quarta-feira, 7 de novembro de 2018

POLÊMICAS NA IGREJA [Resenha]


NICODEMUS, Augustus. Polêmicas na igreja: Doutrinas, práticas e movimentos que enfraquecem o cristianismo. São Paulo, SP: Editora Mundo Cristão, 2015.


AUTOR E O LIVRO

Augustos Nicodemus é pastor auxiliar da Primeira Igreja Presbiteriana de Recife, professor convidado do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Autor também de outros títulos como O que estão fazendo com a Igreja, O ateísmo cristão e outras ameaças à igreja, Livres em Cristo dentre outros. Seus livros trazem à tona a discussão do papel do cristão e da igreja nos dias atuais. 

O livro, além dos Agradecimentos, apresentação, prefácio e introdução, é dividido em 8 partes, que compreende os temas a serem discutidos e essas partes são divididas em capítulos, facilitando assim a discussão, a absorção do tema e entendimento do assunto. O autor faz uso de muitos textos bíblicos e utiliza algumas citações e ilustrações de outros pensadores cristãos. Há uma linha clara de raciocínio do autor, baseado na Bíblia.

O termo “polêmicas”, usado no título do livro, é provocativo, pois, a obra é apenas um apanhado de explicações de verdades que deveriam ser claras para todo o cristão, porém, como todos devem suspeitar, não é bem o que acontece hoje em dia. Não pense que o título é apenas chamativo para prender a sua atenção e criar uma vontade imensa de ler a obra. Ela é realmente cheia de polêmicas. Augustus Nicodemus traz os melhores textos de suas redes sociais para explanar sobre temas que estão em evidência: homossexualismo, tecnologia, misticismo, teologia nas universidades, entre outros.

Para aqueles que está acostumado a assistir os vídeos de estudos do Rev. Augustus, percebe o uso de uma linguagem extremamente simples e concisa. Não há segredos e nem aberturas para outras interpretações. Junto com um apanhado histórico, Augustus consegue fazer o cristão mais duvidoso se tornar uma pessoa mais esclarecida com relação aos temas mais focados na mídia. O mais relevante é o poder de cuidadosamente, expressar a autoridade provinda das Escrituras em cada detalhe descrito, não abrindo espaço para o relativismo.

Como sempre faço em nossas resenhas (um resumão) tratarei apenas de alguns capítulos realmente “polêmicos”. Se você quer saber mais sobre as polêmicas que estão no meio cristão e como combatê-las, leia esse livro. 


PRIMEIRA PARTE: A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E AS CONTRADIÇÕES – Esta primeira parte possui três capítulos – vou falar sobre os três - que discutem os seguintes assuntos:

1. Julgar é sempre falta de amor? Acusar de falta de amor outros evangélicos por se posicionar firmes em questões éticas, doutrinárias e práticas é desconhecer a natureza do amor bíblico. Amor e verdade andam juntos. (Os 4.1; Ef 4.15; 2 Ts 2.10; 1 Pe 1.22 e 2 Jo 3). Querer que a verdade predomine e lutar por isso não pode ser confundido com falta de amor para com os que ensinam o erro. Portanto, o amor cobrado pelos que se ofendem com a defesa da fé, a exposição do erro e o confronto da inverdade não é o amor bíblico. Falta de amor para com as pessoas seria deixar que elas continuassem a ser enganadas sem ao menos tentar mostrar o outro lado da questão. [p.24-27]

2. É Proibido julgar? Julgar faz parte essencial da vida cristã. Somos diariamente chamados a exercer o papel de juízes movidos por amor pelas pessoas e zelo pelas coisas de Deus. Quando o cristão não julga ele contribui para a propagação do erro e demonstram ser pessoas sem convicções, coniventes e cúmplices das mentiras, heresias e atos imorais e anti-éticos dos que estão ao seu redor. Em resumo, julgar não é errado, cumpridas estas condições: a) que primeiro nos examinemos; b) que nos coloquemos sob o mesmo juízo e estejamos prontos para admitirmos que nós mesmos estamos sujeitos a errar, pecar e dizer bobagem; c) que nosso alvo seja ajudar os outros a acertar e consertar o que porventura fizeram ou disseram. [p.29-31]

3. Não toque no ungido do Senhor – Esta relutância de Davi em matar Saul por ser ele o ungido do Senhor tem sido interpretado por muitos evangélicos como um princípio bíblico. Para eles, pastores, bispos e apóstolos são os ungidos do Senhor, não se pode levantar a mão contra eles, isto é, não se pode acusa-los, contraditá-los, questioná-los, criticá-los e muito menos mover-se qualquer ação contrária a eles. Contudo, o que se observar é que Davi confrontou Saul e o acusou de injustiça e perversidade em persegui-lo sem causa (1 Sm 24:15) e pediu abertamente a Deus que castigasse Saul, vingando a ele, Davi (1 Sm 24:12). Davi também dizia a seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, quando o próprio Deus haveria de matá-lo por seus pecados (1 Sm 26:9-10). Em resumo, Davi não queria ser aquele que haveria de matar o ímpio rei Saul pelo fato do mesmo ter sido ungido com óleo pelo profeta Samuel para ser rei de Israel. Isto, todavia, não impediu Davi de enfrentá-lo, confrontá-lo, invocar o juízo e a vingança de Deus contra ele, e entregá-lo nas mãos do Senhor para que ao seu tempo o castigasse devidamente por seus pecados. [p.33-36]


SEGUNDA PARTE: JESUS E A RELIGIÃO - Nesta segunda parte, ressalto apenas o capítulo 7 que discute o seguinte assunto:

7. Onde Jesus esteve quando tinha entre 13 e 30 anos? Existem várias lendas tolas acerca da infância do Messias, extraídas de textos apócrifos, particularmente as chamadas “narrativas da infância de Jesus”. As mais conhecidas são: o Protoevangelho de Tiago; o Evangelho de Tomé, o Israelita; o Livro da Infância do Salvador; a História de José, o Carpinteiro; o Evangelho Árabe da Infância; a História de José e Asenate; e o Evangelho Pseudo-Mateus da Infância. Para o autor É impressionante, todavia, que ainda estão dando importância a este fragmento de um suposto "evangelho da esposa de Jesus" mesmo após autoridades em manuscritologia e papirólogos terem rejeitado sua importância e mesmo sua autenticidade. No fundo, a razão para todas estas especulações é a rejeição do quadro simples e claro que os Evangelhos nos pintam acerca de Jesus, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que nasceu, viveu e morreu para que pudéssemos ter o perdão de pecados e a vida eterna. [p.53-56]


TERCEIRA PARTE: O AMOR DE DEUS E AREALIDADE DO INFERNO - Nesta terceira parte, os dois capítulos (8 e 9) são “polêmicos”, pois trata-se do universalismo. 

8. No fim todos serão salvos? O universalismo, é a crença de que, ao final da história deste mundo, Deus haverá de salvar todos os seres humanos, reconciliando-os consigo mesmo mediante Jesus Cristo. Nesta crença, não há lugar para a doutrina da punição eterna, a saber, a ideia de um inferno onde os pecadores condenados haverão de sofrer eternamente por seus pecados. Tal ensino já era encontrado entre os primeiros mestres gnósticos, e constituiu uma heresia que ameaçou o Cristianismo no primeiro século. Cerca de cem anos depois de Cristo, pais da Igreja como Clemente de Alexandria e seu famoso discípulo Orígenes defendiam explicitamente o universalismo. Orígenes acreditava, inclusive, que o próprio diabo seria salvo no final. O universalismo, é uma perigosa heresia. Além de não pertencer ao mundo teológico dos autores do Antigo Testamento e do Novo Testamento, a ideia da salvação universal traz diversos riscos. [p.60-67]

9. O inferno em que Rob Bell se meteu. Rob Bell se tornou uma figura polêmica quando passou a pregar a salvação de todos os seres humanos no final (universalismo) negando, assim, a realidade do inferno. Ele rejeita o ensino de Jesus Cristo nos Evangelhos sobre o inferno e o céu e faz uso seletivo das palavras de Jesus. Ele ignora por completo todas as passagens cima em que Jesus fala do inferno. [p.70-74]


QUARTA PARTE: A IGREJA E OS VALORES DO MUNDO. A quarta parte possui cinco capítulos, a ênfase nossa recai sobre os capítulos 11 e 12.

11. Vale tudo para pregar a mensagem de Cristo? O texto de Fp 1.18 não justificaria o chamado “evangelho gospel” e os ditos “shows gospel?” A resposta do autor é que há uma longa distância entre os ditos métodos de evangelização e o uso da referida passagem para justificar o uso de meios mundanos e escusos de alianças com ímpios e de estratégia no mínimo polêmicas para anunciar a mensagem de Cristo. E diz mais: Tenho certeza de que Paulo jamais se regozijaria com “cristãos” que anunciassem o evangelho por motivos ilícitos, em busca de poder, popularidade e dinheiro. Usar Filipenses 1.18 para justificar tamanha banalização pública do evangelho é como costuma-se dizer popularmente, usar texto fora do contexto como pretexto para o erro. [p.83-86]

12. A provável causa de nossos problemas. Para o autor, o problema consiste no fato de que tem muita gente, nos bancos e nos púlpitos, que nunca nasceram de novo. Acredito que há pessoas que resolveram se tornar cristãs, mas não pelo motivo correto. Foram admitidas nas igrejas, o que é extremamente fácil em umas e relativamente mais difícil em outras. Mas, uma vez dentro, assumiram um papel religioso externo – um descrente pode orar em voz alta, usar linguagem evangélica, contribuir para a igreja, cantar e ouvir sermões. E por serem pessoas de talento, capacidade ou terem tido sucesso na vida secular, foram consagradas pelas igrejas como presbíteros, pastores, líderes – em algumas igrejas isto é muito fácil. Pode ser que alguns deles consigam manter o papel por muito tempo sem causar problemas, mas a natureza não regenerada cedo ou tarde vai se manifestar na forma de ódio, amor ao poder, dissimulação, falsos ensinos, perseguição, intolerância, autoritarismo e a busca da própria glória. [p.88-90]


QUINTA PARTE: LIDERANÇA. Nesta quinta parte o que nos chama atenção é capitulo 16.

16. A vida diária de um apóstolo de verdade. As cartas que Paulo escreveu à igreja de Corinto são as de maior cunho pessoal e que mais revelam como era a vida daquele que é considerado o maior apóstolo do Cristianismo, data vênia Pedro e os papistas. Como era a vida diária de Paulo, um apóstolo de Cristo? O autor cita 23 aspectos da vida diária do apóstolo Paulo - com referências bíblicas - que faziam parte da sua vida diária. E conclui – Muitos se consideram sucessores dos apóstolos, aqui e em Roma. Para confirmar a autoridade desses homens e mulheres, basta compará-los a Paulo. [p.114-116] 


SEXTA PARTE: DECÊNCIA E IMPUREZA. A sexta parte deste livro é composta por cinco capítulos e é “polêmico por excelência”. Os capítulos 18 e 19 refere-se ao homossexualismo. Capítulo 20, a prostituição e o capítulo 21 ao casamento e fornicação, e o capítulo 22 que é sobre palavrão. Vamos somente aos capítulos 18, 19 e 20.

18. O que a Bíblia diz sobre relações homossexuais - O autor começa com a constatação de que existem muitas passagens nas Escrituras que se referem ao relacionamento sexual que, biblicamente, é padrão, normal, aceitável e ordenado por Deus: o casamento monogâmico heterossexual. E afirma que o pecado que motivou a destruição de Sodoma e Gomorra foi a prática homossexual de seus habitantes (Gn 18.20; 19.5), associada a outros pecados de natureza social (Ez 16.48-50). A história de Sodoma se tornou paradigma do castigo de Deus contra a perversão sexual (2 Pe 2.6; Jd 7). Considerava-se abominação o ato de um home deitar-se com outro como se fosse com mulher (Lv 18.22). A prostituição cultual, que incluía a prática homossexual, era proibida em Israel (Dt 23.17; 1 Rs 14.24). Ao descrever a justa retribuição divina contra a humanidade, que rejeitara sua revelação, Paulo inclui a entrega judicial, por parte de Deus, dos homens às paixões infames, a saber, o lesbianismo e a homossexualidade, classificados pelo apóstolo como imundícia, desonra, torpeza, erro e prática contrária à natureza (Rm 1.24-27). Numa das cartas que enviou aos coríntios, Paulo inclui os efeminados e os sodomitas entre aqueles que não haverão de herdar o reino de Deus (1 Co 6.9-10). Ele repete isso ao escrever a Timóteo, afirmando que os sodomitas figuram entre os que estão debaixo da lei de Deus e serão ela punidos (1 Tm 1.9-10). [p.123-138]

20. Profissão: prostituta - A prostituição era terminantemente proibida ao povo de Deus no Antigo Testamento. Um pai não podia obrigar sua filha a se prostituir para ajudar na renda da família (Lv 19:29). Um sacerdote não poderia se casar com uma mulher que fosse prostituta (Lv 21:7,14) e uma filha de sacerdote que se prostituísse desonraria o sacerdócio do pai (Lv 21:9). Nenhuma mulher das que servia no templo poderia se prostituir (Dt 23:17) e o dinheiro obtido pela prostituição não poderia ser trazido como oferta a Deus (Dt 23:18). O livro de Provérbios descreve a prostituta e seu comportamento bem como o castigo que ela traz para si e para todos os que se envolvem com ela (Provérbios 7). Este mesmo livro traz advertências sérias contra a prostituição (Pv 23:27; 29:3). A prostituta é considerada uma mulher que não tem vergonha (Jr 3:1), depravada (Ez 23:43-44), adúltera (Os 2:2). O Senhor Jesus incluiu a prostituição entre os pecados que brotam do coração corrompido do homem (Mt 15:19). O apóstolo Paulo inclui a prostituição como uma das obras da carne (Gl 5:19) e parte da nossa natureza terrena pecaminosa (Cl 3:5). Ele condena de maneira veemente, com argumentos teológicos, a prática da prostituição por parte de quem é crente em Jesus Cristo (1Co 6:13-20) e determina aos crentes que se abstenham da prostituição (1Tess 4:3). O livro de Apocalipse usa a figura da prostituta e da meretriz como símbolo das falsas religiões e dos reinos de mundo que perseguem os servos de Deus (Ap 17:1-5; 19:2) [p.139-141].


SÉTIMA PARTE: DONS ESPIRITUAIS ONTEM E HOJE. A sétima parte é constituída por 4 capítulos: Capítulo 23, Atos simbólicos no Espírito; capítulo 24, Deus é sempre o mesmo? E o capítulo 25 sobre “o dia de Pentecostes”. Mas, o capítulo “polêmico” é o 26 sobre “Cessacionismo e continuísmo”, onde o autor começa assim: Fiquei imaginando o que eu diria se fosse entrevistado sobre a cessação e a continuação dos dons espirituais mencionados na Bíblia, e daí nasceu esta sessão fictícia de perguntas e respostas. 

26. Cessacionismo e continuísmo. O autor acredita que o Espírito continua até hoje a conceder à Igreja a maioria dos dons mencionados na Bíblia. Mas, tem a impressão que outros dons foram concedidos somente por um tempo a determinadas pessoas, para atender aos propósitos de Deus para aquela época. Estes não estariam mais disponíveis hoje. Por isto, é necessário, antes de qualquer coisa, esclarecer a que dons estamos nos referindo quando dizemos que os dons cessaram ou que continuam. Outra coisa a ser levada em consideração é que, de acordo com a história bíblica, Deus não agiu sempre da mesma maneira em todas as épocas. Há muitas ações miraculosas e sobrenaturais que ocorreram somente uma vez ou durante um tempo específico e não foram repetidas. Portanto, por princípio, devemos admitir que Deus é soberano para agir de diferentes maneiras através da história, e que dentro desta ação, ele concede diferentes dons a diferentes pessoas em diferentes épocas. Assim, não podemos nem restringir a ocorrência de determinados dons somente a um período da história e nem requerer que todos os dons terão necessariamente de ocorrer em todos estes períodos. Finalmente, o autor defende um caminho intermediário acerca dos dons. Se por cessacionista você quer dizer uma pessoa que não acredita que o Espírito Santo conceda dons espirituais à sua Igreja nos dias de hoje, é claro que não sou cessacionista. Se, por outro lado, um continuísta seria alguém que acredita que todos os dons espirituais mencionados na Bíblia estão disponíveis hoje à Igreja, bastando ter fé para recebê-los, é claro que também não sou um continuísta. Creio num caminho intermediário para o qual ainda não achei um nome. Não posso ser chamado de cessacionista e nem de continuísta, pois creio que alguns dons continuam como eram no Novo Testamento, outros cessaram e outros continuam apenas em parte. [p.167-177]


OITAVA PARTE: FÉ E RAZÃO. Esta é a parte mais longa de todo o livro em termos de quantidades de capítulos. Possui seis. Os assuntos são os seguintes: Capítulo 27, A importância das cosmovisões; capítulo 28, Verdade e pluralidade; Capítulo 29, Cristianismo e pesquisa científica; Capítulo 30, Uma visão cristã crítica da tecnologia; Capítulo 31, O desafio do ambiente acadêmico para os jovens cristãos e o capítulo 32, Há coisas em que até um ateu acredita. Não iremos comentar sobre nenhum desses capítulos.


Na conclusão, o autor declara que se sente bastante preocupado com os rumos da Igreja evangélica brasileira. De um se sente confiante nas declarações claras do Novo Testamento acerca do triunfo final de Deus sobre o mal. Os planos do Senhor haverão de se realizar exatamente como ele os concebeu na eternidade. Jesus voltará em glória, e os que são seus haverão de partilhar do seu triunfo. A justiça será estabelecida, todo pecado será castigado e todas as coisas encontrarão seu lugar debaixo dos pés do Cordeiro vencedor. A Igreja vencerá, juntamente com seu cabeça, seu Redentor. Minha oração ao final deste livro é que Deus ainda nos permita ter a sua Palavra por muitos anos. Que ele nos livre daqueles que procuram destruí-la, seja negando a sua inspiração, seja relativizando a sua mensagem, seja relegando os seus ensinos a plano secundário em nome de experiências pessoais ou da tradição.


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