamar os perdidos ao arrependimento e fé em Cristo. Whitefield via como maior necessidade do ser humano o estar bem diante de Deus. Whitefield cumpria o chamado de Deus, de conclamar com paixão a um mundo perdido que perecia, para que cressem no evangelho. Nós também precisamos fazer o mesmo.

Este livro além da apresentação, prefácio e conclusão possui seis capítulos, que iremos trabalhar com pequenos recortes com o propósito de levar os leitores a conhecer homens piedosos que foram usados por Deus e fomentar seguidores de Cristo que venham a ser dignos de serem igualmente seguidos.


CAPITULO 1: UMA FORÇA PARA O EVANGELHO

Aos vinte e um anos de idade, Whitefield foi regenerado pelo Santo Espírito, e depositou sua fé em Cristo. Confessou: “Um homem pode frequentar a igreja, fazer suas orações, receber o Sacramento, e, no entanto, [...] não ser cristão. [...] Senhor, se eu não for cristão, se eu não for um cristão autêntico, por amor de Jesus Cristo, mostra-me o que é o cristianismo, para que eu não seja condenado em última instância. Leio um pouco adiante, e o engano foi descoberto. Oh, diz o autor, os que conhecem alguma coisa da religião sabem que é uma união vital com o Filho de Deus, Cristo formado no coração. Oh, que raio de vida divina rompeu então sobre minha pobre alma”.

Uma sofrida busca por aceitação da parte de Deus, que durou cinco anos, agora foi cumprida. Nascer de novo seria o tema repetido de todo seu futuro ministério. Ele declarou: Finalmente, Deus se agradou de remover o pesado fardo, de fazer com que eu me apropriasse de seu amado Filho com viva fé, e dar-me o Espírito de adoção, selar-me, conforme humildemente espero, para aquele dia de eterna redenção. Mas, oh! Com que alegria — alegria indizível — mesmo a alegria plena e grande de glória, minha alma se encheu, quando o peso do pecado foi removido.

Whitefield, totalmente convertido, estava tomado por um desejo que consumia tudo: conhecer a Cristo mais intimamente. Em humilde submissão, começou a ler sua Bíblia de joelhos e devorava a Exposição do Antigo e do Novo Testamento, de Matthew Henry. Esse saturar da verdade bíblica imediatamente o fundamentou na fé reformada, a qual moldaria profundamente a sua pregação. [p.24-25]


CAPÍTULO 2: UMA VIDA DE DEDICAÇÃO SINGULAR

Ao observar essa profunda paixão por Deus, J. C. Ryle descreveu Whitefield como "homem de surpreendente falta de interesse em si mesmo, e singularidade de visão. Parece que ele vivia apenas com dois objetivos — a glória de Deus e a salvação das almas”. O ministério evangelístico mundial de Whitefield jorrava de sua cordial busca da glória de Deus. Ele era consumido por fervoroso desejo de conhecer o próprio Deus. Esse desejo acendeu um fogo contagioso na alma, e isso por sua vez levou outros a um conhecimento de Cristo para a salvação.

Whitefield era, conforme Lloyd-Jones identificou, “um pietista, ou seja, alguém que via a devoção pessoal e prática ao Pai e ao Filho por meio do Espírito sempre como prioridade máxima do cristão”. Mark Noll explica: "Os pietistas estão sérios quanto à vida de santidade e gastam todos os esforços para obedecer a lei de Deus”. Com este fim. Whitefield orava sinceramente: "Deus, dá-me profunda humildade, zelo bem dirigido, ardente amor, e olhar somente a ti, e que homens ou diabos façam seu pior!”

Lloyd-Jones descreveu ainda a vida de Whitefield como sendo caracterizada por "uma mui surpreendente piedade". Essa piedade autêntica se manifestava através das cartas pessoais de Whitefield, nos comentários do seu diário, nos encontros que tinha diariamente com inúmeras pessoas, e em sua proclamação pública. Não há dúvida da razão porque Deus honrou de modo incomum o seu ministério de pregação. Whitefield era capaz de colocar-se de pé diante dos homens, porque primeiramente se ajoelhara diante de Deus.

A devoção espiritual de Whitefield foi estabelecida sobre seu compromisso inabalável com a Bíblia. Uma vez que se converteu, a Escritura imediatamente tornou-se seu alimento necessário e acendeu o fogo de sua alma por Deus. Quanto mais se imergia na Bíblia, mais profunda era sua dedicação por conhecer a Deus e promover o seu reino

O biógrafo Arnold Dallimore descreve os primeiros dias de Whitefield como crente, quando a única luz visível na cidade vinha de sua janela do segundo andar, enquanto ele ingeria as verdades da Escritura Sagrada. Dallimore escreve: “Podemos vê-lo às cinco da manhã em seu quarto, acima da livraria Harris. Ele está de joelhos, com sua Bíblia, seu Novo Testamento grego, e um volume de Matthew Henry espalhados diante dele”. De livros abertos diante de um coração disposto, Whitefield olha da Bíblia em língua inglesa para o grego e então para o comentário de Matthew Henry, procurando discernir e digerir as verdades divinas da Escritura.

A Palavra de Deus tornou-se de tal forma consumidora na vida diária de Whitefield, que ele confessava ter pouco tempo para ler qualquer outra coisa: “Adquiri mais verdadeiro conhecimento pela leitura do Livro de Deus em um mês do que eu poderia jamais ter obtido de todos os escritos dos homens.

Enquanto vivia para Cristo, a Palavra de Deus tornou-se autoridade regente de sua vida. Marcava a trilha sobre a qual Whitefield constantemente descobria belas vistas de redenção, sacrifício, amor e alegria. A Escritura fez com que ele amasse ainda mais a seu Deus. “Estude para conhecê-lo cada vez mais, porque quanto mais o conhecer, mais você o amara”, disse ele. Whitefield desejava tornar-se mais como seu Senhor com cada palavra que lia, e foi forjado sobre a bigorna da Escritura. Sua grande devoção à Escritura tornou-se a comunhão de Deus que descia sobre ele. [p.44-47]


CAPÍTULO 3: UMA TEOLOGIA DE GRAÇA SOBERANA

Pode-se defender que George Whitefield fosse o mais prolixo evangelista desde o tempo dos apóstolos. No entanto, ao mesmo tempo, ele era firme calvinista. Por baixo de sua pregação apaixonada do evangelho havia uma inabalável crença na soberania de Deus na salvação do homem. (a) Foram as doutrinas da graça que incendiaram sua alma com a santa compulsão de alcançar o mundo com a mensagem de Cristo. Alguns defendem que essas duas realidades — soberana graça e zelo evangelístico — não podem coexistir. Mas nada podia estar mais longe da verdade. Graça e zelo se encontram perfeitamente na Escritura, e existiam lado a lado no ministério de Whitefield. Nenhuma pregação será mais forte que a doutrina sobre a qual ela se baseia, e as verdades da graça soberana provaram ser forte fundamento para o ministério desse prolixo evangelista.

Whitefield possuía, de acordo com J. I. Packer, um “clássico arcabouço agostiniano da graça soberana”. O historiador Lee Gatiss, compilador dos sermões de Whitefield, escreveu que ele era “um crente fiel da doutrina reformada da salvação e da teologia bíblica reformada.” Outro historiador da igreja, Mark Noll, concorda: “Ele pregava sobre a vontade escravizada pelo pecado, o poder eletivo de Deus, e a expiação limitada — todos temas do calvinismo tradicional”. Embora fosse calvinista restrito, Whitefield derivava as suas convicções teológicas, não da leitura dos escritos de João Calvino, mas pelo estudo da própria Escritura. As horas investidas no estudo da Palavra o levaram a abraçar com paixão o ensino claro das Escrituras sobre a graça soberana de Deus.

"Abraço o sistema calvinista, não por Calvino, mas porque Jesus Cristo o ensinou para mim”. Whitefield dizia. De fato, era raro ele mencionar Calvino em suas cartas ou sermões. Em vez disso, ele dependia, primeira e principalmente, do claro testemunho da Escritura. Numa de suas primeiras cartas a João Wesley, em 1740, Whitefield escreveu: “Infelizmente eu nunca li nada que Calvino escreveu; minhas doutrinas eu as recebi de Cristo e de seus apóstolos; deles eu aprendi sobre Deus”. Whitefield lia e estudava a Palavra de Deus, e dela obteve essas profundas convicções — as mesmas crenças centrais que Calvino também sustentava.

De acordo com E. A. Johnston: “Para entender George Whitefield e o que o motivava, temos de conhecer a sua teologia”. Além do mais, “É o motivo que o movia. [...] As doutrinas da graça deram-lhe fogo no púlpito, para clamar e advertir aos homens sobre a ira vindoura, para que dela fugissem e viessem aos amorosos braços de um maravilhoso Salvador”. As convicções teológicas de Whitefield lhe davam coragem em tudo que ele praticava e proclamava. Desde o inicio de seu ministério, a sua aderência às doutrinas da graça lançou o fundamento sobre o qual construiria todo o seu ministério. [p.61-63]


CAPÍTULO 4: UM EVANGELHO SEM COMPROMETIMENTOS

Como ganhador de almas, Whitefield viveu para glorificar a Jesus Cristo e chamar pecadores perdidos ao arrependimento e fé nele. O foco de seu ministério extraordinário foi a simples proclamação do evangelho e o apelo aos não convertidos para que entrassem pelo caminho estreito. Onde quer que estivesse — em uma igreja, em campo aberto, na praça de uma cidade, em um navio, numa casa e com quem estivesse — quer fosse da realeza, carvoeiros simples, os mais cultos, os mais rudes — Whitefield, corajosamente, sempre estava exaltando a Cristo e chamando com fervor por seu veredicto. Ele tinha o propósito de não estar com ninguém por mais de quinze minutos sem confrontá-lo com as reivindicações de Cristo.

No coração do prolixo ministério de Whitefield estava a mensagem do evangelho. Ele se deleitava nas verdades da livre graça de Deus na expiação substitutiva de Cristo. O próprio coração de Whitefield fora cativado pelo evangelho enquanto ainda estudante em Oxford, e ele havia resolvido levar essa mesma mensagem transformadora de vida para as massas. Escolheu não esperar que os nãos conversos viessem a ele. Como um que vai atrás de uma ovelha perdida que se desviou do aprisco, Whitefield ardentemente buscava os perdidos, necessitados de Cristo. Era este o cerne de sua pregação e a alma de seu ministério.

Neste capítulo, o leitor encontra os principais elementos que definiam as atividades evangelísticas deste notável avivalista. O autor se concentra no fato de que, em seu ministério evangelístico, ele continuamente expunha o pecado, exaltava a cruz, requeria a regeneração, convocava a vontade e apontava para a eternidade. Aqui estavam as forças motivadoras por trás dos esforços de Whitefield como ganhador de almas. Entender essas verdades essenciais é compreender a dinâmica do ministério que se estendia dos dois lados do oceano. [p.80-81]


CAPÍTULO 5: UMA PAIXÃO QUE CONSUMIA

A paixão de Whitefield surgia das profundezas de suas convicções bíblicas. As fortes crenças foram acesas primeiramente em seu coração no momento de sua conversão. Essas verdades firmemente cridas foram cultivadas com o passar dos anos por meio de intensa oração e diligente estudo da Palavra. Muitos pregadores têm convicções fracas, e, portanto, pouca paixão. George Whitefield, porém, possuía uma profunda persuasão quanto à verdade, o que por sua vez, alimentava a sua paixão na pregação. Sua crença no evangelho da graça soberana atiçou as chamas do coração a ponto de tornarem--se uma fornalha ardente.

J. C. Ryle declarou corretamente: "[Whitefield] teve sucesso em demonstrar às pessoas que ele cria em tudo aquilo que estava dizendo, e que seu coração, sua alma, sua mente e sua força estavam todos propensos a fazer com que eles também viessem a crer." Mesmo sob pancada de tomates podres jogados enquanto pregava, gatos mortos jogados contra o palanque, e a barulheira odiosa de interrupções, Whitefield era impelido adiante em todo seu ministério, por seu convencimento da verdade, que era sólido como rocha. Quer em campo aberto, numa casa ou em um navio, Whitefield acreditava estar pregando por chamado divino. A reputação de sua coragem e convicção ia adiante dele, e o avivamento seguia no seu encalço.

Sempre que estava de pé atrás de uma Bíblia aberta. Whitefield era inteiramente convicto de estar entregando a verdade de Deus. Acreditava firmemente estar alimentando pão da vida a mendigos famintos. Tal convicção interior criava uma paixão ardente em sua pregação. Como árvore arraigada em solo rico, Whitefield era inabalável. Permaneceu firme nas doutrinas cardeais que cria serem essenciais para a salvação. Quando falava, usava palavras simples para se dirigir a toda ordem e condição entre seus ouvintes. Ele o fazia com a certeza de que era porta-voz divinamente comissionado por Deus, e trazia a verdade divina em seu favor: “Agradeço a Deus, por estar tão longe de mudar meus princípios, dos quais tenho certeza que fui ensinado pela palavra e pelo Espírito de Deus, que sou cada vez mais confirmado, de que se eu tiver de morrer neste exato momento, espero ter a força e coragem que me foi dada a dizer: Estou mais convencido da eficácia e do poder destas verdades que eu pregava quando tinha vinte anos, do que quando primeiro as preguei”.

Essas convicções faziam de Whitefield uma autoridade de Deus. Ele cria ter sido enviado por Deus a levar a mensagem divina documentada pelas infalíveis Escrituras. Tal crença aprofundava sua paixão quando ele falava. Ele não pregava suas próprias opiniões, mas a própria sabedoria de Deus, que abalava e sacudia seus ouvintes de qualquer enfado: “Se eu viesse falar-vos em meu próprio nome, poderíeis repousar os cotovelos sobre os joelhos, a cabeça sobre as mãos e dormir, e de vez em quando levantar a cabeça para dizer ‘Do que fala esse tagarela?’ Mas eu não vim no meu próprio nome. Não, eu venho em nome do Senhor Deus dos Exércitos", e — aqui ele de repente batia a mão e o pé, fazendo a casa inteira ressoar — "e tenho se ser ouvido, e serei ouvido! Todos na casa deram um sobressalto, até o velho pai, que sempre ficava dormindo com os outros. "Sim, sim," continuou o pregador, olhando para ele: "Eu te acordei, não foi? Foi de propósito. Não vim pregar a paus e pedras; vim até vós em nome do Senhor Deus dos Exércitos. “Tenho de ter ouvintes e eu os terei.”

Tais convicções de Whitefield dominavam o coração de seus ouvintes. Até mesmo os descrentes eram atraídos à força de sua firme fé na verdade. David Hume, filósofo e céptico escocês, foi desafiado ao ser visto indo ouvir George Whitefield pregar: "Pensei que você não acreditasse no evangelho", alguém lhe disse. Hume replicou: "Não acredito, mas ele acredita". Era essa pujante convicção na verdade da Palavra de Deus que atraía, como ímã, as grandes multidões para ouvir sua pregação. [p.99-101]


CAPÍTULO 6: UM MANDADO DO SENHOR

Whitefield acreditava que muitos pastores na Igreja da Inglaterra não eram convertidos nem chamados. Esses pregadores não regenerados não tinham sido designados por Deus ao ministério, e pregavam sermões vazios e sem vida. J. I. Packer disse: “O clero anglicano escrevia e lia sermões chatos, da espécie levemente moralista e apologética”.

Em forte contraste a essa retórica vazia. Whitefield pregava, de maneira mais semelhante à pregação dos apóstolos. Packer explicou ainda: “Whitefield pregava de improviso sobre céu e inferno, pecado e salvação, o amor de Cristo até a morte, e o novo nascimento, revestindo seus simples esboços expositivos com brilhante e dramática retórica, que desafiava as consciências, reforçando suas alterações vocálicas de suavizar e cutucar com grande quantidade de movimentos e gestos corporais, assim acrescentando grande energia às coisas que dizia”.

Era o Santo Espírito que estimulava a mente de Whitefield, colocava fogo em sua alma, inflamava seu coração, alimentava sua paixão e fortalecia seu corpo. A sua pregação reintroduziu as verdades antigas da Escritura à atmosfera seca da pregação do evangelho. Ele empregava todos os seus dons e talentos a essa tarefa sagrada. Mas somente o chamado e a dotação do Espírito podem explicar a extensão do impacto de Whitefield.

A produtividade de Whitefield se estendia além da sua pregação. Whitefield dava miríades de entrevistas pessoais a indivíduos que procuravam seus conselhos, mantendo um prodigioso ministério de escrever cartas. Fundou três igrejas e uma escola, e fundou e assumiu a responsabilidade por um orfanato em Savannah. na Geórgia. Disse ele: “Tenho de me dedicar mais e mais ao esforço de fazer o bem às almas preciosas e imortais”. Seu coração era de tal maneira inundado em favor dos outros que ele sentia-se compelido a levar-Ihes a Palavra de Deus. Era essa a determinação de Whitefield. [p.118-119]

A vida de Whitefield demonstra que nem mera concordância com a verdade nem a correção doutrinária basta para exercer influência evangelística efetiva. Tem de haver o poder do Espírito acompanhando essa verdade, tanto no pregador quanto no ouvinte. Como escreveu Whitefield: “Ah, como as verdades divinas encontram seu próprio caminho quando atendidas pelo poder divino”. Qualquer poder que Whitefield possuísse não era proveniente de suas capacidades humanas natas, mas do Espírito que nele habitava.

"A ortodoxia não basta". Martyn Lloyd-Jones escreveu. "Havia pessoas ortodoxas no tempo de Whitefield, mas eram comparativamente inúteis. É possível exibir uma ortodoxia morta”. Refletindo sobre a obra do Espírito em Whitefield. Lloyd-Jones acrescentou: “O poder do Espírito é essencial. Temos de ser ortodoxos, mas Deus nos livre de repousar em nossa ortodoxia. Temos de buscar o mesmo poder do Espírito que foi dado a George Whitefield. Esse nos dará uma tristeza pelas almas, uma profunda preocupação com elas, e o zelo necessário para nos capacitar a pregar com poder e convicção a todas as classes e todos os tipos de homens”. [p.121]


CONCLUSÃO

Na conclusão deste magnífico livro o autor escreve: É virtualmente impossível ler sobre a vida e ministério de George Whitefield sem se impressionar com seu zelo evangelístico. Temos nele um homem que se entregou inteiramente ao chamado mais nobre de todos — a pregação para as almas dos homens. Sem truques e acessórios, sem fumaça e espelhos, aqui está um humilde mensageiro, armado apenas com o evangelho, encorajado pelo Espírito, buscando reavivar a igreja e ganhar os perdidos para Cristo. Temos aqui uma alma em fogo e uma vida zelosa por proclamar o glorioso evangelho. Whitefield jamais perdeu de vista o fato de que era vil pecador, salvo pela incomparável graça do Redentor, jamais promoveu a si mesmo, mas desejava simplesmente que Cristo fosse glorificado por meio de seus muitos labores. Ele não permitiu que nenhuma instituição cristã ou movimento religioso recebesse seu nome. Era modelo de humildade retraída, até mesmo quando estava entre dolorosas controvérsias. Jamais defendia sua própria causa, nem buscava a atenção do público. Em vez disso, Whitefield buscava apenas a honra de Deus na salvação das almas perdidas. O que mais aprendemos da vida de George Whitefield? Entre suas muitas qualidades que vale à pena imitar, vemos a primazia do evangelho em sua pregação. Ele vivia para proclamar a mensagem salvadora de Jesus Cristo. Nos dias atuais em que muitos no ministério tentam ser muitas coisas, tais quais empresários, marqueteiros, estrategistas, comunicadores, atores, dramaticistas, organizadores, promotores, e coisas semelhantes, nos deparar face a face com alguém como Whitefield é um desafio.

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As Firmes Resoluções de Jonathan Edwards
O Foco Evangélico de Charles Spurgeon

A Arte expositiva de João Calvino


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