segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O QUE APRENDI EM NÁRNIA [Resenha]


WILSON, Douglas. O que Aprendi em Nárnia. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2018. 178p. 


O AUTOR E O LIVRO 

Eu na verdade sou um apreciador de todos os textos produzidos por Douglas Wilson, mas lendo este livro descobri coisas novas acerca deste autor. Primeiro, ele diz que foi criado como um “narniano” e segundo a forma como fala de C. S. Lewis: “E, claro, gostaria de agradecer a C. S. Lewis, o homem que me influenciou mais do que todos os outros autores que já li. Muitas vezes o encontro no final de cada linha de raciocínio, perto da raiz de cada árvore. As dívidas não são pagas simplesmente ao reconhecê-las, contudo, por mais frágil que seja a sua expressão, o reconhecimento ainda deve ser expresso. Sou profundamente grato.” 

Douglas Wilson começa esta série de meditações sobre As crônicas de Nárnia de C. S. Lewis com a seguinte observação: “Este livro de modo algum se destina a ser uma introdução a Nárnia. Ao contrário, está mais para uma conversa entre dois amigos sobre alguns outros bons amigos, falando sobre os bons momentos que tivemos e por quê”. Wilson realça os temas práticos da vida cristã e madura que emergem dessas histórias clássicas (nobreza, confissão, graça completa) – um contraste feliz à pobreza da vida moderna. Obrigatório para todos os fãs de Nárnia, jovens ou velhos. 

O livro é composto de sete capítulos contendo sete lições que o autor aprendeu lendo “As Crônicas de Nárnia”. Pra o autor essas lições ou verdades básicas estavam no centro de como o Senhor usou essas histórias em sua vida e a sua esperança é aqueles que leem esse livro sejam alcançados e compreendam essas verdades. 

Além do agradecimentos e introdução, os sete capítulos estão divididos com os seguintes temas: Autoridade, confissão de pecados, nobreza, disciplinas espirituais, paixão por histórias, graça perfeita e amor por Aslam e amor a Deus. 


CAPÍTULO 1 - AUTORIDADE 

Antes de iniciarmos o resumo deste capítulo é muito importante observar o que o autor fala sobre a conexão entre Aslam e Jesus. C. S. Lewis foi bastante inflexível em dizer que os livros de Nárnia não são uma alegoria. Ao contrário, ele chamou esses livros de “uma grande suposição”. Suponha que existiu outro mundo como Nárnia e que Deus entrou nele de um modo semelhante ao que entrou no nosso – com que ele se pareceria? Portanto, os habitantes de Nárnia, em geral, não possuem significados específicos alegóricos. Mas, Aslam, obviamente, preenche o lugar de Jesus nesta grande “suposição”. Certa vez ele às crianças, quando elas estavam para voltar à Inglaterra, que lá o conhecerão por “outro nome”. No final de A Viagem do Peregrino da Alvorada vemos uma visão dele como um cordeiro, o símbolo cristão de Jesus. Em A Última Batalha, quando tudo converge em um juízo final, fica muito claro, novamente, que Aslam é Cristo, o Juiz. 

Portanto, exatamente como em nosso mundo toda autoridade verdadeira flui de Jesus Cristo, assim também, em Nárnia, toda autoridade verdadeira flui de Aslam. Ele estabelece o padrão da verdadeira autoridade que seus seguidores imitam, e o fundamento básica dessa autoridade, em contraste direto com os personagens maus sobre os quais iremos identificar, é de sacrifico e entrega. 

Wilson descreve autoridade da seguinte forma: “Autoridade é algo inevitável. Isso significa que as pessoas podem usá-la correta ou incorretamente, mas não podemos evitar por completo ter pessoas em posição de autoridade. Do mesmo modo, as pessoas podem submeter-se à autoridade correta ou incorretamente (ou á autoridade certa ou errada), mas sempre estão sujeitas a algum tipo de autoridade. Autoridade é algo que Deus estabeleceu nesse mundo e, por direito de criação, ele é a autoridade última por aqui. Contudo, uma vez que a humanidade é depravada, temos muitas maneiras de abusar da autoridade ou de tentar negá-la completamente” [p.15] 

Falsa autoridade – As Crônicas de Nárnia contém muitos personagens que tentam abusar da autoridade de muitas formas. Mas, no fim, todos têm um ponto em comum. A raiz de todos os seus problemas é o egoísmo e a ganância – o oposto da ordem bíblica para os líderes serem sacrificiais e generosos. Os que exerceram uma falsa autoridade, são eles: Miraz, de O Príncipe Caspian (assassino e usurpador); Eustáquio Mísero, de A viagem do Peregrino da Alvorada (não tem respeito pelos pais e defende o igualitarismo); Jadis, de O Sobrinho do mago (pelo fato de serem magos acreditam estar “acima das leis”); Achosta, de O cavalo e seu menino (Exerce um autoridade fundamentada no puxa-saco, adulação e manipulação); Manhoso, o manipulador de A última batalha (ele é um tipo que manipula através do mentir e trapacear para conseguir o quer) e os Anões, de A última batalha (outrora eram escravo e agora entendem que todas as autoridades devem ser escravocratas, então resolvem se livrar de toda a autoridade). Todos estes, obtiveram sua autoridade por meios injustos e escusos, ou abusando egoisticamente da autoridade que já possuíam, ou (mais comumente) ambos. [p.23] 

A verdadeira autoridade é sacrificial – Aslam é o principal exemplo e padrão, e é exatamente como Jesus neste quesito. Mas, a feiticeira, em “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”, só entende o tipo de autoridade aferradora: se quer algo, você o toma. Ela não entende o tipo de autoridade de Aslam. O que ela pensa quando Aslam chega para negociar a libertá-lo de Edmundo? Lembre-se de que Edmundo traíra seus irmãos e, por conta disso, mesmo se ele tivesse sido resgatado da feiticeira, ela teria direito legítimo sobre ele, porque este é um traidor. Aslam não questiona o direito. Ao contrário, faz algo surpreendente e incompreensível para todos aqueles que, como a feiticeira, percebem apenas o tipo de autoridade aferrador: ele aceita entregar-se em troca de Edmundo. Isto porque Aslam sabe que o caminho para a autoridade é o sacrifício. Quando a feiticeira o vê chegando, acredita que triunfou. Tudo que ela entende é o que Aslam chama de “a magia profunda””, a qual permite ao traidor ser liberto se outro escolher morrer em seu lugar. Contudo, após Aslam ressuscitar, ele explica o equívoco da feiticeira: “A feiticeira pode conhecer a magia profunda, mas não sabe que há outra magia ainda mais profunda” (p.174). A magia ainda mais profunda é que amor e sacrifício vencem o ódio e a ganância. Eles geram a autoridade verdadeira e última. [p.27-28] 

A verdadeira autoridade é humilde – Todos os vilões mencionados até aqui – Miraz, Jadis, Tio André, manhoso e até mesmo Achosta – são orgulhosos e ensimesmados, coisas que vão acompanhadas de sua falsa autoridade. Mas Aslam é o padrão de autoridade verdadeira, e quando ele outorga esse tipo de autoridade aos seus servos, a verdadeira humildade chega com ela. É obvio que nenhum deles é perfeito – pois têm pecados e imperfeições residuais -, mas exercem a autoridade de maneira coerente com verdadeira humildade. São eles: Príncipe Caspian, que quando questionado por Aslam se estava pronto para assumir o reino, a sua resposta foi: Bem não sei – respondeu Caspian. – Não passo de um garoto. - Muito bem- replicou Aslam. – Se dissesse que tinha a certeza, seria a prova de que não estava apto a reinar. (p.389). Caspian percebe a verdadeira natureza da autoridade, que envolve grande sacrifício pessoal, e essa compreensão produz humildade. Ele admite que não se sente pronto para assumir tal encargo e, paradoxalmente, isso significa que ele está pronto. [p.29-30] 

Autoridade e Obediência – Até a esta parte do livro, se tem falado sobre a verdadeira e falsa autoridade no contexto das pessoas que ocupam essa posição. E o que dizer daquelas que estão debaixo de autoridade? Qual a forma certa ou errada de reagir à autoridade dos outros? Wilson cita dois exemplos. Primeiro, o anão Trumpkin, em O Príncipe Caspian – que mesmo não concordando com Caspiam e da decisão do conselho, lhes permanece leal e respeitosamente se submete à sua autoridade. Esse tipo de obediência não deve envolver murmuração ou indolência. A obediência deve ser de corpo e alma, quer você considere a tarefa uma ideia, quer não. Segundo, A Cadeira de Prata fornece outro exemplo de lealdade em alguém que está debaixo de autoridade. Perto do fim do livro, Eustáquio e Jill são furtivamente carregados para uma reunião de corujas no meio da noite. Ele não conhece os pormenores da política de Nárnia, mas sabe onde está, e suas primeiras palavras são uma grande prova do seu caráter: “O que pretendo dizer é o seguinte: sou fiel ao rei, e se esta reunião de corujas tiver qualquer caráter subversivo, minha presença aqui é um equívoco” (p.542). 

A verdadeira autoridade e submissão é uma das grandes lições de Nárnia — não apenas como governar sem ser um tirano, mas também como obedecer sem ser um seguidor estúpido ou um escravo. Se você se recusar a obedecer — se se aferra a essa autoridade e diz: "Não obedeço a ninguém senão a mim mesmo!" —, então você, de fato, tornou-se um escravo. Quando você a renúncia, obedece às autoridades que Deus lhe deu e obedece ao próprio Deus, ele o liberta. 


CAPÍTULO 2 - CONFISSÃO DE PECADO 

Aprender como dizer perdão de modo verdadeiro é uma das mais importantes lições que você jamais aprenderá, e isso se dá porque é basicamente uma questão de aprender como ser uma pessoa genuinamente sincera e humilde. Os dois traços da humildade e sinceridade sempre andam juntos. Lewis deixou claro nas histórias de Nárnia que os heróis são fundamentalmente sinceros, ao passo que os maus são fundamentalmente fingidos e orgulhosos. 

Confissões genuínas – Há dois enredos comuns que você pode encontrar em todos os exemplos. O primeiro é que a confissão de pecados se resume a honestidade. O segundo é que as pessoas são constantemente tentadas a confessar os pecados dos outros, em vez de os próprios, e que desaprender esse instinto natural é o primeiro passo para aprender como confessar corretamente. 

Exemplos de confissões genuínas – Em O Sobrinho do Mago, temos Digory e Polly. No começo de O leão, a feiticeira e o guarda roupa, temos o caso de Edmundo que zomba de Lúcia acerca da existência de Nárnia. Em O Cavalo e seu menino, temos o caso de Shasta e Aravis. Em O Príncipe Caspian é o caso de Susana. Em A Viagem do Peregrino da alvorada temos o caso do Príncipe Caspian. Em A Cadeira de Prata, temos o caso de Eustáquio e Jill. Em A última batalha, encontramos a desavença e o pedido de perdão entre Manhoso e o jumento Confuso. 

Exemplos de confissões falsas – Agora, vamos olhar para o outro lado da moeda e ver como Lewis lida com as confissões falsas. Os exemplos que temos, começa com o livro A viagem do Peregrino da Alvorada, encontramos os casos de Eustáquio, Digory, Tio André e finalmente a própria Lúcia. 

É notável com que frequência o tema da confissão se revela em Nárnia. Os temas centrais que interligam todos eles são estes: primeiro, que a boa confissão é sincera e humilde, e isso significa que você não deve inventar, encobrir, minimizar ou dar desculpas; segundo, que Deus perdoa completa e imediatamente aqueles que confessam com sinceridade; e terceiro, que cada pessoa é responsável por confessar seus próprios pecados — não os do seu próximo. 

O que é digno de nota também é a capacidade de Lewis de pegar um assunto como "confissão de pecados e fazer com que as lições certas surjam naturalmente enquanto conta as histórias. Quando você aprende sobre confissão de pecados em Nárnia, não está sentado na igreja ouvindo um sermão, participando de uma conferência ou fazendo um curso de cristianismo prático na escola. É claro que tudo isso são coisas boas de fazer, mas o método de ensino e como aplicá-lo é diferente quando você aprende por meio de uma história. Você aprende que, em algum lugar lá no fundo, você não quer ser um Edmundo — você quer ser um Pedro. Você não quer apontar o dedo, como Lúcia fez quando os outros não quiseram acreditar que ela viu Aslam. Você entende que usar desculpas manifesta pobreza de caráter, pois foi assim que Eustáquio agiu. Você quer contar a história inteira, e não amenizar suas próprias falhas, pois foi assim que Digory e Polly agiram com Aslam. Quanto mais que você lê histórias como essa, mais essas lições se assentam nos seus ossos e mais você se vê como um personagem em sua própria história. É um exercício muito bom de vez em quando parar e pensar: "Se minha vida fosse uma história, estou sendo um personagem admirável neste exato momento ou não?" É incrível quantas camadas de auto justificação mesquinha essa ideia sozinha pode remover. 

A confissão sincera possibilita que pessoas imperfeitas vivam em comunhão umas com as outras como amigos, irmãos, pais, filhos e vizinhos. 

Sem confissão, o pecado acumulado só se fortalece, até que destrua relacionamentos e vidas. Confissão e perdão, longe de serem assuntos cansativos de aprender, são as lições mais fundamentais e libertadoras da vida cristã, e sou profundamente grato que as histórias de Nárnia sejam capazes de ensiná-las de um modo tão claro, eficaz e vibrante. [p.63-65] 


CAPÍTULO 3 - NOBREZA 

O que significa ser nobre? Semelhantemente a conceitos como autoridade e confissão, existem os dois lados da moeda – uma nobreza verdadeira e uma falsa. Existem também personagens sem nenhum tipo de nobreza. O Rei Pedro é um exemplo de nobreza verdadeira. 

A Nobreza é feliz – Em A viagem do Peregrino da Alvorada, o navio aporta nas Ilhas Solitárias, onde eles encontram Lorde Bern, um dos amigos perdidos do pai de Caspian. Lewis descreve a família de Bern assim: Bern, sua simpática esposa e suas encantadoras filhas acolheram os visitantes com alegria (p.424). Pouco tempo depois, Caspian liberta as ilhas dos burocratas rabugentos, gananciosos, negligentes e tirânicos que as haviam governado outrora, e nomeia Bern como duque no lugar dele. Pode-se dizer que Lewis não gosta de muito governantes e burocratas; eles são desprovidos de nobreza. O que as Ilhas Solitárias precisam, de acordo com Lewis, não é de um burocrata enfadonho, mas de um duque nobre com uma família feliz que gosta de dar gargalhadas ao redor da mesa de jantar. 

Nobreza e aparência – A nobreza afeta até mesmo a aparência das personagens. Em A cadeira de prata, quando as duas crianças, o Brejeiro e o Príncipe Rilian, escavam um túnel subterrâneo e desembocam direto na dança narniana da neve, os narnianos imediatamente reconhecem Rilian como nobre. A nobreza de coração e mente está refletida na aparência externa de Rilian; o estado do coração e da mente de uma pessoa revela o seu aspecto para além do nível físico. 

Nobreza e lealdade – Pessoas nobres sempre mantém sua palavra. Em O Príncipe Caspian, temos Nikabrik, o anão, que quando alguém o lembra de que ele fez um juramento de lealdade a Caspian, em resposta ele debocha: “Mesuras da corte!” (p.370). Em outras palavras, ele faz pouco caso de seus juramentos e lealdades e os considera como nada mais do que palavras vazias, e zomba daqueles que acham que tais formalidades têm algum significado. 

Nobreza e sacrifício – Em O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, Aslam – a figura mais nobre da história – se sacrifica no lugar de Edmundo, que é, nessa altura da narrativa, o personagem mais infame. 

Nobreza como dom – Temos visto, até gora, como a nobreza envolve dever, sacrifício, folia e liberdade. Aqueles que estão se tornando nobres estão seguindo o exemplo de Aslam, mas também é importantíssimo notar que essas pessoas não são capazes de fazer isso pelas próprias forças. A capacidade de seguir Aslam fielmente é, em si mesma, um dom dele. 

Nobreza e humildade – Nossos estereótipos de “nobreza” tendem a associá-la com o orgulho. Mas, isso só é verdade em relação à falsa nobreza: a verdadeira nobreza é sempre humilde. Quando (em A viagem do Peregrino da Alvorada) Eustáquio, Lúcia e Edmundo vão dar em Nárnia através de um quadro na parede, eles são arremessados fora do oceano no navio de Caspian. Pra, trata-se de um pequeno navio sem muitos camarotes privativos, mas Caspian é o primeiro da fila a humilhar-se concedendo o seu a Lúcia. 

Nobreza e etiqueta – Nenhuma discussão sobre a nobreza narniana seria completa sem alusão a Ripchip. Pouco tempo após Eustáquio, Edmundo e Lúcia embarcarem no Peregrino da Alvorada, o comportamento detestável de Eustáquio leva Ripchip a desafiá-lo para um duelo. Quando Lúcia intervém, Ripchip condescende com relutância: “Para servir a uma senhora, mesmo uma questão de honra pode esperar, pelo menos por agora” (p.409). Ora, Ripchip tem o que alguns chamariam de um senso superabundante de nobreza, em que ele é rápido para defender (normalmente com um duelo) a honra de qualquer pessoa de bem (muito frequentemente a própria). Mas também sabe que as boas maneiras exigem que “servir a uma senhora” fale mais alto do que praticamente todas as outras preocupações. [p.67-89) 

Nobreza significa dedicação, lealdade, humildade e sacrifício — doar-se aos outros. Mas também significa fazê-lo com alegria e prazer. Doar-se de forma triste e melancólica não é nobre. Tem gente que se doa enquanto fica se remoendo sobre o quanto lhe é difícil e horrível fazer isso. A Bíblia diz que todo aquele que dá também recebe. Se perder a vida por amor a Jesus, você a encontra; mas, se tentar aferrar-se a ela, você a perde. Portanto, se você se doar como um estoico, porque isso é uma coisa nobre de fazer, e pensar "Bem, isso diz respeito às minhas necessidades, meus interesses e minha individualidade", então você não entende isso. Não significa dizer que você receberá de volta tudo a que renunciou, mas significa que o que você recebe será mais glorioso e mais gratificante do que aquilo a que você renunciou. 

Nobreza é algo que você pode manifestar (ou não) em qualquer hora ou ocasião, quer em ocasiões especiais e formais, quer no dia-a-dia. Sua nobreza pode ser testada quando você ajuda sua mãe com a louça ou quando encontra o Presidente da República. Ela pode ser testada numa quadra de basquete na faculdade ou num campo de batalha estrangeiro. A nobreza deve ser praticada em toda parte — com seu irmão, sua mãe, seus amigos e seus inimigos. O mundo é um lugar complicado, mas o âmago da nobreza é simples: sacrifício coroado com alegria. 


CAPÍTULO 4 - DISCIPLINAS ESPIRITUAIS 

Por “disciplinas espirituais”, refiro-me às práticas diárias e habituais de adoração e santificação. Elas são um pouco como o equivalente espiritual de escovar os dentes – algo que você faz todos os dias, de modo que já não considera mais um fardo ou uma importunação. É algo que você sabe que tem que tem que fazer, e fica Felix em cumpri-lo, pois traz benefícios reais e duradouros. Você até fica meio aborrecido consigo mesmo pelo resto do dia se acontecer de esquecer ou se não tiver a oportunidade de fazê-lo. Alguns exemplos de disciplinas espirituais são a oração, a leitura da Bíblia, cultuar a Deus na igreja, tomar a ceia do Senhor e assim por diante. Os teólogos chamam essas práticas de instrumentos ou meios de graça que Deus usa para fortalecer você como cristão, para moldá-lo gradualmente em um determinado tipo de pessoa ao longo do tempo. 

Para Wilson, no livro A Cadeia de prata, as disciplinas espirituais são de fato um tema central da história, e é traduzido por sinais que é dado por Aslam, para dois personagens – Eustáquio e Jill. 

Para que estes personagens obtenham sucesso na missão, Aslam procura imprimir neles a poderosa importância dos sinais. Aslam trabalha neles a importância da memória e esquecimento. Ele os faz repeti-los vezes sem conta, até que tenha memorizado completamente: “Ante de tudo, lembre-se dos sinais! Repita-os ao amanhecer, antes de dormir e, caso acordar, durante a noite” (p.53). A exortação para lembrar é uma lição bastante bíblica. A linguagem de Aslam nessa passagem ecoa fortemente o que Deus manda Israel fazer em Deuteronômio 6.6-9. Meditar na palavra de Deus deve ser uma atitude que permeia todo o seu dia, preenchendo inclusive aqueles pequenos espaços de tempo livre que você dispõe quando está andando pela rua. Considere as palavras de Deus quando você acordar de manhã e quando for dormir. Repita-as. Memorize-as. Elas são os sinais pelos quais Deus guia você através da confusão do mundo e, sem elas, você está perdido. 

A importância da memorização para Eustáquio e Jill eram, porque enquanto eles estão no país de Aslam tudo parece perfeito, mas no mundo real os sinais seriam sufocados pelo cotidiano e desafios. Lewis está ensinando uma lição semelhante sobre disciplinas espirituais. Quando você está fazendo suas devoções diárias, ouvindo o sermão na igreja ou participando de um estudo bíblico, a mensagem de Deus parece muito clara: confie em Cristo, não furte, honre seus pais, perdoe setenta vezes, não cometa adultério e assim por diante. Mas a vida real, cotidiana, tende a fazer suas escolhas parecerem mais complicadas, e a mente tem uma forma de rapidamente tentar esquecer e ignorar o que Deus diz sobre determinado pecado enquanto a tentação está operando. As disciplinas espirituais preparam você para resistir a essa tendência. 

Wilson afirma que quando começamos a buscar seriamente as disciplinas espirituais, descobrimos, mais cedo ou mais tarde, por que elas são chamadas de disciplinas. Elas são difíceis, e você fracassará de muitas maneiras. Por causa disso, é importante lembrar duas coisas: que Deus é rápido em perdoar e rápido em nos capacitar a segui-lo mais fielmente. Ele não está usando essas disciplinas para nos esmagar. Elas são graça, não lei. É assim que Deus nos convoca para a maturidade. E conclui – Da próxima vez que você ler A cadeira de prata, pense nos sinais como as disciplinas espirituais que você está tentando manter na própria vida – orar, estudar a Palavra, cultuar a Deus, privilegiar seu Reino em detrimento dos cuidados desta vida. E exulte nas disciplinas, mesmo quando elas não aparentarem ter qualquer efeito imediato. Elas estão operando. Complete-as e confie em Deus, pois ele o abençoará. [p.91-115] 


CAPÍTULO 5 - PAIXÃO POR HISTÓRIAS 

As histórias de Nárnia são histórias, afinal de contas, e Douglas Wilson, afirma que “de todo o coração o incentivo a simplesmente desfrutar delas nesse nível, sem ficar obcecado em garantir que está aprendendo todas as lições que acha que foram feitas para aprender com elas.” Na concepção de Wilson, as histórias de Nárnia não só nos instruem sobre temas como autoridade, nobreza, confissão e assim por diante; elas também nos ensinam sobre como as próprias histórias funcionam e como devemos pensar sobre elas. Repetidas vezes, Lewis usa suas histórias a fim de nos ensinar que as histórias preparam as pessoas para viver bem em sua própria história — a história de sua vida. 

A importância da história – C. S. Lewis foi um dos grandes estudiosos do século 20 e, como tal, escreveu uma quantidade considerável de não ficção acadêmica. Contudo, uma das razões de ele ter sido esse grande estudioso é que entendeu as limitações do mundo acadêmico e os tipos de deficiências sob as quais os estudiosos frequentemente trabalham. Muitos tipos de verdade podem ser comunicados muito melhor por meio de histórias. 

História como preparação – Uma das lições mais importantes que Lewis ensina é que conhecer as histórias certas é uma boa preparação (O Príncipe Caspian, A viagem do Peregrino da Alvorada, A cadeira de parta). Estes exemplos, são bons exemplos de como os comentários marginais de Lewis realçam o fato de que nosso dia a dia é permeado por histórias, quer saibamos quer não. Muitas das nossas reações instintivas, atitudes, personalidade, decisões e as maneiras como estruturamos nossas experiências são influenciadas por aquilo com que gastamos o nosso tempo lendo (ou, no caso dos leitores modernos, também assistindo). E se você realmente quer adquirir nobreza ou aprender a verdadeira autoridade na vida real, as histórias são um dos meios primários de fazer isso. Elas fornecem a você exemplos do tipo de pessoa que você quer se tornar, e adquire essa estrutura mental. As histórias determinam como você pensa, para o bem ou para o mal. Wilson, afirma que “as histórias podem ensinar-lhe lições de diferentes épocas e culturas que você jamais poderia ter aprendido de outra forma. Existem muitas coisas que aprendi em Nárnia que eu não teria aprendido simplesmente por ter crescido nos Estados Unidos, mas, por tê-las aprendido lá, posso praticá-las aqui. 

Esta é uma das principais razões por que estimulo as crianças a ler as histórias de Nárnia repetidas vezes. Elas não são apenas divertidas de ler; há, também, muitíssimas coisas importantes a serem aprendidas nelas. Se não crescem lendo livros como esse, as crianças vão ler (ou, como é bem provável, assistir) outra coisa. Outra coisa preencherá a lacuna — e pode não ser o tipo correto de história, de modo algum.” 

Apaixonando-se por histórias verdadeiras – Histórias não são apenas meios para meter informação na cabeça das pessoas; são algo que podemos amar pelo valor intrínseco que possuem. Toda boa história que é contada aqui na terra possui uma espécie de realidade vaga, mas sempre se vale de uma verdade e realidade mais profundas. J. R. R. Tolkien certa vez foi perguntado se achava que O Senhor dos Anéis realmente aconteceu em algum lugar, em alguma época. Ele respondeu: "Espera-se". Lewis e Tolkien acreditavam que a arte de contar histórias era muito mais do que apenas inventar algo. Ela dizia respeito aos escritores humanos, como portadores da imagem de Deus, imitando a obra criativa dele. Embora não possam criar coisas físicas no mundo real, eles podem, contudo, criar mundos que ressoam a verdade da realidade de Deus. É por isso que Lewis disse que uma boa história de aventura é mais verdadeira que uma história insípida. Os eventos na história podem não ter acontecido, mas se assemelham mais fielmente com o tipo de mundo que Deus fez do que um recontar morto de eventos verdadeiros. E quando, por fim, entrarmos no céu, perceberemos plenamente como todas as melhores histórias estavam prefigurando a última e maior história de todas. 

Wilson termina este capítulo de modo surpreendente. “Pode ser que alguns de nós fiquem tentados a pensar que o mundo cristão precisa, ao contrário, de mais de livros de teologia; eu, no entanto, considero isso fundamentalmente contra o espírito da Bíblia. A Bíblia não é um livro cheio de teologia e doutrina. É um livro cheio de histórias, poesia, profecias e canções, junto com alguns livros doutrinários. É óbvio que não estou dizendo que teologia e doutrina são irrelevantes — são essenciais. Mas muito da palavra de Deus veio a nós na forma de história. Quer sejam as parábolas de Jesus ou as grandes histórias do Antigo Testamento, como Davi derrotando Golias, Josafá triunfando com o coral à frente do exército, as muralhas de Jericó ruindo, a fuga do Egito e a abertura do Mar Vermelho — todas elas nos levam a pensar na vida cristã e nosso relacionamento com Deus como uma história. Fomos feitos para viver como vivemos em uma das histórias de Deus. Portanto, aprenda com a história de Israel e com as parábolas de Jesus. Aprenda através das histórias de grandes escritores cristãos como C. S. Lewis. Leia-os, releia-os e depois leia-os novamente. Quando você se deixar tomar por essas histórias, não apenas as desfrutara você será moldado e ensinado de muitas formas inesperadas e proveitosas, muitas das vezes sem nem perceber. Esse é o poder da história. [p.117-136] 


CAPÍTULO 6 - GRAÇA PERFEITA 

Wilson começa fazendo uma bela afirmação: “Nárnia ensinou-me não apenas sobre Cristo (através da figura de Aslam) e a igreja (através da figura dos fiéis narnianos) em si e de si mesmos, mas também sobre a natureza do relacionamento entre Cristo e seu povo. O melhor e mais simples modo de descrever esse relacionamento é que ele é fundamentado na graça. Ora, a graça envolve muito mais do que ser meramente "gentil" ou "legal". Significa mostrar favor, doação e entrega. Por causa da natureza do relacionamento entre Criador e criatura, tudo o que temos, bem como a nossa própria existência, são completa e inteiramente dádivas — nada mais.” 

O Sacrifício de Aslam e o fundamento da graça (Doutrina da Expiação) – A história fundamental da graça nas histórias de Nárnia é, naturalmente, o sacrifício de Aslam por Edmundo em O leão, a feiticeira e o guarda-roupa. Mas as duas outras com as quais eu mais aprendi são a de Eustáquio, em A viagem do Peregrino da Alvorada, e de Jill, em A cadeira de prata. Na medida em que consideramos a história de como Aslam redimiu Edmundo no primeiro livro de Nárnia que Lewis escreveu, precisamos lembrar que a morte de Aslam em favor de Edmundo não foi apenas um ato especifico que o salvou como indivíduo; foi um tipo ou figura do que Aslam estava fazendo por toda a Nárnia. O Rei Tirian, em A última batalha, descreve Aslam como "o bom leão, que dera o próprio sangue para salvar Nárnia inteira" (p. 649). Há outra referência a isso em A viagem do Peregrino da Alvorada, quando Edmundo está falando com Eustáquio sobre como ambos haviam sido transformados por seus encontros com Aslam, e Edmundo menciona: ele "salvou a mim e a Nárnia" (p. 452). Portanto, Lewis claramente deseja que vejamos Edmundo como o representante de todos os narnianos, de todos os que precisam ser salvos. 

Na própria história de O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, Lewis enfatiza o sacrifício de Aslam por Edmundo como um indivíduo a fim de ilustrar a doutrina cristã da expiação substitutiva. Embora essa mensagem seja central a toda a mensagem do evangelho, às vezes nos é difícil entendê-la como doutrina abstrata. No entanto, quando lemos como Edmundo trai seus irmãos, como é escravizado pela feiticeira, como Aslam intervém e morre em seu lugar, a natureza da mudança é clara. A feiticeira ia matar Edmundo, mas Aslam interferiu e ofereceu-se em lugar dele. Este é o fundamento da fé cristã: Cristo morreu como um substituto de todo o seu povo. 

Wilson escreve ainda - De todas as coisas que aprendi em Nárnia, se eu tivesse de escolher uma única lição que se destacasse como a mais importante, seria essa lição sobre a natureza da expiação substitutiva. Embora eu tenha crescido numa igreja cristã e ouvido quase todo domingo que Jesus morreu por nossos pecados, foi somente quando li a história de Aslam e Edmundo que a lição realmente estalou. Repentinamente eu entendi a cruz e o centro da mensagem do evangelho — de um modo novo e mais profundo. Por meio dessa história, Lewis consegue comunicar o que muitos teólogos lutam para fazê-lo: a morte substitutiva ou "vicária" de Cristo por seu povo. Este é o significado da fé cristã: Cristo morreu em seu lugar, salvando-o por pura graça, sem esforço algum de sua parte. Do mesmo modo, o sacrifício central de Aslam é o fundamento de toda graça que aparece alhures em Nárnia. E Lewis revela a verdadeira natureza da graça por Edmundo não ter feito absolutamente nada para merecer ou conquistar o que Aslam fez por ele. 

Três histórias de Conversão - Este capítulo fala de três histórias de "conversão" — de Edmundo, de Jill e de Eustáquio —, vemos a importância fundamental do sacrifício e morte de Aslam. Mas também vemos que, quando ele morreu, aqueles que o seguem "morreram" também. Isso é o que vemos especialmente no caso de Eustáquio. Isso revela um ponto muito importante que devemos observar sempre que estivermos falando sobre uma morte substitutiva — quer seja Aslam na Mesa de Pedra em Nárnia, ou Jesus Cristo na cruz em nosso mundo. Quando ele morreu, todos aqueles que foram representados por ele morreram também. E, naturalmente, quando ele voltou da morte, também voltamos. A outra lição fundamental nessas histórias de Nárnia é a "gratuidade" da graça. Nenhuma das três crianças podia fazer nada para salvar a si mesma. No fim, elas simplesmente tiveram de aceitar a soberana graça que lhes foi dada. Assim como Deus, Aslam faz isso tudo. A única coisa que podemos fazer é aceitá-la, e até mesmo a nossa capacidade e desejo de fazer isso nos foi dada por Deus. Graça é graça, do começo ao fim. 

Essas coisas são os fundamentos da fé cristã. Aprendê-las é aprender o evangelho, mas aprendê-las em Nárnia é uma forma maravilhosa de realmente compreendê-las em um nível que nenhum livro de teologia ou escola dominical podem conseguir. [p.137-152] 


CAPÍTULO 7 - AMOR POR ASLAM, AMOR POR DEUS 

Segundo Wilson, um dos aspectos mais notáveis nas histórias de Nárnia é sua natureza bastante pessoal. Em todos os livros, é a pessoa de Aslam quem une todas as coisas. A lealdade a Aslam e o amor por ele caracterizam todos os verdadeiros narnianos, ao passo que uma antipatia para com ele caracteriza aqueles que são maus. Aslam é sempre a linha divisória. Os bons e os maus em Nárnia não são determinados por uma lista de regras abstratas isoladas, mas, antes, por relacionamento. 

Relacionamento com Aslam – Existem muitas passagens que ilustram esse ponto, mas separei apenas algumas. Em A última batalha, como o Rei Tirian conhece Aslam, quando, por fim, passa pela porta do estábulo para adentrar a Nárnia final e verdadeira? - “O último a se virar foi Tirian, porque estava com medo. Ali estava o anseio de seu coração, enorme e real: o Leão dourado, o próprio Aslam.” (p. 716) - O mais profundo desejo de Tirian não é ser uma pessoa via de regra boa e decente, ou servir à fraternidade abstrata da humanidade. Aslam é o "anseio de seu coração"; toda a sua vida, e seu destino após ela, são orientados por esse relacionamento pessoal. Em O Príncipe Caspian, quando as quatro crianças se perdem no caminho para encontrar Aslam, como Lúcia sabe que percurso eles deviam seguir? "Bem... ele... pela cara dele!" (p. 351). Lúcia não consegue articular como sabe o que fazer, mas tem certeza disso por causa de seu relacionamento pessoal com Aslam. 

Conhecimento de Aslam – Se conhecer Aslam e estar num relacionamento adequado com ele é central, o que significa, então, conhecê-lo? Quem ele é? Que tipo de pessoa é Aslam? Wilson o identifica da seguinte forma: 

Triúno e encarnado - Shasta conversa pela primeira vez com Aslam após ter concluído a missão de alertar o Rei Luna, mas ficou perdido nas montanhas. Enquanto cavalga pelo nevoeiro e pela escuridão, sente uma presença poderosa perto dele, falando a seu lado. Como Aslam finalmente se revelou a Shasta, então? “ - Quem é você? - Eu mesmo — respondeu a voz. Com uma entonação tão profunda que a terra estremeceu. [E de novo: — Eu mesmo — em tom alto, claro e vivo. E então a terceira vez: — Eu mesmo]' — com um murmúrio tão suave que mal se podia perceber, e parecia, no entanto, que esse murmúrio agitava toda a folhagem à volta. (p. 262).  Esta é uma clara referência bíblica a Deus, que disse a Moisés: "EU SOU O QUE SOU" (Êxodo 3.14). O fato de Aslam repetir "Eu mesmo" três vezes de três maneiras diferentes é, também, uma referência á natureza triúna de Deus. A Escritura expressa um ponto similar com uma das palavras hebraicas para Deus, Elohim. Elohim é a forma plural da palavra "deus", da mesma forma que as palavras hebraicas cheruh e seraph são singulares, mas cherubim e seraphim são plurais. Assim, a confissão de fé em hebraico seria como dizer "Cremos em um Deuses". A peculiaridade gramatical expressa teologia trinitariana, e Lewis faz algo similar aqui com a repetição tríplice de "Eu mesmo". Aslam é uma Pessoa, mas também participa de uma união trinitária; ele é tanto belo como terrível; e o relacionamento fundamental com seu povo é o da graça vivificadora. Esses são os fatos básicos que Shasta aprende. 

Compaixão e ternura - O fato de nosso Deus ser um Deus surpreendente é uma das lições mais úteis que Lewis me ensinou através da personagem de Aslam. Alguns cristãos excessivamente "religiosos" de um modo detalhista e irredutível tem falsas pressuposições sobre Deus, e eu gosto da maneira como Aslam está constantemente subvertendo essas pressuposições de maneiras inesperadas. Um desses atributos surpreendentes de Aslam e a ternura e compaixão para com seus servos, não obstante seus muitos erros e falhas. Em O sobrinho do mago, quando Digory fica preocupado com a saúde de sua mãe, Aslam o conforta: — Meu filho, meu filho, eu sei. A dor e grande. Só você e eu nesta terra sabemos disso. Sejamos compassivos um com o outro. (p. 77) 

Adoração e imitação - A Bíblia nos diz que quando olhamos para Jesus, o adoramos e vivemos em relacionamento com ele, então nos tornamos cada vez mais como ele. O oposto também é verdade: aqueles que adoram ídolos tornam-se cada vez mais como eles (Salmo 115.8). Do mesmo modo, os servos de Aslam tornam-se mais como ele, enquanto a cultura calormana que adora Tash torna-se mais hostil e cruel, exatamente como seu deus. Um exemplo disso está em A viagem do Peregrino da Alvorada, quando Lúcia está na ilha da Vozes. 

Chegando a Cristo por meio de Aslam - Espero que você perceba, a esta altura, que Lewis intentou que o relacionamento com Aslam e o conhecimento dele fosse o centro das histórias de Nárnia. Mas é importante não perdermos o ponto principal, deixando Aslam confinado a Nárnia — pois Lewis quis que aprendêssemos sobre Aslam na medida em que ele se revela em nosso mundo: — Está também em nosso mundo? — perguntou Edmundo.  — Estou. Mas tenho outro nome. Têm de aprender a conhecer-me por esse nome. Foi por isso que os levei a Nárnia, para que, conhecendo-me um pouco, venham a conhecer-me melhor, (p. 514). 

Para concluir, Wilson diz que o objetivo de nos apresentar a Aslam é obtermos uma compreensão mais madura de Cristo. É por isso que Aslam não permanece em sua forma de leão no fim das histórias. Em A última batalha, depois de tudo o que é dito e realizado, ele revela sua verdadeira natureza: E, à medida que Ele falava, já não lhes parecia mais um leão. E as coisas que começaram a acontecer a partir daquele momento eram tão lindas e grandiosas que não consigo descrevê-las. Para nós, este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer, com absoluta certeza, que todos viveram felizes para sempre. (p. 737) 

Então, Aslam, mais à frente, manifesta-se em seu caráter pleno como o Senhor Jesus. O simbolismo, obviamente, perde um pouco de sua validade aqui, e há algumas peculiaridades que poderiam precisar de desenvolvimento, uma vez que anteriormente Aslam descrevera-se como "um animal de verdade". A forma de leão não é uma simples aparência; ele não é apenas o Deus de Nárnia em um traje de leão, não mais do que Cristo é Deus em um traje humano — o Credo diz que Cristo é verdadeiro homem. Mas uma coisa de que podemos estar certos é que a verdadeira forma de Aslam não era uma espécie de ser espiritual ou fantasmagórico. Antes, o contexto inteiro dessa passagem nos convida a considerar essas realidades celestiais — incluindo o corpo ressurreto de Cristo — como mais sólidas e tangíveis do que a "vida real" que veio antes. Em outro dos livros de Lewis, O grande abismo, ele descreve o céu como um lugar de solidez e cores reais comparadas com o obscuro mundo fantasma abaixo. Nós, por vezes, pensamos que quando Jesus ressurgiu dos mortos, fê-lo como algum tipo de fantasma. Afinal de contas, ele não atravessou as paredes do cômodo onde os discípulos estavam reunidos? O problema é que nunca nos ocorre que a parede era o fantasma. Jesus pôde atravessar a parede porque ele é mais sólido e mais real do que ela. Sendo assim, quando Lewis descreve Aslam mudando de forma no fim de A última batalha, ele está nos estimulando não a considerar essa forma como um tipo de corpo Jesus--fantasma, mas, ao contrário, a realidade verdadeira, última, sólida e corpórea de Cristo. 

RECOMENDO 

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