O AUTOR E O SEU LIVRO
Dr. Bernardo Campos, um dos maiores especialistas em pentecostalismo na América hispânica. Peruano, é pastor ordenado pelas Assembleias de Deus daquele país e teólogo desde 1979. Graduou-se em teologia pelo Seminario Evangélico de Lima (SEL). Licenciado em teologia pelo Instituto Superior Evangélico de Estudios Teológicos (ISEDET) da Argentina (1989). Mestre em Ciências da Religião pela Universidad Nacional de San Marcos (1998) e doutor em teologia pela Rhema University dos EUA (2008).
É atualmente professor do Seminario Evangélico Peruano (Presbiteriano), El Seminario Wesleyano del Perú (Metodista), El Seminario Bíblico Alianza del Perú e, mas recetimente, na Facultad Davar de la Iglesia El Tabernáculo de Dios. E, também, pastor da Iglesia Catedral del Espíritu Santo em Lima, capital do Peru. É autor de diversos livros, entre eles a Reforma Protestante a Pentecostalidade da Igreja (Editora Sinodal) e Hermenêutica Pentecostal (Fonte Editorial) a ser lançado em breve.[1]
Na apresentação do livro lemos: O livro Hermenêutica do Espírito poderia ser também Hermenêutica Pentecostal pois trata na realidade da forma como interpretamos os acontecimentos históricos à luz da Bíblia e do Espírito Santo. Se é para ser entendido como pentecostal deverá primeiro entender o que é, mas não no sentido denominacional ou confessional. Ê pentecostal enquanto se refere ao evento fundante de Pentecostes com validade para o cristianismo em geral.
Para o autor, portanto, hermenêutica do Espírito é uma proposta teórica que sugere dar um passo a mais depois da exegese e da hermenêutica tradicionais. Interpretar o que acontece no mundo à luz das Escrituras supõe, não somente o manejo das ferramentas exegéticas e das normas de interpretação. Exige também uma análise da realidade sócio-histórica, a iluminação do Espírito Santo para captar em profundidade, o sentido mais pleno das Escrituras, assim como a arte de conectar temas do Antigo e Novo Testamento por analogia para encontrar sentidos teológicos.
Concluímos que Hermenêutica do Espírito, como seu nome técnico indica, é a interpretação da Bíblia e dos acontecimentos históricos com a direção do Espírito Santo, cuja finalidade última é reconhecer o Messias, autor de nossa salvação. É uma interpretação vital dos acontecimentos que apontam para o Messias.
O livro está assim dividido e vamos trabalhar com resumos, e quando preciso for, iremos fazer intervenções.
PARTE I: O "MUNDO DO ESPÍRITO" - A ESPIRITUALIDADE
Nesta primeira parte "O Mundo do Espírito" tem três capítulos e descreve o âmbito espiritual no qual se movem os que conhecem a Deus. Refere-se ao fato dos crentes sempre buscarem um sentido nas coisas; como constroem significados em sua experiência religiosa.
A construção de significados na espiritualidade - O mundo do Espírito é uma realidade em que os crentes se movem pela fé e operam em uma lógica distinta da lógica humana racional. É um âmbito no qual se movem os crentes e desde onde interpretam a realidade como uma realidade espiritual A partir desta construção simbólica da realidade, constroem significados que dão sentido a suas vidas. Pelo geral constroem sentidos usando categorias e significados próprios de sua cultura e suas tradições. Inclusive lendas e crenças ancestrais jogam um papel protagônico como materiais com os quais constroem e reconstroem novos significados. O mundo do espírito, como chamam os crentes, especialmente místicos e carismáticos, é um universo simbólico bastante complexo no que se entrecruzam signos de distinta origem, cultural, religioso, ideológico político, econômico, assim como um caudal de significados próprios da imaginação popular ou de uma inteligência espiritual. [p.17]
O sentido da Fé Cristã - Se pudéssemos reduzir o conteúdo da fé cristã em poucas palavras, teríamos que ficar com o propósito da vida eterna, sinalizado por Jesus Cristo: "Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17.3). Conhecer a Deus e a seu enviado, o Messias prometido pelos profetas, é a razão última da fé e da vida cristã. [p.18]
O capítulo 1 onde o autor trabalha a teoria de uma Hermenêutica do Espírito, ele mostra o dois ponto de Partida de uma HDE[2]
O ponto de partida epistemológico - Por ponto de partida epistemológico entendemos a Revelação de Deus. É a priori do que fazer teológico e, por definição, a base de toda reflexão e hermenêutica teológicas. [p. 23]
O ponto de partida existencial - O ponto de partida existencial ao contrário, é a mesma experiência religiosa, cultural e social, individual ou coletiva. Mas, diferente do ponto de partida epistemológico, o ponto de partida existencial é historicamente anterior à Revelação, pois desde ela começamos todo processo cognoscitivo e de interpretação no horizonte religioso. [p.25]
No capítulo 2 o autor começa a fornecer a base e a importância da experiência na interpretação. Lembrando que a experiência para um pentecostal é algo de sumo importância.[3] Já é amplamente conhecido o fato que os pentecostais consideram uma tensão dialética entre autoridade da Escritura e autoridade da experiência. No processo de interpretação a experiência de cada uno joga um papel importante e até determinante. É a experiência distinta de cada um o que faz que entendamos a realidade de maneira significativa e particular. [p.27]
A experiência do sobrenatural é, em si mesma, verdadeira para o sujeito que a vive e sua veracidade não pode ser questionada por um sujeito externo. Só se pode constatar sua autenticidade e legitimidade. Se entrar na mesma dimensão ou na mesma lógica, pode fazer que essa experiência seja também extensível. Mas essa é a condição. É necessária uma empatia (uma congenialidade) com o outro para compreender - o ao menos acercar a – sua experiência ou reproduzir a nosso modo a mesma. [p.29]
No capítulo 3, ele trata de algo que para mim não é novo, com exceção do conceito que ele desenvolve. Trata-se de Inteligência espiritual. A primeira que li algo foi no livro “Inteligência espiritual” de Danah Zohar e Ian Marshall.
Subjetividade e Objetividade – O autor escreve: Se aplicarmos nossa teoria à leitura e compreensão da Bíblia a partir de uma nova experiência do Espírito, o que sucede é um processo cognoscitivo que chamamos tecnicamente eiségesis. Trata-se do processo hermenêutico ou interpretativo que denominamos eisegético em um sentido positivo, pois todo intérprete de maneira inconsciente "introduz" na compreensão do texto bíblico questões e perspectivas contemporâneas que nem sempre foram consideradas pelo hagiógrafo ou escritor sagrado. É o aspecto subjetivo da interpretação da qual não nos podemos livrar, mas sim devemos controlar. É nossa vivência o que nos permite aproximarmos ao texto e encontrar nele sentidos" que, desde outras experiências, ou da ausência delas, não se visualizariam. Não obstante o que foi afirmado, a eiségesis tem também um sentido negativo quando pretende fazer dizer ao texto o que o texto não quis dizer. Isto é deplorável na interpretação bíblica. Uma eiségesis sem exegese conduz ao erro e a uma perigosa e irracional arbitrariedade. A exegese, pelo contrário, é o processo de extrair o sentido de um texto, considerando as perguntas frequentes: Quem escreveu este texto, a quem, quando, onde, como e por quê, em quê circunstâncias? Não obstante, uma pura exegese, sem uma experiência que a motive, é simplesmente uma leitura técnica, como feita por uma máquina ou um literato bem informado. Uma leitura sem sentido específico para o intérprete. O estudo científico da Bíblia é necessário, mas não é suficiente. Necessitamos interpretar com o Espírito para encontrar seu sentido profundo e imediato para nós. [p.31]
Critérios de juízo e de verdade (Paradigmas) - Na vida religiosa, os paradigmas como critérios de juízo e de verdade históricos, mudam a raiz de experiências novas, operando como novas racionalidades para explicar a experiência do "sobrenatural". Ao mudar os antecedentes, os consequentes são então percebidos como de uma natureza diferente. No caso da interpretação bíblica, as novas experiências individuais ou coletivas são as que enriquecem o sentido do texto e o fazem polissêmico (isto é, com muitos sentidos). Isso quer dizer que, à luz de novas experiências, os intérpretes encontram nos textos bíblicos novos sentidos que não estavam claros em uma leitura anterior. [p.34]
Inteligência espiritual – Com dantes escrevi, “inteligência espiritual” não algo novo que para mim, com exceção do conceito que ele desenvolve. A primeira que li algo foi no livro “Inteligência espiritual” de Danah Zohar e Ian Marshall.[4] Sobre inteligência espiritual, assim conceitua o autor: A explicação da lógica espiritual como "inteligência" espiritual não é possível com os parâmetros tradicionais de interpretação, pelo que se faz necessário um instrumental distinto. Não prestar atenção a este condicionamento da experiência, induz a confusões semânticas e também pragmáticas. Talvez seja esta a razão de uma quantidade de mal entendidos entre as diferentes denominações evangélicas acerca das espiritualidades e sua diversidade. Foi o apóstolo Paulo quem em sua carta aos
Cl 1. 9-10 ora pedindo inteligência espiritual e a descreve como a capacidade dada por Deus para viver plenamente em congruência com a fé no Senhor. Disse: “Por essa razão, desde o dia em que o ouvimos, não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual. E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus”. A inteligência espiritual ocupa-se do sentido de transcendência e está baseada na sabedoria, nossa capacidade de visão holística (total) da realidade profunda, de compreensão de contextos e totalidades significativas. É a capacidade de transcendência, de ir além do biofísico e social, além do corpo e das emoções. Opera, por assim dizer com o olho espiritual (visão no espírito). É uma inteligência transpessoal porque se situa além do ego individual narcisista. Opera com visão universal. É transracional, no sentido que não se limita à racionalidade instrumental mecânica da ciência. É a única que pode dar-lhe sentido espiritual à vida, isto é, gerar sentido transcendente para viver e alimentar a integridade de nossa consciência. A inteligência espiritual é por isso a capacidade de relacionarmos harmonicamente com a totalidade, de estar relacionados com o todo. É a capacidade de ser feliz apesar das circunstâncias, porque se move em uma lógica distinta, a lógica da fé, a esperança e o amor. [p.35-37]
PARTE II - SUSTENTAÇÃO BÍBLICA PARA UMA HERMENÊUTICA DO ESPÍRITO
A segunda parte, "Sustentação Bíblica para uma Hermenêutica do Espírito”, se compõe de seis capítulos breves. O reconhecimento do Messias como objeto material de uma Hermenêutica do Espírito, a unção como método para a HDE e alguns exemplos do Novo Testamento, em que se aprecia como operou esta hermenêutica.
No capítulo 4, o autor afirma que o reconhecimento do Messias é o objeto material de uma HDE. E mostra duas ferramentas imprescindíveis: a) Conhecimento espiritual - Quando na Bíblia se fala de discernimento geralmente se refere ao reconhecimento do Messias. Trata-se de uma revelação, isto é, um desvelamento, [ato de tirar o véu] para reconhecer entre nós ungido de Deus (Mt 16. 17). Assim, no pequeno apocalipse de Marcos 13 se adverte que o retorno do Messias e o discernimento de quem são os Falsos Messias, só pode ser reconhecido por uma HDE. [p.40] b) Atualização concreta e vital do sentido da Escritura - Pela hermenêutica do Espírito os discípulos de João puderam ver em Jesus o Messias, o Filho de Deus, o Mestre o Rei de Israel. Pelo poder do Espírito e ao ver a Jesus ungido pelo Espírito, João Batista pode inclusive entender sua missão (e seu batismo) e encontrar sentido para suas ações preparatórias para o Messias. [p.41]
O capítulo 5 fala tanto da necessidade como também do conceito bíblico-teológico do “discernimento”. Necessidade de discernimento – De acordo com 1 João 4.1-6 devemos provar os espíritos já que muitos falsos profetas poderão apresentar-se e introduzir enganos. O discernimento de espíritos se relaciona muito com a capacidade de analisar com detalhes as palavras empregadas por quem fala as coisas de Deus ou para distinguir entre a verdade e a mentira, como no caso de Ananias e Safira (Atos 5). Segundo as palavras gregas, discernir é a habilidade de distinguir ou separar com o propósito de pesquisar e examinar exaustivamente. O discernimento é considerado uma marca de espiritualidade e maturidade (1 Co 2.14,15). O escritor de Hebreus explica que as pessoas maduras “pelo uso, tem os sentidos exercitados no discernimento do bem e do mal”. Em outras palavras, é uma habilidade que uma pessoa pode aprender exercitando-a diariamente, mas é um dom de Deus. O discernimento é pelo Espírito, mas se alimenta da Palavra de Deus. [p.45-46] Discernimento de espíritos - Paulo se refere a uma HDE quando sinaliza que os cristãos não estão em trevas para que o dia da vinda de Cristo (o Messias) nos surpreenda como ladrão (1 Ts 5.1-7; 2 Ts 2.2). Também adverte que seremos livres do engano das falsas doutrinas ou doutrinas do erro (1 Tm 4.1-3). [p.47]
No capítulo 6 o autor nos mostra a importância da “unção” como método para desenvolver uma HDE. A unção, no Antigo Testamento, repousava sobre certo tipo de pessoas especificas, tais como reis, sacerdotes e profetas. Deus consagrava e capacitava todos estes ofícios ministeriais para seu serviço e para serviço do povo. A unção vinha somente por um tempo específico e depois se ia, não residia permanentemente nestas pessoas. A unção do Santo (1 João 2.20). Segundo manifesta o apóstolo João nós temos a unção do Santo (Jesus), e [por isso] conhecemos todas as coisas (1 João 2.20). Por definição entendemos que todos os cristãos têm a iluminação do Espírito para compreender as Sagradas Escrituras e conhecer qual é a vontade de Deus. Em tal sentido, posso afirmar com tranquilidade, que todos os verdadeiros cristãos estão capacitados para desenvolver uma HDE e reconhecer a presença de Jesus, tanto agora na vida pressente, como no encontro final com ele. Essa unção é o testemunho interno que têm os filhos de Deus de pertencer a Deus, ser propriedade sua, comprados pelo preço do sangue de Jesus, e esse testemunho é firme através da obra do Espírito Santo. Podemos concluir que ao falar da unção, estamos falando da obra do Espírito de Deus na vida do crente, que o capacita ou empodera para a missão na linha do Messias. Em nosso desejo por buscar a unção de Deus podemos cair em desequilíbrios e manipulações que nos conduzirão ao erro. Alguns pregadores são tão ousados que oferecem sua unção, como uma mercadoria ou como o selo de seu apostolado. Convidam a vir ao altar para serem ministrados por ele e assim receber uma manifestação extraordinária. Mas não só eles, senão também os mesmos fiéis, andam buscando os "ungidos de Deus" para que os ministrem, imponham sobre eles as mãos e lhes declarem destino. [p.49, 52-55]
A partir do Capítulo 7 até 9, o autor ilustra a sua proposta de uma hermenêutica do Espírito com três passagens: Lucas 4.18s; Lucas 24 e Atos 2.1-14-39. São três núcleos de sentido bíblicos para compreender o método de uma HDE.
No capítulo 7, o autor escreve sobre a unção do Espírito em Jesus (Lucas 4:18). A unção do Espírito sobre Jesus não só lhe permitiu compreender o alcance de sua missão redentora, senão também experimentar uma atualização concreta do sentido de Isaías 61. No programa messiânico de Jesus descrito por Lucas, Jesus manifesta que o Espírito está sobre ele. A predição que agora se cumpre é o programa de
Jesus, que não foi eleito por ele mesmo, senão que lhe foi prefixado por Deus. Ele é enviado por Deus. Por meio dele visita Deus os homens. Hoje tem lugar sua visita salvadora, que não se deve desperdiçar. Jesus atua em palavra e obra, ensinando, pregando e curando. O tempo de graça já começou para os pobres, cativos e oprimidos. Jesus é o salvador destes oprimidos O grande presente que faz Jesus é a liberdade: libertação da cegueira do corpo e do espírito, libertação da pobreza e da servidão, libertação do pecado e das dívidas. [p.56-57]
No capítulo 8, o autor mostra o desenvolvimento da HDE nos Caminhantes de Emaús (Lucas 24). Na passagem de Lucas 24 vemos como os caminhantes de Emaús ainda quando falam com Jesus, estão como cegos para não ver além do forasteiro que caminha ao lado deles (24.16). É depois da comunhão pessoal, o partir do pão e a releitura das Sagradas Escrituras, que eles puderam reconhecer que o que andou com eles não foi um simples forasteiro, senão o Deus perto (Jesus ressuscitado) que buscava ter comunhão na vida cotidiana. Graças a uma HDE tiveram os olhos abertos para o entendimento, para compreender o sentido de sua experiência. Lucas, ao narrar como o Cristo ressuscitado abre os olhos de seus discípulos para que contemplem seu verdadeiro sentido no plano de Deus. Só quem se “converteu ao Senhor”, que capta com fé que Jesus de Nazaré é o Messias e Filho de Deus anunciado das Escrituras. O Messias não só é o objeto da interpretação: é a chave por excelência para desvelar as Escrituras. [p.59-61]
No capítulo 9 o autor ilustra a sua proposta de uma hermenêutica do Espírito com a última passagem - Pedro, primeiro teólogo de Pentecostes (Atos 2.14-39). Lucas apresenta Pedro como o primeiro teólogo do evento Pentecostes e por isso, seria o primeiro dos apóstolos em desenvolver uma HDE. Pedro pode reler o evento Pentecostes in situ como o cumprimento das profecias de Joel. Pentecostes é acontecimento e a interpretação desse acontecimento com as Escrituras. Enquanto o gentio que não conhecia Jesus pensava com sua mente natural que era o produto de uma bebedeira (Atos 2.13), Pedro, no poder do Espírito, interpreta o evento como o cumprimento in situ da profecia de Joel. Nesse instante se estava cumprindo uma profecia e se tinha que discernir espiritualmente. Que acontecimentos atuais apontam para o retorno do Messias? Como reconhecer sua vinda, se não é mediante uma HDE?Quem são os anticristos de nossa época? Como discernir entre Cristo e o Anticristo? Como encontrar um sentido espiritual nas realidades naturais? Creio que Deus – no poder de seu Espírito – nos tem dotado de uma capacidade espiritual para entender, interpretar, conhecer, reconhecer, profetizar, descobrir, sentidos profundos; encontrar águas da vida, em poços naturais. Temos a mente de Cristo. Temos uma inteligência espiritual. [p.62-63]
PARTE III – INTERPRETAÇÃO DE ACONTECIMENTOS ATUAIS DO ESPÍRITO
Na terceira parte deste livro, o autor aborda três eventos que reclamam desde muito uma interpretação, ou uma hermenêutica do Espírito. Aqui ele trata propriamente do movimento pentecostal e mais particularmente a algumas de suas manifestações. Entre elas, a guerra espiritual, e a interpretação profética de sonhos e visões. Portanto, trata-se de três capítulos adicionais, com o propósito é levar o leitor a ensaiar pelo Espírito a interpretação destes fatos à luz da Bíblia.
No capítulo 10, conforme o título nos chama atenção trata-se da interpretação do Movimento Pentecostal como evento do Espírito. Ele começa com a seguinte interrogativa: O movimento pentecostal ou carismático, com sua glossolalia e suas manifestações rituais supõe uma experiência legítima que vem de Deus ou é nada mais que uma forma de religiosidade entre outras? A resposta vem em seguida. A experiência pentecostal tanto antiga como atual, é uma experiência genuína do Espírito Santo em uma comunidade de crentes que se auto definem como “pentecostais" isto é, continuadores da experiência de Pentecostes. A experiência do Pentecostes foi de responsabilidade de Pedro, teólogo pentecostal que conectou a experiência de Pentecostes com a profecia de Joel para os últimos tempos e atualizou assim a mensagem do texto bíblico antigo. Essa experiência de Pedro, repetida pelos cristãos ao longo dos séculos, tem dado lugar ao que tenho chamado Pentecostalidade. [p.66-69]
A Pentecostalidade é assim uma experiência universal que expressa o acontecimento de Pentecostes em sua qualidade de princípio ordenador da vida daqueles que se identificam com o avivamento pentecostal e, por ele mesmo, constroem desde ali uma identidade "pentecostal”. Em resumo, a pentecostalidade seria assim o princípio e prática religiosa tipo, informada pelo acontecimento de
Pentecostes; uma experiência universal que eleva à categoria de "princípio" as práticas pentecostais e pós-pentecostais que intentam ser concretizações históricas dessa experiência primordial. Primordial enquanto fundante da experiência presente e enquanto dadora de sentido e identidade às novas experiências. [p70]
No capitulo 11, o autor mostra o que significa identidade às novas experiências, tais como o titulo do capitulo - O Movimento de Guerra Espiritual e Libertação como HDE. O que nos últimos anos se tem conhecido com o nome de “guerra espiritual” ou “vitória espiritual” é uma articulação teológica sobre demonologia, escatologia e pneumatologia, aplicada à doutrina e prática da missão da igreja, conhecida nos círculos acadêmicos como missiologia. Trata-se, portanto, de um conjunto de crenças acerca de como está constituído o universo, quem o povoa e que entidades o dominam.
Sobre este assunto, o autor diz: No nosso caso, confessamos que o tema da “guerra” espiritual e libertação, não chegamos simplesmente como pesquisadores, já que como crentes abertos ao Espírito, nós enfrentamos, durante o ministério, a entidades espirituais de maldade e que a ciência não reconhece como válidas, mas que são mais reais do que queremos aceitar. Estas modificam a diário o comportamento das pessoas, produzindo patologias ou enfermidades e dolências que nem a mesma psiquiatria pode modificar. E para às quais ciências sociais, incluída as ciências da religião, têm limitações. Neste tema, como na interpretação dos movimentos do Espírito, se requer uma "Hermenêutica do Espírito" sustentada sobre uma feliz combinação entre princípios de exegese bíblica e experiência. Unicamente assim poderíamos fazer aproximações ao "mundo" espiritual, já que só mediante uma metodologia teológica, crítica e racional, não poderíamos aceder. Requer-se uma HDE e algumas categorias novas de análise.
Com a guerra" espiritual, cura interior e libertação espiritual, estamos diante de uma obra profundamente espiritual, para a qual a santidade e a oração, assim como a total dependência de Deus e a abertura ao Espírito Santo, são indispensáveis. Esta se move em uma racionalidade distinta à ocidental. Para compreendê-la há que entrar nessa lógica, do contrário só ficaremos na caricatura ou na mera opinião. A luta contra entidades demoníacas ou satânicas, neste terreno, se livra em um horizonte puramente espiritual. Se bem ajuda o conhecimento da Bíblia (como critério último e necessário), o discernimento espiritual como reconhecimento do mal e os demônios, o ouvir a voz de Deus interna ou audivelmente, as visões de reconhecimento, ou o conhecimento de manifestações extraordinárias, são imprescindíveis. Estas últimas devem submeter-se ao juízo das Sagradas Escrituras. [p.73-78]
No ultimo capítulo do livro, ou seja, o capítulo 12, o autor, dentro de sua concepção pentecostal, ela diz que Deus nos fala de muitas maneiras e todas elas - para verificar sua autenticidade – têm que ter seu correlato nas Sagradas Escrituras ao menos em um sentido global. Esta percepção é frequente entre os que têm um ministério profético. Podem ouvir a voz de Deus diretamente ou através de sonhos e visões.
Contudo, sobre a a proeminência das Sagradas Escrituras, ele escreve: Uma coisa que devemos ter em mente é que a Bíblia está completa, havendo coberto tudo o que necessitamos saber para nossa salvação. Isto não quer dizer que Deus já não faça milagres ou que não fale através de sonhos e visões hoje em dia. A diferença é que Deus já tem revelado o caminho que Ele elegeu para tratar com o ser humano desde agora até a eternidade, e esse caminho é Cristo e o sabemos pela Bíblia. Qualquer coisa que Deus disse, já seja em sonhos, visões, ou mediante uma voz interna ou externa (audível), terá que estar em completo acordo com o que Deus já tem revelado em Sua Palavra. [p.80]
O autor assim conclui esse livro: Em outra oportunidade poderíamos discutir a cientificidade de uma HDE e sua validade para às Ciências Bíblicas. Sua fundação como método, contudo, deverá sustentar-se em uma consulta à tradição hermenêutica mais ampla da igreja, à história da teologia e à moderna ciência bíblica, em correlação com a discussão hermenêutica contemporânea.
Sua leitura é obrigatória para todas as pessoas que buscam compreender o agir do Espírito Santo a partir de sua própria experiência pentecostal para o empoderamento do testemunho cristão no conturbado momento histórico em que vivemos.
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[1] Trecho da Biografia retirado do site <https://teologiapentecostal.blog/2015/06/21/latinidade-e-pentecostalismo-uma-entrevista-com-bernardo-campos/> Acesso em 25 mai de 2019
[2] HDE abreviatura para “Hermenêutica do Espírito” a qual começa a usar a partir da p. 21
[3] Por exemplo, representando o ponto de vista pentecostal clássico William G. MacDonald descreve a teologia pentecostal como uma “teologia certificada pela experiência”. Respondendo à crítica de que o pentecostalismo tem uma ênfase excessiva na experiência na forma de emocionalismo, ele pergunta: “Essa experiência santa resulta em uma teologia centrada na experiência? ” Ele responde: “Dificilmente. A melhor maneira de rotulá-la é esta: teologia cristocêntrica, certificada pela experiência.” William G. MacDonald, “A Classical viewpoint,” in Perspectives on the New Pentecostalism, edited by Russell P. Spittler (Grand Rapids: Baker Book House, 1976) p.6.
[4] Segundo a psicóloga e filosofa americana Danah Zohar, autora do livro Inteligência Espiritual, lançado no Brasil, essa capacidade se caracteriza pelos seguintes traços: capacidade de ser flexível; grau elevado de auto-conhecimento; capacidade de enfrentar a dor; capacidade de aprender com o sofrimento; capacidade de se inspirar em ideias e valores; relutância em causar danos aos outros; tendência para ver conexões entre realidades distintas; tendência a se questionar sobre suas ações e seus desejos, com perguntas como “por que agir de tal maneira? ” ou “o que aconteceria se agisse de outra maneira?”; capacidade de seguir as próprias ideias e ir contra as convenções. In ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. Q S: Inteligência espiritual. Tradução Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Viva livros, 2016.
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